Thursday, December 20, 2007

Top 10 2007 - Os Discos

Conte pra mamãe! Mostre pra vovó! Mande de spam pro cunhado! Comente com o porteiro! Finalmente o top 10 mais esperado da blogosfera (quê?) saiu!

Desta vez, foi um processo mais caprichado e divertido escolher os melhores discos do ano, se compararmos com 2006. No ano passado, eu resolvi que devia fazer minha listinha assim, do nada, e muita coisa ficou faltando. Pra ser sincero, 2006 foi um ano chave pra mim, em que conheci muita coisa importante (Black Sabbath, Nick Drake, alguém?) e eu pouco ouvi os discos daquele ano. Foi um top 5 bem meia-boca, com muita coisa faltando, e uns critérios bem mal escolhidos. Quer dizer, Empire é um disco bom, mas primeiro lugar? Enfim... Só que em 2007, lá por outubro, num acesso de vaidade, resolvi que deveria listar os discos que já tinha ouvido e os que tinha que escutar neste ano. Percebi que tinha muita, muita coisa boa mesmo. Gente velha com soltando grandes álbuns (Springsteen, Robert Plant), segundos discos sensacionais (Arcade Fire, LCD Soundsystem, Beirut) e umas indiezeiras bem legais (Raveonettes, White Stripes, Kings of Leon). Fiquei devendo nos debuts, embora adiante que, jogue as pedras que quiser, achei Battles uma merda sem tamanho.

Gostei da listinha. Espero que comentem, amiguinhos, reclamando, elogiando e, claro, colocando suas listas pessoais.

Com vocês, os álbuns preferidos de Jambo Ookamooga em 2007:


10. Silverchair – Young Modern

O disco dançante do Silverchair. Se em 2002, Diorama saiu contrariando as verdades anteriores do Silverchair, dessa vez Daniel Johns resolveu mandar para as cucuias qualquer ligação com o passado da banda. Por exemplo, eu consigo muito bem imaginar os versos de The Man That Knew Too Much cantados pelos Backstreet Boys, naquele clipe em que eles estão vestidos de monstros. E isso é tão doente como também – porra! – é legal. Those Thieving Birds/Strange Behaviour é maior e mais inspirado do que qualquer coisa que Johns fez nos seus dois primeiros discos, para se ter uma idéia. E olha que tem gente que acha que o Silverchair acabou ali. Mais do que qualquer coisa, Young Modern é a prova de que o Silverchair não pretende virar um cover de si mesmo e de que, mesmo depois de problemas, como a anorexia e a artrose, que sofreu, Daniel Johns ainda sabe fazer boa música.


9. Fall Out Boy – Infinity On High

Há alguns anos, o Fall Out Boy era só mais um grupo emo enchendo o saco. Porém, desde From Under the Cork Tree, a banda vem mostrando algum amadurecimento. Dance, Dance era já um expoente disso, mas destoava um pouco do resto, que ainda se desenvolvia, ainda estava pregado ao passado adolescente. Mesmo assim, as melodias e alguns arranjos mostravam ter alguma coisa que os Simple Plans da vida não tinham. Infinity On High é o processo completado, quando as músicas parecem todas seguir o caminho que Dance, Dance indicou. São divertidas, pop e não se levam muito a sério. E é desse jeito que importa.


8. Robert Plant & Alison Krauss – Raising Sand

Engraçado Robert Plant ter lançado seu melhor disco desde o Led Zeppelin justamente no mês em que a banda se reuniu para um último show. A idéia dos dois, disco e show, começou lá atrás. Em julho, lembro-me que li na última edição da Bizz uma notícia sobre Plant, em que ele dizia que queria fazer um álbum que percorresse todo o delta do Mississipi, homenageando seus antigos ídolos, e também alegava que uma eventual volta do Zeppelin dependia de um sentimento sincero e entrosado de todas as partes envolvidas. Ele encontrou esse sentimento e, principalmente, inspiração para realizar seu tributo não em um membro da sua antiga banda, mas sim em Alison Krauss, consagrada cantora de country e bluegrass. Raising Sand é uma caminhada pela América antiga, do blues, do folk e do country. A voz de Plant, agora confortável com sua idade, mostra que ainda dá caldo. E o show do Zeppelin? É, parece que foi legal.


7. Kings of Leon – Because of the Times

Apertar o play para um disco do Kings of Leon e dar de ouvidos (sacou, sacou?) com uma música de sete minutos pode ser uma coisa bizarra, se for assim, de sopetão. Mas se você percebeu ou te avisaram que, após fazer dois ótimos álbuns de country-show-me-your-boobs-and-let’s-grab-a-beer-rock, a banda resolveu seguir em frente, vai ter Knocked Up como um motivo para sorrir. Os Followill agora tocam rock de estádio, sem perder a caipirice. E, parecido com o que ocorreu com o Arcade Fire, isso os catapultou para o status de banda grande.



6. Radiohead – In Rainbows

Se fosse só pelo modo que foi disponibilizado, In Rainbows não entraria na lista. Revolucionário é meu ovo, as Casas Bahia já faziam isso desde quando? 2003, 2004? Falando sério, na minha opinião, o Radiohead apenas legitimizou o que muita gente já ia fazer, e ao anunciar o lançamento também em CD “físico” para os primeiros dias de 2008, só transformou o inevitável “leak” em algo oficial.
Mas o que importa de verdade é que In Rainbows são quarenta minutos de música boa pra caralho, do tipo que te faz escutar toda hora, viciado, e tentando entender como é que alguém conseguiu compor aquilo.


5. Arcade Fire – Neon Bible

De uma forma, este álbum significa um passo à frente para o Arcade Fire. Explico: enquanto Funeral, de 2004, era quase conceitual, estética e tematicamente, Neon Bible foi capaz de desvencilhar-se desta uniformidade, apesar de as músicas estarem atreladas, sim, a um tema central. Entao, por estarem livres, elas soam maiores, mais abrangentes e, consequentemente, mais fortes. E são grandes músicas. Quer dizer, colocar três colossos como Keep The Car Running, Intervention e No Cars Go no mesmo álbum é o bastante, não é?



4. Pelican – City of Echoes

“Um álbum instrumental que você quer realmente ouvir de novo e de novo”, assim define o guitarrista do Pelican, Laurent Schroeder-Lebec. E é verdade. Alguns fãs chiaram e tudo o mais, mas a banda foi capaz de aproximar seu som a um nível radiofônico (embora eu ache que rock instrumental nunca será “radiofônico”) sem perder a qualidade. Além disso, as suas jams soam como o tipo de coisa mais divertida que você pode fazer com uma guitarra nas mãos. É isso aí, morte ao vocal!



3. Soulsavers – It’s Not How Far You Fall, It’s The Way You Land

É como se fosse regra ter sempre um disco do Mark Lanegan entre os melhores do ano. Não é, mas depois do elogiadíssimo Bubblegum em 2005 e da participação certeira com Isobel Campbell em 2006, ele conseguiu de novo. Juntou-se à dupla de produtores ingleses Soulsavers, combinou a sua voz cavernosa-estilo-Tom-Waits-depois-de-anos-fumando com sintetizadores ora espaciais, ora um tanto deprimidos e está no terceiro melhor do ano. O álbum tem um clima espiritual, quase religioso, mas a maioria das músicas foi composta pelos Soulsavers e Lanegan. Spirtual, um hino de devoção de Josh Haden, no entanto, enriquece esse clima do disco. A voz de Lanegan funciona perfeitamente em cada uma das músicas, mas principalmente na versão de No Expectations, ainda mais cândida e triste do que a original dos Stones.


2. LCD Soundsystem – Sound of Silver

De todos os álbuns dessa lista, foi o último que eu escutei. Comecei desconfiando por ser unanimidade entre a galerinha hypeira descolada, mas depois virou TÃO unânime que não pude deixar de ir atrás. Depois de escutar, não tive pudores em colocá-lo logo em segundo, e por pouco o disco não bicou o primeiro lugar. Me falta conhecimento pra entrar em detalhes do som, mas o fato é que eu gostei demais. É música pop bem feita, com verso e refrão e uma base instrumental do cacete. E daí que é “artificial”?



1. Queens of the Stone Age – Era Vulgaris

Meu primeiro lugar. Simples assim. Pode ter pesado o fato de ser uma das minhas bandas favoritas, sim. Mas Era Vulgaris é o número um principalmente porque conseguiu finalmente superar a ausência de Nick Oliveri (e, na prática, de Mark Lanegan, embora ele ainda participe das músicas aqui e ali), equiparando a época de ouro da banda embora esteja longe de ser uma unanimidade. Porradas e riffs encorpados, igual a 2002. Mas sem se repetir. Além disso, I’m Designer e Misfit Love estão entre as músicas do ano. É isso que eu espero do Josh Homme. Com ou sem parceiragem peladona.

Tuesday, December 11, 2007

James Murphy e o Homem Moderno

A primeira vez que eu tomei conhecimento da crítica musical foi em 2002. Pré-adolescente, eu assistia na MTV um especial de fim de ano, na época que a MTV Brasil ainda tinha alguma moral (ou talvez só tivesse pra mim, pivete), e entrou o Fábio Massari falando o quanto o Songs for the Deaf, do Queens of the Stone Age era um dos discos legais do ano. Um must-have. Eu não sabia exatamente quem era o Massari e o que ele já tinha feito, mas sabia que era um cara que entrevistava músico famoso e devia ter um passado muito true, por causa daquela cicatriz na boca. E me senti extremamente feliz por ter comprado, por livre e espontânea vontade, com 12 anos apenas, um disco que ele endossava daquela maneira.

Depois de um tempo, as coisas mudaram. Minha forma de ver as coisas ficou mais cética, e a crítica em si já parece ter aberto e fechado ciclos em mim diversas vezes. Por exemplo, já achei que seria legal demais viver como o Lester Bangs (e talvez eu fosse ainda mais ingênuo quando pensava desse jeito), e já percebi que não tenho talento nenhum para isso. Hoje em dia, ficar pensando muito na análise de música não é mais alguma coisa que me empolga. Até por isso, escrever isso aqui está muito estranho para mim. É como se tivesse voltando num ponto e brigando por ele sem realmente sentir mais nada. Mas eu precisava, porque ainda uso do assunto que eu falo. Quando leio a Uncut, quando leio um livro de artigos velhos do Simon Reynolds, quando discuto sobre bandas no Orkut ou quando sigo uma indicação para pegar um disco. Mesmo tendo aprendido nesse meio tempo que não é nenhum crime escutar uma "banda ruim", eu continuo considerando certas opiniões especializadas. Para o bem e para o mal.

E foi assim que conheci LCD Soundsystem. Ainda munido de algum preconceito compreensível com "sons modernos", demorei a aceitar o que é fato: James Murphy é Deus. Fiquei relutando em escutar, mas o consenso foi tão consensual e massivo que não resisti. Fui atrás. Não preciso nem ficar descrevendo o que é a música dele por muito tempo. LCD Soundsystem é igual ao rock que você sempre escutou, com as melodias e batidas e tudo que você necessita (até solos!), só que com um instrumental sampleado e sintetizado. E, como se isso não bastasse, ao ouvir, apenas ouvir, você aprende a desprezar a desconfiança que tinha antes com sons eletrônicos.

Eu vejo o mainstream hoje em dia dividido entre a música "orgânica" e a música "artificial". Revistas como a Uncut promovem o revival do folk e do rock clássico e, do outro lado, temos bandas dançantes e produtores badalados. A figura do produtor, na era do sampler e do download, se glamourizou. Timbaland, Bob Rock, Rick Rubin e até mesmo o próprio James Murphy são agora mais famosos do que muitos dos artistas que produzem, e um timbre diferenciado, ou um eco bem localizado são às vezes mais apreciados do que um riff. Pode ser sinal dos tempos modernos, ou pode ser (e me desculpe pelo jargão proto-futebolístico) apenas o reconhecimento de um trabalho que faz, sim, milagres. Se Era Vulgaris é um dos meus discos preferidos no ano de 2007, além do surto criativo de Josh Homme, muito disso se deve, tenho certeza, à produção de Chris Goss. Porque um bom produtor, mais do que colocar os trecos tecnológicos nas músicas, é alguém que inspira e dá uma direção ao artista.

Por outro lado, o trovador também está em alta. Como se desafiando toda a gama de opções "artificiais", ele pega um violao, um piano e um acordeon e faz as melodias mais bonitas que você pode encontrar. Ressucita Tom Waits, Bert Jansch e Nick Drake (sem que todos estejam propriamente mortos) numa era em que só o Kraftwerk e o Brian Eno parecem importar. É o escapismo perfeito pra quem não acha que deve suportar tudo isso.

James Murphy é um pouco dos dois. Apaixonado pela sua cidade, ele cria um vínculo passional com o ouvinte e mostra que sabe do que está falando. Pode ser um contador de histórias como Devendra Banhart e também pode controlar uns aparatos eletrônicos como um membro dos Chemical Brothers. E ainda produz os próprios álbuns, o que elimina o dilema do "produtorversusartista" e o eleva a um nível mais complexo como músico. Timbaland consegue ser popular com o que faz, mas há quem diga que é melhor produtor. Rick Rubin é provavelmente o melhor produtor de discos de rock do mundo, mas sua banda nunca foi popular. Murphy une tudo isso e em prol de si mesmo.

Talvez ele seja a evolução do popstar. Talvez ele seja só o homem moderno. E talvez o cara seja a ruína da música. Mas o que importa mesmo é que Sound of Silver é do caralho, amigo.

 
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