E minha colaboração na Tribuna de Indaiá não existe mais. Vou postando os últimos textos, mas é capaz que o blog dê uma morrida de novo. Chato...
Se nossa época não está apinhada de guitarristas lendários, pelo menos fica mais fácil de identificar quem são os mais emblemáticos. Na minha opinião, é difícil encontrar um representante maior das Seis Cordas de Rock do que Jack White e Joshua Homme. E, em seus respctivos cubículos, reinam absolutos, sem concorrência – nem entre si.
Primeiro vamos aos fatos: tanto White quanto Homme conseguiram, ao longo dos anos, modernizar tudo aquilo que fizeram os pioneiros do rock – tanto aqueles do meio dos anos 50 quanto os que infernizaram o mundo entre o fim da década de 60 e o começo da de 70. Baseados em formas de comunicação mui peculiares, construíram verdadeiros impérios de junk food musical. Mas junk food daquela rede que faz o sanduíche na hora e que o bacon é crocante de verdade.
E que formas de comunicação são essas? Da parte de White é a urgência desesperada contida em dedos ágeis que respondem a um cérebro acostumado a ritmos frenéticos dos grupos de garagem dos anos 60. Sua primeira banda, o White Stripes, parecia uma resposta muito mais selvagem à inconsequência playboy dos Strokes. Petulantes a ponto de dispensarem o baixo de suas músicas, Jack e Meg White pareciam dois extra-terrestres vestidos com roupa espacial bicolor vindos direto de um filme B de ficção científica dos anos 70.
Já Homme aprendeu a tocar guitarra com os discos metaleiros mais sujos dos lugares mais áridos do planeta. Como integrante do Kyuss, fez parte de uma das maiores bandas de metal cult dos anos 90 e, com seus riffs chapados e cheios de reverb, ajudou a criar o stoner rock. Depois de mais umas boas orelhadas nas realizações mais piradas de David Bowie, Brian Eno e Phil Spector, aprendeu a usar o estúdio como poucos hoje em dia. Seu trabalho no Queens of the Stone Age é um mar de overdubs (gravações por cima de outras), instrumentos diversos, segundas, terceiras, quartas e quintas vozes.
Depois disso, munidos de suas respectivas personalidades (explosiva e irônica, na ordem), montaram linhas de produção dignas de inveja. White ganhou ainda mais notoriedade com os Raconteurs, sua gravadora Third Man Records – que, além de revelar artistas novos, vai lançar o novo álbum da lendária Wanda Jackson – e sua participação no filme A Todo Volume, ao lado de Jimmy Page e The Edge. O filme, aliás, definiu White como o principal herdeiro da guitarra, como aquele que vai levar a originalidade adiante num mundo cada vez mais monótono.
Mas ele não está sozinho. Porque Homme, mais do que se lançar como a salvação do rock, foi capaz de transformar sua banda numa espécie de Sol, exercendo atração em diversos outros artistas, que gravitam como planetas à sua volta. Exemplos não faltam: Eagles of Death Metal, Them Crooked Vultures (onde Homme tem a audácia de comandar John Paul Jones), Mondo Generator, além de participações incontáveis, de Foo Fighters à banda de metal Mastodon, todas com sua marca registrada.
Mas tudo isso para dizer que cheguei à conclusão de que Jack White deu um passo à frente. Talvez uma medida definitiva. E esse passo tem nome: The Dead Weather. Que consiste em todo aquele blues rock agudo e meio inconfundível que ele vem fazendo já alguns anos finalmente unido a técnicas de estúdio avançadas. Como Homme já fez no Eagles of Death Metal, White assume a bateria, mas não deixa de lado as guitarras. Há solos ali que são seus, que carregam seu espírito, por mais que a banda fuja de seus trabalhos anteriores.
Jack White é, antes de mais nada, o guitarrista mais arrogante e presunçoso da nossa geração. E também um reciclador como poucos. Mas conseguiu enterrar suas digitais em cada compasso de cada música que trabalhou desde 1998. Quando finalmente entendeu a lógica de sua contraparte (ou sua “contralógica”), criou seu melhor projeto até o momento. Partindo da tese de que encontrar um consenso entre duas tendências distintas é se fortalecer, afirmo sem medo: The Dead Weather é o futuro do rock.