No último dia 23, Los Hermanos anunciaram sua separação – ou “recesso por tempo indeterminado”, como definiram. No bilhete (nem se dignaram a escrever uma carta-despedida pros fãs tão fervorosos) dizem que “A pausa atende a necessidade dos integrantes de se dedicarem a outras atividades que vieram se acumulando ao longo desses dez anos de trabalho ininterrupto em conjunto.”.
Justíssimo. Deve ser maçante passar tantos anos tendo que se dedicar a uma única atividade, ainda mais se essa atividade for trabalhar numa banda famosa como a deles. O que não parece ser lá muito justa é a decisão dos barbudos em dar um último show para os fãs. Um não, dois! Como uma despedida... Quanta perspicácia! Eles realmente parecem ansiosos para engrenar essas “outras atividades”, não é?
“A banda vai acabar, mas não poderíamos perder uma última oportunidade de arrancar uns reais de vocês, otários”, dizem nas entrelinhas. Talvez isso seja uma vingança, ou uma forma de lucrar com os fãs retardados que tanto prejudicaram a imagem da banda desde 2001, quando saiu o Bloco do Eu Sozinho, agindo como se fossem apóstolos de uma entidade messiânica.
Não sou um grande conhecedor dos Hermanos. Comprei o primeiro disco a preço de pinga e me interessei pela banda. Depois, quando arranjei o Bloco do Eu Sozinho, percebi que se tratavam, sim, de uns bastardos talentosos. É um discaço, mesmo! Mas sempre tive preguiça com eles, justamente, talvez, por esses fãs. Agora eles estão provavelmente fuçando na bolsa da mãe atrás de dinheiro para esses últimos concertos. Precisarão: Cinqüenta pratas por meia entrada para cada dia.
Mas será que eles merecem tal comoção? Qual o serviço dessa banda para a música? Desde o fatídico lançamento do fatídico Bloco do Eu Sozinho (citado já pela terceira vez aqui!), um sem-número de garotos e garotas indie começaram a desenvolver verdadeira paixão por samba, por Chico Buarque, por Cartola. Foi isso que eles fizeram, apresentaram a música brasileira pra garotada que, no máximo, ouvia Weezer. Agora, quantos se aprofundaram nisso ou realmente gostaram da coisa, é outra história.
É um trabalho notável, pouca gente faz isso hoje. No mainstream “roqueiro”, então, só eles, mesmo. Então, por que parar? Rodrigo Amarante vai se dedicar à sua Orquestra Imperial, Marcelo Camelo provavelmente vai se envolver com produção e talvez lance algum trabalho solo, Barba e Medina também vão flutuar por aí. Todos apoiados no seu trabalho prévio com o Los Hermanos, gozando do status vanguardista que criaram, mas sem dar continuidade ao trabalho.
Espero que enquanto estiverem ouvindo sua música favorita no dia do último show, cem reais mais pobres, os fãs se dêem conta desse refugo.