Monday, November 16, 2009

Só Iggy Pop Importou no Planeta Terra

Já perdi o timing, obviamente, mas é de bom tom registrar a primeira - e provavelmente última - vez que eu vi James "his Igness" Osterberg ao vivo.

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Pensando bem, o lineup do Planeta Terra costuma ser uma merda. É direcionado pros indies mais babões e inadequados, daqueles que você evita encarar nos olhos quando cruza na Augusta para não virar pedra. Em 2008, eu fui porque ganhei um ingresso de graça do doce Shepa e tinha Curumin. Sério, de todos aqueles nomes, eu fui pra ver o Luciano Albuquerque, que toca toda semana na esquina de casa. Tive a sorte de fazer um puta amigo, ver um puta show do Curumin e descobrir uma puta banda (o Animal Collective). E a organização do PT é realmente exemplar. Mas organização exemplar a gente precisa mesmo em restaurante, hospital, hotel. Em festival, a gente procura por música e Mallu Magalhães, Vanguart, Jesus & Mary Chain, que formavam o lineup, são piadas de mau gosto. Offspring também, mas as 5 ou 6 músicas que eu vi foram legais pra lembrar os 12 anos. Lógico que nem fiquei pra ver Kaiser Chiefs, Breeders e Bloc Party. Deusolivre.

Chegou 2009 e nem cogitava ir ao festival, apesar da boa organização e das lembranças legais de 2008. Maxïmo Park? Primal Scream? Copacabana Club? Ting Tings?? (essa até me ofende) Eu não acho que tenho cara de palhaço. Você acha?

Mas é que eu amo o Iggy Pop. Costumo dizer que se eu tenho um dilema moral, eu saio dele perguntando "o que Iggy faria?". Quando fecharam a volta dos Stooges com o Williamson para a edição 2009, tive que desmarcar meus planos de ver Faith No More no Maquinária (o festival concorrente, com atrações bem mais legais, mas sem Ele) e engolir o lineup anêmico do PT. Tudo bem, colocaram o Playcenter como o local da farra indie e deixaram o público andar nos brinquedos do parque. Além disso, Macaco Bong e N.A.S.A. completariam o dia com um bom nível.

Faltou combinar com os russos.

Um problema de saúde me fez chegar bem meia bomba no festival, sem condições de brincar no Evolution ou no Chapéu Mexicano e tarde demais para ver o show que dizem ter sido sensacional do Macaco Bong. Esse problema (até hoje não me curei e não sei exatamente o que é) me faz ver duplo e eu tinha que ficar fechando um olho para o mundo fazer algum sentido pra mim.

Nesse estado pouco confortável, a primeira banda que acompanhei, Maxïmo Park, me pareceu uma pegadinha das menos inspiradas. Daquelas forjadas, tipo João Kléber. De forma bem insistente, perguntava pras pessoas: Isso aí é sério? Aposto numa pegadinha mesmo, só que de Deus: era um cover muito mal feito do Kaiser Chiefs, que eu conseguira fugir um ano antes. Realmente, não dá pra engambelar o destino.

Depois, Primal Scream e Sonic Youth são dois lixos tão superestimados que fizeram shows tão qualquer-nota que não tem lá muito o que dizer. Primal Scream me animou de leve só quando tocou Deep Hit of Morning Sun, e eu fiquei imaginando que tesão seria se, ao invés deles, fossem os Gutter Twins tocando a sua versão. Do Sonic Youth, só me perturbou muito ver uma mulher que parece a minha mãe segurando uma Fender Jaguar.

Só que aí entrou o Iguana e sua gangue. Numa pegada meio masoquista, eu tinha pagado 95 reais já prevendo que tudo poderia ser um desastre até ali e me conformava, desde sempre, que Stooges é Raw Power, então não pedia qualidade musical da performance de qualquer forma.

Pedrinho é sensato pra chuchu, mesmo!

A banda estava obviamente desentrosada e meio fora de forma, mas o grande O fazia uma performance digna dele mesmo. Pulou na platéia - muito bem seguro por uma corda, mas minha sensatez envolvia não esperar um Metallic K.O. - , chamou uns 50 sortudos pra cima do palco durante Shake Appeal, jogou o microfone no chão, arremessou uma muleta pro alto e mostrou sua bela bunda enrugada e decrépita. Todo aquele teatro delicioso que tem que acontecer enquanto o Iggy fizer shows, até os 173 anos, se for preciso.

O setlist foi curto e eficiente. Foi aquilo que eu e você queríamos, sem The Weirdness, Préliminaires, Candy, ou qualquer outro acidente de percurso. Tivemos I Wanna Be Your Dog, Raw Power, Loose, Gimme Danger e metade de Raw Power e Fun House. Iggy e Williamson, patifes, ainda conseguiram encaixar algo do seu antigo projeto, nunca lançado, chamado Kill City. Confesso que boiei.

Os quase 70 anos pesaram. Depois de uma hora e uns dez minutos, a banda pediu arrego e anunciou a última, num esforço bem voluntarioso e espontâneo. Lust For Life não parecia ter sido ensaiada, mas teve energia e diversão.

Saí do show satisfeito, mas com a certeza de que Iggy and the Stooges não foi a redenção do Planeta Terra, nem a banda gigante que o provedor nos deve (deve só porque se propôs a isso) desde que trouxe o Pearl Jam. Mas provaram para todos os shoegazers e neoravers e chupadores de pinto que poluíram meu 7/11 o quanto ainda são mirins.

No final, conferi um trecho de N.A.S.A. e tive que cair fora. O cansaço era tanto que achei mais negócio colar nos meus amigos que iam me dar carona. Foi nessa hora que descobri o quanto é nocivo um lineup cocô. Se o que você quer ver é só no final, as apresentações inúteis te deixam bichado para o que realmente vale a pena.

Olhando pra trás, conquistei meu objetivo, que era ver o porra louca mais idiota da face da Terra. Mas se for fazer um balanço geral, assim, tipo numa frase... Sei lá, viu? Sei lá mesmo.

 
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