Thursday, January 17, 2008

Preacher e a Minha Descoberta da América

Para um cara compulsivo e obsessivo por controle, uma HQ americana pode ser pouco atrativa por não ter final. Sendo eu um maluco desses, Preacher foi a minha solução. Quer dizer, eu já tentei comprar Homem-Aranha, Hulk, Demolidor e Marvel Max, mas achava monótono e não conseguia me conformar com o fato de que nunca iria chegar ao final das séries. É claro que eu sabia o que era uma graphic novel, mas minha tacada demorou a acontecer. E Preacher foi a minha tacada, e foi certeira pra cacete. Porque tem começo, tem meio e tem fim, sem encheção de linguiça. E tem o ritmo e a violência e a beleza que eu preciso. E pode ser a história em quadrinhos definitiva da América.

Preacher conta a história de um reverendo, Jesse Custer, que, após receber uma entidade meio divina, meio demoníaca no seu corpo – além do dom de ter os outros fazendo o que ele manda, quando quiser – acaba descobrindo mais do que imaginava sobre o Paraíso e decide ir atrás de Deus. Pra perguntar por que foi que esse grande filho de uma puta deixou o mundo nesta pindaíba. Cara. Tem como ser mais fodão que isso?

Mas deixe tudo isso pra lá. A beleza de Preacher consiste em ser o road movie (road comic book?) perfeito, consiste em mostrar a América, bonita e feia, consiste em nos enojar e maravilhar com cada freak que passa pelo caminho de Jesse ou de seus escudeiros (dizer aqui se são fiéis ou não apenas estragaria a mágica de tudo) Tulipa e Cassidy. Me faz sentir nostalgia e orgulho de um país que nem é meu. Quase tudo está lá. Em 66 edições, vemos odes a New York City, alucinógenos indígenas, batalhas no deserto, vudu em New Orleans, babacas de fraternidade tentando abusar de uma garota e todo tipo de redneck pervertido e sádico que você pode imaginar.

Ah, sim, os pervertidos. Depois de um, dois, três choques, você começa a esperar ansiosamente pela próxima aberração na história. Física ou mentalmente, é claro. O mais emblemático deles é também um dos personagens maiores na série. Cara-de-cu estourou seu rosto com um tiro após o suicídio de Kurt Cobain, porque era um fã doente de Nirvana e porque sua vida era uma merda. Depois de sobreviver e virar, bem, um rapaz com face de cu, tornou-se um garoto amável, quase abobado, e com um problema de fala bastante incômodo, que vê seu pai policial como um herói inquestionável.

Garth Ennis, o roteirista cretinamente genial, sintetiza um pouco do que é a famosa “segunda chance” que os Estados Unidos dão às pessoas (e o senso de humor divino, como bem lembra Jesse em certo momento) com o Cara-de-cu. Tanto a história de vida dele em si quanto o que acontece após determinados eventos em New Orleans, mostram que a Grande Mãe das Oportunidades está sempre disposta a te dar novas chances – e tirá-las, sem aviso prévio.

Soa piegas, e é. Preacher é a história de um caipira, um vaqueiro simplório, que recebe conselhos do espírito de John Wayne (juro), que preza o “fazer a coisa certa” mais do que tudo e que não tem vergonha de amar a sua garota da maneira mais brega possível. Diante disso, acreditar na América, mesmo tão indiscutivelmente podre e corrompida aos nossos olhos, é fichinha. Porque você não está acreditando num homem, ou em dois homens, você está acreditando no folclore, num delírio, num sonho. E isso, maldito seja, é lindo.

As paisagens e cenas de Steve Dillon, o desenhista insanamente inspirado, te puxam, te colocam em cena e tornam esses pensamentos sobre sonhos e oportunidades verossímeis. Quem é que vai resistir a uma paisagem de deserto Cherokee no Arizona? Não precisa de uma águia, do Tio Sam ou da Casa Branca. É essa simplicidade que te prende, que te convence. Jesse está numa missão atrás de Deus-Todo-Poderoso, puta merda!, e mesmo assim você só o leva a sério quando o vê demonstrando todo o amor que sente pela sua eterna musa Tulipa, abraçando seu amigo Cassidy ou ajudando algum miserável, sempre com um sorriso no canto da boca e um cigarro aceso. E você entende porque alguém escreveu “New York, New York”, apenas olhando para um quadrinho com Cassidy de braços abertos, no topo do Empire State gritando “Porra, eu te amo!” para a cidade abaixo.

Enquanto lia os últimos números da série, com um nó do tamanho do Texas na garganta, entendi o que ela significou pra mim. Até alguns dias atrás, se escrever um texto-tributo desses me causaria ânsias de vômito, escrever estas palavras sobre a hipócrita América, então, me faria cagar meu intestino. Preacher mudou isso, me fez acreditar na fábula, na segunda chance e em fazer a coisa certa. Nem que seja apenas pra colocar num texto meloso que ninguém vai ler. Já é uma coisa sem preço, não é?

Sunday, January 13, 2008

Tijolos, Cimento e Glamour

Algo como uma continuação deste post aqui.


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Uma das últimas grandes discussões da comunidade da Bizz no orkut foi sobre o conceito de “artista-pedreiro”, disseminado por algumas cenas (incluindo bandas, produtores e organizadores de festival) independentes brasileiras. Não, xará, este blog ainda não se tornou uma latrina e nem perdeu sua dignidade, mas é sempre legal dizer de onde você tirou as suas idéias.

De qualquer forma, o mote “artista-pedreiro” é polêmico porque consiste na desmistificação do artista, que agora, em vez de um dândi fumando uma cigarrilha recostado nas suas almofadas lilás, é um trabalhador braçal que rala tanto quanto um pedreiro. As gravadoras e bandas e festivais independentes afirmam que, com a polarização da música pop pela internet, a vida do artista independente ficou muito mais viável, mas demanda um trabalho muito maior. Nessas, é impossível posar de bon vivant quando, além de compor em berço esplêndido, você-artista também precisa ir atrás de estúdio, produtor, gráfica, distribuidora e etecétera e tal.

E é claro, há quem discorde, dizendo que o artista deve se valorizar, que quem não gosta de ganhar dinheiro é masoquista, está fazendo tipo. E, além disso, que se não houver um glamour na arte, as coisas perdem um pouco da graça. A discussão é acirrada, quase política.

Dando o meu pitaco, acho que ambas as, hã, ideologias podem andar juntas. Mais do que isso, já andam. Apesar de não termos mais megastars hedonistas ordenando toalhas brancas e rosas vermelhas por aí, ainda existem pessoas respeitadas, incensadas e, consequentemente, glamourizadas no showbusiness. E são justamente as que trabalham mais – ou apresentam mais resultados. Nomeando cinco nomes “grandes” (ou, no mínimo, comentados) da música pop internacional: Timbaland, produtor, músico e arroz-de-festa, que produz e participa dos discos de praticamente todo mundo que ainda vende discos nesse mundo cão, onde ninguém mais compra discos; Sean “Diddy” Combs, dono de gravadora, produtor, agente de artistas, dono de marca de roupas e – ah sim! – rapper; James Murphy, produtor, co-proprietário de gravadora e músico que grava praticamente sozinho seus discos ecléticos e multi-influenciados; Josh Homme, que, apesar de não produzir nem ter gravadora, é praticamente a peça central, junto com seu Queens of the Stone Age, de um conglomerado de bandas e parceiros, e participa de uns três ou quatro discos de terceiros por ano, além de seus remixes e seu projeto solo, as Desert Sessions; Devendra Banhart, dono da gravadora Gnomosong, ao divulgar novos artistas e lançar seus próprios discos ecléticos, praticamente criou uma das cenas em ascenção na música pop, o acid folk (ou folk revival).

Qualquer um desses pode ser seu ídolo, dependendo do estilo que mais te apetece. Mas, inegavelmente, todos trabalham pra cacete, bicho. E mantêm seu status. E vão nas festas. E tomam champagne. Um dos citados ali no parágrafo acima, no caso o senhor Homme, costuma dizer que é preciso um músico valorizar seu trabalho, que ter vergonha de ganhar dinheiro é uma estupidez enorme. E é verdade, não é mesmo?

O Macaco Bong, banda independente de Cuiabá, irá nomear seu primeiro disco “Artista Igual Pedreiro”. Se artista é igual pedreiro, não devem se envergonhar de querer mais. Ninguém quer ficar no ostracismo, na mesmice, na mediocridade. Todo mundo quer ganhar mais, ser mais, ter mais. Pergunta pro pedreiro que construiu a sua casa.

Saturday, January 12, 2008

Caramba!

O Senhor dos Tempos nos abraçou, assim como o Senhor do Esquecimento, e então o blog fez dois anos e eu nem percebi. Dois anos escrevendo num blog e menos de 100 postagens. Eu me surpreendo com a minha obstinação, com a minha paciência e, por que não?, minha perseverança. Quer dizer, é fácil quando você posta algo como 3 vezes ao mês, mas ainda assim, alguma coisa é alguma coisa e é melhor que nenhuma coisa.

A data do aniversário é 9 de janeiro, a mesma do Jimmy Page, que orgulho. Então, apesar de ser o pai disso aqui, agi como aquela tia de Brasília, que só se dá conta da data três dias depois. Pudera: minha vida está corrida, e só arranjei esse tempinho num sábado de manhã porque ontem fui dormir muito cedo e a casa está fedendo a alho e eu me recuso a sair do quarto neste momento.

Em 2007 não comentei o aniversário de um ano porque esqueci. Até lembrei em algum ponto, mas resolvi não falar nada, porque comemorar aniversário de um ano é que nem começar dieta na segunda, sempre dá zica. Mas é isso aí, o meninão já está com dois anos, não fede mais a bosta, já está aprendendo a usar o troninho e começa a dar uns passos com segurança, apesar de ser preguiçoso pra caralho.

Juro que tenho um texto engatilhado, que deve entrar em cena amanhã.

Stay tuned, bitches.

 
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