Thursday, March 01, 2007

Johnny Brechó - Rock de Veludo

Bandas como Johnny Brechó se proliferam como formigas. Isso é fato e carrega consigo um significado: as bandas de "rock atual" não cativam mais os jovens. Se houve uma explosão de rock de garagem, independente e alternativo no fim dos anos 90 e começo dos 2000, hoje em dia esse movimento se ramificou tanto que não existe mais um som emblemático ou com alcance suficiente para ser convidativo para todos. Quer dizer, é um movimento, não um estilo musical. E, por isso, cada vez mais, as bandas buscam no passado a maneira de fazer seu som. E às vezes exageram.

Johnny Brechó é um nome totalmente apropriado para uma banda cujo público é justamente o tipo de pessoa que vai a um brechó procurar plumas, chapéus e camisas antigas. Poderia também se chamar de Johnny Retrô e estaria tudo certo. Essa necessidade dos mais novos em ter por aí bandas como essa, Cachorro Grande, Wolfmother, Black Crowes e tantas outras vem, sem dúvida, da impossibilidade de acompanharmos às carreiras das bandas dos anos 60, 70 e 80 durante seu auge, seja ouvindo um clássico na semana do lançamento ou pegando shows memoráveis com o máximo de energia que os rockstars da época em que o rock era rock e o mundo ainda era bipolarizado podiam injetar numa apresentação ao vivo.

Mas a verdade é que os tempos mudaram e agir como se vivêssemos numa época em que uma revista em quadrinhos custava 25 cents não é menos que ridículo. Entenda, emular um som antigo pode ser tão interessante quanto desastroso e, assim como a influência externa determina que a banda siga por esse caminho, é ela que define qual dos dois aspectos a banda vai ter. Se você fica insistindo que é uma diva setentista ou um pioneiro do rock de garagem de 1965, está mal. Vai ser provavelmente motivo de chacota entre a crítica musical e não vai pra frente como artista. Se se apropriar apenas do som antigo, mesmo que não seja original, e não tentar parecer um macaco classic rock com sua roupa e trejeitos, provavelmente vai juntar alguns fãs e um pouco de respeito, já que as pessoas se permitiriam a aceitar uma espécie de "segunda chance" se não estiverem enjoadas com o cheiro de mofo da sua camisa.

Ainda não vi Johnny Brechó ao vivo e eles ainda não foram tomados pelas garras imediatistas das gravadoras - são 100% independentes -, por isso não sei como se portam, mas a banda impressiona. Em 2005 gravaram um EP, "Rock de Veludo", muito bem produzido, do tipo que vale gastar uns trocados pra ter. Os temas lisérgicos do Zeppelin já aparecem na abertura do disco, Impala 65, e depois as músicas continuam resgatando as bandas de Hard Rock dos anos 70, com odes ao Rock and Roll e tudo mais. No fim, um cover sensacional de Mutantes. A banda tem um line up que pode ser, também, interessante. Mas é a voz de desenho animado do vocalista Dino que, estranha no começo, vira uma identidade pro grupo ao longo das outras escutadas.

A real, então, é a seguinte: O Johnny Brechó tem a faca e o queijo na mão. A banda é independente, mas está redonda pra ser vendida como uma eventual "volta do rock" e se dar muito bem. Só não pode ser seduzida pela babaquice dos maneirismos "retrô" tipo o Cachorro Grande e se meter numa demanda por visual (e não por música). Até porque, como Dino cita Robert Plant em determinado momento, "it's been a long time since the rock and roll".

***

Não é a função deste blog, mas por se tratar de uma banda independente que provavelmente tem pouquíssimas fontes no soulseek e menos uploads ainda no rapidshare, segue abaixo o link da página do Johnny na Trama Virtual.

4 comments:

Anonymous said...

"as bandas de "rock atual" não cativam mais os jovens. Se houve uma explosão de rock de garagem, independente e alternativo no fim dos anos 90 e começo dos 2000, hoje em dia esse movimento se ramificou tanto que não existe mais um som emblemático ou com alcance suficiente para ser convidativo para todos. Quer dizer, é um movimento, não um estilo musical. E, por isso, cada vez mais, as bandas buscam no passado a maneira de fazer seu som. E às vezes exageram."

mais uma vez concordo com o que você disse,com relação ao rock, é isso que eu vivo discutindo com um camarada meu que insiste em dizer que o "indie" é a salvação do rock,por causa das velhas formulas....



e quanto ao johnny brechó,dentro do cenario , deveria ser mais explorado,não tem nada de mais,porém , é interessante ,e bandas nesse seguimento até poderiam deixar o pop rock nacional,mais interessante....


gostei dessa banda.. valeu pela dica!


ja correu atras da banda maddame butterfly?

se não , corra ,e depois me diga o que achou...

ah sim,parabens pelo texto,muito bem escrito,e gostoso de se ler...

Anonymous said...

Olha, eu tenho escutado muito à banda JOHNNY BRECHÓ de um ano pra cá.....e ao contrário de tudo o que vc disse, a banda soa como algo novo com certeza....e têm tudo de mais tbm!!!

As guitarras têm peso, a divisão melódica é totalmente contemporânea e resultado dos dias atuais....

....como cheguei a essa conclusão? Simples, não me prendi nem ao nome da banda e nem ao fato da necessidade de identificar esse objeto não identificado.....é uma banda!!! Muito boa e muito acima da média, já os vi ao vivo e são músicos e artistas impressionantemente criativos....os 4...suas influências soam sim com toque de anos 70...mas conversando com o vocalista ao final do segundo show que vi deles, este me disse que só escuta Jazz e Blues dos anos 30, etc....exatamente o contrário do que eu pensava, vai ver é por isso que em certo momento pode remeter a algo ´´Retrô``...afinal era isso que ´´os caras`` escutavam antigamente certo?

Uma dica: Confira a banda ao vivo no You Tube....a presença de palco é invejável, pulsante!!! Basta digitar na busca : johnny brechó
Ou vá a um show....

site deles : www.johnnybrechó.com.br

Ah, vou citar uma banda que com certeza se encaixa no estereótipo decupado por vc acima....exatamente a banda que o colega tbm acima citou: Maddame Butterfly...essa sim, com guitarras magrinhas, timbres vintage, calças boca-de-sino, lenços pelo corpo todo; acaba por ´´soar`` ridículo e mais parece um bloco carnavalesco....sim, é uma boa banda, mas nada de novo, nada.

site deles: www.maddamebutterfly.com.br


O seu texto é realmente bom, eu gostei da leitura porém, se é que posso dizer, falta imparcialidade e referências.

Um Abraço.

Jambo Ookamooga said...

Hum, só respondendo pro anônimo acima.

A banda é original mesmo, as músicas são novas. Ponto. Só por isso já tem originalidade. Mas em termos de estilo, é inegável que a fonte deles é nos 70. Longe de ser um defeito, tanto é que eu gostei bastante do JB, ouvi por uns 3 dias seguidos e pretendo ir num show nesse mês. Mas, dependendo de como vc conduz isso, ser altamente influenciado por uma época/som só, pode ser desastroso. Não estou dizendo que é o que o Johnny faz, veja bem.

Madame Butterfly é mais sem graça, mas é legal também.

E meu blog funciona mais ou menos como uma coluna, não é jornalístico. Portanto, sem essa de "imparcialidade".

Anonymous said...

Esse negócio de 'imparcialidade' é uma das grandes farsas da crítica musical, ninguém é 100% imparcial, nunca foi e nunca será. Ainda mais num blog, porra.

Sobre o JB, vou ser sincero, eu não gosto quando bandas tentam emular bandas dos anos 60/70 sei lá as vezes me parece falta de criatividade, mas ao mesmo tempo vou citar Salvador Dalí numa frase que eu acho sensacional: " Durante o Renascimento, quando quiseram imitar a Grécia Imortal, produziram Rafael. Ingres quis imitar Rafael, e se tornou Ingres. Cezanne quis imitar Poussin, e assim se tornou Cezanne. Dalí quis imitar Meissonier e O RESULTADO FOI DALÍ. Aqueles que não querem imitar nada, não produzem nada."

Então mesmo que eu não goste desse tipo de coisa eu acabo relevando, por que eu acho que maturidade e um som caracteristico vem com o tempo.

Alias Kurty gosto muito do teu blog, as vezes ele me lembra um outro blog que eu frequento o www.jrocknyc.blogspot.com, não sei exatamente porque mas as suas críticas me lembram um pouco o estilo do Gordon, o dono desse blog que eu citei, quando ele escreve sério (quase nunca).

Guilherme.

 
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