Saturday, March 31, 2007

Sobre a Mediocridade

Sou um cara chato. Assumida e deliberadamente. Consigo ser contra a causa e a conseqüência, contra a situação e a oposição, tudo ao mesmo tempo. Não me incomoda ser assim, pois é parte da minha personalidade e os fatos externos também não ajudam; Ou seja, ossos do ofício.

Mas será que eu sou tão chato assim? Vivemos numa era medíocre (no sentido coloquial e negativo da coisa – merda) em que quase todos os aspectos de quase todo o substantivo que existe vão mal. Dia após dia, qualquer um com um Q.I. de, no mínimo, dois dígitos, se depara com alguns sentimentos bem desagradáveis: decepção, indignação, medo, impotência e constrangimento. O último é o menos grave, entretanto, o mais constante. Como não se sentir incrivelmente burro quando o maior sucesso de vendas da indústria fonográfica do seu país é algo dantesco como RBD, quando a terceira maior televisão do planeta (e maior do Brasil) é incapaz de passar informações precisas e imparciais, quando a nação mais poderosa do mundo é comandada por um homem um pouco menos apto a comandar que um chimpanzé?

E estamos fadados a chafurdar cada vez mais, pelo menos enquanto o povo ignorar alguns valores bem simples e que mais parecem com detalhes, mas são importantes, sim, senhor. A vida perdeu um pouco do sabor, entende? Ir ao cinema assistir à estréia de um filme, ou passar numa loja e procurar por algum CD em promoção (são tempos difíceis e superfaturados) e eventualmente achar aquela raridade, ou encontrar um amigo por lá e sair para tomar um chope, tudo isso parece que perdeu um pouco do sentido pras pessoas. Agora você gasta seu dinheiro com as roupas que todo mundo tem (e se endivida pra isso, mas está tudo OK) e vai pra balada pra ficar bêbado e fazer comentários machistas e pegar geral. Não porque você gosta dessas coisas, e sim porque todo mundo está fazendo e Deus te proíba de ser diferente de todo mundo ou simplesmente pensar.

E quem se opõe a isso é que é o loser. Não sei não... Estava pensando: os caras “legais” daqui da cidade estão já com seus 20 anos e ainda moram com papai e mamãe e ainda têm suas bandinhas de pop rock cover e permanecem fazendo suas faculdades particulares de administração pra depois tocar o negócio do pai e continuam namorando com as mesmas menininhas do Ensino Fundamental (os mais conscientes de vez em quando arranjam uma garota do primeiro colegial!). Meus amigos, os que são “uncool”, estão todos em repúblicas, morando fora e aprendendo a se virar (embora eu admita que muitos deles às vezes tenham recaídas e tentem se incluir constrangedoramente nesse mundo dos “bacanas”). Há uma inversão de valores aí.

A real é que esse lixo todo gera dinheiro. Tanto de um lado quanto de outro, por isso não acho que vá parar. O grande modo de se arranjar grana no século XXI já está definido, e é usando a decadência a seu favor. Cientistas e Engenheiros Ambientais estão fazendo fortuna tentando entender ou reparar os rombos que o homem fez na natureza, enquanto o Celso Portiolli e a Daniela Cicarelli engordam suas contas bancárias com programas de namoro na TV (e eu duvido muito que alguém ali esteja realmente na seca, mas o homem moderno sente essa necessidade de aparecer na TV, nem que seja pra bancar o macaco). É claro, o show business é movido a baixeza. O que seria de Borat se os americanos não fossem um povo mesquinho e escroto? E eu, estaria escrevendo esse texto se não tivesse acabado de assistir na MTV um especial sobre “girl power”, em que uma das garotas comentadas era um dos maiores ícones do machismo e da bronha pré-adolescente, Britney Spears? Pior: programa apresentado pela Marina Person, presumidamente uma mulher decidida, inteligente e mais todos esses adjetivos que os machistas usam pra designar uma mulher que não abaixa a cabeça diante seus bigodões encorpados. E ela se submeteu a isso? É claro que sim. Umas caras aqui, umas bocas ali, uma ou outra frase de efeito e sua imagem segue intocada para com a audiência retardada.

Eu já perdi as esperanças e não vejo outra saída a não ser fazer piada disso tudo. Não há uma vontade em mudar, nem entre as pessoas “inteligentes” como a Marina Person, porque, claro, se as pessoas deixarem de ser idiotas, vão perceber que a Marina, de fato, não é inteligente. Tudo bem. Já me conformei e aprendi a me divertir.

Ei, cara, o que você está fazendo aí parado? Tá cheio de gente babaca pra você espinafrar. Corre!

Tuesday, March 13, 2007

Kings of Leon - Because of the Times

Um dos maiores e mais datados clichês da crítica musical é comentar a “evolução” de uma banda em determinado álbum. Como se a evolução imunizasse o grupo de quaisquer críticas. “Hey, eles evoluíram, eles estão à frente de seu tempo, você é que não entendeu a proposta”. Por outro lado, quando algum músico fica estagnado num tipo de som, seus detratores têm como argumento esse estacionamento musical. É um conceito dos mais babacas, porque determina condições sobre o que deve ou não fazer uma banda. Ora, música não deveria ser livre? No dia em que as grandes bandas começarem a se deixar levar pelo gosto alheio – da crítica ou de fãs – podem fechar tudo, de lojas de CDs a casas de show.

Ficar parado ou seguir em frente depende única e exclusivamente dos guitarristas, vocalistas, baixistas, bateristas. Nem mesmo os fãs sabem o que querem, porque alguns “enjoam” de uma banda sempre repetitiva e outros não conseguem digerir mudanças. O último disco dos Strokes não foi bem, disseram que “foram inventar e acabaram fazendo merda”. O recém lançado do Arcade Fire não foi uma unanimidade como Funeral. Rapture, Killers, Keane... As bandas indie estão cada vez mais ousadas e não estão agradando seus fãs. Há um motivo para ambas as coisas.

De um lado, pessoas extremamente jovens são transformadas, num piscar de olhos, nos “salvadores do rock”. Então, ainda numa psique de super humano, externam nos discos subseqüentes ao hype sua ainda latente rebeldia numa coisa que “ninguém” quer ouvir. Entenda as aspas, foi confrontando os fãs modorrentos e chocando a crítica (e vez ou outra a sociedade) que surgiram os grandes clássicos.

Do outro, os fãs estão descobrindo uma banda nova (e de seu agrado) a cada dia no MySpace e, portanto, não precisam refletir muito sobre a nova empreitada do Franz Ferdinand ou dos Strokes. Se agradou, ótimo. Se não, no máximo, a banda vai ser massacrada internet afora e só. Nada de segunda chance.

No meio de tudo isso, os membros do Kings of Leon anunciaram que “não teriam medo de nada e que entrariam no estúdio com a mente aberta”. Dito e feito. O disco ainda nem foi lançado oficialmente e já causa discussões, pelo menos entre os fãs. Alguns dizem que “foram inventar e acabaram fazendo merda”, e outros aplaudiram a mudança.

Decerto que estou com o segundo grupo. Because of the Times é um disco para derrubar queixos. Seja pela surpresa ou pelo direito que acerta sua cara em cheio. Não é um giro em 180° no som que a banda costumava fazer, é mais. Kings of Leon está num novo plano, não sei se mais alto ou mais baixo, talvez ele cruze com o anterior. E nesse cruzamento é justamente onde fica a caipirice. E a voz de Caleb Followill.

E é verdade. Se não fosse a voz de Caleb e alguns elementos aqui e ali, você provavelmente não acreditaria que é um disco dos Kings. Começa aberrante para os padrões deles, com uma musica de 7 minutos, com guitarras fazendo harmônicos e coros ecoando no fundo. Tem uma colher de chá de U2 ali. E tem também Hard Rock. Porque não Pearl Jam? A verdade é que não dá pra definir muito bem o que é esse som. A banda cresceu, e talvez tenha achado seu caminho.

Uma coisa que é bem definida nesse Because of the Times, porém, são as conduções do baixo de Jared, o mais novo da banda e positivamente um dos melhores (eu não me contenho com os superlativos) baixistas dessa safra de bandas novas desde 2001. Talvez o melhor. As notas do baixo são mais nítidas e impressionantes do que qualquer outro instrumento em diversos momentos ao longo do disco.

On Call é o primeiro single e não tem nada, nada, nada a ver com Molly’s Chambers ou King of the Rodeo ou Four Kicks. A puxada melódica do refrão emociona e a música é muito mais um “climão” que uma canção com ritmo frenético pra dançar. É esse “climão” que também difere Because of the Times dos primeiros dois discos, é uma coisa mais adulta. Black Thumbnail, Knocked Up, Arizona e The Runner também são assim. Ainda é rock, mas é um pouco mais complexo. A tal da evolução está aí.

Caleb disse certa vez que se “Youth and Young Manhood” é a festa, “Aha Shake Heartbreak” é a ressaca. Comparação perfeita, mas então o que seria BotT? Se prender em comparações sem estar dentro do processo é pura tolice. “Todo álbum carrega algum estereótipo consigo, mas nós não prestamos atenção nisso. Nós sempre tentamos fazer o próximo álbum melhor do que o último”, disse o baterista Nathan à revista americana Harp. Isso serve ainda mais para turvar qualquer suposição acerca do que representaria o disco novo.

Because of the Times era o nome de uma grande conferência religiosa que os irmãos e primo Followill costumavam freqüentar durante a infância, mas segundo Caleb, se refere também à mesma justificativa que as pessoas dão para um álbum ser um sucesso ou um fracasso: “É por causa dos tempos.” Talvez seja “por causa dos tempos” que a banda resolveu ousar tanto dessa vez. Não é preciso se preocupar com isso, só essa deliciosa ironia desafiadora já vale mais que qualquer explicação oficial.

Ainda falta algum tempo pro disco sair, e, ao contrário do que aconteceu com os anteriores, provavelmente vai dividir opiniões. Tudo bem. Because of the Times é o primeiro e honesto passo para que daqui alguns anos Kings of Leon seja lembrada como uma grande banda. É isso que interessa.

Thursday, March 01, 2007

Johnny Brechó - Rock de Veludo

Bandas como Johnny Brechó se proliferam como formigas. Isso é fato e carrega consigo um significado: as bandas de "rock atual" não cativam mais os jovens. Se houve uma explosão de rock de garagem, independente e alternativo no fim dos anos 90 e começo dos 2000, hoje em dia esse movimento se ramificou tanto que não existe mais um som emblemático ou com alcance suficiente para ser convidativo para todos. Quer dizer, é um movimento, não um estilo musical. E, por isso, cada vez mais, as bandas buscam no passado a maneira de fazer seu som. E às vezes exageram.

Johnny Brechó é um nome totalmente apropriado para uma banda cujo público é justamente o tipo de pessoa que vai a um brechó procurar plumas, chapéus e camisas antigas. Poderia também se chamar de Johnny Retrô e estaria tudo certo. Essa necessidade dos mais novos em ter por aí bandas como essa, Cachorro Grande, Wolfmother, Black Crowes e tantas outras vem, sem dúvida, da impossibilidade de acompanharmos às carreiras das bandas dos anos 60, 70 e 80 durante seu auge, seja ouvindo um clássico na semana do lançamento ou pegando shows memoráveis com o máximo de energia que os rockstars da época em que o rock era rock e o mundo ainda era bipolarizado podiam injetar numa apresentação ao vivo.

Mas a verdade é que os tempos mudaram e agir como se vivêssemos numa época em que uma revista em quadrinhos custava 25 cents não é menos que ridículo. Entenda, emular um som antigo pode ser tão interessante quanto desastroso e, assim como a influência externa determina que a banda siga por esse caminho, é ela que define qual dos dois aspectos a banda vai ter. Se você fica insistindo que é uma diva setentista ou um pioneiro do rock de garagem de 1965, está mal. Vai ser provavelmente motivo de chacota entre a crítica musical e não vai pra frente como artista. Se se apropriar apenas do som antigo, mesmo que não seja original, e não tentar parecer um macaco classic rock com sua roupa e trejeitos, provavelmente vai juntar alguns fãs e um pouco de respeito, já que as pessoas se permitiriam a aceitar uma espécie de "segunda chance" se não estiverem enjoadas com o cheiro de mofo da sua camisa.

Ainda não vi Johnny Brechó ao vivo e eles ainda não foram tomados pelas garras imediatistas das gravadoras - são 100% independentes -, por isso não sei como se portam, mas a banda impressiona. Em 2005 gravaram um EP, "Rock de Veludo", muito bem produzido, do tipo que vale gastar uns trocados pra ter. Os temas lisérgicos do Zeppelin já aparecem na abertura do disco, Impala 65, e depois as músicas continuam resgatando as bandas de Hard Rock dos anos 70, com odes ao Rock and Roll e tudo mais. No fim, um cover sensacional de Mutantes. A banda tem um line up que pode ser, também, interessante. Mas é a voz de desenho animado do vocalista Dino que, estranha no começo, vira uma identidade pro grupo ao longo das outras escutadas.

A real, então, é a seguinte: O Johnny Brechó tem a faca e o queijo na mão. A banda é independente, mas está redonda pra ser vendida como uma eventual "volta do rock" e se dar muito bem. Só não pode ser seduzida pela babaquice dos maneirismos "retrô" tipo o Cachorro Grande e se meter numa demanda por visual (e não por música). Até porque, como Dino cita Robert Plant em determinado momento, "it's been a long time since the rock and roll".

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Não é a função deste blog, mas por se tratar de uma banda independente que provavelmente tem pouquíssimas fontes no soulseek e menos uploads ainda no rapidshare, segue abaixo o link da página do Johnny na Trama Virtual.

 
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