Thursday, January 29, 2009

Festival de Verão de Salvador

Fiquei sabendo que ia passar Quase Famosos na Globo às 2h10. São 2h27 e não começou ainda. Tudo bem, sou insone, estou de férias, quero que se foda.

O problema é o que está atrasando o começo do filme: o tal do Festival de Verão de Salvador. Não tem graça, não dá pra brincar. O naipe das bandas e público que comparece nesse tipo de evento me enoja pra caralho. Me lembra ignorância, sétima série, bullying, primeiro colegial, tatuagem tribal já esverdeada, tatuagem em japonês, André Marques e Sarah-ex-VJ-da-MTV (mas desses eu lembro por estarem apresentando o, ah, programa), Smirnoff Ice, beijar muito, já-é-ou-já-era, galera descolada, muita energia positiva, cachorra piriguete, pitboy, O Rappa, pop rock, rodinha de violão, hit do verão.

Me doía quando, além de me constranger com tudo isso, não conseguia definir bem toda essa merda. Ainda bem que hoje em dia já conheço a palavra "douchebag".

Olha lá, começou Quase Famosos. A Tecla Sap não funciona. Merda.

Friday, January 23, 2009

Confissões de uma Groupie: I'm With The Band

Antigamente, eu tinha uma convicção muito boba, de que tudo que fosse escrito deveria possuir o estilo e classe de um Machadão ou Fante, pra citar dois nomes aleatoriamente. Claro que eu sabia que isso nunca ocorreria, mas imaginava um mundo perfeito, onde todo mundo saberia escrever bem.

Eu já tinha sacado que isso não existe, mas foi Confissões de Uma Groupie: I’m With The Band que jogou a pá de cal sobre essa idéia. Não tem cabimento esperar que autora-e-ex-groupie Pamela Des Barres escreva algo que deixaria o pau do velho Fiódor duro na tumba. É um livro que serve apenas para contar história – o que vale é a mensagem e não a forma como essa mensagem é trazida.

E a história é boa: uma das maiores groupies do fim dos anos 60 e começo dos 70 conta como era vida na sua juventude, quando saiu com Jimmy Page, Jim Morrison, Noel Redding, Keith Moon, Mick Jagger, Chris Hillman, Don Johnson, Waylon Jennings (entre outros) e conviveu com gente como os Zappa, Captain Beefheart, Gram Parsons, Alice Cooper e outras groupies famosas, as GTOs. Para voyeurs, apenas esses nomes soltos já garantem o interesse, mas Pamela vai além. Como eu – e muita gente, espero – cago e ando solenemente para a vida sexual alheia, para mim, a grande sacada do livro é a relação que é traçada entre pessoas e lugares e as milhares de referências en passant de pessoas e lugares.

Pamela estava em todas. A cena psicodélica de Los Angeles, a arte de Cynthia Plaster-Caster em Chicago, o movimento hippie em San Francisco, UK Underground, os bastidores de Altamont Speedway, os bacanais de Vito Paulekas e Carl Franzoni, a vida doméstica de Frank e Gail Zappa, etc etc etc. Ela cita tudo isso em diferentes graus de aproximação e empolgação e essa forma de contar a história é importante para dimensionarmos o tamanho de cada episódio na vida de Miss Pamela e das groupies de Los Angeles.

Confissões de Uma Groupie foi escrito e lançado em 1987, quando Pamela já estava casada com um músico (seu grande, err, sonho), vários de seus amigos e namorados já haviam morrido e seus sonhos de estrelato como atriz e cantora já estavam sepultados. Isso serve para segurar a empolgação do texto (que mesmo assim é bastante deslumbrado) e torna algumas histórias mais sóbrias. E o fato da groupie ter mantido diários durante toda sua juventude, desde a época que era apenas uma pré adolescente fã de Beatles, colabora com a veracidade e detalhamento dos relatos. Há cenas impagáveis, como quando ela e Keith Moon passam uma noite encenando sketches sexuais até o baterista do Who irromper numa crise de choro, eternamente atormentado por ter atropelado seu roadie.

O maior problema do livro se encontra justamente na narração, na forma como as informações são trazidas – justamente o que deveria ser desconsiderado. Mas não dá. Pamela floreia demais as descrições, tudo é “dourado” e “maravilhoso”, todos os rockstars parecem cascas ocas de estilo e maneirismos exagerados com um pau sempre em riste. Daí, pode-se tirar duas conclusões: a que a autora tenta caprichar suas histórias com adjetivos, para que elas pareçam mais interessantes e a que os músicos que sempre imaginamos como os mais autênticos e revolucionários da história eram apenas poseurs sem cérebro iguaizinhos aos moleques de hoje; e as míticas groupies não passavam de garotinhas estridentes e deslumbradas como as que encontramos hoje por todo lugar, de Birmingham a Valinhos.

Provavelmente um pouco dos dois, o que faz cair por terra todos os nossos sonhos lindos com os anos 60 e 70. Nesse aspecto, I’m With The Band, na verdade, presta um serviço, mostrando que nenhuma década foi necessariamente melhor ou pior que outra. As pessoas sempre foram e serão cheias de merda e talento, em igual proporção.

Às vezes, são as coisas mais improváveis que acabam com certas idiossincrasias. Essa é a beleza da vida.

Constatação

É uma delícia acordar cedo e tentar escrever alguma coisa ouvindo os mesmos discos de uma semana atrás. Este ano não vai servir pra escutar os lançamentos, fodam-se os Fleet Foxes e MGMTs de 2009.

Que alívio!

(seja como for, não sou de ferro, e o novo do Moz é bom mesmo, né?)

Tuesday, January 20, 2009

A Solução Para A África.

Depois de muito tempo sem escrever, consegui terminar dois textos em dois dias. Pensei em segurar a publicação deste segundo, mas acho que tanto faz.

Mais uma vez, não passa de um pitaco, e um pitaco bem ingênuo. Além disso, a partir da segunda parte, vão me considerar um porco direitista pior que o Paulo Francis. Quero que se foda, sem brincadeira. Quem acha legal o que acontece por ali merece o empalamento.

***

Sendo direto: a solução para a África não está em sentir pena do continente. Gente como eu e você chega lá só para sentir tristeza e imaginar mil possibilidades e soluções, que nunca se concretizarão. É duro, mas o poder não está conosco, com o povo, e essa é uma triste verdade que eu aprendi a admitir. Vivemos num mundo feio, onde, de fato, é o dinheiro que manda.

A solução para a África está na pura e simples bondade, no altruísmo. Mas não nosso (que poderíamos, sim, ser executores do “grande plano”, mas só). Dependemos, de qualquer forma, do dinheiro de bilionários, xeiques e sultões, como o daquele grande filho da puta que estava prestes a jogar 120 milhões de euros no lixo, ao comprar o passe de Kaká, iniciando assim uma reformulação no insignificante Manchester City. (Aliás, o próprio Kaká poderia parar de doar seu dinheiro para aqueles crentes safados e pilantras e ajudar a construir creches e escolas no Sudão, né?) O que é mais importante? Erradicar o Ebola no Congo ou transformar um time pau-de-bosta em potência futebolística? Agora, o que é mais fácil? E o que é mais confortável?

Isso também ocorre pelo fato de dinheiro e poder (em demasia) tornarem as pessoas más e hedonistas. Porque, além da constatação óbvia de que o investimento na África NÃO trará retorno financeiro por um longo tempo, outra razão para que bilionários e trilionários fechem os olhos para o continente é pura maldade. Em seus próprios países (Butão, Emirados Árabes, Brasil, Estados Unidos, Alemanha, etc.), há pobreza por toda parte e eles preferem continuar comprando milhões de carros, jóias e ações na bolsa.

Pense comigo: dizem por aí que Roman Abramovich perdeu cerca de US$14 bilhões com a crise financeira começada no ano passado. Duvido, mas vamos exercitar a mente. Antes, a fortuna de Abramovich seria de 16 bilhões e teria sido reduzida a 2 bilhões. Efetivamente, o que muda na vida dele? Nada, fucking nada. Imaginem que, ao invés de ter perdido 14 bilhões com a bolsa, ele tivesse doado. Mais do que isso, investido na fiscalização (porque a corrupção lá, assim como aqui, é absurda), presenciando com os próprios olhos o progresso que esses 14 bilhões trariam a algum lugar. Garanto que mesmo o coração de pedra do dono do Chelsea teria se sentido melhor e muito mais pleno. E o melhor: sem mudar nada em sua vida.

Outra solução para a África está em deixarmos o politicamente correto de lado. Foda-se a diversidade cultural, é uma situação drástica e não devemos dar trela para o monte de merda que acontece lá. Fodam-se as tribos que têm rivalidade histórica, foda-se a religião extremista do norte do continente, que continua a mutilar o clitóris de garotas na puberdade. Precisamos parar com tudo isso, colocar todo mundo em roupas confortáveis, dentro da escola e impedir que sigam com suas práticas tribais destrutivas (o que é diferente de tradição e folclore) de 20 mil anos atrás. Pode ser que envolva apenas conversa, pode ser que envolva truculência, mas estamos em 2009, desesperados para arrumar a bagunça que alguém fez ali e isso tem de ser feito.

Não importa. O que não pode continuar é a ignorância que permite que muito do dinheiro que é raramente doado à África seja usado para financiar guerras milenares entre tribos insignificantes que só fazem matar uns aos outros. Não pode continuar a barbárie justificada pela fé, que sempre manterá qualquer lugar anos-luz da civilização.

Sei que o que estou pedindo é ingênuo mesmo. É desejar mudança no âmago da consciência das pessoas. Sinto-me preso a um sentimento de impotência perante a impossibilidade de fazer qualquer coisa sem que para isso seja preciso desembolsar alguns milhões de dólares. Ironicamente, isso só vai mudar quando os milhões aparecerem e mudarem a história, num mundo onde força de vontade vai significar alguma coisa, onde a diversidade cultural poderá ser respeitada sem limites, porque não envolverá carnificina nem humilhação.

Enquanto isso não acontece, vou tentando me acostumar com o banho de sangue.

Monday, January 19, 2009

Dignidade Não Se Compra

Depois de algum tempo sem escrever, consegui rascunhar algumas palavras no Word. O texto a seguir fala de um tema bem batido, mas no fim das contas, como as pessoas em geral não prestam atenção em nada, é bem capaz que nunca tenha ocorrido esse tipo de pensamento a muita gente. Seja como for, é a minha visão para o assunto e já que deu vontade de falar sobre, fiz que nem os Menudos e não me reprimi.

Além disso, mudei o layout, seguindo a idéia do layout anterior, mas com um novo jogo de cores e novos personagens no banner. Pra quem não sabe quem são, em sentido horário a partir do canto superior esquerdo: Brian Jones, Monica Mattos, Meg White, Tony Ramos, Pamela Miller/Des Barres, Lisa Kekaulas e Muricy Ramalho.

***

Faz parte de um ciclo normal entre fãs de rock, obviamente com exceções, apaixonar-se por AC/DC ali pelos 15 ou 16 anos. Isso faz muito sentido porque todo o sex appeal do AC/DC vem de justamente não forçarem sex appeal. Eles formam a banda mais destrutiva, irônica e arruaceira de todas do tal rock clássico, basicamente como todo moleque de 16 anos quer ser. Num mesmo disco, eles cantam sobre o melhor boquete, sobre ser um garoto-problema e sobre o gênesis do rock and roll. E, no meio da adolescência, o que mais importa?

Para mim, no entanto, esse senso de adolescência tardia do AC/DC, que a transformou na banda número um dos garotos roqueiros de 16 anos com vida social, funciona só até a morte de Bon Scott – ou, sendo menos chato, até Back in Black, álbum que significa, ao mesmo tempo, adeus a Bon e uma ruptura com o AC/DC antigo.

Implico muito com Brian Johnson, mas a culpa não é dele. Sem seu principal letrista, Angus e Malcolm provavelmente perceberam que uma nova atitude deveria ser tomada. A bola do sucesso já havia sido levantada com Highway to Hell e a banda finalmente se tornou o jumbo mercadológico que é até hoje (é quase inacreditável o quanto Black Ice vendeu no ano passado), o que consistiu numa cortada melhor que qualquer uma do Giba. Marketing pesado e um som mais consistente para o mercado roqueiro-casca-grossa americano substituíram o tal sex appeal não forçado e renderam, além de uma imagem onipresente no mundo do rock and roll, milhões de dólares à banda, empresários, tour managers e quem-mais-você-puder-imaginar.

Ainda assim, se eu fosse do AC/DC, não continuaria. É ingênuo pra caralho pensar desse jeito, mas música é um negócio sério pra mim. E eu também acho que genuinidade é uma coisa muito rara e meu orgulho astronômico me impediria de minar a imagem e o apelo de uma banda como o AC/DC, se eu mandasse alguma coisa ali. As pessoas me olham atravessado quando eu digo que depois de Back in Black eles só lançaram merda, mas mesmo os fãs mais devotos não podem negar que o material lançado após essa época é “menos bom” do que o anterior. Ingenuamente ignorando o fator comercial, é por isso que sou contra voltas de bandas ou substituição de membros importantes que se desligaram por algum motivo.

Um músico bom e com alguma dignidade deveria ser capaz de criar música boa sem depender do respaldo de fãs antigos ou a segurança de uma marca forte. Jeff Beck, Dax Riggs, Curumin, Johnny Marr, Lauryn Hill, Jack Irons, Rodrigo Amarante, Richard Hell, Mike Patton – são alguns nomes bem randômicos de pessoas que não tiveram medo de abandonar projetos e começar outros, ou manter ambos simultaneamente. Por mais que eu goste muito mais de AC/DC do que, digamos, Fantomas, não posso deixar de admirar mais as atitudes de Mike Patton do que as de Angus Young, pelo menos nesse âmbito.

Pode parecer óbvio para quem trabalha com música, mas não é todo mundo que saca que comebacks como o do Police ou o do Alice in Chains significam a derrota da música e a vitória do dinheiro. Ao comprar o disco novo do, hummm, Blind Melon, você está incentivando o preguiçoso, o que tem medo de ousar (além de cuspir na imagem de Shannon Hoon).

Para você pode não significar nada, mas para mim é importante. Porque acima de tudo, o que eu mais quero evitar nesta vida é premiar o indolente, o aproveitador e ignorar o esforçado.

Monday, January 12, 2009

3 Anos

E alguém duvida que 2009 vai ter ainda menos postagens (e leitores)?

Thursday, January 01, 2009

A Primeira Verdade de 2009

Só vi a entrevista do Amarante para a Trip hoje. Apesar de eu ter desconfiado bastante do fim do Los Hermanos e ter detestado Little Joy, ele continua sendo um dos caras mais respeitáveis da música brasileira atual.

A pergunta e a resposta abaixo firmam, praticamente, um dogma:

P: Às vezes tenho a impressão de que o jornalista cultural está mais preocupado em parecer que faz parte do circuito do que em entendê-lo. Que prefere fazer parte da fofoca a ir além dela.
R: Isso mesmo. Acho que o recalque vem um pouco daí também, de uma frustração. Aí fodeu, não vai ficar bom mesmo. É aquele mesmo lance da música, fazer pra receber em vez de fazer para dar algo. Principalmente em jornalismo cultural, que envolve muito ego, vira um exercício de chupação do próprio pau, de tentar fazer uma carreira baseada na persona, menos que no conteúdo em si, na visão.


Que neste ano, todos que escrevem sobre cultura admitam essa verdade e, a partir daí, resolvam seus problemas de auto-afirmação. Se isso acontecer, já garantiremos um 2009 com textos, matérias e resenhas mais dignos. É pouco, mas não deixa de ser alguma coisa.

 
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