Sou um cara chato. Assumida e deliberadamente. Consigo ser contra a causa e a conseqüência, contra a situação e a oposição, tudo ao mesmo tempo. Não me incomoda ser assim, pois é parte da minha personalidade e os fatos externos também não ajudam; Ou seja, ossos do ofício.
Mas será que eu sou tão chato assim? Vivemos numa era medíocre (no sentido coloquial e negativo da coisa – merda) em que quase todos os aspectos de quase todo o substantivo que existe vão mal. Dia após dia, qualquer um com um Q.I. de, no mínimo, dois dígitos, se depara com alguns sentimentos bem desagradáveis: decepção, indignação, medo, impotência e constrangimento. O último é o menos grave, entretanto, o mais constante. Como não se sentir incrivelmente burro quando o maior sucesso de vendas da indústria fonográfica do seu país é algo dantesco como RBD, quando a terceira maior televisão do planeta (e maior do Brasil) é incapaz de passar informações precisas e imparciais, quando a nação mais poderosa do mundo é comandada por um homem um pouco menos apto a comandar que um chimpanzé?
E estamos fadados a chafurdar cada vez mais, pelo menos enquanto o povo ignorar alguns valores bem simples e que mais parecem com detalhes, mas são importantes, sim, senhor. A vida perdeu um pouco do sabor, entende? Ir ao cinema assistir à estréia de um filme, ou passar numa loja e procurar por algum CD em promoção (são tempos difíceis e superfaturados) e eventualmente achar aquela raridade, ou encontrar um amigo por lá e sair para tomar um chope, tudo isso parece que perdeu um pouco do sentido pras pessoas. Agora você gasta seu dinheiro com as roupas que todo mundo tem (e se endivida pra isso, mas está tudo OK) e vai pra balada pra ficar bêbado e fazer comentários machistas e pegar geral. Não porque você gosta dessas coisas, e sim porque todo mundo está fazendo e Deus te proíba de ser diferente de todo mundo ou simplesmente pensar.
E quem se opõe a isso é que é o loser. Não sei não... Estava pensando: os caras “legais” daqui da cidade estão já com seus 20 anos e ainda moram com papai e mamãe e ainda têm suas bandinhas de pop rock cover e permanecem fazendo suas faculdades particulares de administração pra depois tocar o negócio do pai e continuam namorando com as mesmas menininhas do Ensino Fundamental (os mais conscientes de vez em quando arranjam uma garota do primeiro colegial!). Meus amigos, os que são “uncool”, estão todos em repúblicas, morando fora e aprendendo a se virar (embora eu admita que muitos deles às vezes tenham recaídas e tentem se incluir constrangedoramente nesse mundo dos “bacanas”). Há uma inversão de valores aí.
A real é que esse lixo todo gera dinheiro. Tanto de um lado quanto de outro, por isso não acho que vá parar. O grande modo de se arranjar grana no século XXI já está definido, e é usando a decadência a seu favor. Cientistas e Engenheiros Ambientais estão fazendo fortuna tentando entender ou reparar os rombos que o homem fez na natureza, enquanto o Celso Portiolli e a Daniela Cicarelli engordam suas contas bancárias com programas de namoro na TV (e eu duvido muito que alguém ali esteja realmente na seca, mas o homem moderno sente essa necessidade de aparecer na TV, nem que seja pra bancar o macaco). É claro, o show business é movido a baixeza. O que seria de Borat se os americanos não fossem um povo mesquinho e escroto? E eu, estaria escrevendo esse texto se não tivesse acabado de assistir na MTV um especial sobre “girl power”, em que uma das garotas comentadas era um dos maiores ícones do machismo e da bronha pré-adolescente, Britney Spears? Pior: programa apresentado pela Marina Person, presumidamente uma mulher decidida, inteligente e mais todos esses adjetivos que os machistas usam pra designar uma mulher que não abaixa a cabeça diante seus bigodões encorpados. E ela se submeteu a isso? É claro que sim. Umas caras aqui, umas bocas ali, uma ou outra frase de efeito e sua imagem segue intocada para com a audiência retardada.
Eu já perdi as esperanças e não vejo outra saída a não ser fazer piada disso tudo. Não há uma vontade em mudar, nem entre as pessoas “inteligentes” como a Marina Person, porque, claro, se as pessoas deixarem de ser idiotas, vão perceber que a Marina, de fato, não é inteligente. Tudo bem. Já me conformei e aprendi a me divertir.
Ei, cara, o que você está fazendo aí parado? Tá cheio de gente babaca pra você espinafrar. Corre!