Friday, October 19, 2007

Travis e Ave

Uma coisa em comum entre os dois shows que eu estive aqui na Dinamarca até agora foi a qualidade das bandas de abertura. Na primeira vez, Marvel Hill, abrindo para os milenares tiozinhos do DAD, conseguiu ofuscar a atração principal com uma apresentação esquisita, eletrônica demais para o público presente e com um baterista que literalmente exalava fumaça.

A banda que eu vi hoje à noite, no entanto, tinha uma missão um pouco mais difícil do que superar as macaquices de meia-idade do Disneyland After Dark. Quer dizer, Travis pode não ser mais aquela anda que fazia chover em Glastonbury, mas ainda é boa música. Sério, Selfish Jean põe no chinelo, fácil, qualquer single dos Klaxons ou Kate Nash. Não?

De qualquer modo, essa banda de hoje, Ave, à primeira vista parece demais Arcade Fire, mais do que seria saudável: Nove músicos no palco, terninhos, trocentos instrumentos clássicos... Mas é bom quando o som começa e você vê que as aparências enganam. Eles estão MUITO mais nessa de “Art Rock” (ui) do que o Arcade Fire. Oscilam naquele vaivém, hipnotizando a platéia com uma cantiga ao som do piano ou sintetizador e de repente acordam, irrompem em notas e batidas. Na verdade, em determinado momento, quando eu já estava com um pouco de, cof cof, medo deles, o baterista explodiu numa manifestaçäo sonora que foi das maiores que eu já vi ao vivo, possuindo a banda, engrandecendo, completando tudo aquilo de novo. Caralho, tomei um susto.

Uma coisa que aprendi com DAD e Marvell Hill é que quando você está num show e não exatamente sabe cantar as músicas junto dom a banda, sente necessidade de uma imagem, de algo visual que complete sua experiência, naquele momento muito mais sensorial do que racional – como escutar um CD novo folheando o encarte. Os músicos do Ave parecem estar cientes disso e montam um verdadeiro banquete visual. São dezenas de pequenas coisas para prestar atenção: Velas e abajoures espalhados pelo palco; Máscaras nos rostos das três garotas que tocam violoncelo e violino; Uns quadros de paisagem encostados nos instrumentos e caixas de som; Uma maçã que o guitarrista (separado do Frusciante no nascimento) parece estar muito interessado em comer; Uma máquina de escrever que realmente é usada como instrumento em certo ponto; O vocalista em si, que canta sentado numa cadeira, como se fosse um doente terminal, se controcendo, e depois levantando, e andando pelo palco gesticulando, e depois tocando trompete e piano; E no alto, o mais importante, um telão com imagens precisamente escolhidas para cada música, como se fosse um clipe.

Como banda iniciante e, portanto, filha da internet que é, o Ave sabe que apenas a música não é mais atrativo hoje em dia. Baixar bootlegs é mais fácil que tocar guitarra e não é mais preciso estar lá. É, é uma pena, mas é assim que é. E, portanto, para valer mesmo a pena, para moleques como eu, ou da minha geração, uma apresentação não pode ser menos que catártica.
Com suas explosões musicais e sons de máquina de escrever, Ave está no caminho certo, parece.

E o Travis, bom, foi grande. Ao som da música-de-treino-do-Rocky-Balboa, eles chegaram por trás da platéia com roupões coloridos de boxe, e passaram por todo mundo antes de pularem pro palco. Abriram com Selfish Jean, tocaram os hits esperados (e minha favorita pessoal, Love Will Come Throught), zoaram o tecladista sueco e mandaram aquele cover esperto de Britney Spears. Ótimo show, em muitos (quase todos) aspectos melhor do que os das outras três bandas citadas aqui, mas Travis é isso aí. Tem alguma coisa pra teorizar? Praticamente nenhuma.

Monday, October 08, 2007

Sobre Coisas Boas

Há uma coisa que eu sei que não sou, um jornalista musical. Não tenho idade pra isso e nem o diploma, e nem o conhecimento. Quem acompanha meu blog ou as coisas que eu escrevo e falo, de certa forma, acompanha meu crescimento como escritor (cof cof), como amante de música, e tudo mais que meus textos possam passar.

Por isso mesmo não tenho vergonha em dizer que hoje comprei minha primeira Uncut. Nem que eu não conhecia nenhum dos artistas do CD que o Devendra Banhart compilou para a revista. Podia ficar aqui citando todos os prós da revista e ficar em devaneios do tipo “será que uma revista dessas daria certo no Brasil?” “Eles fazem isso e aquilo e é genial”. Mas o problema é que não é muito comum eu me interessar por esse tipo de coisa (o que me desqualifica ainda mais como jornalista-wannabe). O que me pegou mesmo hoje foi o CD. Porque se você for pensar, entre as duas artes subjetivas que são a escrita (nesse caso, a do jornalismo musical da Uncut) e a música, a música é ainda mais subjetiva, ainda mais incerta, ainda te leva mais pra lá e pra cá do que a outra. Não requer sua concentração, a conquista.

Quando eu escuto alguma coisa como Echoes ou Since I’ve Been Loving You, eu fico realmente emocionado, a música toca no meu peito de verdade, eu sinto aquele amor por ela, aquela empolgação e aquele agradecimento aos deuses por poder estar escutando aquilo. E quando o que está tocando no meu som é alguma coisa como Nirvana, Wolfmother ou esse CD do Devendra, com seus braços-direitos-acid-folk, eu sinto que é possível. São moleques como eu, com um instrumento, chique ou rudimentar, fazendo música básica e bonita, e tão eficiente quanto a dos gênios que colocam as notas mais perfeitas com os timings mais perfeitos.

Quer dizer, eu peguei meu violão, toquei minhas poucas composições e realmente considerei, sei lá, gravar um demo e mandar pro Devendra. Quem sabe eu não faça isso?

Provavelmente não e sabe lá como é que vão ser as coisas daqui pra frente, näo é? Não sei como eu vou evoluir ou o que eu vou pensar ou o que eu vou fazer... Seja como for, vou continuar sempre escrevendo, sempre tentando externar todas as bobagens e raros (pseudo) lampejos de genialidade que aparecem na minha cabeça. E, deixando o lado “sou escritor beatnik fodido e estou cagando pra você” pra lá, espero que você se mantenha acompanhando nisso.

 
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