Thursday, January 05, 2012

Alguma coisa sobre como foi 2011


Pela primeira vez desde que comecei este blog, há 6 primaveras, não consegui chegar sequer a um top 5 de melhores discos ou músicas do ano. Pudera, foi um ano tão intenso que a última coisa que eu poderia me preocupar era em estar atento aos lançamentos de 2011.

É mais ou menos aquela máxima do Nick Hornby/Rob Flemming (de Alta Fidelidade): você escuta música pop porque está triste ou está triste porque escuta música pop? E desde a primeira metade do ano muitas vezes me vi irritado, preocupado e angustiado, mas tristeza forte e duradoura não senti. Não quer dizer que não tenha ouvido música pop, mas decidi conhecer coisas que há muito queria conhecer e esbarrar em outras que jurava ser inócuas e que no final acabaram virando motivo de adoração (tipo Pavement).

Também aconteceu que passei a maior parte de 2011 ouvindo rap, uma novidade impensável para o menino de 16 anos que começou a escrever neste blog em 2006. Mas foi também nestes últimos 12 meses que esse menino de 16 anos teve sua desforra com dois shows do Pearl Jam, um do Faith No More, outro do Kyuss, um pedacinho de Alice in Chains - e uma grande decepção com o Stone Temple Pilots.

Tendo sido essa relação com a música mais particular e íntima do que normalmente é, protelei meu resumão de 2011 no blog até o começo de 2012, quando as listas já se tornaram irrelevantes. Mas daí pensei que tanto faz, já que cada retrospectiva pessoal é um recorte do que foi o ano realmente. Então resolvi, em vez de fazer um top, comentar alguns pontos relevantes do ano que passou em tópicos. 


O álbum do ano
Se em anos anteriores os artistas nacionais apareceram apenas em posições tímidas, em 2011 não tive dúvidas de que o melhor de todos foi o Nó Na Orelha, do Criolo. Claro, você não aguenta mais ouvir falar nesse cara, e eu também não. Mas seu disco realmente é bom, daqueles raros casos que sustenta o hype. Tem esperteza (Subirusdoistiuzin), hino (Não Existe Amor em SP), dramalhão (Freguês da Meia Noite) e vários raps divertidíssimos. Mesmo em faixas mais ríspidas como Grajauex e Sucrilhos, há menos daquela agressividade do rap brasileiro e mais daquela astúcia do tropicalismo, fazendo do álbum um trabalho mais palatável a ouvidos engomadinhos de classe média como o meu e o seu. Ainda bem, porque quando o  Criolo tira o rapper brasileiro do gueto (sem renegá-lo), ele faz sua contraparte chegar mais pertinho da compreensão.

Outras pepitas
King of Limbs, do Radiohead, foi um dos primeiros a vazar no ano e até hoje me surpreendo com sua beleza. Estava bem chapado quando o ouvi pela primeira vez e já na faixa de abertura comecei a vomitar arco-íris. Da última vez que escutei, quase um ano depois e em outras condições, a reação foi a mesma. Um ou outro camarada mais maldoso pode dizer que é mais um trabalho solo de Thom Yorke com o resto do Radiohead como orquestra de apoio. Tá certo, mas se saiu sob a alcunha da banda e é bom, qual o problema?

Outra delícia de 2011 foi a parceria de Jay-Z e Kanye West, Watch The Throne, um dos poucos discos que eu tive o trabalho de resenhar em 2011. Talvez não seja tão bom quanto deveria (em termos de hip hop, é como se o Led Zeppelin e os Rolling Stones tivessem se juntado para fazer um álbum em 74), mas tem todas as qualidades e defeitos que fizeram deles dois dos maiores rappers. A resenha não veio parar no blog por causa de alguns probleminhas, mas você pode encontrá-la aqui: http://findmusic.com.br/?p=24

Outros discos legais do ano, que completariam um top 5 sem muita convicção seriam Suck it and See, do Arctic Monkeys, Gloss Drop, do Battles e o debut do Internet, mais um desmembramento do Odd Future.

A música do ano
Como é que você resume 365 dias em uma só canção? Pela mais popular de todas? Pela que mais tocou? Na minha opinião, escolher a música do ano depende de um fino equilíbrio das forças da popularidade, qualidade e impacto. Nesse sentido, não há dúvidas de que estamos falando de Rolling in the Deep, hit que transformou Adele naquilo lá que nós estamos vendo. Mas se Rolling in the Deep é o hit de todo mundo, deixa pra Rolling Stone colocá-la no topo do seu ranking. Eu tenho outra "música do ano".

A minha música do ano é, sem dúvida nenhuma, Yonkers. Foi a canção que cristalizou o rap como um dos meus estilos preferidos. Tipo como acontecia com o rock quando eu tinha lá meus 13, 14 anos, foi o caso de algum amigo chegar e dizer "cara, tem esse moleque fazendo uns raps insanos, nesse clipe ele come uma barata, vomita sangue, fica cego e depois se enforca". E aí vem aquele beat assustador, aqueles xingamentos gratuitos, bem imaturos, como o pop deve ser, e pimba.

Com Yonkers veio também a fama do Odd Future, uma espécie de respiro para o hip hop que, além do Tyler (que lançou um disco aquém das minhas expectativas), traz junto Frank Ocean, Domo Genesis, Syd Bennett (do Internet) e muito mais. E, claro, o vídeo já ultrapassa 30 milhões de views no youtube. Quem estava falando de popularidade, qualidade e impacto aí?


Lancei disco, mãe!
Além deste blog, claro, tenho outras atividades. E uma dela é uma banda, chamada Japanese Bondage. Em março saiu o primeiro EP, por enquanto só online e numa série limitada (até pelas circunstâncias) de CDs personalizados que vendemos nos shows. Quem se interessar, pode baixar aqui (http://bit.ly/japbondage) e curtir aqui (http://facebook.com/bondage.japanese).

Saturday, November 12, 2011

SWU

Texto que eu mandei na Mixmag no ano passado, depois do SWU. Como estou saindo daqui a pouco para a edição 2011 (que line-up maravilhoso!), achei bonito compartilhar.

***
No último dia do SWU, eu pude ver o futuro. Não tem a ver com uma população mais consciente num mundo sustentável (lá dentro do SWU, todas as coisas sustentáveis funcionavam muito bem, mas pareciam irreais; era como um parque de diversões ou um mundo dentro de uma propaganda de achocolatado). Não. Minha visão começou num Max Cavalera gordo, envelhecido, mas ainda brutal. Passou por um BNegão cada vez mais soulman e menos rapper. Chegou num Josh Homme barbado quase Jeff Bridges em Coração Louco. O futuro que eu antevi tem velhos com dreadlocks, tatuagens, guitarras afinadas em dó, samples e consumo de drogas. É verdade, crianças, a próxima geração terá nos idosos boludos sua fundação. Seja ela sustentável ou não, será muito mais legal do que os politicamente corretos anos 00. (Ainda assim, pessoalmente, acho que fiquei velho um pouco cedo demais. Da próxima vez, vou pensar muito bem antes de enfrentar a muvuca de um grande festival.)

Sobre a ocupação na USP (tomei a liberdade)

Prova que blog já era, coloquei esse texto como nota no Facebook e tive muito mais feedback do que qualquer outro post daqui dos últimos, sei lá, 3 anos. Mas negligenciar meu bom e velho endereço na interweb? Qual a chance?

Reproduzo abaixo, portanto.

***

Pensei, pensei e pensei (a ponto de perder o timing perfeito) e cheguei a uma conclusão, coisa que sentia que precisava fazer. A ela, sem muitos rodeios: sou totalmente a favor da ocupação da reitoria da USP pelos alunos.

Mais do que argumentos a favor, há argumentos contra os dois lados: maconheiro tomando enquadro não deveria ser motivo suficiente para engatilhar uma revolução; a polícia está lá mas os assaltos, estupros e traficantes continuam; o discurso dos alunos estava mal fundamentado e as festinhas realmente vieram na pior hora possível; Rodas e sua administração representam o que há de mais kassabista, serrista e vejista no mundo (e no meu mundinho ideal, até a extrema direita deveria perceber como isso é cancerígeno); etecetera.

Mas dois fatores essenciais me fizeram perceber que relevar as falhas grotescas dos estudantes é o mais sensato a se fazer neste momento. Primeiro: a truculência da PM, uma organização corrupta e terrorista que só faz valer seu poder ante os mais fracos - jovens desarmados, maconheiros chapados demais para protestar, gente pobre, feia e desinformada e inimigos do "sistema" em geral - e aproveitou a fragilidade do movimento de ocupação e uma decisão da justiça para colocar em prática, mais uma vez, seus métodos escrotos.

E em segundo lugar, o que considero ainda mais importante, o rebu todo na USP está diretamente relacionado a tudo o que vem acontecendo no mundo durante este ano marcante. Primavera árabe, revoltas na Inglaterra, Occupy Wall Street e o que mais eu estiver esquecendo. Diferentes reivindicações em locais e culturas distintas, é claro, mas todas relacionadas ao finalzinho amargo de um sistema que funcionou por muito tempo como um programa da Microsoft: bem apresentado, limpinho, mas salpicado de probleminhas recorrentes.

Em novembro de 2011 as reivindicações em si importam menos, o grande lance é aporrinhar até o limite todos os filhos da puta que estão tornando nossa vida um lixo e esfregar na cara do mundo como tudo está podre, podre, podre. É nossa missão lutar contra os patrões que impõem um empreguinho de merda como ponto central da nossa vida, os outros que não querem nos dar trabalho por causa do nosso estilo de vida ou nossa cara e os responsáveis por transformar nossa vida num tédio caro e precário.

Devemos brigar, com unhas, dentes, cotovelos e socos ingleses, contra os prefeitos eugenistas que tentam transformar as metrópoles em shopping centers de luxo, contra os leitores de revistinhas que repetem frases feitas e tiram sarro da doença dos outros, contra os desgraçados que apelam para o ódio quando não entendem algo novo. Em resumo, e acima de tudo, devemos lutar contra aqueles que querem impor a nós um estilo de vida que não concordamos.

Se ocupar uma reitoria de forma estabanada faz parte dessa luta, paciência. Pelo menos não estamos jogando bombas. Até porque nem precisamos. Historicamente está claro que o futuro atropela o passado e é isso que está sendo feito agora, diante de nossos olhos. Minha sugestão mais sincera aos retrógrados e reacionários: é melhor que pulem para a calçada.

Tuesday, October 04, 2011

A Coragem de Chris Martin


O show do Coldplay no Rock in Rio confirmou: Chris Martin é o maior líder de banda da atualidade porque carrega dentro de si uma coragem que só é inerente aos exemplares mais mal colocados na cadeia alimentar social. Já desconfiava disso, de sua grandeza, quando vi este vídeo abaixo (por favor, assista pelo menos um ou dois minutos a partir dos 2:50 para prosseguir com o texto).


A coragem de Martin é daquela que custa a vir, que nas primeiras vezes o sujeito precisa respirar fundo umas dez vezes e procrastinar bastante antes de dar o primeiro passo. E ele só toma atitude tão intrépida porque é a única coisa que resta.

A coragem de Martin é tão sincera que contagia qualquer um que esteja assistindo seu feito. Os movimentos dessa gente, que começam tão desengonçados, acabam se tornando sublimes, acabam virando A Maior Coisa do Mundo porque, mais uma vez, era a única que restava.

A coragem de Martin, portanto, é uma questão de vida ou morte. Uma escolha nem sempre tão fácil entre correr o risco de parecer inadequado ou nunca correr esse risco e permanecer eternamente à margem. E olha que isso não seria tarefa difícil para um cara honestamente parecido com o Napoleon Dynamite e virgem até os 22 anos. Seu potencial para ser esmagado pela chacota e pelo ostracismo era o mesmo de um pote de iogurte numa luta contra o Godzilla.

Ainda assim, não posso dizer que morro de amores pelo Coldplay. O que me fascina vai além da sua música. O foco aqui é mesmo em Chris Martin, que sua, erra a letra, esquece de cantar e agarra o público com as duas mãos para depois o manipular com apenas uma. E, naturalmente, sorri.

Sua catarse acontece em si mesmo, e parece ser bem divertido. Melhor: antes de se render ao bom mocismo voluntarioso de Bono Vox  - que deve ter feito sentido nos anos 80 -, ele ri quase ironicamente, se distanciando de leve do monte de braços frenéticos que acenam em sua direção.

Chris Martin chegou, de fato, a um plano muito superior no que se refere a um artista de música pop/rock. Antes de tudo isso acontecer, ainda, ele precisou suar e gaguejar muito. (Resumindo: é um cara admirável porque é um nerd corajoso o suficiente para conduzir as coisas da forma que conduz).

Saturday, September 10, 2011

OFWGKTA (Mixmag 10)


Texto pra revista Mixmag que saiu entre julho e agosto. Matéria fria e tal, mas até que gostei.


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O quarto álbum de Eminem foi lançado em 2002 e sua música mais famosa, Without Me, dizia “nós precisamos de um pouco de polêmica”. Durante essa época pareciam estar querendo separar o hip hop da confusão (ou aproximá-lo de uma modalidade limpinha de confusão). O clamor de Slim Shady pouco fez para mudar as coisas e aos poucos o rap gringo foi ficando cada vez mais boa praça. Mas, de certa forma, a chegada do coletivo de enfant-terribles californiano Odd Future Wolf Gang Kill Them All finalmente mudou as coisas.

Liderado por Tyler, The Creator, o Odd Future é formado por garotos cuja idade vai dos 17 aos 25 anos. Eles produzem seus próprios discos, dirigem seus próprios clipes e gostam de insultar celebridades, homossexuais e praticamente tudo que se move. Assim, chegaram a um estrelato e uma atenção quase inédita da mídia em relação ao rap independente.

Tudo começou no dia de natal de 2009 ,quando Tyler Okonma, 18 anos, lançou seu primeiro disco, Bastard. A bolacha, distribuída gratuitamente no tumblr do grupo, chegou a ser considerada uma das melhores do ano seguinte pelo site Pitchfork. Daí, o OFWGKTA deslanchou. Durante 2010, Earl Sweatshirt, Hodgy Beats, Domo Genesis, Mike G e Left Brain lançaram álbuns mezzo solo mezzo colaborativos dentro da coletividade do grupo. Parecia questão de tempo para que se tornassem “a próxima grande coisa” do hip hop americano.

E de fato era. Bastou 2011 chegar para que Tyler desse sua cartada mais certeira: o vídeo de Yonkers, primeiro single de seu segundo álbum solo. O clipe que mostra Tyler comendo uma barata gigantesca, depois vomitando, depois cego e por último se enforcando passou de vários milhões de views no YouTube e fez do menino de 20 anos gente grande na música.

A polêmica foi além do vídeo indigesto, dirigido por ele mesmo sob a alcunha de Wolf Haley (ainda há mais um pseudônimo: Ace Creator). Na letra de Yonkers, Tyler manda Jesus parar de choramingar, diz que gostaria de ver o avião do rapper B.O.B caindo e que vai esfaquear Bruno Mars no esôfago sem parar até a polícia chegar. Suas letras incomodaram não apenas os atingidos por elas, mas até mesmo gente inusitada como a dupla indie Tegan and Sara, que reprovou seu conteúdo homofóbico.

Contudo, ele nega que odeie gays. “Só uso o termo faggot [equivalente a viado] porque ofende as pessoas”, já disse. A presença da produtora e engenheira de som lésbica Syd Bennett no OFWGKTA também coloca em dúvida a suposta homofobia atribuída aos rappers. Parece mesmo o caso de um garoto afim de provocar e chamar atenção.

Tem dado certo. A base de fãs fiéis do Odd Future não para de crescer, dia após dia, e o grupo já tocou no Coachella, no programa de Jimmy Fallon e tem outras aparições importantes em festivais agendadas.

Falando coisas tão pesadas e desmioladas, Tyler acabou expondo um lado da sociedade americana que talvez explique seu sucesso. Seus rompantes violentos se relacionam perfeitamente com a nação que comemorou a morte de Bin Laden como a taça da Copa do Mundo. Mais, trata-se de um país onde tudo se pode pensar e quase nada se pode fazer e, até onde se sabe, os membros do Odd Future têm uma ficha criminal limpíssima.

Em maio, Goblin, o segundo LP de Tyler, chegou cercado de expectativa (e um contrato com a XL Recordings. Aqui no Brasil, o disco sai pela Lab 344). Em uma semana, vendeu impressionantes 50 mil cópias para um artista independente vindo do quase nada. O som é semelhante ao de Bastard, cheio de beats minimalistas, rimas pouco convencionais e balbúrdia adolescente exalando por cada verso. Uma audição atenta do disco faz o ouvinte concluir que, de fato, afora toda a controvérsia, Tyler é um rapper e produtor de talento. E, primariamente, é isso que sustenta o hype em cima de qualquer artista.

No meio desse turbilhão de fatos novos, um grande mistério ainda ronda o coletivo. Assim que o OFWGTA apareceu pela primeira vez, um de seus membros mais importantes, Earl Sweatshirt, sumiu. Apontado por muita gente como o melhor rimador do grupo, ele teria sido “escondido” pela própria mãe numa clínica para jovens problemáticos na Samoa Americana. Vale lembrar que Earl ainda não completou a maioridade - incrivelmente, aliás, ele acabou de fazer 17 anos - e seu paradeiro nunca foi confirmado oficialmente. Sites como o Complex e o Pitchfork, além de revistas como a New Yorker, procuraram saber do garoto, mas até mesmo uma suposta entrevista por email com o próprio Earl permanece inconclusiva.

Uma pena, porque enquanto fãs do Odd Future saem gritando “Free Earl” por aí, ele poderia estar desfrutando do sucesso que seus companheiros agora têm. Por exemplo, o cantor de R&B Frank Ocean já foi escalado para participar do novo álbum de Beyoncé e até mesmo escreveu algumas músicas para Justin Bieber. O prestígio vai além: em abril, o grupo assinou um contrato com a Sony Records para lançar seu próprio selo, com autonomia total de conteúdo e direção artística.

Atualmente, a única coisa que tem chateado Tyler é a recusa da MTV em passar seu novo vídeo, She. Os motivos são meio mal explicados, levando em conta que o clipe tem bem menos potencial ofensivo do que Yonkers, e ele se ressente porque sonha em ganhar um VMA como diretor. Mas apesar dos acidentes de percurso, das controvérsias e da marra de moleque, o futuro parece doce para Tyler e sua gangue de lobos.

Fúria e games em 140 caracteres.
Além das ameaças a Bruno Mars, piadas com gays e estupro, Tyler, The Creator é também apenas um menino entediado com um twitter popular (@fucktyler). Confira alguns dos posts mais sem sentido do rapper no microblog:

-       Esta próxima semana vai ser só escrever raps idiotas, bater punheta e jogar GTA.
-       ENTEDIADO. PRA. CARALHO.
-       Sopa de sapatão.
-       Se o mundo acabar, meu último objetivo é arranjar uma pica para Tegan and Sara.
-       FRIDAY DE REBECCA BLACK ME DEIXA TÃO FELIZ! PORRA! ESSA PUTINHA É DEMAIS!
-       Acabei de ver uma venda de crack na Slauson Donuts. Que porra é essa?
-       Eu sou uma putinha nojenta.
-       Sonhei que Chris Brown e sua gangue queriam encarar o OF. Acabou com todo mundo tomando sorvete.
-       Muito agradecido de ter outros talentos e não precisar ir pra escola. Foda-se a escola.
-       Garotas com sardas, por favor enviem seu rosto para oddfuture@yahoo.com agora.
-       Eu não idolatro Satanás, seus idiotas comedores de pinto de merda.

Wednesday, August 03, 2011

CQD

Lembram deste texto aqui? Encontrei esta imagem no blog do Alexandre Matias e, embora seja só piada, não sei não. Faz algum sentido para mim, que não duvido da podridão de nada.

Tuesday, April 05, 2011

O Dia que Mike Skinner Virou Ned Flanders

Durante o começo dos anos 2000, Mike Skinner era o melhor amigo que um garoto de 17 a 23 anos poderia ter. Seu projeto/pseudônimo/extensão de personalidade The Streets falava sobre tomar toco das minas, o eterno conflito entre as substâncias lícitas e ilícitas, sair de noite com os amigos, começar um namoro, porres e festas memoráveis e tudo mais. E além de todos esses temas adequados à molecada da nossa idade, ele também nos entendia.

Sem soar piegas ou professoral, dava verdadeiras lições de vida, mesmo que seu primeiro álbum, Original Pirate Material, tenha sido feito quando Skinner tinha 23, 24 anos. Empty Cans, última música do álbum seguinte, A Grand Don’t Come For Free, é a melhor de todas nesse sentido (e merece um ou dois parágrafos só pra ela).

Na canção de 8 minutos dividida em duas partes, o ponto em comum é o mesmo beat. É bom lembrar que se trata de um álbum conceitual e quando chegamos nessa faixa, o personagem principal já se fodeu legal. Daí Skinner começa a primeira parte da canção, pessimista, dizendo que ninguém se importa com ele e por isso está agindo mal. Toda a sonorização dessa primeira metade é árida, irritada, e os beats vão pelo mesmo caminho: ódio e resignação sangram pelos falantes. Depois, a música muda. O mesmo beat recomeça, mas, diante de uma visão de mundo mais otimista, ele ganha ares de motivação, te leva para frente.

Este cara...
 A batida representa os problemas da vida e Mike prova que nossa abordagem diante deles é o mais determinante, sempre. Um amigo meu, fã número um do cara, ouviu com atenção e saiu da merda. Ele já me afirmou categoricamente que The Streets salvou sua vida.

Em 2006 foi lançado The Hardest Way to Make an Easy Living, onde Skinner chora as pitangas de ser famoso. Estaria Mike se distanciando de nós? De certa forma, sim. Mas quem dos nossos resistiria à tentação de reclamar da champanhe, premiações da MTV e do dinheiro? Skinner é da galera e é igualzinho à gente: um moleque reclamão. E mesmo assim a linguagem continua próxima da garotada. Ele reclama, por exemplo, como é difícil pegar uma mina famosa quando ficou tão fácil descolar uma metidinha com uma anônima. Mais moleque impossível.

Everything is Borrowed, de 2008, é mais complexo. As letras voltam a ser motivacionais, mas talvez motivacionais demais. Mike perdeu sua juventude, seus beats estão cada vez mais sofisticados e os conselhos começam a tomar aquele tom professoral. Contudo, mesmo que tenha mudado (queria mesmo escrever “perdido”, mas os puritanos da música me empalariam) seu estilo, algumas das músicas são simplesmente... lindas. A faixa-título, por exemplo, tem uma bela melodia e diz: “Eu vim para o mundo sem nada e irei embora sem nada além do amor. Todo o resto só está emprestado”. Mesmo um pivete beberrão pode encontrar beleza nisso aí num momento extremamente otimista.

Mas mesmo que ainda interpretasse o papel de válvula de escape com maestria, Skinner deixava claro, pelo menos para o bom entendedor, de que havia mudado para sempre. Faixas terríveis como You’re The Strongest Person I Know não deixavam dúvida de que ele está agora numa fase da vida em que um elogio bom para uma mulher é dizer que ela é “forte” e não uma “gostosa que está ligada disso”. Não me leve a mal: sou meio idoso no espírito e acho que mulheres fortes e independentes e tudo o mais são incríveis. Eu amo todas elas e odeio todas as menininhas imaturas, sem brincadeira. Mas não é isso que a gente quer ouvir quando aperta play num disco do Streets. Muito menos se for uma música tão ruim, tão piegas, tão mal cantada, que não se justifica como faz Everything is Borrowed.

Veio o Twitter e, como toda boa celebridade quase-velha, Skinner pirou. Não parava de postar todo tipo de mensagem, foto e música. Sim, várias músicas! Durante essa fase tuiteira, ele provou como é um produtor prolífico. E nos brindou com pelo uma grande canção, dona de uma ironia típica do velho Streets: He’s Behind You, He’s Got Swine Flu. Exatamente, ele foi capaz de fazer uma música (e um vídeo!) sobre o vírus H1N1 poucos dias depois do pânico se instalar na nossa sociedade maravilhosamente hipocondríaca. Lembra que chegaram até a dizer que os vitimados com a gripe suína poderiam virar zumbis? A resposta de Mike foi taxativa: “faça um sacrifício pela sociedade; decapite seu amigo”.

Promissor, não é?

Tão promissor que quando Computers and Blues saiu no começo deste ano, me pegou de calças curtas. Pior, me pegou de shortinho de lycra e polainas. Ainda estou tentando entender como é que a ruindade do álbum me foi tão surpreendente. Porque se você parar para pensar, do jeito que as coisas vinham vindo, Computers and Blues só podia ser como é.

E como ele é? Piegas e professoral. Cheio dos truquezinhos de produção e refrões soulzísticos de fazer corar os piores one hit wonders de dance music dos anos 90. E Mike, que nunca foi de fato um bom MC (mas compensava com fúria e ironia), agora praticamente recita suas letras sobre esses temas sonoros insuportáveis. Mais ou menos como Pedro Bial fez naquele seu projeto do Filtro Solar.

Mas é a outra celebridade televisiva que mais associo Skinner hoje em dia. Ele é bom, compreensivo, amoroso e justo assim como Ned Flanders. Sua forma de lidar com seus problemas é idêntica à do eterno personagem da segunda parte de Empty Cans. Mas Empty Cans não é bela apenas pela melodia de sua metade otimista. A principal virtude da música é misturar indignação e ternura na mesma medida, assim como todos nós.

Mike Skinner perdeu suas forças porque se tornou um personagem secundário de série de TV. Se ao menos ele soubesse que os heróis só são o que são por causa de seus defeitos...

..virou este cara.

Tuesday, March 01, 2011

Orwell Ficou Porque Tem Bolo

Todo mundo já falou sobre este livro, mas originalidade é superestimada, mesmo...

***

Em determinado momento de 1984, quando Winston Smith pergunta a O’Brien se o conteúdo do livro do revolucionário Emmanuel Goldstein é real, o torturador responde que “como descrição, é verdadeiro. Mas o que ele propõe é puro nonsense”. Trata-se, portanto, de uma alegoria do próprio livro que o leitor tem em mãos. Claro que George Orwell não pensava nisso quando escreveu seu clássico, lááá em 1948.

De uma certa forma, ele conseguiu prever o que viria nos anos seguintes: polarização política, posições autoritárias semelhantes travestidas de ideologias diferentes, controle da população via tecnologia e ignorância massificada. Apenas verdadeiros gênios conseguem antever os fins. Mas Orwell não acertou os meios.

(Muito da disposição social de 1984 seria impossível de acontecer no mundo em que vivemos, por simples questões culturais - e nem um milhão de bombas atômicas mudariam esse panorama, na minha opinião. Para se ter uma idéia, América Latina e Inglaterra, por exemplo, estavam sob o controle dos mesmos ditadores. Difícil de imaginar ingleses e brasileiros, tão diferentes em seus costumes, se curvando ao mesmo tipo de repressão. Para isso havia, digamos, Margaret Tatcher e Garrastazu Médici, que compartilhavam quase que os mesmos ideais, mas com métodos bastante díspares)

Ainda assim, há muitos aspectos no livro que sugerem uma analogia competente com o que vivemos hoje. Qual a diferença da “prole”, que apenas faz ouvir sua voz quando faltam utensílios de cozinha e outras besteiras, para o brasileiro, que só parece gritar bem alto quando roubam seu time no futebol? E a gastança de recursos via guerra, para impedir a ascensão social dos cidadãos, não te faz pensar para onde vai todo aquele dinheiro do petróleo no Oriente Médio, onde apenas alguns prosperam e a maioria perece? Os exemplos são muitos e nem todos me ocorreram ainda.

O final desolador do livro me fez pensar. Se no parágrafo acima reclamei que no Brasil só se chora a derrota no futebol, a picuinha atual que se instalou no esporte (essa coisa toda da Globo contra o Clube dos 13, manja?) sugere que nosso final pode ser ainda mais trágico do que o de Winston. A manutenção de determinados políticos, os votos de protesto, a impunidade, nosso sistema legislativo, mais a decadência socioeconômica além-mar que inunda nossos telejornais todas as noites – tudo isso determina que ele realmente deverá ser pior.

Orwell errou. Não existe o Alto, o Meio e o Baixo. Existe apenas o Alto, que toma suas decisões arbitrárias, e o Baixo, que “engole sem fazer careta”. Qual a nossa chance, sinceramente? Pega o último a tentar abaixar as calças do sistema, Julian Assange. Antes que o sujeito pudesse jogar o barro mais fedido no ventilador, conseguiram fazê-lo parecer um palhaço. Sem haver necessidade de torturas, sequestros e lavagens cerebrais, como ocorria com os membros rebeldes do Partido existente no livro.

Mas Orwell acertou: era isso mesmo que eles faziam com os “proles” que significavam alguma ameaça ao Partido. Eliminavam sua relevância antes que ela fosse relevante. Daí, antes que alguém se desse conta do que estava sendo feito de sua vida, voltavam a reclamar da falta de panelas baratas no mercado.

Li essa versão bonita - o Grande Irmão que mandou comprar
O tal Ministério da Verdade, que controla as informações que chegam à população, é inútil em nosso 1984 particular porque já usamos o tal doublethink (“duplipensar” em português, mas achei a tradução muito feia. É uma espécie de filtro mental dentro de cada um que age de acordo com os interesses dos manda-chuvas) espontaneamente. Por exemplo, já esquecemos exatamente os crimes que Sarney cometeu para ser um político tão odiado. E aí deixamos pra lá até ele aparecer com mais uma falcatrua. Eu mesmo faço a mea-culpa e admito que se você me perguntar assim, de sopetão, não sei. É tanta sujeira que acaba sendo inevitável que a maioria dela acabe escorregando para debaixo do tapete.

Mas se quiser saber é só jogar no Google. Quando? Ahh, sei lá. Nesse sentido a internet serve como uma ferramenta eficaz de alienação. Toda a maldade está disponibilizada nela, mas como competir com tantos vídeos engraçados e aplicativos revolucionários? Como se engajar quando nos oferecem tantos produtos atrativos e que têm tanto a ver com a gente?

Os produtos, escondidos por trás de perfis de twitter e vídeos recomendados no youtube, aliás, provaram ser muito mais úteis do que a repressão. Não se engane, neste momento você está sentado bem na frente de uma teletela (mais uma tradução feia, telescreen é bem melhor). Eles sabem que perfis você visitou, com quem você andou saindo e para que sites de putaria você tocou uma punhetinha. E aí, em vez de coergir, eles incentivam. Aumente seu pênis, siga o Will Ferrell, compre esta caneca do Star Wars.

É uma vida doce. Adoro comprar supérfluos. Meu dinheiro é todo investido nisso, e eu agradeço por poder adquirir o enésimo CD em vez de aceitar aquilo que alguém mandou eu comprar. Mas não nego que fui sugestionado e que estou alienado.

1984 é um livro maravilhoso, mas impraticável. O ser humano é naturalmente egoísta e movido a prazer. Não há lavagem cerebral que mude isso. Se não existe um objetivo implícito em nossa existência, nem que seja pagar a prestação do carro, nós sucumbimos, fisicamente até. E é por isso que nossos líderes de 2011 são muito mais inteligentes do que o Grande Irmão. Eles nos dão aquele gostinho doce que fizeram a gente acreditar que precisa.

E falando sério, você aceitaria ser manipulado se não pudesse acompanhar em tempo real o descontrole midiático de Charlie Sheen?

Assim é o mundo polarizado de 1984

 
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