Sunday, December 27, 2009

Top 10 2009 - Os Discos (parte 2)

E aí? VAMOS LÁ, RAPAZEADA?? A segunda parte ficou mais indie. Mas hoje em dia, quem é que consegue fugir disso?

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7. Animal Collective - Merriweather Post Pavilion


O que eu mais gosto no Animal Collective é sua habilidade com os barulhinhos. Como uma banda só com alguns sintetizadores e outros brinquedos eletônicos e uma guitarra (pelo menos foi isso que eu vi ao vivo) pode fazer um som tão completo e popular continua sendo um mistério para mim. Mas mais do que isso, evidencia uma genialidade que está mais baseada em usar os aparatos eletrônicos da forma certa do que num feeling musical "puro", como acontecia antigamente. Resumindo, o Animal Collective faz a música do futuro.

Não bastasse isso, Merriweather Post Pavilion é o disco de 2009 da maior banda da geração hipster americana, que tornou-se mais conhecida neste ano e tem tudo para crescer ainda mais em 2010. Mesmo deixando tudo isso de lado, My Girls destrói tudo e sozinha já meio que garantiria um lugar aqui para a banda. Agora que o Yeasayer foi pro saco, é minha aposta no meio indie.


6. Arctic Monkeys - Humbug

Andam responsabilizando o - opa! - produtor Joshua Homme pela mudança drástica no som do Arctic Monkeys, mas desde 2008, com o disco de estréia do Last Shadow Puppets, Alex Turner já apontava para onde queria seguir. Desde o título, Humbug, o novo trabalho da banda de Sheffield é diferente. Um amigo meu chegou a dizer que esperava alguma coisa como 'The Rocambolic King of the Cobra Slaves From Kuala Lumpur', ou algo tão estrogonófico quanto. Porém, com uma palavra antiga que significa farsa, a banda nomeia um disco tão discreto e oblíquo quanto possam querer sugerir.

Em Humbug, portanto, a tarefa de Josh Homme foi canalizar toda a vontade de mudar e emprestar alguns timbres classudos ao Arctic Monkeys. O resultado é uma mistura de Last Shadow Puppets com o clima meio sinistro dos últimos trabalhos de Homme, mais a piscadela insolente dos macacos ingleses. My Propeller, Dangerous Animals, Dance Little Liar e Pretty Visitors são os melhores expoentes dessa brisa toda. Não se acanhe, hoje em dia já é chique ceder ao hype.


5. Pearl Jam - Backspacer

Eu bem que achava que um hiato faria bem ao Pearl Jam, mas não imaginava que o resultado chegaria ao nível de Backspacer. O nono disco da minha ex-banda-favorita-de-todos-os-tempos é basicamente o que eles estavam meio que tentando fazer há quase 10 anos. Se a inspiração para experimentações introspectivas - como Sometimes e Sleight of Hand - e épicos tipo Rearviewmirror parece ter acabado (ou foi uma escolha deliberada? É minha maior dúvida em relação ao Pearl Jam), que pelo menos eles fizessem bons trabalhos com os punks mezzo pop mezzo anos 80 que vinham tentando fazer. Porque o "Abacate" (o auto-intitulado "Pearl Jam"), de 2006 trazia alguns belos fiascos, tipo "tio, pare de passar vergonha". Como é que se diz hoje em dia? "Fail", não é? Desta vez, no entanto, deu certo.

A primeira metade do álbum traz músicas rápidas e vigorosas que podem até se equiparar a clássicos da banda como MFC e Hail, Hail. Minhas favoritas são Got Some e Johnny Guitar. Depois, há uma sequência de experiências bem-sucedidas, como a valsinha Speed of Sound e o crescendo emocionado de Untought Known. Ainda arrumaram espaço para um marketing pessoal de Eddie Vedder: as duas baladas do disco são cópia exata do estilo musical (folk? ukulele-rock?) de seu disco solo, mas isso não atrapalha. Pelo contrário, são belas melodias que completam o disco direitinho.

No fim, o principal mérito de Backspacer foi me fazer voltar a respeitar o Pearl Jam. E tomara que continue assim.


4. Danger Mouse and Sparklehorse Present: Dark Night of The Soul

Deus abençoe Brian Joseph Burton. Se no ano passado ele conseguiu soltar o melhor álbum de 2008 e um dos melhores da década com o Gnarls Barkley, em 2009 não fez nem um pouco feio. Desta vez, junto com Sparklehorse (e perdoem eu não saber nada sobre o cara e nem até onde vai sua participação no projeto) e com projeto gráfico de David Lynch, Danger Mouse se embrenhou por caminhos diferentes do mundialmente famoso Gnarls Barkley. Dark Night of The Soul é mais maluco, mais nóia, mais sombrio, mas também é mais Beatles pós-67, as sensações de amor, angústia e sensualidade alternando e misturando.

Para viabilizar essa piração, algumas pessoas foram chamadas: Iggy Pop (cantando, oportunamente, que é uma mistura de deus e macaco), Flaming Lips, Nina Persson, Julian Casblancas, e mais um monte de gente diferente que contribui para essas oscilações esquizofrênicas de humor ao longo do álbum. Inclusive, com seu suicídio recente, a participação de Vic Chesnutt, a mais desconfortável e misantropa de todas, fica parecendo um tipo de despedida macabra.

Mas antes de tudo, o que mais chama atenção é o bom gosto do trabalho e a sua coerência. Não surpreende. Há pouco tempo, Danger Mouse foi considerado o melhor produtor da década pela Paste Magazine e agora prepara Broken Bells, com o carinha do The Shins (que canta uma das melhores em Dark Night of the Soul). Já temos um candidato a melhor álbum de 2010.

Saturday, December 26, 2009

Top 10 2009 - Os Discos (parte 1)

Neste ano, além de demorar para elaborar minha lista final de melhores do ano, resolvi dedicar uma resenha mais caprichada para cada um dos eleitos. Por isso, dividi a postagem em 3 partes e espero que a segunda já seja publicada amanhã. Depende da minha capacidade de escrever as coisas. Complicado...

Não achei 2009 um bom ano, nem de longe. Pode ser porque ouvi pouca coisa (sendo que no final acabei correndo para ouvir alguns lançamentos e quatro discos listados aqui eu só fui ouvir no último mês).

Acho que precisava ter escutado mais hip hop e música brasileira, mas a vida continua. Flaming Lips, Pelican e Dizzee Rascal provavelmente teriam entrado se eu tivesse ouvido seus lançamentos. Black Drawing Chalks e Cidadão Instigados não me enganaram (muito por causa dos seus vocalistas; já vi os instrumentistas de ambas as bandas ao vivo e é coisa fina). Emicida lançou uma mixtape, que hoje em dia já é disco, longa demais e só por isso não entrou.

Mãos à obra?

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10. Céu - Vagarosa
Ainda que uma menina como a Céu cantando "cumadji", como se alguma vez na vida já tivesse proferido essa palavra, me incomode de leve, e essa "brasileiridade" resgatada pela turminha mpb da Vila Madalena/Lapa me pareça ligeiramente falsa, nada disso é capaz de macular a qualidade de um disco como Vagarosa. Cangote, Bubuia e Cordão da Insônia, num mundo justo, teriam cada uma um clipe maravilhoso que passaria o dia inteiro na MTV (se bem que não tem lá muito sentido reclamar disso, a Céu é conhecidíssima hoje em dia).

Mesmo que o álbum não fosse bom desse jeito, ousado instrumental e estilisticamente como é, dois motivos ainda me deixariam inclinado a arrumar um lugar para a cantora nesta lista. O primeiro é puramente temporal, quase técnico: não incluir algum representante dessa cena em que ela se encontra (a mesma em que estão Curumin, Kassin, Thalma e até rappers como Emicida e Kamau) seria virar as costas para o inegável: a música brasileira está renascendo - e com criatividade. O outro motivo é meramente masculino. Como disseram por aí (acho que foi o Alexandre Matias), a Céu não se identifica com o estereótipo da cantora de mpb durona e sapatão. Ela está mais para a irmã gatinha do seu amigo que fuma maconha e escuta os CDs de reggae do irmão mais velho. Aí meu coração amolece.


9. Slayer - World Painted Blood
Como achei 2009 um ano ligeiramente fraco, nada mais natural que um som familiar figurar numa lista de melhores do ano. É meio que uma salvaguarda, para garantir que o ano não seja um fiasco total, na retrospectiva. Vejo o Slayer como mais uma daquelas bandas que fazem sempre o mesmo disco, mas com a vantagem de não terem tido substituições de músicos equivocadas tipo o AC/DC e de suas tentativas de variação sempre acabarem sendo muito classe (diferente de um Kiss da vida). Quer dizer, Dead Skin Mask não é um troço do caralho?

Nessa linha de pensamento, World Painted Blood encaixou direitinho em 2009. É Slayer puro, pesado e com Tom Araya cantando como nunca, mesmo beirando os 50 anos. E eu valorizo demais uns tiozões tocando thrash metal sem parecerem ridículos (o Kerry King meio que é ridículo, mas a gente finge que não vê).


8. Mastodon - Crack The Skye
Quando ouvi Mastodon pela primeira vez, achei que era a salvação do heavy metal, ou pelo menos a prova de que havia massa cinzenta em algum lugar dele. O crítico Simon Reynolds, pelo visto, concordava comigo e chegou a comparar a vertente em que o Mastodon se encontrava como o equivalente ao post punk nos anos 80. Faz todo o sentido, uma vez que o metal hoje em dia é desprezado por sua característica exageradamente solipsista, ou seja, por se fechar em guetos intransponíveis (e raramente o interesse de penetrar esses guetos é despertado numa pessoa "de fora"). Essa exclusão causa sentimentos pessimistas quase idênticos aos dos punks sentimentais do início dos 80. Em suma, o chamado "metal progressivo" tem o papel que o indie tinha antes de se tornar produto de massa via as piores bandas da história.

O último do Mastodon, Crack The Skye, parte de onde seu antecessor, Blood Mountain, parou. Explico: o álbum de 2006 começa impiedosamente bruto, pesado, os 12 braços do baterista judiando a bateria. Conforme vai avançando, vai ficando mais etéreo, cada vez mais viajandão. Até as participações especiais mostram isso. Scott Kelly, do Neurosis, Josh Homme, do QotSA, Cédric Bixler-Zavala e Ikey Owens, do Mars Volta, na ordem.

Crack The Skye é exatamente a mistura perfeita do começo e do final de Blood Mountain e é tão bem resolvido que chega a ser claramente pop (tão pop quanto o metal pode ser). Atente para Oblivion, Divinations e o épico dividido em quatro partes The Czar.

Friday, December 11, 2009

O Novo Trabalho do Yeasayer é um Belo Cocozão.

Falando sério: estou de luto pelo Yeasayer.

Porque parece que eles não assimilaram esse hype todo em cima das bandas do Brooklyn e quiseram fazer alguma coisa estranha que no fim é só ruim. Essa coisa se chama Odd Blood, seu segundo disco.

Eu gosto de Apes & Androids, de MGMT, Dirty Projectors e Animal Collective (que, se não é da cena hipster do Brooklyn geograficamente, está lá com o coração) assim como gostava do Yeasayer de All Hour Cymbals, justamente pelo fato de cada uma ser diferente da outra! Todas com o mesmo jaco colorido e o Nike Dunk de cadarço fluorescente, mas cada uma com uma contribuição diferente, numa mistura doida e improvável, do eletropop-lucio-ribeiro (MGMT) à freakagem sensível (Dirty Projectors).

Triste que o caminho que o Yeasayer escolheu pra capitalizar na visibilidade dessa cena hipster tenha sido misturar um pastiche oitentista/pós punk nas suas camadas de sintetizadores. As mesmas que casavam tão bem com aquela doideira world music cheia de ecos.

Chega a me ofender que uma música ridícula como Love Me Girl seja da banda que eu tinha certeza absoluta que seria a melhor banda dos anos 10 (anos 10 é muito classudo, né?). Daquelas que ninguém dá bola, mas que quem escuta sabe que é fodida. Tipo, em outras palavras, o Yeasayer tinha tudo pra ser a "minha" banda. Sem nenhuma síndrome de underground aqui, só estou externando aquele egoísmo que todo ser humano sente o tempo todo.

Além de Love Me Girl, temos ainda Madder Red como música muito ruim. Fora isso, quase todo o resto é simplesmente plástico descartável (mas lembre-se, as pessoas boas reciclam). Boas mesmo, só Ambling Alp e O.N.E. Mesmo assim, não representam o que a unhinha do dedinho carcomido de Wait for the Wintertime (ou No Need to Worry) respresenta. E, numa comparação ainda mais direta, é uma afronta que Griselda seja a faixa de encerramento, quando a banda já teve uma música-epifania do nível de Red Cave fechando um álbum.

Talvez o problema seja a comparação com All Hour Cymbals, a estréia do grupo. Tudo daquele disco parece superior a Odd Blood, e isso é sempre um problema gravíssimo. Talvez a produção desse segundo disco seja melhor, mas até aí, era o Bob Dylan que dizia que uma canção boa não dependia de produção ou algo parecido?

Seja como for, é besteira ficar chorando as pitangas, se martirizando. "Olhem pra mim, a minha principal aposta mandou mal pra dedéu, olhem como sou azarado!". Não. O caminho é escutar All Hour Cymbals esperando que o terceiro disco seja legal. Se não der certo, aí sim é hora de desistir e seguir em frente. A próxima cena sinishhhtra pode ser aquela dos subúrbios de Kiev.

E essa é uma lição valiosíssima, crianças!

 
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