Tuesday, February 26, 2008

Gimme Toro, Gimme Some More

Nota: Este é o centésimo post do blog. Por coincidência, apenas, mas não poderia ser com um conteúdo melhor. Isso claro, fica mais um aviso: contém altas doses de tietagem e idolatria.


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O primeiro CD que eu comprei foi o Songs for the Deaf. Digo, com o dinheiro que recebi dos meus pais, fui até a loja, escolhi e paguei. Pelo menos conscientemente, foi meu primeiro passo na música. Antes disso, era só um borrão rodeado por música sem personalidade, sem rosto, sem vontade. Pode-se dizer que o disco foi um divisor de águas e mudou a minha vida.

Desde então, estou tentando entender do que se trata a entidade Queens of the Stone Age. Poderia escolher A Song for the Dead, uma das melhores performances de bateria que eu já ouvi, ou No One Knows, que é o single perfeito da nossa década, para explicar melhor esta sensação. Mas concentremos-nos em You Think I Ain’t Worth A Dollar But I Feel Like A Millionaire. Nunca encontrei nada parecido com essa música, nem em um disco do Mondo Generator. Com 12 anos, minha entrada para o rock and roll foi com muitos decibéis. Não é mais bem a minha praia, mas eram os berros de Linkin Park e Slipknot que me empolgavam e era com System of a Down que eu gostava de chocar meus familiares. Mas nenhuma música dessas bandas chegou a me intrigar tanto quanto Millionaire ainda me intriga. É a música mais pesada que eu, fã ocasional de Thrash Metal, já escutei.

Tantas bandas foram as que eu reneguei e acolhi que é incrível que o Queens, uma das primeiras, sempre tenha se mantido como meu ícone máximo do cool, o exemplo a ser seguido. E, gradualmente, ao longo dos anos, sem nenhum alarde, eles se tornaram minha banda favorita.

Dito tudo isso, é de se imaginar como eu me senti no último domingo, quando finalmente vê-los ao vivo se tornou uma realidade. Minhas expectativas eram altas antes do show, pelo simples fato do que assitir aquilo significaria. Mas alguma coisa me dizia “bom, você já vai conseguir ver a banda, não espere nada como um set list perfeito ou pegar um souvenir”. Eu estava conformado. Deve ter sido durante In the Fade (a música que mais me arrepiou os pêlos da nuca), If Only ou River in the Road, com um Marlboro dado pessoalmente por Josh Homme enfiado no bolso, que eu percebi o quão sortudo eu estava naquele dia, e o quanto as minhas expectativas foram superadas.

Se você me pedir para analisar o concerto, estará sendo cruel. 24 de fevereiro de 2008 era um dia de fã. Eu sei que eu não poderia pedir um set list melhor, uma performance melhor, um clima melhor, nada melhor, e essa é a melhor análise que eu consigo balbuciar. Começou violento, com First it Giveth, e terminou violento, com a jam infernal de A Song for the Dead, ambas do primeiro disco da minha vida. Certa vez, alguém me disse que viu um show da sua banda preferida como o fim de um ciclo, por tudo o que ela representou na sua vida. O problema dessa pessoa é com o tempo verbal. Queens of the Stone Age ainda representa muitas coisas pra mim, e ter estado lá foi muito mais um começo do que um final. Quero mais, ainda. E tenho fé que os verei de novo, e de novo.

O mais inacreditável, no entanto, aconteceu antes do show. Autênticas tietes que somos, eu e dois amigos seguimos um conselho precioso e fomos esperar a banda chegar no local, por volta da hora (estimada) da passagem de som. Incrivelmente, apenas mais dois garotos suecos estavam por ali. Simples assim, só cinco pessoas esperando a banda mais incrível do planeta chegar ao KB Hallen. Parecia que nada aconteceria, até que, em determinado momento, chega um ônibus para fazer companhia aos dois que já estavam lá. Há um burburinho em relação a ele e, conforme as primeiras pessoas vão saindo dele, o idioma se transforma no inglês. “It’s so fucking them”, eu exclamei. Poucos minutos depois, Joshua Homme em carne e osso (tipo, ele existe mesmo!) desce do ônibus. Ficou conversando com alguém e, após um minuto ou dois que pareceram umas três horas, começou a deslocar-se em nossa direção. “Josh Homme”, eu disse, estendendo a mão. Comprimentamos-o, e pedimos para tirar fotos. “Sure”, ele respondeu, tirando uma sacolinha com uns 200g de uma substância que poderia muito bem ser farinha ou talco de algum lugar. Virou para um cara e falou para ele entregar aquilo para seu, “...uhn, amigo” dentro do ônibus. Tiramos as fotos. Charlie, um dos caras que estava comigo, então, ofereceu um cigarro ao Josh. Primeiramente ele aceitou, mas depois desconversou, acho que por não conhecer a marca. Charlie, então, malandro que só ele, pediu um cigarro, e recebeu uma resposta ainda mais malandra das ruas: “Yeah, I stole these anyway”. Eram Marlboros, e Josh começou a dizer que Marlboros não eram lá seus preferidos, mas “that’s what you can get here”. Então, eu mencionei que também se acham Camels por estas bandas e ele respondeu que é a sua marca. Como tenho bom gosto, tirei minha caixa de camelos do bolso e ofereci um ao cara. Ele não só aceitou, como colocou um dos seus Marlboros na minha caixa. Se eu tinha Camels, para quê ia querer um Marlboro horrível? Josh Homme sabe quem é, e sabe o que significa para um fã ter um souvenir como esse. Sem ser arrogante, mas também sem falsa modéstia, ele transformou um cigarro ruim na nicotina mais sensacional da história. Depois, fiz o que vinha ensaiando desde que vislumbrei a chance de encontrá-lo: perguntei se era possível tocar You Can’t Quit Me, Baby naquela noite. Ele olhou para mim, pareceu fazer uma rápida análise na cabeça e respondeu que claro, tocariam sim. Quando ele estava quase indo embora, mencionei que Songs for the Deaf foi meu primeiro disco. “That’s a good way to start out”, respondeu ele, com um sorriso. Apertou nossas mãos e entrou no KB Hallen.

Minutos depois, encontramos Joey Castillo e Troy Van Leeuwen, um de cada vez. Caras simpáticos, mas mais breves. Joey elogiou minha câmera e Troy disse ter acabado de acordar (brincamos dizendo que nós também tínhamos acabado de acordar). Tiramos fotos e desejamos um bom show. Se bem que não precisava desejar um bom show. Estamos falando de profissionais.

Quando entramos, algumas horas depois, todos que ficaram perto de mim por mais de 30 segundos sabiam da história. E, quando a banda de abertura, Biffy Clyro começou seu set, eu ainda estava embasbacado pelo que tinha acontecido poucas horas antes. E em êxtase, sem entender o que havia acontecido com a minha sorte naquele fim de semana, quando até a banda de abertura era sensacional. É, Biffy Clyro é altos.

Mal acreditei quando o concerto em si começou. “Realização de um sonho” pode ser pesado demais, mas era o evento que eu vinha esperando desde tipo 2002. Depois de conhecer a banda ali, de pedir a minha música, minha expecatativa era ainda maior, ainda mais acachapante. Então, na hora em que os músicos subiram ao palco, quando o primeiro acorde foi tocado, tudo virou alegria. Minha única preocupação (e essa nem é a palavra mais correta) era saber se tocariam a música que eu pedi e eu continuava sendo surpreendido, música após música, por um dos set lists mais antológicos da história do QotSA. Eventualmente, You Can’t Quit Me, Baby começou e as notas no baixo pareceram uma ilusão para mim. Abrimos a bandeira do Brasil, talvez em agradecimento, talvez, sendo mais mesquinho, para mostrarmos que só tocaram por nossa causa e recebemos um olhar de Josh, do tipo “aí está a sua música, seus cornos”.

O encore final, pesado como um tijolo, começou com Millionaire, cantada por Josh e Mike Shuman e todo o filme passou mais uma vez pela minha cabeça. Sick, Sick, Sick foi a mais agitada e robusta e A Song For The Dead confirmou-se como a jam mais pesada do mundo. Inesquecível.

A vida não poderia ser melhor.

Set List:

First it Giveth
No One Knows
3's & 7's
If Only
Mexicola
Turning on the Screw
Misfit Love
Hanging Tree
Monster in the Parasol
Burn the Witch
In the Fade
Leg of Lamb
Little Sister
River in the Road
You Can't Quit Me, Baby
Do it Again
Tangled Up in Plaid
Go With the Flow
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Millionaire
Sick, Sick, Sick
A Song for the Dead

Sunday, February 10, 2008

Top 5 2007 - As Músicas

Na falta de uma inspiração, de um tema, de um tchananã e mesmo já estando em fevereiro, acho que não faz mal atualizar meu blog e deixar registrado aqui o meu glorioso ranking das melhores músicas do ano passado. Só pra desencargo de consciência, vai.

5 - Love Stoned - Justin Timberlake
O disco é de 2006, mas a música apareceu como single só em 2007. Passa. Um épico para os padrões da, cof cof, pop music com seus 7 minutos e meio, tem duas músicas sensacionais em uma. Perde pra Sexyback e a já clássica My Dick in a Box (ambas do ano retrasado), mas mantém o nível e comprova que o Justin tá bonito na foto.

4 - Misfit Love - Queens of the Stone Age
Robot Rock. Robot Rock. Robot Rock.

3 - Umbrella - Rihanna
Coisa de louco essa música. Preconceituosamente evitei escutá-la por meses, até que numa festa... pá! Bateu na minha cara. Cantada de forma inacreditavelmente sensual, com uma melodia pegajosa e o refrão do ano, eu virei praticamente uma sentinela da música, quando todo o resto do mundo já estava de saco cheio dela. Mas até uns emos gravaram uma versão, quer reconhecimento maior que esse?

2 - Ressurection Fern - Iron & Wine
Country made in Sub Pop. Não tem muito o que dizer. A música é simplesmente linda, inspirada e tudo o mais bucólico que se possa dizer. John Denver ficaria orgulhoso.

1 - All My Friends - LCD Soundsystem
Se repetir o comentário geral da nação jornalista/blogueira trintona dizendo que a faixa é um baluarte da vida depois dos 25, estarei sendo falso. Estou me cagando pra isso, sou sub-20. O fato é que aquele tecladinho recorrente, a voz cool de James Murphy e o feeling até meio, desculpem a expressão, redentor da música (justamente por ser esse ícone reflexivo em relação à vida) transformam-a num clássico instantâneo. Some isso às referências tipo "We ser controls for the heart of the sun" e frases-de-camiseta-ou-about-me-do-orkut estilo "Where are your friends tonight?" e você tem a música do ano. E uma das melhores de toda a década, com muita certeza.

 
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