Friday, April 30, 2010

A Culpa é Toda Sua

Só no cavaco, rapazeadinha. Coluna do dia 10/04.

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Numa primeira olhada, parece que tudo vai bem na música brasileira e quase toda semana somos agraciados com lançamentos incríveis e desafiadores. Até o fato de a gravadora Deckdisc ter comprado uma fábrica de vinis e lançado edições lindas e luxuosas de bolachas de bandas como Nação Zumbi e Pitty, parece sugerir uma retomada do consumo da música como bem de valor. A produção independente se mostra acessível a qualquer um com um modem e começamos a acreditar na consolidação do que os punks idealizaram nos anos 70: faça você mesmo (e obtenha sucesso).

Do outro lado, Rômulo Fróes deu uma entrevista na semana passada para o site Scream & Yell (http://www.screamyell.com.br) afirmando que as coisas não são tão bonitas assim, na prática, para o artista. Entre outras declarações, ele destaca que, apesar dos esforços em levar a nova música brasileira (não a do slogan do rádio, veja bem) para todo o Brasil, ela continua centralizada no Rio e em São Paulo. Ele ainda lembra que mesmo os artistas mais talentosos e de alto potencial comercial, como o Curumin, seguem tendo que fazer das tripas coração para viver de música.

Rômulo também é parte dessa tal nova música brasileira. Como vem sendo regra, ele mostra coragem ao misturar estilos e ritmos díspares em seu trabalho e, principalmente, ao expor suas opiniões sem rabo preso. Não é só o Rômulo que é assim: de Macaco Bong a Emicida, passando por Cidadão Instigado e Lulina, todos têm sua carga de fibra e engajamento. Sem dúvida, é o que precisávamos ante os músicos pasteurizados que dominavam a cena.

Então, por que é tudo tão difícil para essas pessoas certas no lugar certo? Por que, numa cidade como Indaiatuba (e dá até pra colocar Campinas nesse bolo), as únicas chances que temos para ver essas novidades são em eventos tipo a Virada Cultural? Será que é justo que artistas tão bons – e, em algum grau, desbravadores – se limitem a tocar apenas nas baladas da região da rua Augusta, em São Paulo? De quem é a culpa?

Ora, a culpa é toda sua. E minha. E das pessoas que nós conhecemos. Você tem acesso à internet, mas continua baixando só aquelas bandas que você escuta desde os 10 anos de idade. Ou você conhece o Curumin, o Wado e a Tiê, mas não se faz ouvir, não faz questão que eles venham tocar no seu quintal. Eu mesmo, até ler a entrevista, nunca tinha ouvido um disco do Rômulo Fróes. Um tremendo erro. Quem se interessa por música, quem torce por ela, deve conhecê-la e prestigiá-la.

Na entrevista, Fróes reclama que ninguém “da cena” vai ver seus shows. Nem os outros músicos, mesmo os que trabalharam com ele. Não é uma pena? Esses dias, encontrei um modo muito louco de explicar a sociedade brasileira, através da cerveja. Na maior parte do mundo, a cerveja é vendida em embalagens individuais, como long necks e latas. Aqui, o jeito mais comum de tomar um suco de cevada é partilhando garrafas de 600ml em torno da mesa, onde se joga truco, purrinha e se toca samba. Faz algum sentido que músicos tão 600ml ajam de uma forma tão long neck?

Mesmo assim, é difícil crucificá-los. Se por um lado deveriam dar o exemplo, por outro, quando se vêem na condição de platéia, percebem como é cansativo assistir a um show às duas da manhã de uma terça-feira – o que ocorre bastante. Mais uma vez, a culpa é nossa, que não fazemos parte de um público que demanda apresentações em lugares diversos, a horários razoáveis e com estrutura decente.

Engajamento não é útil apenas para divulgar o que eu e você gostamos. Uma música popular forte estimula a geração de música popular ainda mais forte no futuro e desdobramentos criativos que nós nem imaginamos. Só lembrar que depois do samba veio a bossa nova e dela surgiu a tropicália. Estamos numa época com recursos e acesso rápido à informação e disso decorre uma criatividade artística sem precedentes. Só falta descobrir como usar esse poder que temos em mãos.

Tuesday, April 20, 2010

Nick Drake e Noel Rosa

Mais um texto da Tribuna de Indaiá.

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Há muitas diferenças óbvias entre Noel Rosa e Nick Drake. Um possuia a malemolência do brasileiro, estava sempre rodeado de amigos e, irreverente, parecia se virar muito bem. O outro representava o inglês tímido, introspectivo e tragicamente frágil. Entretanto, identificar e entender suas semelhanças é encontrar afinidades entre o samba e o folk inglês. Desafio proposto, desafio aceito.

Noel de Medeiros Rosa nasceu no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro em 11 de dezembro de 1910 e lá permaneceu até sua morte, em 37. Logo cedo aprendeu a tocar violão, depois bandolim e aos 19 anos já integrava o Bando dos Tangarás, que contava, entre outros, com João de Barro, mais tarde conhecido como Braguinha. Foi a primeira de muitas parcerias ilustres do músico que, dois anos mais tarde, emplacou seu primeiro grande êxito, que até hoje permanece como um dos maiores hinos do carnaval: Com que Roupa? O sucesso da canção, no entanto, não garantiu fama nem fortuna ao cantor.

Já Nicholas Rodney Drake veio ao mundo em 19 de junho de 1948, 11 anos após Noel partir. Apesar de inglês, nasceu na antiga Burma, hoje conhecida como Mianmar, por conta do trabalho do pai. Pouco depois, a rica família Drake voltou à Inglaterra, onde se instalou no pequeno vilarejo de Tanworth-In-Arden. Solitário, Nick via na música, exaltada pelos pais – principalmente pela mãe, Molly – uma válvula de escape. Foi apenas depois de entrar para a Universidade de Cambridge e passar por experiências, humm, psicodélicas (como provar maconha e LSD) que Drake gravou seu primeiro disco, Five Leaves Left.

Se Noel teve parceiros importantes como Braguinha, Cartola, Ismael Silva e Lamartine Babo, Drake também contou com colaborações edificantes. Richard Thompson, do Fairport Convention, até hoje o maior expoente do folk inglês, Joe Boyd, produtor de bandas como The Incredible String Band e Pink Floyd, e até mesmo John Cale, do Velvet Underground – e um dos músicos mais doidos do planeta – ajudaram a moldar o som do cantor de 1,90 metro.

De certa forma, tanto Rosa quanto Drake tiveram vidas boêmias, sem muito apreço por convenções sociais. O segundo era fumador inveterado de maconha (e em homenagem à erva, escreveu a belíssima The Thoughts of Mary Jane) e mantinha-se acordado pela noite compondo canções, muitas vezes isolado em um apartamento. Noel, mais social, era como um líder dos sambistas nos botecos da Vila Isabel (e dessa rotina vêm duas de suas melhores: Feitiço da Vila e Conversa de Botequim) e estava sempre a subir o morro para conhecer novos compositores das favelas, como Angenor de Oliveira, o Cartola.

Noel é responsável por trazer o samba dos morros para o asfalto (a clássica divisão da cidade do Rio de Janeiro) e acabar por, se não criar, fomentar o que viria a ser o samba dali para frente. Drake também foi capaz de transpor o clima pastoral dos vilarejos britânicos para o asfalto das ruas de Londres e lá aconteceram seus poucos shows. Interessante notar que, enquanto o samba precisou de um especialista do batuque que unisse os conservadores do asfalto aos talentosos do morro, metáfora clara da formação do Brasil, o folk apareceu para os ingleses após ser formulado em universidades e exposto por moleques corajosos, como Drake e Boyd. Quem aí ainda tem coragem de dizer que música não é influenciada diretamente por aspectos sociais?

Suas mortes, aos 26 anos, de certa forma foram causadas por eles próprios: Drake num estranho suicídio com pílulas (ao som de Bach, dizem!) e Rosa por negligenciar cuidados à sua tuberculose descoberta anos antes. Foram finais de vida melancólicos, com inúmeras desilusões. O sambista chorava por Ceci, a dama do cabaré que o trocou pelo ator Mário Lago, e estava consternado por causa das limitações físicas causadas pela doença, ao passo que o trovador também se resignava pelo fim do relacionamento – que não chegou nem a ser namoro – com Sophie Ryde, além da enorme frustração por nunca ter chegado ao estrelato com seus três LPs.

Morreram quase que no esquecimento, mas a história lhes fez justiça. Hoje todo mundo que toca samba deve os dois braços e as quatro cordas do cavaquinho ao prodígio da Vila Isabel. Da mesma forma, não existiriam Elliott Smith, Rufus Wainwright, REM e The Cure sem a melancolia de Nicholas Rodney. Por mais demorado que tenha vindo o reconhecimento para ambos, o Universo tratou de colocar o pingo nos is, no fim das contas. Ainda bem.

Thursday, April 15, 2010

Gorfo Western

Olha só, um texto completo pro blog. Se alguém ainda acompanha isto aqui, pode ser que fique feliz.

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Como toda pessoa que aprecia e procura entender alguma coisa (música, no caso), me reservo ao direito de ter minhas idiossincrasias. No caso, a "verdade absoluta" de hoje se refere ao fato de achar rock em português uma merda. Em geral, as boas bandas de rock que cantam em português, tipo Mutantes e Los Hermanos, são legais justamente porque não são rock direto ao ponto. Sempre tem uma mistura ali que torna menos improvável a improbabilidade semântica de um ritmo feito para ser cantado em inglês não estar sendo executado na sua língua-mãe. Todavia, eu achava que as letras do Matanza até que caíam bem com o som que eles fazem.

Quer dizer, até, hã, dois anos atrás, provavelmente a última vez que parei para escutar um disco da banda supracitada. Na verdade, você até pode achar aqui pelo blog várias menções favoráveis ao conjunto de Jimmy London e seus amigos. Eu achava Matanza o máximo até mais ou menos os 17 anos. Fui a alguns shows e me diverti para caramba.

Daí hoje, pelos velhos tempos, resolvi colocar A Arte do Insulto, último disco de estúdio do quarteto, pra rodar. Soaram os primeiros segundos da primeira música e eu enrubesci. Tipo "era isso que eu ouvia com 16 anos! Que vergonha". Não existem palavras para descrever a ruindade d'A Arte do Insulto. O Matanza não sabe se é country, hardcore ou metal. Se o intuito era fazer uma mistura MUTCHO LOKA, o resultado é insultante. Ainda é verdade que as letras encaixam direitinho com os instrumentos e melodia, mas os grunhidos de Jimmy London são tão ofensivamente guturais e sem técnica que estragam essa única qualidade.

Não são só as cordas vocais do frontman que são forçadas; Cada letra, cada tema e cada atitude do Matanza é feita em torno de um meme, de uma imagem que a banda algum dia deve ter julgado ser LEGALPRACARALHO. Mais uma vez, o resultado é sofrível. Misturam-se saloons com carros em fuga e encontros com o caramunhão em pessoa. Hank Williams pede clemência, Johnny Cash enrubesce. De minha parte, acho quezZzZZzzZZzZZZzzZzZ.

Mas confesso que parar para escutar o álbum teve seus prós. Por exemplo, recentemente, andava conversando com um amigo sobre a possibilidade de ir a um show do grupo só pra relembrar os 16 anos. Nesse âmbito, A Arte do Insulto me foi muito útil: economizarei uns bons 15 contos, que provavelmente seriam gastos na entrada desse hipotético concerto.

Moral da história: assim é a vida, perdemos e ganhamos todos os dias. Hoje mesmo, eu perdi uma referência de banda bacana, mas ganhei um frisbee novo.

Nada mau prum boçal. Nada bom, também


Tuesday, April 13, 2010

Isso Está Acontecendo

É uma manhã ensolarada, ainda que fria. Estou vestido com um pijama improvisado que aguentou bem a noite gelada do outono. Ou quase. A garganta está um pouco congestionada. Mas aí assumo a culpa: é muito cigarro.

Os maravilhosos tentáculos de seda e movimentos serpenteantes da Rede mais uma vez anteciparam em um mês o que, provavelmente, eu não aguentaria esperar nem mais um dia. Me processa aí, RIAA filha da puta!





Não importa. 146MB depois, começo a ouvir o novo LCD Soundsystem e um sorriso involuntário brota na minha face. Deus abençoe James Murphy.

Monday, April 12, 2010

Greg Dulli: A Vitória do Coração

É, mulambada: agora só coloco texto da coluna por aqui. Quem sabe em breve alguma outra coisa exclusiva pro blog. Mas por ora, vê se este te apetece.

(De quebra, tem um comentário sobre o show histórico que o Dulli fez com o Mark Lanegan aqui em São Paulo no ano passado, que eu pecaminosamente não resenhei no blog na época.)

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O que me impeliu a escrever este texto foi um dia ruim, de uma tristeza meio atípica e assustadoramente cíclica. Não. Na verdade, o que me impeliu a escrever este texto foi o álbum que serviu como escape nesse dia ruim. Porque uma das muitas belezas da música é que se ela não cura, pelo menos alivia. E o que eu precisava naquele momento para aliviar a dor era a mistura de rock, trip hop, soul e folk de Twilight as Played by The Twilight Singers. É o primeiro trabalho do grande Greg Dulli como líder e dono do Twilight Singers.

É bem capaz que você nunca tenha ouvido falar nele. Normal. O cara jamais emplacou um hit significativo e suas bandas são sempre inconstantes demais, dando lugar a infinitos projetos. Além disso, Dulli desafina pra burro. Só que não existe outro que desafine com tanta sinceridade e emoção e é aí que ele faz bonito. Se você está mal, pode encontrar companhia na amargura do rapaz. Se estiver feliz, irá louvar suas melodias.

Vestido como Johnny Cash, por vezes esganiçado como Bob Dylan e bêbado como um gambá, Dulli faz música do fundo do coração há quase 20 anos. Seu primeiro conjunto, The Afghan Whigs – e eu podia parar o texto aqui: quem nomeia uma banda como “as perucas afegãs” é gênio e acabou – misturava o clima árido e agressivo do começo do grunge com a sensualidade do soul. As letras traduzem, com palavras chulas e berros doloridos, os desastres das relações adultas. Acurado pra caramba. O resultado disso é uma espécie de efeito Chico Buarque: em seu grupo restrito (porém fiel) de fãs, as mulheres babam pelo cara, que sorri com sua camisa preta semiaberta e um copo na mão.

Em 1994, fez parte da banda que recriou, para o filme Backbeat (Os Cinco Rapazes de Liverpool), o som dos Beatles quando eles ainda tocavam para platéias de turistas em Hamburgo. Junto a ele, estavam Mike Mills do REM, Dave Grohl do Nirvana, Thurston Moore do Sonic Youth e outros músicos-símbolo dos anos 90. Não seria a última participação de Dulli, que no ano seguinte figuraria como a única pessoa na gravação do primeiro álbum do Foo Fighters, além do próprio Dave Grohl. Sua parceria mais notável, no entanto, só foi acontecer em 2008, quando se juntou a Mark Lanegan (Screaming Trees e Queens of the Stone Age) e juntos criaram The Gutter Twins.

Antes disso, em 2000, Dulli lançou Twilight..., inaugurando o que se tornaria sua banda principal, Twilight Singers. E eu não sei porque o disco veio a aliviar minha fossa, tenho apenas hipóteses: pode ser a força das letras – a primeira frase é desoladora, “rock steady, baby, your man is dead” e a última é reconfortante, “everything is gonna be all right”; podem ser as batidas suingadas e remixadas pelo produtores Fila Brazillia; podem ser os arranjos constantemente belos; pode ser Clyde, uma das melhores músicas para fazer sexo já gravadas. Na verdade, é tudo isso, mais um fator importantíssimo: Twilight... mostra que há beleza e melodia mesmo na escuridão e te faz companhia até você sair dessa.

Anos depois, a voz enfumaçada, curtida no tabaco, de Lanegan caiu como uma luva tanto nos trabalhos prévios de Dulli quanto nos discos do Gutter Twins, Saturnalia e Adorata. Pode parecer pesado, e também irônico que eles se auto-intitulem os “irmãos da sarjeta”, mas também faz todo o sentido: a honestidade bêbada e sombria dos dois os faz tiozinhos manguaçados com muito a falar e pouco a explicar.

No ano passado, a dupla veio ao Brasil apresentar “Uma noite com Mark Lanegan e Greg Dulli”, onde tocaram versões acústicas de suas bandas e alguns covers. Consegui trocar uma idéia com ambos e agradeci Dulli pela corda de seu violão, que havia estourado durante a passagem de som (e um funcionário da casa de shows pegou e me deu). Tipo “você nem deve saber, mas valeu aí pela corda”. Ele não foi lá muito gentil, mas mesmo assim guardei a corda. Porque a sinceridade de Greg Dulli é comovente.

Wednesday, April 07, 2010

Rebola!

Do dia 20/3, também para a Tribuna. Se pá ficou legal.

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Laura Fontana cobra R$ 500,00 de cachê para cantar e dançar em programas de televisão. Li num desses blogs de fofocas que ela até já faria exigências em quartos de hotel. Laura tem oito anos e até que manda bem no inglês, considerando sua idade. Você deve conhecer ela como a mini Lady Gaga do programa Qual É o Seu Talento, do SBT. No entanto, a questão aqui não é a aptidão ou o estrelismo da menina, e sim qual o motivo de um cover fazer (relativo) sucesso na televisão.

Tirante o fato de que qualquer inocuidade feita por uma criança tende a parecer a coisa mais bonitinha do mundo, o mérito do sucesso da própria Lady Gaga, frequentemente apontada como uma nova Madonna, não deve ser ignorado. Por que ela tem tanto alcance? O que faz cada nova personalidade pop americana ser encarada como arrasa-quarteirão e eterna enquanto dura?
Numa época em que é fácil se desviar dos grandes sucessos do rádio com a internet – você baixa as músicas que quiser e faz sua playlist –, é notável como os grandes sucessos americanos ainda persistem. Você pode argumentar com a injeção de dinheiro absurda do showbusiness ianque e com a questão da língua inglesa, que se tornou, extra-oficialmente, o idioma oficial do planeta. Mas contar só com isso é complicado. E Lady Gaga está ciente.

Então, ela polemiza, e ataca nos mais diversos âmbitos. Moda, videoclipe, declarações polêmicas, parcerias... Gaga, assim como Beyoncée, Rihanna e tantas outras, aprendeu que a música é meio que secundária hoje em dia. Estamos na era da hipermídia, em que imagem, som e divulgação formam um todo homogêneo. Por isso, é jogo fazer um clipe megalomaníaco como Telephone, que começa a ser visto como o novo Thriller, mesmo numa época em que não se vende mais CDs e não se assiste mais MTV. Porque o Youtube é a nova MTV e Lady Gaga vai muito bem nessa nova plataforma, obrigado.

Enquanto isso, não se pode dizer que nos faltam sucessos pop aqui no Brasil. Ivete Sangalo é a maior, uma espécie de Beyoncée tupiniquim, mas encontramos nas Stefanys Cross Fox, Claudias Leitte e Alexandres Pires os respectivos para Katy Perrys, Rihannas e Justin Timberlakes. O ponto, porém, não é a qualidade de Rebolation versus Single Ladies. Nossos cantores e cantoras pop têm seus méritos e defeitos tanto quanto os estrangeiros, tendo como diferença básica o histórico de cada um, as influências sócio-culturais e, principalmente, a demanda do público.

O que me incomoda no atual pop radiofônico brazuca é a preguiça dos envolvidos em desenvolver um lance realmente bacana, bem pensado e abrangente, como fazem os gringos. Ivete, Claudia, Parangolé e todos esses hits continuam batendo na tecla da indigência cultural do brasileiro. Então, as letras são de constranger uma criança, os clipes são manjadíssimos, a divulgação se restringe a Faustão, Fantástico e Carnaval... É uma espécie de coronelismo cultural que parece perdurar há uns 300 anos por aqui (e olha que o vinil só apareceu há uns oitenta). Assim, nossa música mainstream, de massa, fica estagnada e não somos capazes de construir um fenômeno como Lady Gaga – que está em todas e é capaz de dominar as atenções em diferentes âmbitos do imaginário popular.

Essa é a minha bronca com as cantoras e cantores “que cantam com a bunda” – como define meu editor Kimura – aqui no Brasil: a total falta de ousadia. Posso até não gostar da música, mas se percebesse uma vontade de inovar, de deixar o povo brasileiro um pouco menos burro, aplaudiria de pé. Já que não vejo isso, por enquanto, prefiro continuar vaiando sentado, pra não correr o risco de seguir o Rebolation.

 
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