Friday, May 18, 2007

Mano Brown Odeia Playboys

Nas últimas quase duas semanas, todo mundo falou do tumulto que ocorreu durante o show dos Racionais MCs na Virada Cultural. Falaram tanto, mas tanto, que a coisa se transformou num problemão. Até a MTV reservou um de seus programas pra falar sobre o assunto. Mas eu, bom, eu nem mensurei muito o tamanho da coisa. Talvez porque seja retardado, ou desligado, ou ache que tumultos são uma coisa corriqueira nesse mundo fodido que nós vivemos. Mas, certo mesmo, é que, após ver uma coluna dedicada ao tema até mesmo no Omelete, me senti irresistivelmente impelido a falar sobre o assunto. Não por eu manjar muito da coisa. Mas pela simples necessidade, quase básica, de dar pitaco em assuntos polêmicos.

Não que tumultos sejam uma coisa normal ou aceitável, mas pra mim, confusão num show de rap, com um monte de “playboy” assistindo (afinal, era um show gratuito na Praça da Sé, ia gente de todo tipo), é uma coisa bastante esperada. O rap dos Racionais (assim como grande parcela do rap nacional) não se comunica com quem não é da periferia, e pretende continuar assim. E isso reflete nos seus fãs – ou “trutas”. A hostilidade criada em torno do grupo e dos admiradores vai sempre resultar nessa explosão de ânimos quando os hostilizados dividirem o mesmo ambiente dos hostis. Difícil é tomar simpatia pelos hostilizados.

A princípio, esses são mesmo os mais pobres, esmagados por um sistema que dá poucas chances de ascensão social e cada vez mais marginaliza os menos afortunados. Nada disso é mentira. Mas o modo violento como eles olham, se referem e até mesmo tratam os “playboys” (se bem que pros “manos”, qualquer loiro de olho azul é automaticamente um repressor ofendendo suas famílias) faz com que a distância entre essas pessoas seja ainda maior – e com mais espinhos pelo caminho. Qualquer um com uma roupa mais bacana sente-se constrangido pela própria existência na presença desses caras. É o preconceito do desfavorecido contra o favorecido. Justificado, justificadíssimo, mas tão perverso quanto o outro.

E no meio disso tudo aparece o rap brasileiro (paulistano?), disparando contra tudo e todos, e levando consigo um sem-número de moleques que acreditam naquilo e repetem as idéias, como um mantra. Não sou ingênuo para achar que a polícia é santa, mas o que faz um gambé quando, ao ordenar disciplina, ouve urros de protesto do público e recebe indiferença dos artistas? Desce a mão, mesmo. E é inocência pensar que não fariam isso.

Se o show em questão fosse do Marcelo D2, por exemplo, acredito que não teria havido essa confusão. Porque o D2 conseguiu, enfim, transformar seu rap numa coisa vendável. Ele se auto intitula o tal pesadelo do pop, mas ele é extremamente pop. Brilhante! Um monte de branquelo rico escuta aquilo se achando o malandrão, o anti-pop, o mano do gueto, e aí o Marcelo vende pra cacete. Mais ou menos como funciona há um bom tempo nos Estados Unidos. Melhor: ele incutiu umas doses de música brasileira na sua música e com isso se livrou do estigma de ser um clone dos rappers americanos e ainda conseguiu uns fãs de samba. Em 2005, levou o VMB de melhor clipe de MPB!!! Em 2006, voltou a levar, mas dessa vez como artista de rap.

Então, voltando ao hipotético show do D2, o ambiente seria muito mais miscigenado, e os manos que estivessem ali não se sentiriam tão donos da música, da banda e, conseqüentemente, tão invadidos. Aproveitariam a música congregados aos playboys e pattys e sambistas universitários de calça de saco de batata. Viu que poético?

Nisso, os Racionais seguem separados do resto do mundo. E vão continuar, enquanto se mantiverem irredutíveis em relação à sua posição (musical e comportamental) de parco alcance. Enquanto isso, não se surpreenda com tumultos e bombas de gás lacrimogêneo.

Monday, May 14, 2007

10 Álbuns pra Comprar

Basicamente a idéia é essa, mesmo: 10 discos que você indicaria para alguém que só baixa MP3 comprar, e que mudariam o conceito dessa pessoa em relação a "pagar por música". Foi isso que o Bruno do Rock Magazine me pediu para fazer, colaborando com uma grande matéria que eles estão preparando para o seu blog. Como é coisa pouca, ficam aqui os 10 plays que eu indiquei (acho que não vai estragar a surpresa). Misturei os critérios "preferência" e "importância histórica" pra montar a lista.

Black Sabbath - Black Sabbath
Foi aí que o heavy metal começou, com a idéia simples de uma "banda de terror". The Warning tem um dos melhores solos de toda a carreira de Tony Iommi.

Pearl Jam - No Code
O distanciamento do Pearl Jam com o grunge produziu o melhor disco entre as bandas de Seattle daquela época, e possivelmente é meu favorito até hoje.

Led Zeppelin - Houses of the Holy
O rock direto do Zeppelin se encontra com o pop, reggae e o lado sombrio de John Paul Jones. Tem a melhor dobradinha incial de um disco: The Song Remains the Same e Rain Song.

Secos e Molhados - Secos e Molhados (I)
Toda a força e a quase paradoxal sensibilidade do Hard Rock setentista americano muito bem representadas por uma banda brasileira.

Jeff Buckley - Grace
O disco me emociona demais e dá até um aperto no coração que um sujeito promissor desses tenha morrido tão cedo. Vai de Zeppelin a Edith Piaf sem nenhum esforço.

The Rolling Stones - Beggars Banquet
Eu odiava Stones. Até ouvir o Beggars Banquet.

Chico Buarque - Construção
Chico Buarque parte da mesma insubordinação do rock pra fazer seus clássicos. Construção será sempre um disco muito mais transgressor do que muito metal extremo e HC pirulito que ouvimos por aí.

Queens of the Stone Age - Queens of the Stone Age
Já estava com um outro disco na mão quando vi esse pelo mesmo preço na prateleira da loja. Não pensei duas vezes para trocar. You Can't Quit Me, Baby é simplesmente apoteótica!

Matanza - Música Para Beber e Brigar
Não importa que não tem classe e a crítica odeia: escute no máximo, até o ouvido sangrar!

Pink Floyd - Meddle
O progressivo só se tornou tão chato porque não ouviram Echoes o suficiente.


Five Leaves Left do Nick Drake seria um décimo primeiro, fácil.

Tuesday, May 08, 2007

Quadradinhos Multicoloridos

Vivemos numa época fodida. Eu sou um moleque – sim, um moleque que mal saiu das fraldas – e quando me meto a escrever sobre rock, é sob a nuvem do apocalipse que paira sobre ele mesmo. Sim, acabou a época do rock. Acabou a época de tudo. O que são os anos 00? Uma geração sem face comandando um mundo de muitos quadradinhos – pixels – multicoloridos.

Quem tem liberdade pra escrever sobre música, filmes ou livros? Ninguém, é o que eu te digo. A auto sustentabilidade da cultura já escorreu pelo ralo há algum tempo, e nós estamos aqui, sem nada, calados, esperando pela próxima empresa pra pagar por uma propaganda-reportagem. E sem cultura não há nada.

Lembram de Reações Psicóticas? No prefácio à edição brasileira tem um quote do próprio Bangs, datado de 1980: “Você acha que, continuando assim, a única coisa vendável vai ser a biografia-putaria de uma celebridade?” Maldito Lester. É claro que há 27 anos já estava óbvia essa descaracterização do mundo. Mesmo assim, maldito Lester. Realmente, hoje em dia só se vende isso, só se lê isso. Biografia-putaria.

Estou cansado de sempre me deparar com essa angústia em relação aos tempos e nunca conseguir me expressar em relação a isso. Meus textos saem truncados, pobres, como agora. A verdade é que os moleques da minha idade me cansam e suas atitudes me acertam em cheio na cara, e eu perco um ou dois dentes a cada soco desses. Acho que baixar MP3 compulsivamente, ou ir a um show de uma banda que você nem gosta pra impressionar alguém (os garotos-legais ou as garotas-bonitas) ou simplesmente não ler significa mais do que a retórica da automatização do ser humano ou da falta de tempo. Significa que nós estamos cada vez mais espertinhos e letárgicos. Como é que se faz dinheiro hoje em dia? Especulando na bolsa de valores, jogando bola ou ganhando em cima dos danos que a humanidade (antigamente tão imbecil quanto hoje em dia, mas um pouco menos preguiçosa) causou ao meio.

Então, as coisas tomam forma de pílula, cada vez mais. A internet possibilitou isso. Informação rápida, especulação rápida, dinheiro rápido, cérebro molenga. Eu era um garoto inteligente até os 14 anos, quando comecei a usar a internet. Hoje sou burro e indolente. E não consigo parar. Mas ainda acredito em ouvir uma música porque eu gosto e em ler um livro que possa mudar minha vida. Yeah, Salinger fez isso por mim, mas não fez por um monte de moleques, que nem sabem quem é ele. Devem existir ainda duas opções:

- A cultura como meio material acabar. Filmes e programas de TV por streaming, música exclusivamente por download e até shows transmitidos via web, sem nenhum contato com público, a não ser pelos 20 figurantes contratados pra dar “clima” de concerto. Quem sabe?

- Descobrir que, apesar de tudo, existem alguns fodidos cagados que pensam como eu escondidos por aí. Então a tal “cultura como meio material” é que se tornaria a alternativa, invertendo totalmente a situação de, hum, 10 anos atrás, quando a internet ainda era o segundo plano.

São duas opções bem idiotas. E eu, como não sei me adaptar, continuo me lamentando por ter nascido desgraçadamente perto dos desgraçados anos 2000.

Se os 80 foram bregas e os 90 nulos, os 00 chegam com um glamour minimalista, quase incolor e quase tão pouco glamouroso como se esse glamour não existisse. O que eu quero dizer é que o mundo nunca foi tão rico, mas também nunca foi tão limitado, inócuo. Existem umas amarras aí, e eu não sei onde elas começam, e nem onde terminam.

Um conhecido meu colocou uma vez na sua descrição do Orkut alguma coisa como “eu só quero me divertir num mundo em que as pessoas não sabem mais fazer isso”. É por aí. Não vou ser hipócrita em vir citar o Oscar Wilde com aquela coisa de “viver” e “existir”, e nem vou dar uma de comunista em pleno século XXI para reclamar de uma possível limitação imposta pelo consumo excessivo e monopólio do capital (bem possível, aliás). Mas me reservo no direito de dar uma de Arnaldo Jabor e dizer que as pessoas são estúpidas, não devem ser e se continuarem sendo, elas estarão erradas, e eu certo. E gente estúpida não sabe se divertir.

Eu acho que sei me divertir.

Ou talvez não. Aos olhos da nossa época, provavelmente não. Há um modelo hermético a ser seguido, ou então você não se diverte, esse modelo limpo como um corte de lâmina bem afiada. E toda essa limitação não justifica o nosso passado, quer dizer, onde é que ficam as pessoas realmente excêntricas agora? Antes pelo menos elas conseguiam umas garotas (ou uns caras) e dinheiro pra pagar o aluguel. Agora elas são cortadas, nem as editoras e gravadoras e estúdios querem os mal enquadrados. Parece que essa “classe” dos anos 00 simplesmente eliminou as décadas anteriores, e o ser humano finalmente chegou àquele ponto que vinha ameaçando desde o começo do século XX: achar que a fórmula já está pronta, e descartar todo o resto.

Foda-se.

Friday, May 04, 2007

Wasted Generation

Sabe o que eu acho foda no filme Rockstar? É que aquilo é real demais. Um carinha que idolatra tanto uma banda que nem acha necessário escrever as próprias músicas. Seu talento é desperdiçado em cultuar um ídolo. Cara babaca. Quem põe os ídolos acima de si mesmo não pode ser um ídolo, ele mesmo.

Meus amigos, quando vêem o filme, cheio de guloseimas, dizem: “Caralho, mas que foda!”. Claro, não é em qualquer longa metragem que você vê o Zakk Wylde atirando numa placa de trânsito... Mas eu continuo me sentindo meio deprimido quando vejo um cara desses, seja real ou ficção.

Complicado é entender (e engolir) a atração de uma mina foda como aquela que a Jennifer Aniston interpreta por um bananão cover version daqueles.

É, tá cheio de gente retardada nesse mundo, mesmo.


Ainda bem que o carinha se toca no final.

 
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