Thursday, December 20, 2007

Top 10 2007 - Os Discos

Conte pra mamãe! Mostre pra vovó! Mande de spam pro cunhado! Comente com o porteiro! Finalmente o top 10 mais esperado da blogosfera (quê?) saiu!

Desta vez, foi um processo mais caprichado e divertido escolher os melhores discos do ano, se compararmos com 2006. No ano passado, eu resolvi que devia fazer minha listinha assim, do nada, e muita coisa ficou faltando. Pra ser sincero, 2006 foi um ano chave pra mim, em que conheci muita coisa importante (Black Sabbath, Nick Drake, alguém?) e eu pouco ouvi os discos daquele ano. Foi um top 5 bem meia-boca, com muita coisa faltando, e uns critérios bem mal escolhidos. Quer dizer, Empire é um disco bom, mas primeiro lugar? Enfim... Só que em 2007, lá por outubro, num acesso de vaidade, resolvi que deveria listar os discos que já tinha ouvido e os que tinha que escutar neste ano. Percebi que tinha muita, muita coisa boa mesmo. Gente velha com soltando grandes álbuns (Springsteen, Robert Plant), segundos discos sensacionais (Arcade Fire, LCD Soundsystem, Beirut) e umas indiezeiras bem legais (Raveonettes, White Stripes, Kings of Leon). Fiquei devendo nos debuts, embora adiante que, jogue as pedras que quiser, achei Battles uma merda sem tamanho.

Gostei da listinha. Espero que comentem, amiguinhos, reclamando, elogiando e, claro, colocando suas listas pessoais.

Com vocês, os álbuns preferidos de Jambo Ookamooga em 2007:


10. Silverchair – Young Modern

O disco dançante do Silverchair. Se em 2002, Diorama saiu contrariando as verdades anteriores do Silverchair, dessa vez Daniel Johns resolveu mandar para as cucuias qualquer ligação com o passado da banda. Por exemplo, eu consigo muito bem imaginar os versos de The Man That Knew Too Much cantados pelos Backstreet Boys, naquele clipe em que eles estão vestidos de monstros. E isso é tão doente como também – porra! – é legal. Those Thieving Birds/Strange Behaviour é maior e mais inspirado do que qualquer coisa que Johns fez nos seus dois primeiros discos, para se ter uma idéia. E olha que tem gente que acha que o Silverchair acabou ali. Mais do que qualquer coisa, Young Modern é a prova de que o Silverchair não pretende virar um cover de si mesmo e de que, mesmo depois de problemas, como a anorexia e a artrose, que sofreu, Daniel Johns ainda sabe fazer boa música.


9. Fall Out Boy – Infinity On High

Há alguns anos, o Fall Out Boy era só mais um grupo emo enchendo o saco. Porém, desde From Under the Cork Tree, a banda vem mostrando algum amadurecimento. Dance, Dance era já um expoente disso, mas destoava um pouco do resto, que ainda se desenvolvia, ainda estava pregado ao passado adolescente. Mesmo assim, as melodias e alguns arranjos mostravam ter alguma coisa que os Simple Plans da vida não tinham. Infinity On High é o processo completado, quando as músicas parecem todas seguir o caminho que Dance, Dance indicou. São divertidas, pop e não se levam muito a sério. E é desse jeito que importa.


8. Robert Plant & Alison Krauss – Raising Sand

Engraçado Robert Plant ter lançado seu melhor disco desde o Led Zeppelin justamente no mês em que a banda se reuniu para um último show. A idéia dos dois, disco e show, começou lá atrás. Em julho, lembro-me que li na última edição da Bizz uma notícia sobre Plant, em que ele dizia que queria fazer um álbum que percorresse todo o delta do Mississipi, homenageando seus antigos ídolos, e também alegava que uma eventual volta do Zeppelin dependia de um sentimento sincero e entrosado de todas as partes envolvidas. Ele encontrou esse sentimento e, principalmente, inspiração para realizar seu tributo não em um membro da sua antiga banda, mas sim em Alison Krauss, consagrada cantora de country e bluegrass. Raising Sand é uma caminhada pela América antiga, do blues, do folk e do country. A voz de Plant, agora confortável com sua idade, mostra que ainda dá caldo. E o show do Zeppelin? É, parece que foi legal.


7. Kings of Leon – Because of the Times

Apertar o play para um disco do Kings of Leon e dar de ouvidos (sacou, sacou?) com uma música de sete minutos pode ser uma coisa bizarra, se for assim, de sopetão. Mas se você percebeu ou te avisaram que, após fazer dois ótimos álbuns de country-show-me-your-boobs-and-let’s-grab-a-beer-rock, a banda resolveu seguir em frente, vai ter Knocked Up como um motivo para sorrir. Os Followill agora tocam rock de estádio, sem perder a caipirice. E, parecido com o que ocorreu com o Arcade Fire, isso os catapultou para o status de banda grande.



6. Radiohead – In Rainbows

Se fosse só pelo modo que foi disponibilizado, In Rainbows não entraria na lista. Revolucionário é meu ovo, as Casas Bahia já faziam isso desde quando? 2003, 2004? Falando sério, na minha opinião, o Radiohead apenas legitimizou o que muita gente já ia fazer, e ao anunciar o lançamento também em CD “físico” para os primeiros dias de 2008, só transformou o inevitável “leak” em algo oficial.
Mas o que importa de verdade é que In Rainbows são quarenta minutos de música boa pra caralho, do tipo que te faz escutar toda hora, viciado, e tentando entender como é que alguém conseguiu compor aquilo.


5. Arcade Fire – Neon Bible

De uma forma, este álbum significa um passo à frente para o Arcade Fire. Explico: enquanto Funeral, de 2004, era quase conceitual, estética e tematicamente, Neon Bible foi capaz de desvencilhar-se desta uniformidade, apesar de as músicas estarem atreladas, sim, a um tema central. Entao, por estarem livres, elas soam maiores, mais abrangentes e, consequentemente, mais fortes. E são grandes músicas. Quer dizer, colocar três colossos como Keep The Car Running, Intervention e No Cars Go no mesmo álbum é o bastante, não é?



4. Pelican – City of Echoes

“Um álbum instrumental que você quer realmente ouvir de novo e de novo”, assim define o guitarrista do Pelican, Laurent Schroeder-Lebec. E é verdade. Alguns fãs chiaram e tudo o mais, mas a banda foi capaz de aproximar seu som a um nível radiofônico (embora eu ache que rock instrumental nunca será “radiofônico”) sem perder a qualidade. Além disso, as suas jams soam como o tipo de coisa mais divertida que você pode fazer com uma guitarra nas mãos. É isso aí, morte ao vocal!



3. Soulsavers – It’s Not How Far You Fall, It’s The Way You Land

É como se fosse regra ter sempre um disco do Mark Lanegan entre os melhores do ano. Não é, mas depois do elogiadíssimo Bubblegum em 2005 e da participação certeira com Isobel Campbell em 2006, ele conseguiu de novo. Juntou-se à dupla de produtores ingleses Soulsavers, combinou a sua voz cavernosa-estilo-Tom-Waits-depois-de-anos-fumando com sintetizadores ora espaciais, ora um tanto deprimidos e está no terceiro melhor do ano. O álbum tem um clima espiritual, quase religioso, mas a maioria das músicas foi composta pelos Soulsavers e Lanegan. Spirtual, um hino de devoção de Josh Haden, no entanto, enriquece esse clima do disco. A voz de Lanegan funciona perfeitamente em cada uma das músicas, mas principalmente na versão de No Expectations, ainda mais cândida e triste do que a original dos Stones.


2. LCD Soundsystem – Sound of Silver

De todos os álbuns dessa lista, foi o último que eu escutei. Comecei desconfiando por ser unanimidade entre a galerinha hypeira descolada, mas depois virou TÃO unânime que não pude deixar de ir atrás. Depois de escutar, não tive pudores em colocá-lo logo em segundo, e por pouco o disco não bicou o primeiro lugar. Me falta conhecimento pra entrar em detalhes do som, mas o fato é que eu gostei demais. É música pop bem feita, com verso e refrão e uma base instrumental do cacete. E daí que é “artificial”?



1. Queens of the Stone Age – Era Vulgaris

Meu primeiro lugar. Simples assim. Pode ter pesado o fato de ser uma das minhas bandas favoritas, sim. Mas Era Vulgaris é o número um principalmente porque conseguiu finalmente superar a ausência de Nick Oliveri (e, na prática, de Mark Lanegan, embora ele ainda participe das músicas aqui e ali), equiparando a época de ouro da banda embora esteja longe de ser uma unanimidade. Porradas e riffs encorpados, igual a 2002. Mas sem se repetir. Além disso, I’m Designer e Misfit Love estão entre as músicas do ano. É isso que eu espero do Josh Homme. Com ou sem parceiragem peladona.

Tuesday, December 11, 2007

James Murphy e o Homem Moderno

A primeira vez que eu tomei conhecimento da crítica musical foi em 2002. Pré-adolescente, eu assistia na MTV um especial de fim de ano, na época que a MTV Brasil ainda tinha alguma moral (ou talvez só tivesse pra mim, pivete), e entrou o Fábio Massari falando o quanto o Songs for the Deaf, do Queens of the Stone Age era um dos discos legais do ano. Um must-have. Eu não sabia exatamente quem era o Massari e o que ele já tinha feito, mas sabia que era um cara que entrevistava músico famoso e devia ter um passado muito true, por causa daquela cicatriz na boca. E me senti extremamente feliz por ter comprado, por livre e espontânea vontade, com 12 anos apenas, um disco que ele endossava daquela maneira.

Depois de um tempo, as coisas mudaram. Minha forma de ver as coisas ficou mais cética, e a crítica em si já parece ter aberto e fechado ciclos em mim diversas vezes. Por exemplo, já achei que seria legal demais viver como o Lester Bangs (e talvez eu fosse ainda mais ingênuo quando pensava desse jeito), e já percebi que não tenho talento nenhum para isso. Hoje em dia, ficar pensando muito na análise de música não é mais alguma coisa que me empolga. Até por isso, escrever isso aqui está muito estranho para mim. É como se tivesse voltando num ponto e brigando por ele sem realmente sentir mais nada. Mas eu precisava, porque ainda uso do assunto que eu falo. Quando leio a Uncut, quando leio um livro de artigos velhos do Simon Reynolds, quando discuto sobre bandas no Orkut ou quando sigo uma indicação para pegar um disco. Mesmo tendo aprendido nesse meio tempo que não é nenhum crime escutar uma "banda ruim", eu continuo considerando certas opiniões especializadas. Para o bem e para o mal.

E foi assim que conheci LCD Soundsystem. Ainda munido de algum preconceito compreensível com "sons modernos", demorei a aceitar o que é fato: James Murphy é Deus. Fiquei relutando em escutar, mas o consenso foi tão consensual e massivo que não resisti. Fui atrás. Não preciso nem ficar descrevendo o que é a música dele por muito tempo. LCD Soundsystem é igual ao rock que você sempre escutou, com as melodias e batidas e tudo que você necessita (até solos!), só que com um instrumental sampleado e sintetizado. E, como se isso não bastasse, ao ouvir, apenas ouvir, você aprende a desprezar a desconfiança que tinha antes com sons eletrônicos.

Eu vejo o mainstream hoje em dia dividido entre a música "orgânica" e a música "artificial". Revistas como a Uncut promovem o revival do folk e do rock clássico e, do outro lado, temos bandas dançantes e produtores badalados. A figura do produtor, na era do sampler e do download, se glamourizou. Timbaland, Bob Rock, Rick Rubin e até mesmo o próprio James Murphy são agora mais famosos do que muitos dos artistas que produzem, e um timbre diferenciado, ou um eco bem localizado são às vezes mais apreciados do que um riff. Pode ser sinal dos tempos modernos, ou pode ser (e me desculpe pelo jargão proto-futebolístico) apenas o reconhecimento de um trabalho que faz, sim, milagres. Se Era Vulgaris é um dos meus discos preferidos no ano de 2007, além do surto criativo de Josh Homme, muito disso se deve, tenho certeza, à produção de Chris Goss. Porque um bom produtor, mais do que colocar os trecos tecnológicos nas músicas, é alguém que inspira e dá uma direção ao artista.

Por outro lado, o trovador também está em alta. Como se desafiando toda a gama de opções "artificiais", ele pega um violao, um piano e um acordeon e faz as melodias mais bonitas que você pode encontrar. Ressucita Tom Waits, Bert Jansch e Nick Drake (sem que todos estejam propriamente mortos) numa era em que só o Kraftwerk e o Brian Eno parecem importar. É o escapismo perfeito pra quem não acha que deve suportar tudo isso.

James Murphy é um pouco dos dois. Apaixonado pela sua cidade, ele cria um vínculo passional com o ouvinte e mostra que sabe do que está falando. Pode ser um contador de histórias como Devendra Banhart e também pode controlar uns aparatos eletrônicos como um membro dos Chemical Brothers. E ainda produz os próprios álbuns, o que elimina o dilema do "produtorversusartista" e o eleva a um nível mais complexo como músico. Timbaland consegue ser popular com o que faz, mas há quem diga que é melhor produtor. Rick Rubin é provavelmente o melhor produtor de discos de rock do mundo, mas sua banda nunca foi popular. Murphy une tudo isso e em prol de si mesmo.

Talvez ele seja a evolução do popstar. Talvez ele seja só o homem moderno. E talvez o cara seja a ruína da música. Mas o que importa mesmo é que Sound of Silver é do caralho, amigo.

Tuesday, November 20, 2007

Eddie Vedder - Into the Wild (Ou Como o Vocalista do Pearl Jam Recuperou Seus Colhões)

Há algum tempo, eu escrevi atacando Eddie Vedder e a malemolência que vem acometendo o Pearl Jam pós-Riot Act. Eram dois textos, e vamos dizer que acertei num ponto e errei em outro, ambos essenciais. Errei ao dizer que Eddie Vedder estava acabado e enterrado, mas acertei ao questionar o motivo dele não fazer um álbum solo. Na verdade, se eu tivesse algum dia encontrado-o, a primeira coisa que perguntaria a ele seria por que ele nunca fez um disco solo. Porque o Pearl Jam é uma banda super harmoniosa e respeitosa na relação intra-membros e etecétera, mas ainda assim, não é a expressão 100% pessoal do artista.

Passou um tempo e Eddie, sempre solícito, aceitou fazer a trilha sonora de um filme de seu amigo de longa data, Sean Penn. Into the Wild conta a história de Chris McCandless, um rapaz que desistiu da vida comum e confortável num subúrbio americano para se enfurnar numa paisagem erma no Alaska. Talvez Penn tenha escolhido Vedder justamente porque, há algum tempo, ele e seu Pearl Jam ameaçaram, de forma simbólica, fazer o mesmo que nosso protagonista. E Eddie talvez tenha aceitado porque, apesar de sempre ter flertado com essa deserção da sociedade, nunca teve coragem de fato para fazer o que fez McCandless.

E não estou aqui chamando Eddie Vedder de covarde. Muito provavelmente, se esconder num bloco de gelo não é a decisão mais sensata e corajosa a se tomar. Mas é instigante pensar numa pessoa que tomou uma decisão tão insólita e impetuosa e se colocar ali, mesmo que apenas no campo do pensamento. E para o velho Edward, o assunto instiga especialmente. Quando ele canta uma música como Society, de Jerry Hannan, evoca, de forma ambígua, Into the Wild, sim, mas também a si próprio, onze anos atrás. Em 1996, quando Sometimes tocou pela primeira vez na primeira audição de No Code em algum lugar, o Pearl Jam abnegava de vez o grunge, com um mergulho dentro do “eu”, solipsista na definição. Isso inspirou fascinação - e algum rancor - em milhares (milhões?), mas não mais do que no próprio Vedder, que, a cada album, explora de novo a retórica “E como seria viver isolado?” Representando sempre “o lado do bem”, ele já se aventurou também pelo “lado do mal”, em Soon Forget, a história do homem ganancioso escondido do mundo por causa do seu dinheiro. Mas percebe como o isolamento é recorrente, mesmo visto de outro prisma?

Into the Wild como tema foi, portanto, a chance perfeita para Eddie colocar pra fora seus pensamentos sobre isso sem parecer um cara de meia idade dizendo que quer deixar tudo pra trás e está muito tristonho e frustrado. Quer dizer, o cara tem mulher, filha, casa, carro, comida, roupa lavada, a cervejinha de sexta-feira e amigos famosos. Seria patético (e é, se você se força a pensar assim) cantar essas músicas de um modo pessoal. Mas é tentador para ele, porque está fascinado com isso.

Musicalmente, o disco é bom. Passa um clima de desolamento e de introspecção que funciona demais com a idéia de um sujeito indo pro Alaska, longe de tudo. Ele termina de se firmar como o melhor compositor de melodias da sua geração. No Ceiling é um grande momento do álbum, viajante, mas curta e precisa em seus noventa e pouco segundos. Hard Sun, algo próximo da primeira, arre, faixa de trabalho, também é boa música. O refrão, endossado pela vocalista do Sleater-Kinney Corin Tucker, é saudável, ensolarado, hippie, tipo a trilha sonora perfeita do “vamos partilhar a lentilha e o cortador de unhas”.

Há alguns momentos ruins, sim. The Wolf é a faixa mais desnecessária de Vedder desde Arc. Aliás, é como uma cópia de Arc, aquela música sombria, esquisita, com nove berros representando e relembrando as vítimas do festival de Roskilde de 2000 (particularmente, acho Love Boat Captain uma homenagem bem melhor). Mas o desespero e os berros comuns entre as duas se relacionam no momento em que a renúncia do convívio chega à renúncia da vida. Com o perdão do spoiler, no fim de Into the Wild, Chris McCandless morre.

Então, se correlacionarmos a exclusão da sociedade com a morte (e no fragilizado mainstream atual, desaparecimento significa morte, sim), The Wolf torna-se mais do que uma música dispensável. Talvez seja o momento em que Eddie chega mais perto de ser Chris, um virando o alter-ego do outro. A música continua sendo chata, mas ganha um sentido. Passa.

A pura verdade é que Into the Wild representa a volta de Eddie Vedder à introspecção como tema central de um álbum seu, e também representa a continuidade de seus colhões, artísticamente falando. E é por isso que a trilha pode ser considerada bem-sucedida: dá o clima perfeito pra história e também coloca o artista dentro dela. É uma relação de simbiose, mas no fundo eu acho que quem se deu melhor nessa foi o próprio Vedder.

Tuesday, November 13, 2007

Células Intumescidas

Ultimamente tenho sentido uma raiva incontrolável. Nem raiva, aliás, a raiva é consequência de alguma coisa. A verdade é que, pela primeira vez na vida, me sinto como um daqueles garotos americanos que aparecem um dia com uma uzi e matam meio colégio. Não que eu vá fazer isso, mas eu começo a entender um Jeremy da vida. Claro que meu problema é induzido por mim mesmo, vem de eu não ter meus amigos e família por perto, por estar num outro país, tendo um ano pra recomeçar e conquistar qualquer coisa. Um cotidiano. Mas eu rebato essa indiferença, essa falta de confiança e esse incômodo que os outros parecem sentir em relação a mim com agressividade. Com palavras brutas, ironia, sarcasmo. E quando essas coisas são ainda mais mal interpretadas, eu preciso de uma nova injeção de ódio pra combater. Uma bola de neve.

O que é que eu faço então? Minhas sensações são amplamente estimuladas por essa animalidade febril que eu demonstro. E é incrivelmente delicioso. Talvez eu seja um psicopata, mas toda essa confusão, todo esse ódio me deixam como uma criança descobrindo o mundo, os cinco sentidos. Todo frio, dor, embaraço, felicidade, surpresa, sabor, conhecimento parecem intumescer minhas células, me fazer maior, melhor.

É inacreditável o quanto eu estou mais corajoso, o quanto eu quero cada vez mais e mais experimentar coisas novas, e ao mesmo tempo buscar um meio de sair dessa situação desagradável de não ter nada nem ninguém.

E isso tem trilha sonora, ainda. Estou atrás de tudo que eu puder escutar de novo, desenvolvi uma obsessão doentia com uma lista de melhores de 2007. Como se eu realmente tivesse que fazer isso, e virou uma questão de honra. Mas é claro que é só uma desculpa das minhas entranhas pra ouvir mais, e mais, e fazer mais videoclipes na minha cabeça enquanto escuto música no ônibus (hoje de manhã foi Radiohead). Me dê Sigur Rós, me dê Pelican, me dê Foo Fighters, Bruce Springsteen, Devendra Banhart, Explosions in the Sky, Gogol Bordello, me dê até Velvet Revolver. Quero mais.

Friday, October 19, 2007

Travis e Ave

Uma coisa em comum entre os dois shows que eu estive aqui na Dinamarca até agora foi a qualidade das bandas de abertura. Na primeira vez, Marvel Hill, abrindo para os milenares tiozinhos do DAD, conseguiu ofuscar a atração principal com uma apresentação esquisita, eletrônica demais para o público presente e com um baterista que literalmente exalava fumaça.

A banda que eu vi hoje à noite, no entanto, tinha uma missão um pouco mais difícil do que superar as macaquices de meia-idade do Disneyland After Dark. Quer dizer, Travis pode não ser mais aquela anda que fazia chover em Glastonbury, mas ainda é boa música. Sério, Selfish Jean põe no chinelo, fácil, qualquer single dos Klaxons ou Kate Nash. Não?

De qualquer modo, essa banda de hoje, Ave, à primeira vista parece demais Arcade Fire, mais do que seria saudável: Nove músicos no palco, terninhos, trocentos instrumentos clássicos... Mas é bom quando o som começa e você vê que as aparências enganam. Eles estão MUITO mais nessa de “Art Rock” (ui) do que o Arcade Fire. Oscilam naquele vaivém, hipnotizando a platéia com uma cantiga ao som do piano ou sintetizador e de repente acordam, irrompem em notas e batidas. Na verdade, em determinado momento, quando eu já estava com um pouco de, cof cof, medo deles, o baterista explodiu numa manifestaçäo sonora que foi das maiores que eu já vi ao vivo, possuindo a banda, engrandecendo, completando tudo aquilo de novo. Caralho, tomei um susto.

Uma coisa que aprendi com DAD e Marvell Hill é que quando você está num show e não exatamente sabe cantar as músicas junto dom a banda, sente necessidade de uma imagem, de algo visual que complete sua experiência, naquele momento muito mais sensorial do que racional – como escutar um CD novo folheando o encarte. Os músicos do Ave parecem estar cientes disso e montam um verdadeiro banquete visual. São dezenas de pequenas coisas para prestar atenção: Velas e abajoures espalhados pelo palco; Máscaras nos rostos das três garotas que tocam violoncelo e violino; Uns quadros de paisagem encostados nos instrumentos e caixas de som; Uma maçã que o guitarrista (separado do Frusciante no nascimento) parece estar muito interessado em comer; Uma máquina de escrever que realmente é usada como instrumento em certo ponto; O vocalista em si, que canta sentado numa cadeira, como se fosse um doente terminal, se controcendo, e depois levantando, e andando pelo palco gesticulando, e depois tocando trompete e piano; E no alto, o mais importante, um telão com imagens precisamente escolhidas para cada música, como se fosse um clipe.

Como banda iniciante e, portanto, filha da internet que é, o Ave sabe que apenas a música não é mais atrativo hoje em dia. Baixar bootlegs é mais fácil que tocar guitarra e não é mais preciso estar lá. É, é uma pena, mas é assim que é. E, portanto, para valer mesmo a pena, para moleques como eu, ou da minha geração, uma apresentação não pode ser menos que catártica.
Com suas explosões musicais e sons de máquina de escrever, Ave está no caminho certo, parece.

E o Travis, bom, foi grande. Ao som da música-de-treino-do-Rocky-Balboa, eles chegaram por trás da platéia com roupões coloridos de boxe, e passaram por todo mundo antes de pularem pro palco. Abriram com Selfish Jean, tocaram os hits esperados (e minha favorita pessoal, Love Will Come Throught), zoaram o tecladista sueco e mandaram aquele cover esperto de Britney Spears. Ótimo show, em muitos (quase todos) aspectos melhor do que os das outras três bandas citadas aqui, mas Travis é isso aí. Tem alguma coisa pra teorizar? Praticamente nenhuma.

Monday, October 08, 2007

Sobre Coisas Boas

Há uma coisa que eu sei que não sou, um jornalista musical. Não tenho idade pra isso e nem o diploma, e nem o conhecimento. Quem acompanha meu blog ou as coisas que eu escrevo e falo, de certa forma, acompanha meu crescimento como escritor (cof cof), como amante de música, e tudo mais que meus textos possam passar.

Por isso mesmo não tenho vergonha em dizer que hoje comprei minha primeira Uncut. Nem que eu não conhecia nenhum dos artistas do CD que o Devendra Banhart compilou para a revista. Podia ficar aqui citando todos os prós da revista e ficar em devaneios do tipo “será que uma revista dessas daria certo no Brasil?” “Eles fazem isso e aquilo e é genial”. Mas o problema é que não é muito comum eu me interessar por esse tipo de coisa (o que me desqualifica ainda mais como jornalista-wannabe). O que me pegou mesmo hoje foi o CD. Porque se você for pensar, entre as duas artes subjetivas que são a escrita (nesse caso, a do jornalismo musical da Uncut) e a música, a música é ainda mais subjetiva, ainda mais incerta, ainda te leva mais pra lá e pra cá do que a outra. Não requer sua concentração, a conquista.

Quando eu escuto alguma coisa como Echoes ou Since I’ve Been Loving You, eu fico realmente emocionado, a música toca no meu peito de verdade, eu sinto aquele amor por ela, aquela empolgação e aquele agradecimento aos deuses por poder estar escutando aquilo. E quando o que está tocando no meu som é alguma coisa como Nirvana, Wolfmother ou esse CD do Devendra, com seus braços-direitos-acid-folk, eu sinto que é possível. São moleques como eu, com um instrumento, chique ou rudimentar, fazendo música básica e bonita, e tão eficiente quanto a dos gênios que colocam as notas mais perfeitas com os timings mais perfeitos.

Quer dizer, eu peguei meu violão, toquei minhas poucas composições e realmente considerei, sei lá, gravar um demo e mandar pro Devendra. Quem sabe eu não faça isso?

Provavelmente não e sabe lá como é que vão ser as coisas daqui pra frente, näo é? Não sei como eu vou evoluir ou o que eu vou pensar ou o que eu vou fazer... Seja como for, vou continuar sempre escrevendo, sempre tentando externar todas as bobagens e raros (pseudo) lampejos de genialidade que aparecem na minha cabeça. E, deixando o lado “sou escritor beatnik fodido e estou cagando pra você” pra lá, espero que você se mantenha acompanhando nisso.

Tuesday, September 25, 2007

Segunda e Terça

Escrevi durante umas aulas frustrantes. É toda a minha produção em quase dois meses. Quase um épico.

24/09/2007

I
Quando eu me sento na privada pra cagar, não costumo pensar muito na merda. Acho que pouca gente de fato pensa. Acontece que quando se está atolado nela, na merda, você não tem outra alternativa.
Porque o cheiro de bosta é horrível, te fode por dentro e não há nada mais importante naquele momento do que tirar os toletes de barro da sua cara.
E o que me revoltou hoje foi algo mais ou menos assim:
- Bem, Morten, sexta-feira você me disse que ia ao cabeleireiro.
- Pois é, acho que dá pra ver - ele mostra o cabelo ridiculamente pintado de castanho escuro, com um sorriso orgulhoso.
- Então quer dizer que você recusou uma ida ao bar pra fazer essa coisa medonha? Cara, você é uma aberração.
- Você só diz isso porque seu cabelo é feio.
É. Foda-se.

II
Podem dizer que eu tento copiar o velho Bukowski. Isso se algum dia alguém ler algo meu pra poder dizer alguma coisa. Talvez eu tente, e essa é a beleza do negócio. Se eu aprendi alguma coisa com o velho, foi que ficar com muito medo das pessoas é uma grande bobagem. Ele provavelmente condenaria meu trabalho, mas me daria uns tapinhas nas costas por ter feito o que eu queria, mesmo sabendo que era porcaria.

25/09/2007

I
Não sei qual a minha opinião sobre esse Peter. É velho, ensina física, tem cara de bicha e há quem diga que é pedófilo. Acho que é só bicha. Mas não enche o saco. Acho que é importante que um professor não encha o saco. É como se ele não estivesse implorando pela nossa atenção. Passa a impressão de estar seguro.
Ontem uma professora velha exigiu nossas anotações, pra ver se estávamos tomando notas direito. Para mim, um ato de desespero. Era matemática e eu poderia estar anotando. Mas eu preferia desenhar. E eu decido o que é melhor para mim, porque sou eu que sofro as consequências, só eu.
Ela arrancou os desenhos da minha mão, puta da vida. Perguntei se pegaria uma nota legal por eles. Ela disse que não. Essa professora é como a própria matemática: já está fazendo hora extra na Terra.
Uma pena.
Mas compreensível.

II
Se eu tivesse que escolher duas pessoas desta classe pra formar algo como um "casal nojento" ou "casal sebinho nas dobras da bunda", seriam o tal do Kasper e a tal da Louise. Esse Kasper eu näo duvido que já tenha lambido um bueiro. Näo que seja um Casanova. É que ele curte fazer coisas estranhas com a boca toda hora. Boca que parece um prepúcio inchado ou infecçionado. É o tipo de imagem que não é legal. E é o tipo de coisa que eu imagino quando vejo alguém fazendo beat box.
Adivinha: ele faz beat box.
Já a outra é provavelmente o ser mais grotesco que pisou nesse mundo. Esqueça o Pé Grande, a Britney Spears pós-Federline e aqueles hindus que limpam a bunda com a mão. Aliás, me surpreenderia se me dissessem que ela limpa a bunda. Além da personalidade babaca, contribui para a minha ojeriza aquele cabelo amassado e ensebado, com cara de cipó e palha, que não vê shampoo desde 1992. E ela tem aquela cara engordurada, cheia de maquiagem, ou de resíduo de maquiagem (sempre lembro das propagandas do Leite de Colônia).
Eu näo sou o cara mais arrumado do mundo. Também devo ser um nojo pra muita gente, mas no fim, eu só estou no meu direito de malhar o próximo, assim como Jesus queria. Rapaz, estou verborrágico hoje.

Monday, July 30, 2007

Hvad Hedder Du?

Agora que a nossa busca quixotesca por medalhas, assim como fazia o Mutley, acabou, o acidente da TAM ficou (que surpresa!) inexplicado e o cadáver do ACM já está fedendo, levanto a mão e peço a palavra.

Quinta feira devo ir embora, então. E os posts aqui ficarão escassos.

Vou sentir falta demais de todo mundo, vou até chorar. Mas daqui um ano volto com AQUELE sotaque nórdico para o prazer geral da nação. E não vou parar de ouvir música. Quiçá saiam umas resenhas durante o exílio, não é?

No mais, espero que esse blog tenha divertido vocês nesse ano e meio mais "agitado", apesar dos erros factuais, gramáticos e algumas explosões de humor mal desenvolvidas.

É isso aí, beijo do gordo (hoje fui dispensado do exército por pesar mais do que eles aguentam HOHOH).

Thursday, July 19, 2007

Mundo Perverso

Em 1969, quando Tony, Geezer, Bill e Ozzy escreveram Wicked World, muito provavelmente não pensavam em aviões enfiados em prédios. Sua visão se limitava às agruras da guerra. Que a guerra é horrível, nós todos sabemos. Mas não sei se é por só estar vivenciando tudo agora ou se é por de fato as coisas estarem piores, para mim há algo sugerindo que o mundo perverso começou há pouco tempo. Pode ser equívoco meu, mas parece que antes as pessoas morriam e pronto. As tragédias aconteciam por pura falta de destreza, de tecnologia, o mundo era mais inocente.

Hoje, as coisas parecem, justamente, e a palavra é essa, perversas. Não é só morrer. Estar num avião pilotado por um xiita louco significa deixar como legado da sua morte uma guerra no oriente e um pavor generalizado entre os seres humanos. Antes, pessoas eram mandadas pra guerra por causa da soberba dos reis, e presidentes e militares. Como é que eu vou dizer isso? Não é que suas mortes tinham menos significado, mas quando você vai pra guerra tem mais chances de morrer. Quer dizer, NÃO morrer é a exceção que comprova a regra. Agora, tudo é parte de um quebra cabeças funesto. Não é que você perece por fazer parte de uma inocente conspiração Rússia x EUA, ou porque um maníaco resolveu atirar na sua cabeça. Você morre engolido por um buraco que aparece por baixo do asfalto, quando o engenheiro que projetou a obra tinha sido contratado pelo estado, com toda a tecnologia e know-how ao seu dispor. Sinal dos tempos, as mortes ficam ainda mais tolas e quem está vivo fica, assim como eu, achando que a Guerra Fria, que aterrorizou tanta gente por 40 anos, é brincadeira de criança.

Essa tragédia com o avião E prédio da TAM (que macabro!) pegou no fundo do meu estômago. Foi o que abriu meus olhos pra essa brutalidade do mundo. No momento que o acidente aconteceu, eu estava no carro, com a minha mãe, indo para São Paulo. Minutos depois, alheios, recebemos uma ligação da minha avó, contando o que aconteceu e falando para evitarmos os arredores do aeroporto. Depois, meu pai. Ele já adiantou, antes que precisássemos ver na TV, aquele lance das ranhuras na pista. Esqueceram de colocar as ranhuras aderentes, para dias chuvosos, na pista auxiliar do Aeroporto de Congonhas, reformada única e exclusivamente para desafogar a pista principal e aquietar, na medida do possível, o caos dos controladores de vôo que vem incomodando o país há alguns meses. Quer dizer, pros políticos, pra Infraero, o importante era jogar o pepino pra algum outro otário. Quiseram solucionar o problema do céu (e bem mal solucionado) sem pensar que na aterrissagem, talvez, alguns 186 filhos-da-puta azarados pudessem morrer. Deus abençoe esses políticos! Pode ser que a causa do acidente nem tenha sido ESSA negligência e pode até ser que tenha sido uma cagada do piloto ou um problema mecânico, mas só o levantamento da questão, a menor possibilidade disso ter acontecido, já corrobora a hipótese. Percebe a ironia? Por causa de um caos aéreo que começou depois das investigações acerca de um acidente horrível, outro acontece, e ainda mais trágico, no meio de uma cidade gigante, acertando um prédio e matando mais umas pessoas que nem sonhavam em pegar um avião. Pra piorar, aconteceu no solo, onde deveria ser seguro. Recentemente, eu andei de avião. Por mais confiante e ciente das estatísticas aéreas (é mais fácil você ficar tetraplégico num acidente de carro do que morrer voando pelo céu) que você possa ser, sempre sente algum alívio quando as rodas tocam o chão. “Agora não tem mais como dar zica”. Então, quão cruel é ser arremessado contra um bloco de concreto segundos depois de sentir esse alívio, esse aconchego quase maternal? Quão cruel é ser acertado por um avião desgovernado quando se pensa estar seguro, em terra, protegido por paredes grossas de concreto?

Muitas coisas mudaram desde que Wicked World foi escrita. Mas talvez a principal seja que os políticos não escolhem mais quem vai “sair e morrer” (A politician’s job they say is very high, ‘cos he has to say who’s gonna go out and die), só preparam as armadilhas.

Friday, July 13, 2007

13 de Julho

Dia mundial do rock. É macaquice demais pensar que isso significa alguma coisa e eu até pensei em fingir que não vi, mas é aquele negócio: se você ignora alguma coisa deliberadamente, já deixou de ignorá-la há muito tempo. E eu realmente não consigo esquecer que tem gente comemorando isso. Ou pelo menos notando.

O dia do rock geralmente serve pra denegrir ainda mais a imagem dele. Estereótipos, piadinhas, frases prontas... O tipo de coisa que constrange qualquer um que tenha um mínimo de bom senso. Acaba sendo mais o dia dos metaleiros virgens do que qualquer outra coisa. Esses sim se deleitam com o dia do rock. Aproveitam pra mandar aquelas frases geniais tipo “o mundo só será legal quando o último pagodeiro morrer enforcado pelas cordas de uma guitarra”. Dores de estômago aqui.

Acho que o principal problema do rock and roll e seus subgêneros é serem vistos como “rock”, e não como música. Isso dá margem pra muito imbecil “roqueiro”, sei lá, achar que está num nível acima dos outros. E também dá margem pra cronistas-babacas e reaças em geral acharem que, na verdade, o estilo está abaixo dos outros. “Isso não é música, é barulheira”.

Segundo o dicionário do tio do Chico Buarque, música é “arte e ciência de combinar sons de modo agradável ao ouvido”. E, sendo “agradar” um verbo subjetivo, qual a grande diferença entre Maria Bethânia e Cannibal Corpse? Algum desses não é um combinado de sons?

Equivaler o rock ao restante da música não só seria algo honesto como também nos pouparia de bandas cover “celebrando” o dia do rock ("SUPER PROMOÇÃO GALERA!!! RICARDO SEIXAS E NORMAN PRESLEY PRESTANDO HOMENAGEM AOS REIS DO ROCK NESSE DIA 13 DE JULHO! MULHER FREE ATÉ MEIA NOITE!") e de headbangers achando que ouvir Rhapsody vai realmente trazer algum malefício para os “pagodeiros”.

Sunday, July 08, 2007

Post-típico-de-blog

Nos últimos quase 20 dias não postei nada. Por uma profunda falta de inspiração e também por desmotivação. Não só pelo baixíssimo número de comentários, mas também por estar direcionando toda a minha motivação para as tarefas pré intercâmbio. É complicado.

Mas ganhei um Mp4 e as músicas fluem direto pra sua cabeça e reverberam no seu cérebro. Assim é mais fácil memorizar um disco e até estabelecer uma conexão mais forte com ele. Como só arranjei o bicho ontem, até agora só escutei 4 coisas diferentes. O Shadows Collide With People, do Fruscia fica ainda mais genial com os fones enfiados nos ouvidos. Carvel ainda é a minha preferida, mas Omission sintetiza melhor do disco. Começa de um jeito, muda completamente no refrão, vai, vem, e há aquele monte de detalhes como zumbidos e coisas assim... É fácil e é complexa.

Aí, escutei também o Beggars Banquet e o novo do QotSA. Dá pra ouvir cada respiração dos Stones e no caso do Era Vulgaris, os riffs urgentes ficam ainda mais robustos. Gostei desse negócio de Mp4.

Além dessas, tenho escutado muito Kashmir. É dinamarquesa e deve ter até alguma fama porque até o Bowie e o Lou Reed aparecem num disco dos caras. A verdade é que eu to começando a projetar a banda alto no meu gosto. É mais simplista que a conterrânea Mew, lembra um pouco Travis, Unified Theory, coisas assim. Escute o Zitilities.

Thursday, June 14, 2007

Queens of the Stone Age - Era Vulgaris

Quando Lullabies to Paralyze saiu, em 2005, quase todo mundo concordou que o disco era muito bom até a faixa 10 e depois se perdia. Disseram que “o Queens of the Stone Age agora tem 3,75 discos bons” e torceram para que o próximo álbum não seguisse pelo caminho das 4 últimas músicas. Seguiu, contrariando a expectativa comum. Mas foi uma coisa boa! Era Vulgaris não é apenas uma continuação de Lullabies to Paralyze, é a evolução dele.

Eu explico: por exemplo, Into the Hollow é irmã de Long Slow Goodbye, mas é bem melhor. E isso porque Josh Homme teve tempo de concatenar melhor as idéias, amadurecer esse novo som que ele vinha pretendendo para sua banda desde a saída de Nick Oliveri e ainda considerar de vez as influências novas que encontrou. E que influências! É como se Trent Reznor, do Nine Inch Nails tivesse emprestado um braço seu a serviço do QotSA.

Pois é, nos últimos anos, Josh Homme tocou com Foo Fighters, Mastodon, U.N.K.L.E., Strokes e Eddie Vedder, Chris Goss, Death From Above e Peaches, só pra citar alguns. Seriam influências (imaginando que essas colaborações trouxessem algum elemento novo de volta para ele) suficientes para desfigurar o som do trabalho novo do Queens. Mas não, Homme conseguiu juntar tudo isso em benefício próprio. As batidas eletrônicas do U.N.K.L.E., da Peaches e do NIN, por exemplo, serviram para encorpar ainda mais os característicos riffs, que antes se apoderavam do quarto em que você estava; agora tomam a casa toda.

É claro que os riffs continuam lá, ainda mais robustos. Sick, Sick, Sick, o primeiro single, é, hum, pulsante. Te dá uma inquietação nos braços e pernas e deve ser muito boa para dançar. Sabe como é, eu não danço. A música ainda conta com a participação de Julian Casablancas, o que deve recrutar alguns fãs para o QotSA, como aconteceu no Songs For The Deaf, que tinha Dave Grohl na bateria. Escolhe bem suas amizades, esse Josh Homme.

Depois de se apresentar para o mundo de uma forma mais ampla, em 2002, a cada disco a banda assume uma forma nova de promover seus trabalhos, e os integrantes vestem-se de uma persona totalmente nova. Em 2005, eram lobisomens atrás de sangue jovem. E em 2007, é genial como um logo novo, um boneco-ventríloquo retardado e uns utensílios domésticos de desenho animado estampados no site e na capa do álbum te deixam irremediavelmente curioso. Quem fica curioso compra discos.

Legal que mesmo no meio dessas infindáveis referências, musicais e estilísticas, o CD tem uma unidade como não se via desde que Nick Oliveri saiu. As músicas se completam e formam um bloco só. A falta do careca não é mais sentida como algo estrutural, e sim nostálgico, para quem gosta daquelas músicas furiosas com seus berros punk. E nostalgia é só um detalhe, principalmente quando se percebe que a principal mensagem desse Era Vulgaris é o crescimento do Josh. Ele finalmente encontrou seu direcionamento musical, e pela primeira vez sem a ajuda de ninguém ou sem fazer algo muito básico ou manjado. E isso por si só já o redime das últimas músicas do Lullabies e da ausência de Oliveri – se é que tem que ser redimido por isso.

E o cara ainda está cantando melhor do que antes!

E talvez a coisa se sustente tão bem desse jeito porque o QotSA sempre foi uma banda sem medo de mudanças. As saídas de integrantes sempre foram, de modo geral, discretas e naturais. Na única vez que esse caldo entornou, quando o Nick saiu brigado, o resultado foi justamente aquém do esperado. Tudo bem, merda acontece. Mas é que agora Joshua é um homem casado, com uma filha. A maturidade que se espera depois desses acontecimentos chegou para ele, e mesmo com algumas mudanças no line-up da banda – saíram Allain Johannes e Natasha Shneider e entraram Michael Shuman e Dean Fertita – ele manteve-se focado naquilo que queria fazer.

Quer mais dessa maturidade? A letra de Into the Hollow é, pra mim, sobre um cara que sempre fez as piores escolhas e encontrou agora alguém pra o seguir. Não nas escolhas ruins, mas segui-lo apesar do seu passado. Pode ser que não seja isso, interpretações sempre são perigosas. Mas que há um crescimento aí, há. Em I’m Designer, o vocalista dispara “My generation’s for sale” [Minha geração está a venda] e depois discorre sobre isso. Bom, antigamente o QotSA não estava lá muito preocupado com sua geração fútil. Depois, ele vem e diz “Wanna see my past in flames” [Quero ver meu passado em chamas] em Misfit Love. Isso é tema recorrente, mas Josh está bem resolvido com seu presente, com sua banda e com sua vida.

Assim, quando o disco acaba, você percebe que o “Queens Lite” (alcunha dada por Nick “Dark Side of the Force” Oliveri) conseguiu se encontrar, realmente. E que a volta de Nick virou um detalhe, e por isso mesmo é mais fácil de acontecer. Se você era fã da banda e sofria com essa indefinição, pode estourar uma garrafa de champagne.

Adendo:
Tinha pensado no parágrafo acima como conclusão do texto, mas isso me incomodava. Parei de escrever isso aqui por uns 10 dias. Pensei, pensei, escutei o disco até enjoar, até arranjei uns outtakes bem fodas pra incrementar a pasta de MP3 (a saber: covers do Billy Idol, Tom Waits e Elliot Smith, a versão definitiva de Fun Machine e uma versão acústica de Suture Up Your Future). Aí que percebi. Porra, ta na hora de esquecer o Oliveri. Mesmo. Qualquer que tenha sido o problema que os caras tiveram, isso já foi superado, pelo menos musicalmente. E é assim que importa. Se não, periga de nós parecermos com aquelas amebas que ficam realmente tristes porque uma banda acabou ou porque seus integrantes brigaram ou pegaram dengue. Fodam-se, caras, eu estou cagando para as suas vidas.

Saturday, June 02, 2007

Mais 2007 (Uns discos)

The White Stripes - Icky Thump
Não sei o que foi que o Álvaro Pereira Jr. tinha ingerido quando afirmou que o single novo dos White Stripes "parece apenas um Led Zeppelin". Provavelmente nada, com certeza ele só ouviu pouco Zeppelin quando era adolescente. Tudo bem.
Mas esse é realmente o disco mais, errr, roqueiro da dupla. Dizem por aí que foi o primeiro trabalho deles sem que as músicas fossem compostas apenas no piano. Não é um De Stijl, mas é melhor que o Elephant, por exemplo. E as músicas novas apresentam umas texturas diferentes: gaita de foles em "Icky Thump" e sons orientais em "Conquest", "Prickly Thorn, But Sweetly Worn" e "St. Andrew".
Fora isso, tudo se mantém igual. Meg continua parecendo um metrônomo (irresistível, é verdade) e Jack é o mesmo presunçoso poser de sempre (por exemplo, duas músicas no disco contêm Blues no nome).



Silverchair - Young Modern
Legal como esse disco começa. Dançante, como avisou Daniel Johns.
No Diorama, a banda emulava um pouco dos Beatles e um pouco do rock pop dos anos 90. Agora, transitam entre pop cafona oitentista ("Straight Lines") e até mesmo - pasme - Backstreet Boys ("The Man That Knew Too Much", menos o refrão). "Those Thieving Birds (Part 1) /Strange Behaviour /Those Thieving Birds (Part 2)" é um quase-épico (ou coisa do tipo) e é a melhor do álbum. Escute-o com o terno amarelo-banana, as ombreiras e as polainas vestidos.

Friday, May 18, 2007

Mano Brown Odeia Playboys

Nas últimas quase duas semanas, todo mundo falou do tumulto que ocorreu durante o show dos Racionais MCs na Virada Cultural. Falaram tanto, mas tanto, que a coisa se transformou num problemão. Até a MTV reservou um de seus programas pra falar sobre o assunto. Mas eu, bom, eu nem mensurei muito o tamanho da coisa. Talvez porque seja retardado, ou desligado, ou ache que tumultos são uma coisa corriqueira nesse mundo fodido que nós vivemos. Mas, certo mesmo, é que, após ver uma coluna dedicada ao tema até mesmo no Omelete, me senti irresistivelmente impelido a falar sobre o assunto. Não por eu manjar muito da coisa. Mas pela simples necessidade, quase básica, de dar pitaco em assuntos polêmicos.

Não que tumultos sejam uma coisa normal ou aceitável, mas pra mim, confusão num show de rap, com um monte de “playboy” assistindo (afinal, era um show gratuito na Praça da Sé, ia gente de todo tipo), é uma coisa bastante esperada. O rap dos Racionais (assim como grande parcela do rap nacional) não se comunica com quem não é da periferia, e pretende continuar assim. E isso reflete nos seus fãs – ou “trutas”. A hostilidade criada em torno do grupo e dos admiradores vai sempre resultar nessa explosão de ânimos quando os hostilizados dividirem o mesmo ambiente dos hostis. Difícil é tomar simpatia pelos hostilizados.

A princípio, esses são mesmo os mais pobres, esmagados por um sistema que dá poucas chances de ascensão social e cada vez mais marginaliza os menos afortunados. Nada disso é mentira. Mas o modo violento como eles olham, se referem e até mesmo tratam os “playboys” (se bem que pros “manos”, qualquer loiro de olho azul é automaticamente um repressor ofendendo suas famílias) faz com que a distância entre essas pessoas seja ainda maior – e com mais espinhos pelo caminho. Qualquer um com uma roupa mais bacana sente-se constrangido pela própria existência na presença desses caras. É o preconceito do desfavorecido contra o favorecido. Justificado, justificadíssimo, mas tão perverso quanto o outro.

E no meio disso tudo aparece o rap brasileiro (paulistano?), disparando contra tudo e todos, e levando consigo um sem-número de moleques que acreditam naquilo e repetem as idéias, como um mantra. Não sou ingênuo para achar que a polícia é santa, mas o que faz um gambé quando, ao ordenar disciplina, ouve urros de protesto do público e recebe indiferença dos artistas? Desce a mão, mesmo. E é inocência pensar que não fariam isso.

Se o show em questão fosse do Marcelo D2, por exemplo, acredito que não teria havido essa confusão. Porque o D2 conseguiu, enfim, transformar seu rap numa coisa vendável. Ele se auto intitula o tal pesadelo do pop, mas ele é extremamente pop. Brilhante! Um monte de branquelo rico escuta aquilo se achando o malandrão, o anti-pop, o mano do gueto, e aí o Marcelo vende pra cacete. Mais ou menos como funciona há um bom tempo nos Estados Unidos. Melhor: ele incutiu umas doses de música brasileira na sua música e com isso se livrou do estigma de ser um clone dos rappers americanos e ainda conseguiu uns fãs de samba. Em 2005, levou o VMB de melhor clipe de MPB!!! Em 2006, voltou a levar, mas dessa vez como artista de rap.

Então, voltando ao hipotético show do D2, o ambiente seria muito mais miscigenado, e os manos que estivessem ali não se sentiriam tão donos da música, da banda e, conseqüentemente, tão invadidos. Aproveitariam a música congregados aos playboys e pattys e sambistas universitários de calça de saco de batata. Viu que poético?

Nisso, os Racionais seguem separados do resto do mundo. E vão continuar, enquanto se mantiverem irredutíveis em relação à sua posição (musical e comportamental) de parco alcance. Enquanto isso, não se surpreenda com tumultos e bombas de gás lacrimogêneo.

Monday, May 14, 2007

10 Álbuns pra Comprar

Basicamente a idéia é essa, mesmo: 10 discos que você indicaria para alguém que só baixa MP3 comprar, e que mudariam o conceito dessa pessoa em relação a "pagar por música". Foi isso que o Bruno do Rock Magazine me pediu para fazer, colaborando com uma grande matéria que eles estão preparando para o seu blog. Como é coisa pouca, ficam aqui os 10 plays que eu indiquei (acho que não vai estragar a surpresa). Misturei os critérios "preferência" e "importância histórica" pra montar a lista.

Black Sabbath - Black Sabbath
Foi aí que o heavy metal começou, com a idéia simples de uma "banda de terror". The Warning tem um dos melhores solos de toda a carreira de Tony Iommi.

Pearl Jam - No Code
O distanciamento do Pearl Jam com o grunge produziu o melhor disco entre as bandas de Seattle daquela época, e possivelmente é meu favorito até hoje.

Led Zeppelin - Houses of the Holy
O rock direto do Zeppelin se encontra com o pop, reggae e o lado sombrio de John Paul Jones. Tem a melhor dobradinha incial de um disco: The Song Remains the Same e Rain Song.

Secos e Molhados - Secos e Molhados (I)
Toda a força e a quase paradoxal sensibilidade do Hard Rock setentista americano muito bem representadas por uma banda brasileira.

Jeff Buckley - Grace
O disco me emociona demais e dá até um aperto no coração que um sujeito promissor desses tenha morrido tão cedo. Vai de Zeppelin a Edith Piaf sem nenhum esforço.

The Rolling Stones - Beggars Banquet
Eu odiava Stones. Até ouvir o Beggars Banquet.

Chico Buarque - Construção
Chico Buarque parte da mesma insubordinação do rock pra fazer seus clássicos. Construção será sempre um disco muito mais transgressor do que muito metal extremo e HC pirulito que ouvimos por aí.

Queens of the Stone Age - Queens of the Stone Age
Já estava com um outro disco na mão quando vi esse pelo mesmo preço na prateleira da loja. Não pensei duas vezes para trocar. You Can't Quit Me, Baby é simplesmente apoteótica!

Matanza - Música Para Beber e Brigar
Não importa que não tem classe e a crítica odeia: escute no máximo, até o ouvido sangrar!

Pink Floyd - Meddle
O progressivo só se tornou tão chato porque não ouviram Echoes o suficiente.


Five Leaves Left do Nick Drake seria um décimo primeiro, fácil.

Tuesday, May 08, 2007

Quadradinhos Multicoloridos

Vivemos numa época fodida. Eu sou um moleque – sim, um moleque que mal saiu das fraldas – e quando me meto a escrever sobre rock, é sob a nuvem do apocalipse que paira sobre ele mesmo. Sim, acabou a época do rock. Acabou a época de tudo. O que são os anos 00? Uma geração sem face comandando um mundo de muitos quadradinhos – pixels – multicoloridos.

Quem tem liberdade pra escrever sobre música, filmes ou livros? Ninguém, é o que eu te digo. A auto sustentabilidade da cultura já escorreu pelo ralo há algum tempo, e nós estamos aqui, sem nada, calados, esperando pela próxima empresa pra pagar por uma propaganda-reportagem. E sem cultura não há nada.

Lembram de Reações Psicóticas? No prefácio à edição brasileira tem um quote do próprio Bangs, datado de 1980: “Você acha que, continuando assim, a única coisa vendável vai ser a biografia-putaria de uma celebridade?” Maldito Lester. É claro que há 27 anos já estava óbvia essa descaracterização do mundo. Mesmo assim, maldito Lester. Realmente, hoje em dia só se vende isso, só se lê isso. Biografia-putaria.

Estou cansado de sempre me deparar com essa angústia em relação aos tempos e nunca conseguir me expressar em relação a isso. Meus textos saem truncados, pobres, como agora. A verdade é que os moleques da minha idade me cansam e suas atitudes me acertam em cheio na cara, e eu perco um ou dois dentes a cada soco desses. Acho que baixar MP3 compulsivamente, ou ir a um show de uma banda que você nem gosta pra impressionar alguém (os garotos-legais ou as garotas-bonitas) ou simplesmente não ler significa mais do que a retórica da automatização do ser humano ou da falta de tempo. Significa que nós estamos cada vez mais espertinhos e letárgicos. Como é que se faz dinheiro hoje em dia? Especulando na bolsa de valores, jogando bola ou ganhando em cima dos danos que a humanidade (antigamente tão imbecil quanto hoje em dia, mas um pouco menos preguiçosa) causou ao meio.

Então, as coisas tomam forma de pílula, cada vez mais. A internet possibilitou isso. Informação rápida, especulação rápida, dinheiro rápido, cérebro molenga. Eu era um garoto inteligente até os 14 anos, quando comecei a usar a internet. Hoje sou burro e indolente. E não consigo parar. Mas ainda acredito em ouvir uma música porque eu gosto e em ler um livro que possa mudar minha vida. Yeah, Salinger fez isso por mim, mas não fez por um monte de moleques, que nem sabem quem é ele. Devem existir ainda duas opções:

- A cultura como meio material acabar. Filmes e programas de TV por streaming, música exclusivamente por download e até shows transmitidos via web, sem nenhum contato com público, a não ser pelos 20 figurantes contratados pra dar “clima” de concerto. Quem sabe?

- Descobrir que, apesar de tudo, existem alguns fodidos cagados que pensam como eu escondidos por aí. Então a tal “cultura como meio material” é que se tornaria a alternativa, invertendo totalmente a situação de, hum, 10 anos atrás, quando a internet ainda era o segundo plano.

São duas opções bem idiotas. E eu, como não sei me adaptar, continuo me lamentando por ter nascido desgraçadamente perto dos desgraçados anos 2000.

Se os 80 foram bregas e os 90 nulos, os 00 chegam com um glamour minimalista, quase incolor e quase tão pouco glamouroso como se esse glamour não existisse. O que eu quero dizer é que o mundo nunca foi tão rico, mas também nunca foi tão limitado, inócuo. Existem umas amarras aí, e eu não sei onde elas começam, e nem onde terminam.

Um conhecido meu colocou uma vez na sua descrição do Orkut alguma coisa como “eu só quero me divertir num mundo em que as pessoas não sabem mais fazer isso”. É por aí. Não vou ser hipócrita em vir citar o Oscar Wilde com aquela coisa de “viver” e “existir”, e nem vou dar uma de comunista em pleno século XXI para reclamar de uma possível limitação imposta pelo consumo excessivo e monopólio do capital (bem possível, aliás). Mas me reservo no direito de dar uma de Arnaldo Jabor e dizer que as pessoas são estúpidas, não devem ser e se continuarem sendo, elas estarão erradas, e eu certo. E gente estúpida não sabe se divertir.

Eu acho que sei me divertir.

Ou talvez não. Aos olhos da nossa época, provavelmente não. Há um modelo hermético a ser seguido, ou então você não se diverte, esse modelo limpo como um corte de lâmina bem afiada. E toda essa limitação não justifica o nosso passado, quer dizer, onde é que ficam as pessoas realmente excêntricas agora? Antes pelo menos elas conseguiam umas garotas (ou uns caras) e dinheiro pra pagar o aluguel. Agora elas são cortadas, nem as editoras e gravadoras e estúdios querem os mal enquadrados. Parece que essa “classe” dos anos 00 simplesmente eliminou as décadas anteriores, e o ser humano finalmente chegou àquele ponto que vinha ameaçando desde o começo do século XX: achar que a fórmula já está pronta, e descartar todo o resto.

Foda-se.

Friday, May 04, 2007

Wasted Generation

Sabe o que eu acho foda no filme Rockstar? É que aquilo é real demais. Um carinha que idolatra tanto uma banda que nem acha necessário escrever as próprias músicas. Seu talento é desperdiçado em cultuar um ídolo. Cara babaca. Quem põe os ídolos acima de si mesmo não pode ser um ídolo, ele mesmo.

Meus amigos, quando vêem o filme, cheio de guloseimas, dizem: “Caralho, mas que foda!”. Claro, não é em qualquer longa metragem que você vê o Zakk Wylde atirando numa placa de trânsito... Mas eu continuo me sentindo meio deprimido quando vejo um cara desses, seja real ou ficção.

Complicado é entender (e engolir) a atração de uma mina foda como aquela que a Jennifer Aniston interpreta por um bananão cover version daqueles.

É, tá cheio de gente retardada nesse mundo, mesmo.


Ainda bem que o carinha se toca no final.

Thursday, April 26, 2007

"Mais cem mangos, otários!"

No último dia 23, Los Hermanos anunciaram sua separação – ou “recesso por tempo indeterminado”, como definiram. No bilhete (nem se dignaram a escrever uma carta-despedida pros fãs tão fervorosos) dizem que “A pausa atende a necessidade dos integrantes de se dedicarem a outras atividades que vieram se acumulando ao longo desses dez anos de trabalho ininterrupto em conjunto.”.

Justíssimo. Deve ser maçante passar tantos anos tendo que se dedicar a uma única atividade, ainda mais se essa atividade for trabalhar numa banda famosa como a deles. O que não parece ser lá muito justa é a decisão dos barbudos em dar um último show para os fãs. Um não, dois! Como uma despedida... Quanta perspicácia! Eles realmente parecem ansiosos para engrenar essas “outras atividades”, não é?

“A banda vai acabar, mas não poderíamos perder uma última oportunidade de arrancar uns reais de vocês, otários”, dizem nas entrelinhas. Talvez isso seja uma vingança, ou uma forma de lucrar com os fãs retardados que tanto prejudicaram a imagem da banda desde 2001, quando saiu o Bloco do Eu Sozinho, agindo como se fossem apóstolos de uma entidade messiânica.

Não sou um grande conhecedor dos Hermanos. Comprei o primeiro disco a preço de pinga e me interessei pela banda. Depois, quando arranjei o Bloco do Eu Sozinho, percebi que se tratavam, sim, de uns bastardos talentosos. É um discaço, mesmo! Mas sempre tive preguiça com eles, justamente, talvez, por esses fãs. Agora eles estão provavelmente fuçando na bolsa da mãe atrás de dinheiro para esses últimos concertos. Precisarão: Cinqüenta pratas por meia entrada para cada dia.

Mas será que eles merecem tal comoção? Qual o serviço dessa banda para a música? Desde o fatídico lançamento do fatídico Bloco do Eu Sozinho (citado já pela terceira vez aqui!), um sem-número de garotos e garotas indie começaram a desenvolver verdadeira paixão por samba, por Chico Buarque, por Cartola. Foi isso que eles fizeram, apresentaram a música brasileira pra garotada que, no máximo, ouvia Weezer. Agora, quantos se aprofundaram nisso ou realmente gostaram da coisa, é outra história.

É um trabalho notável, pouca gente faz isso hoje. No mainstream “roqueiro”, então, só eles, mesmo. Então, por que parar? Rodrigo Amarante vai se dedicar à sua Orquestra Imperial, Marcelo Camelo provavelmente vai se envolver com produção e talvez lance algum trabalho solo, Barba e Medina também vão flutuar por aí. Todos apoiados no seu trabalho prévio com o Los Hermanos, gozando do status vanguardista que criaram, mas sem dar continuidade ao trabalho.

Espero que enquanto estiverem ouvindo sua música favorita no dia do último show, cem reais mais pobres, os fãs se dêem conta desse refugo.

Saturday, April 21, 2007

Ei, camarada! Enfie sua erudição no cu!

Odeio quem sabe apreciar um bom vinho. Odeio quem gosta de colocar um bom Jazz na vitrola e saborear um belo charuto cubano. Não suporto quem leva a namorada pra jantar num lugar chique e sabe fazer comentários pontuais sobre a comida.

Gosto mesmo é de gente cuspindo sangue ou esporreando nas calças de tanta dor ou felicidade. Quem gosta de expressar aquilo que sente sem se incomodar com expressões como “dicotomia” ou “auto referência” é quem eu costumo prezar.

A vida é simples, caramba! Por que as pessoas insistem em desfilar sua erudição por todos os lados? Por que a existência virou uma batucada com as mãos e um sorriso de canto de boca num terno impecável? Se você está fazendo dinheiro com isso, está tudo certo, mas e se não? Por que as pessoas acham que filmes, música e livros são apenas trampolins pra satisfazer as vaidades de um camarada que não se contenta em simplesmente saber?

Eu não sei quando foi que as pessoas deixaram de ser auto-suficientes, talvez nunca tenham sido. Mas essa necessidade em provar pros outros que sabe tudo me enoja. Quando vão descobrir que a graça de tudo é aproveitar, e não demonstrar o quanto se está aproveitando?

Friday, April 20, 2007

Exclusivo: Dagoberto tem duas cabeças!

É revelada uma anomalia durante coletiva que apresentou o craque oficialmente como novo jogador do tricolor.

Durante a tarde de hoje, mais uma novela futebolística chegou ao fim. Dagoberto, finalmente liberado do Atlético-PR, foi apresentado como novo reforço do São Paulo Futebol Clube. Mas, mais do que era previsto - entrevista, vestir a camisa do clube, pose para fotos -, um segredo sobre o atacante de 24 anos foi revelado. Dagol sofre de uma rara disfunção, a bicefalia geriátrica, que consiste numa segunda cabeça, geralmente de aparência mais velha do que a principal, ligada ao pescoço do enfermo.

- É um problema que nunca foi muito grave para mim, sempre pude esconder a segunda cabeça, que na verdade é uma grande companheira, ou melhor, companheiro. Ele se chama Twinkles, é um bom amigo e não vai atrapalhar em nada meu trabalho no São Paulo, cheguei aqui pra somar - garante o jogador.


O superintendente de futebol Marco Aurélio Cunha afirmou que não será nenhum incômodo para o clube a condição especial de Dagoberto:

- O São Paulo é um time tão diferenciado que é o primeiro a ter um jogador com bicefalia geriátrica. Daqui a pouco vai ter time querendo que a Fi
fa reconheça que teve um jogador com esse problema antes de nós - disse o cartola, alfinetando o rival Palmeiras, que há pouco tempo teve concedido pela Fifa o reconhecimento do primeiro título mundial interclubes.

Para quem ficou curioso, o Spreading Lies conseguiu em primeira mão a foto do jogador com sua segunda cabeça. Mas já avisamos que são imagens fortes, e não aconselháveis para cardíacos, grávidas e para quem sofre de problemas de labrintite.


Monday, April 09, 2007

Rápidas

- Ultimamente (ou então eu só notei agora) as propagandas têm tido seus últimos milésimos cortados, acho que pra encaixarem os segundos que são comprados pelos anunciantes. Não gosto disso, acho que a mensagem não é passada direito. E propaganda é mensagem, não é? A palavra não é degustada pelo ouvinte, e um "Aprecie com moderaçã" não atinge as pessoas como um "Aprecie com moderação...". Porque as emissoras não fazem 30 segundos e uns milésimos pelo preço de 30 segundos? Tempo é dinheiro, mas já tem tanta promoção inútil por aí mesmo... É, não manjo de ganhar dinheiro, mesmo!

- Jaded, Stuck in a Moment e Immitation of Life sao as 3 músicas que mais me lembram o curso de desenho que eu fazia com uns 11 anos (tocavam no radinho da sala de aula). Foi quando eu comecei a prestar atenção em música. Aqueles dois anos valeram a pena pra uma coisa que eu não previa. Um pouco da graça da vida é essa imprevisibilidade.

- Estou viciado no Beggars Banquet. Quando eu escuto certas músicas dos Rolling Stones, custo a acreditar que eles já conseguiram fazer um álbum com 10 obras primas. Mas conseguiram. Sensacional.

Ouvindo: Cyprus Avenue - Van Morrison

Saturday, March 31, 2007

Sobre a Mediocridade

Sou um cara chato. Assumida e deliberadamente. Consigo ser contra a causa e a conseqüência, contra a situação e a oposição, tudo ao mesmo tempo. Não me incomoda ser assim, pois é parte da minha personalidade e os fatos externos também não ajudam; Ou seja, ossos do ofício.

Mas será que eu sou tão chato assim? Vivemos numa era medíocre (no sentido coloquial e negativo da coisa – merda) em que quase todos os aspectos de quase todo o substantivo que existe vão mal. Dia após dia, qualquer um com um Q.I. de, no mínimo, dois dígitos, se depara com alguns sentimentos bem desagradáveis: decepção, indignação, medo, impotência e constrangimento. O último é o menos grave, entretanto, o mais constante. Como não se sentir incrivelmente burro quando o maior sucesso de vendas da indústria fonográfica do seu país é algo dantesco como RBD, quando a terceira maior televisão do planeta (e maior do Brasil) é incapaz de passar informações precisas e imparciais, quando a nação mais poderosa do mundo é comandada por um homem um pouco menos apto a comandar que um chimpanzé?

E estamos fadados a chafurdar cada vez mais, pelo menos enquanto o povo ignorar alguns valores bem simples e que mais parecem com detalhes, mas são importantes, sim, senhor. A vida perdeu um pouco do sabor, entende? Ir ao cinema assistir à estréia de um filme, ou passar numa loja e procurar por algum CD em promoção (são tempos difíceis e superfaturados) e eventualmente achar aquela raridade, ou encontrar um amigo por lá e sair para tomar um chope, tudo isso parece que perdeu um pouco do sentido pras pessoas. Agora você gasta seu dinheiro com as roupas que todo mundo tem (e se endivida pra isso, mas está tudo OK) e vai pra balada pra ficar bêbado e fazer comentários machistas e pegar geral. Não porque você gosta dessas coisas, e sim porque todo mundo está fazendo e Deus te proíba de ser diferente de todo mundo ou simplesmente pensar.

E quem se opõe a isso é que é o loser. Não sei não... Estava pensando: os caras “legais” daqui da cidade estão já com seus 20 anos e ainda moram com papai e mamãe e ainda têm suas bandinhas de pop rock cover e permanecem fazendo suas faculdades particulares de administração pra depois tocar o negócio do pai e continuam namorando com as mesmas menininhas do Ensino Fundamental (os mais conscientes de vez em quando arranjam uma garota do primeiro colegial!). Meus amigos, os que são “uncool”, estão todos em repúblicas, morando fora e aprendendo a se virar (embora eu admita que muitos deles às vezes tenham recaídas e tentem se incluir constrangedoramente nesse mundo dos “bacanas”). Há uma inversão de valores aí.

A real é que esse lixo todo gera dinheiro. Tanto de um lado quanto de outro, por isso não acho que vá parar. O grande modo de se arranjar grana no século XXI já está definido, e é usando a decadência a seu favor. Cientistas e Engenheiros Ambientais estão fazendo fortuna tentando entender ou reparar os rombos que o homem fez na natureza, enquanto o Celso Portiolli e a Daniela Cicarelli engordam suas contas bancárias com programas de namoro na TV (e eu duvido muito que alguém ali esteja realmente na seca, mas o homem moderno sente essa necessidade de aparecer na TV, nem que seja pra bancar o macaco). É claro, o show business é movido a baixeza. O que seria de Borat se os americanos não fossem um povo mesquinho e escroto? E eu, estaria escrevendo esse texto se não tivesse acabado de assistir na MTV um especial sobre “girl power”, em que uma das garotas comentadas era um dos maiores ícones do machismo e da bronha pré-adolescente, Britney Spears? Pior: programa apresentado pela Marina Person, presumidamente uma mulher decidida, inteligente e mais todos esses adjetivos que os machistas usam pra designar uma mulher que não abaixa a cabeça diante seus bigodões encorpados. E ela se submeteu a isso? É claro que sim. Umas caras aqui, umas bocas ali, uma ou outra frase de efeito e sua imagem segue intocada para com a audiência retardada.

Eu já perdi as esperanças e não vejo outra saída a não ser fazer piada disso tudo. Não há uma vontade em mudar, nem entre as pessoas “inteligentes” como a Marina Person, porque, claro, se as pessoas deixarem de ser idiotas, vão perceber que a Marina, de fato, não é inteligente. Tudo bem. Já me conformei e aprendi a me divertir.

Ei, cara, o que você está fazendo aí parado? Tá cheio de gente babaca pra você espinafrar. Corre!

Tuesday, March 13, 2007

Kings of Leon - Because of the Times

Um dos maiores e mais datados clichês da crítica musical é comentar a “evolução” de uma banda em determinado álbum. Como se a evolução imunizasse o grupo de quaisquer críticas. “Hey, eles evoluíram, eles estão à frente de seu tempo, você é que não entendeu a proposta”. Por outro lado, quando algum músico fica estagnado num tipo de som, seus detratores têm como argumento esse estacionamento musical. É um conceito dos mais babacas, porque determina condições sobre o que deve ou não fazer uma banda. Ora, música não deveria ser livre? No dia em que as grandes bandas começarem a se deixar levar pelo gosto alheio – da crítica ou de fãs – podem fechar tudo, de lojas de CDs a casas de show.

Ficar parado ou seguir em frente depende única e exclusivamente dos guitarristas, vocalistas, baixistas, bateristas. Nem mesmo os fãs sabem o que querem, porque alguns “enjoam” de uma banda sempre repetitiva e outros não conseguem digerir mudanças. O último disco dos Strokes não foi bem, disseram que “foram inventar e acabaram fazendo merda”. O recém lançado do Arcade Fire não foi uma unanimidade como Funeral. Rapture, Killers, Keane... As bandas indie estão cada vez mais ousadas e não estão agradando seus fãs. Há um motivo para ambas as coisas.

De um lado, pessoas extremamente jovens são transformadas, num piscar de olhos, nos “salvadores do rock”. Então, ainda numa psique de super humano, externam nos discos subseqüentes ao hype sua ainda latente rebeldia numa coisa que “ninguém” quer ouvir. Entenda as aspas, foi confrontando os fãs modorrentos e chocando a crítica (e vez ou outra a sociedade) que surgiram os grandes clássicos.

Do outro, os fãs estão descobrindo uma banda nova (e de seu agrado) a cada dia no MySpace e, portanto, não precisam refletir muito sobre a nova empreitada do Franz Ferdinand ou dos Strokes. Se agradou, ótimo. Se não, no máximo, a banda vai ser massacrada internet afora e só. Nada de segunda chance.

No meio de tudo isso, os membros do Kings of Leon anunciaram que “não teriam medo de nada e que entrariam no estúdio com a mente aberta”. Dito e feito. O disco ainda nem foi lançado oficialmente e já causa discussões, pelo menos entre os fãs. Alguns dizem que “foram inventar e acabaram fazendo merda”, e outros aplaudiram a mudança.

Decerto que estou com o segundo grupo. Because of the Times é um disco para derrubar queixos. Seja pela surpresa ou pelo direito que acerta sua cara em cheio. Não é um giro em 180° no som que a banda costumava fazer, é mais. Kings of Leon está num novo plano, não sei se mais alto ou mais baixo, talvez ele cruze com o anterior. E nesse cruzamento é justamente onde fica a caipirice. E a voz de Caleb Followill.

E é verdade. Se não fosse a voz de Caleb e alguns elementos aqui e ali, você provavelmente não acreditaria que é um disco dos Kings. Começa aberrante para os padrões deles, com uma musica de 7 minutos, com guitarras fazendo harmônicos e coros ecoando no fundo. Tem uma colher de chá de U2 ali. E tem também Hard Rock. Porque não Pearl Jam? A verdade é que não dá pra definir muito bem o que é esse som. A banda cresceu, e talvez tenha achado seu caminho.

Uma coisa que é bem definida nesse Because of the Times, porém, são as conduções do baixo de Jared, o mais novo da banda e positivamente um dos melhores (eu não me contenho com os superlativos) baixistas dessa safra de bandas novas desde 2001. Talvez o melhor. As notas do baixo são mais nítidas e impressionantes do que qualquer outro instrumento em diversos momentos ao longo do disco.

On Call é o primeiro single e não tem nada, nada, nada a ver com Molly’s Chambers ou King of the Rodeo ou Four Kicks. A puxada melódica do refrão emociona e a música é muito mais um “climão” que uma canção com ritmo frenético pra dançar. É esse “climão” que também difere Because of the Times dos primeiros dois discos, é uma coisa mais adulta. Black Thumbnail, Knocked Up, Arizona e The Runner também são assim. Ainda é rock, mas é um pouco mais complexo. A tal da evolução está aí.

Caleb disse certa vez que se “Youth and Young Manhood” é a festa, “Aha Shake Heartbreak” é a ressaca. Comparação perfeita, mas então o que seria BotT? Se prender em comparações sem estar dentro do processo é pura tolice. “Todo álbum carrega algum estereótipo consigo, mas nós não prestamos atenção nisso. Nós sempre tentamos fazer o próximo álbum melhor do que o último”, disse o baterista Nathan à revista americana Harp. Isso serve ainda mais para turvar qualquer suposição acerca do que representaria o disco novo.

Because of the Times era o nome de uma grande conferência religiosa que os irmãos e primo Followill costumavam freqüentar durante a infância, mas segundo Caleb, se refere também à mesma justificativa que as pessoas dão para um álbum ser um sucesso ou um fracasso: “É por causa dos tempos.” Talvez seja “por causa dos tempos” que a banda resolveu ousar tanto dessa vez. Não é preciso se preocupar com isso, só essa deliciosa ironia desafiadora já vale mais que qualquer explicação oficial.

Ainda falta algum tempo pro disco sair, e, ao contrário do que aconteceu com os anteriores, provavelmente vai dividir opiniões. Tudo bem. Because of the Times é o primeiro e honesto passo para que daqui alguns anos Kings of Leon seja lembrada como uma grande banda. É isso que interessa.

Thursday, March 01, 2007

Johnny Brechó - Rock de Veludo

Bandas como Johnny Brechó se proliferam como formigas. Isso é fato e carrega consigo um significado: as bandas de "rock atual" não cativam mais os jovens. Se houve uma explosão de rock de garagem, independente e alternativo no fim dos anos 90 e começo dos 2000, hoje em dia esse movimento se ramificou tanto que não existe mais um som emblemático ou com alcance suficiente para ser convidativo para todos. Quer dizer, é um movimento, não um estilo musical. E, por isso, cada vez mais, as bandas buscam no passado a maneira de fazer seu som. E às vezes exageram.

Johnny Brechó é um nome totalmente apropriado para uma banda cujo público é justamente o tipo de pessoa que vai a um brechó procurar plumas, chapéus e camisas antigas. Poderia também se chamar de Johnny Retrô e estaria tudo certo. Essa necessidade dos mais novos em ter por aí bandas como essa, Cachorro Grande, Wolfmother, Black Crowes e tantas outras vem, sem dúvida, da impossibilidade de acompanharmos às carreiras das bandas dos anos 60, 70 e 80 durante seu auge, seja ouvindo um clássico na semana do lançamento ou pegando shows memoráveis com o máximo de energia que os rockstars da época em que o rock era rock e o mundo ainda era bipolarizado podiam injetar numa apresentação ao vivo.

Mas a verdade é que os tempos mudaram e agir como se vivêssemos numa época em que uma revista em quadrinhos custava 25 cents não é menos que ridículo. Entenda, emular um som antigo pode ser tão interessante quanto desastroso e, assim como a influência externa determina que a banda siga por esse caminho, é ela que define qual dos dois aspectos a banda vai ter. Se você fica insistindo que é uma diva setentista ou um pioneiro do rock de garagem de 1965, está mal. Vai ser provavelmente motivo de chacota entre a crítica musical e não vai pra frente como artista. Se se apropriar apenas do som antigo, mesmo que não seja original, e não tentar parecer um macaco classic rock com sua roupa e trejeitos, provavelmente vai juntar alguns fãs e um pouco de respeito, já que as pessoas se permitiriam a aceitar uma espécie de "segunda chance" se não estiverem enjoadas com o cheiro de mofo da sua camisa.

Ainda não vi Johnny Brechó ao vivo e eles ainda não foram tomados pelas garras imediatistas das gravadoras - são 100% independentes -, por isso não sei como se portam, mas a banda impressiona. Em 2005 gravaram um EP, "Rock de Veludo", muito bem produzido, do tipo que vale gastar uns trocados pra ter. Os temas lisérgicos do Zeppelin já aparecem na abertura do disco, Impala 65, e depois as músicas continuam resgatando as bandas de Hard Rock dos anos 70, com odes ao Rock and Roll e tudo mais. No fim, um cover sensacional de Mutantes. A banda tem um line up que pode ser, também, interessante. Mas é a voz de desenho animado do vocalista Dino que, estranha no começo, vira uma identidade pro grupo ao longo das outras escutadas.

A real, então, é a seguinte: O Johnny Brechó tem a faca e o queijo na mão. A banda é independente, mas está redonda pra ser vendida como uma eventual "volta do rock" e se dar muito bem. Só não pode ser seduzida pela babaquice dos maneirismos "retrô" tipo o Cachorro Grande e se meter numa demanda por visual (e não por música). Até porque, como Dino cita Robert Plant em determinado momento, "it's been a long time since the rock and roll".

***

Não é a função deste blog, mas por se tratar de uma banda independente que provavelmente tem pouquíssimas fontes no soulseek e menos uploads ainda no rapidshare, segue abaixo o link da página do Johnny na Trama Virtual.

Friday, February 16, 2007

Teenage Angst

Meia noite e quarenta e quatro, coloquei Nevermind pra tocar, peguei uma cerveja lá embaixo (Bavaria é horrível, shame on you, dad!) e roubei dois cigarros do meu pai. É, roubei, infelizmente ainda tenho 17. Patético, não? A adolescência é patética na maior parte do tempo, já me acostumei.

Embora tenha irritado insuportavelmente Kurt Cobain o artigo que dizia que “a angústia adolescente compensou”, a ponto de ele abrir seu disco seguinte com essa frase em tom irônico, definir Nevermind e o Nirvana como um todo como “angústia adolescente” talvez tenha sido a mais brilhante significação para o disco que alguém poderia ter pensado.

Kurt definiu esse período de fortes conflitos hormonais e morais como ninguém. O enfado, a decepção, o asco e a própria angústia estão em Nevermind da forma mais limpa possível, mas ainda sim bruta. Talvez seja por isso que o disco também é um antídoto forte, entra na mesma freqüência da tua fúria ou desespero ou tédio e te cura, no fim das contas. Desde uns tempos atrás, tenho estado incrivelmente emputecido com algumas questões e hoje à noite, quando a coisa chegou no auge, não conseguia tirar o riff de Teen Spirit da cabeça.

Smells Like Teen Spirit é o carro chefe do álbum com muita justiça, porque não só é a faixa com maior apelo comercial como também escancara a idéia do que é a fase entre os 13 e os 19 anos, numa alegoria musical bem incisiva. Uma música simples, com uma base e um refrão e um solo bem mais ou menos (e curto) se estica por cinco minutos e se torna uma coisa muito mais dramática do que deveria ser: milhões de discos vendidos, mania, encheção de saco, Kurt, Krist e Dave mais presentes na sua casa do que aquele seu tio que mora não muito longe e, no fim, um tiro na cabeça que até hoje inspira discussões acaloradas entre garotinhas de 13 anos sobre quem o proferiu.

E Kurt foi sim o primeiro. Mesmo que o Iggy já tivesse dito “I’m losing all my feelings, I’m running out of friends”, mesmo que outros já tenham dito que nasceram para perder, nenhum o fez com o tédio do Nirvana. Hail!

Tuesday, February 06, 2007

Arcade Fire - Neon Bible


Recentemente, tive uma discussão sobre indie. O que é? Como soa? Quem é indie? A verdade é que, afora as incógnitas que vão sempre assombrar nossa cabeça, cheguei a uma conclusão bem elucidativa: o que é chamado de indie é algo tão abrangente, musicalmente ou não, que fica difícil não gostar de pelo menos alguma coisa dentro do estilo. Essa é a grande sacada do rótulo, cativar desde os fãs de “eletro-something” tipo Kasabian até os que gostam do country agitado do Kings of Leon. Então, qual o mérito de uma única banda que, em dois discos, passeia entre dois estilos diferentes, volta, torce, estica, mantém o hype e a qualidade inquestionável?

05 de março é o dia marcado para o lançamento do segundo disco do Arcade Fire, Neon Bible, mas graças à internet, veículo-chave, catalisador e principal outdoor do “independente mainstream”, quase-todo-mundo já está ouvindo-o. Neon Bible é o nome do primeiro livro de John Kennedy Toole e é sobre a vida de um jovem chamado David. Nascido e criado numa cidade rural da Louisiana entre as décadas de 30 e 50, o protagonista se vê num cenário dividido por dilemas religiosos e, consequentemente, políticos. O pano de fundo ideológico serve para ilustrar e interferir nas tragédias da família de Dave. Partindo dessa premissa do livro, a banda estabeleceu uma comparação, bastante contundente e lógica, com a atual situação da América do Norte e do mundo. O Jihad petrolífero organizado por Bush gerou tamanho caos que até uma banda como o Arcade Fire, cujo primeiro disco é totalmente autobiográfico e intimista, se viu impelida a gritar sobre isso.

Essa é a principal diferença entre Funeral e Neon Bible, o primeiro fala da tragédia particular, o segundo fala dela incutida no panorama mundial, conta histórias, autobiográficas ou não, sobre pessoas vivendo na América de hoje. A maioria das músicas tem alguma referência sobre aviões se chocando em prédios aos pares, pedidos ao espelho mágico para saber onde cairão as próximas bombas, relutância em lutar numa guerra santa ou algum outro fantasma circunstancial da guerra contra o terror que usa o terror em seu serviço. O direcionamento novo, e o próprio medo em si, exigem uma sonoridade diferente. A música de Neon Bible é mais grandiosa e mais melódica do que a de Funeral. O motivo é de fácil de explicar: quando você fala da dor de perder um parente, pode manter um clima experimental e fechado, mas quando vê cidades sendo destruídas seguidamente, é como se fosse seu dever aumentar um pouco as coisas, para atingir mais gente. Picasso não colocou um ponto bege na tela e chamou de “Guernica”. Criou um quadro forte e dolorido, ciente de que em casos como esse, deve-se causar impressões. O Arcade Fire também sabe disso e, diferente de gente como Bono Vox, não tem ninguém na banda que seja arrogante o suficiente pra se achar o último pacifista do rock and roll, o que valida o esforço e angaria simpatia da parte de quem ouve.

Black Mirror abre o disco e ainda parece um pouco com música do Funeral, mas é mais sombria do que tudo do disco anterior. “Se despeça do Arcade Fire antigo”, diz ela por quatro minutos e onze, um tempo bastante generoso para uma despedida. Pouco generosa seria uma banda com tantos músicos, alguns multi instrumentistas, ficar estagnada no sucesso e no hype do som do disco predecessor. Keep the Car Running tem um ritmo convulso de pós punk e é uma das mais grudentas. Lá pelo meio tem um coro que lembra demais Cure (além da voz de Win Butler, que soa naturalmente com a de Mr. Smith), com aquela festividade meio angustiada... Tipo “Sexta feira estou apaixonado”, e você responde “É, mas provavelmente você vai se matar no sábado”.

O Arcade Fire festeja. Brinda à alta tecnologia, à liberdade, whatever... Festejar o que? Os americanos têm medo. Enquanto dançam e ensaiam seus coros, estão aterrorizados em pensar num avião caindo sobre suas cabeças numa terça feira qualquer. Então rezam. Rezam com a mesma fé cega dos cristãos Republicanos, dos Xiitas, dos Sunitas, dos judeus de Israel, a fé cega que move a guerra (além de outros aspectos bem pouco, digamos, paroquiais)... Saca? É esse o ponto, o clima do disco todo. E é um clima tão presente que torna o álbum quase conceitual. Falam de uma coisa que, nesses últimos cinco anos de “Bush-Oriente-Médio-E-Terrorismo”, ninguém estava falando: do indivíduo metido à força no turbilhão de terror e vaidade dos líderes mundiais.

Ironicamente, a banda dispensou produtores e gravou Neon Bible numa Igreja, abandonada acho, em Montreal. O som fantasmagórico do órgão contribui muito para Intervention, a melhor melodia inédita do disco, e My Body is a Cage também se vale do instrumento para o clima “fantasma da ópera” que tem, talvez um dos mais memoráveis dos anos 2000, e que fará qualquer garotinho blasé molhar as calças xadrez.

Intervention é a melhor melodia inédita do disco porque a melhor mesmo é uma regravação. 8 entre 10 fãs de Arcade Fire (e eu não pesquisei pra afirmar isso, foda-se) têm No Cars Go como uma de suas, vamos dizer, três preferidas da banda. A música apareceu pela primeira vez no lendário (e ligeiramente renegado) EP auto intitulado, de 2003, e agora volta, melhor ainda e provando que ninguém ali tem muitos pudores em fazer o que quiser com a própria música, ainda mais quando ela é tão adequada à temática do disco. Isso é sim é ser fodão!

E no fim, depois de conseguir sintetizar todo o significado dos tempos modernos na alegoria de um único livro, o eu lírico da banda de Montreal se coloca na pele do cidadão que é e clama por sua vida. “Set my spirit free, set my body free” (Liberte meu espírito, liberte meu corpo) é a última frase do disco.

Teste do segundo álbum? O que é isso?

 
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