Tuesday, May 08, 2007

Quadradinhos Multicoloridos

Vivemos numa época fodida. Eu sou um moleque – sim, um moleque que mal saiu das fraldas – e quando me meto a escrever sobre rock, é sob a nuvem do apocalipse que paira sobre ele mesmo. Sim, acabou a época do rock. Acabou a época de tudo. O que são os anos 00? Uma geração sem face comandando um mundo de muitos quadradinhos – pixels – multicoloridos.

Quem tem liberdade pra escrever sobre música, filmes ou livros? Ninguém, é o que eu te digo. A auto sustentabilidade da cultura já escorreu pelo ralo há algum tempo, e nós estamos aqui, sem nada, calados, esperando pela próxima empresa pra pagar por uma propaganda-reportagem. E sem cultura não há nada.

Lembram de Reações Psicóticas? No prefácio à edição brasileira tem um quote do próprio Bangs, datado de 1980: “Você acha que, continuando assim, a única coisa vendável vai ser a biografia-putaria de uma celebridade?” Maldito Lester. É claro que há 27 anos já estava óbvia essa descaracterização do mundo. Mesmo assim, maldito Lester. Realmente, hoje em dia só se vende isso, só se lê isso. Biografia-putaria.

Estou cansado de sempre me deparar com essa angústia em relação aos tempos e nunca conseguir me expressar em relação a isso. Meus textos saem truncados, pobres, como agora. A verdade é que os moleques da minha idade me cansam e suas atitudes me acertam em cheio na cara, e eu perco um ou dois dentes a cada soco desses. Acho que baixar MP3 compulsivamente, ou ir a um show de uma banda que você nem gosta pra impressionar alguém (os garotos-legais ou as garotas-bonitas) ou simplesmente não ler significa mais do que a retórica da automatização do ser humano ou da falta de tempo. Significa que nós estamos cada vez mais espertinhos e letárgicos. Como é que se faz dinheiro hoje em dia? Especulando na bolsa de valores, jogando bola ou ganhando em cima dos danos que a humanidade (antigamente tão imbecil quanto hoje em dia, mas um pouco menos preguiçosa) causou ao meio.

Então, as coisas tomam forma de pílula, cada vez mais. A internet possibilitou isso. Informação rápida, especulação rápida, dinheiro rápido, cérebro molenga. Eu era um garoto inteligente até os 14 anos, quando comecei a usar a internet. Hoje sou burro e indolente. E não consigo parar. Mas ainda acredito em ouvir uma música porque eu gosto e em ler um livro que possa mudar minha vida. Yeah, Salinger fez isso por mim, mas não fez por um monte de moleques, que nem sabem quem é ele. Devem existir ainda duas opções:

- A cultura como meio material acabar. Filmes e programas de TV por streaming, música exclusivamente por download e até shows transmitidos via web, sem nenhum contato com público, a não ser pelos 20 figurantes contratados pra dar “clima” de concerto. Quem sabe?

- Descobrir que, apesar de tudo, existem alguns fodidos cagados que pensam como eu escondidos por aí. Então a tal “cultura como meio material” é que se tornaria a alternativa, invertendo totalmente a situação de, hum, 10 anos atrás, quando a internet ainda era o segundo plano.

São duas opções bem idiotas. E eu, como não sei me adaptar, continuo me lamentando por ter nascido desgraçadamente perto dos desgraçados anos 2000.

Se os 80 foram bregas e os 90 nulos, os 00 chegam com um glamour minimalista, quase incolor e quase tão pouco glamouroso como se esse glamour não existisse. O que eu quero dizer é que o mundo nunca foi tão rico, mas também nunca foi tão limitado, inócuo. Existem umas amarras aí, e eu não sei onde elas começam, e nem onde terminam.

Um conhecido meu colocou uma vez na sua descrição do Orkut alguma coisa como “eu só quero me divertir num mundo em que as pessoas não sabem mais fazer isso”. É por aí. Não vou ser hipócrita em vir citar o Oscar Wilde com aquela coisa de “viver” e “existir”, e nem vou dar uma de comunista em pleno século XXI para reclamar de uma possível limitação imposta pelo consumo excessivo e monopólio do capital (bem possível, aliás). Mas me reservo no direito de dar uma de Arnaldo Jabor e dizer que as pessoas são estúpidas, não devem ser e se continuarem sendo, elas estarão erradas, e eu certo. E gente estúpida não sabe se divertir.

Eu acho que sei me divertir.

Ou talvez não. Aos olhos da nossa época, provavelmente não. Há um modelo hermético a ser seguido, ou então você não se diverte, esse modelo limpo como um corte de lâmina bem afiada. E toda essa limitação não justifica o nosso passado, quer dizer, onde é que ficam as pessoas realmente excêntricas agora? Antes pelo menos elas conseguiam umas garotas (ou uns caras) e dinheiro pra pagar o aluguel. Agora elas são cortadas, nem as editoras e gravadoras e estúdios querem os mal enquadrados. Parece que essa “classe” dos anos 00 simplesmente eliminou as décadas anteriores, e o ser humano finalmente chegou àquele ponto que vinha ameaçando desde o começo do século XX: achar que a fórmula já está pronta, e descartar todo o resto.

Foda-se.

No comments:

 
Clicky Web Analytics