Quando Lullabies to Paralyze saiu, em 2005, quase todo mundo concordou que o disco era muito bom até a faixa 10 e depois se perdia. Disseram que “o Queens of the Stone Age agora tem 3,75 discos bons” e torceram para que o próximo álbum não seguisse pelo caminho das 4 últimas músicas. Seguiu, contrariando a expectativa comum. Mas foi uma coisa boa! Era Vulgaris não é apenas uma continuação de Lullabies to Paralyze, é a evolução dele.
Eu explico: por exemplo, Into the Hollow é irmã de Long Slow Goodbye, mas é bem melhor. E isso porque Josh Homme teve tempo de concatenar melhor as idéias, amadurecer esse novo som que ele vinha pretendendo para sua banda desde a saída de Nick Oliveri e ainda considerar de vez as influências novas que encontrou. E que influências! É como se Trent Reznor, do Nine Inch Nails tivesse emprestado um braço seu a serviço do QotSA.
Pois é, nos últimos anos, Josh Homme tocou com Foo Fighters, Mastodon, U.N.K.L.E., Strokes e Eddie Vedder, Chris Goss, Death From Above e Peaches, só pra citar alguns. Seriam influências (imaginando que essas colaborações trouxessem algum elemento novo de volta para ele) suficientes para desfigurar o som do trabalho novo do Queens. Mas não, Homme conseguiu juntar tudo isso em benefício próprio. As batidas eletrônicas do U.N.K.L.E., da Peaches e do NIN, por exemplo, serviram para encorpar ainda mais os característicos riffs, que antes se apoderavam do quarto em que você estava; agora tomam a casa toda.
É claro que os riffs continuam lá, ainda mais robustos. Sick, Sick, Sick, o primeiro single, é, hum, pulsante. Te dá uma inquietação nos braços e pernas e deve ser muito boa para dançar. Sabe como é, eu não danço. A música ainda conta com a participação de Julian Casablancas, o que deve recrutar alguns fãs para o QotSA, como aconteceu no Songs For The Deaf, que tinha Dave Grohl na bateria. Escolhe bem suas amizades, esse Josh Homme.
Depois de se apresentar para o mundo de uma forma mais ampla, em
Legal que mesmo no meio dessas infindáveis referências, musicais e estilísticas, o CD tem uma unidade como não se via desde que Nick Oliveri saiu. As músicas se completam e formam um bloco só. A falta do careca não é mais sentida como algo estrutural, e sim nostálgico, para quem gosta daquelas músicas furiosas com seus berros punk. E nostalgia é só um detalhe, principalmente quando se percebe que a principal mensagem desse Era Vulgaris é o crescimento do Josh. Ele finalmente encontrou seu direcionamento musical, e pela primeira vez sem a ajuda de ninguém ou sem fazer algo muito básico ou manjado. E isso por si só já o redime das últimas músicas do Lullabies e da ausência de Oliveri – se é que tem que ser redimido por isso.
E o cara ainda está cantando melhor do que antes!
E talvez a coisa se sustente tão bem desse jeito porque o QotSA sempre foi uma banda sem medo de mudanças. As saídas de integrantes sempre foram, de modo geral, discretas e naturais. Na única vez que esse caldo entornou, quando o Nick saiu brigado, o resultado foi justamente aquém do esperado. Tudo bem, merda acontece. Mas é que agora Joshua é um homem casado, com uma filha. A maturidade que se espera depois desses acontecimentos chegou para ele, e mesmo com algumas mudanças no line-up da banda – saíram Allain Johannes e Natasha Shneider e entraram Michael Shuman e Dean Fertita – ele manteve-se focado naquilo que queria fazer.
Quer mais dessa maturidade? A letra de Into the Hollow é, pra mim, sobre um cara que sempre fez as piores escolhas e encontrou agora alguém pra o seguir. Não nas escolhas ruins, mas segui-lo apesar do seu passado. Pode ser que não seja isso, interpretações sempre são perigosas. Mas que há um crescimento aí, há. Em I’m Designer, o vocalista dispara “My generation’s for sale” [Minha geração está a venda] e depois discorre sobre isso. Bom, antigamente o QotSA não estava lá muito preocupado com sua geração fútil. Depois, ele vem e diz “Wanna see my past in flames” [Quero ver meu passado em chamas]
Assim, quando o disco acaba, você percebe que o “Queens Lite” (alcunha dada por Nick “Dark Side of the Force” Oliveri) conseguiu se encontrar, realmente. E que a volta de Nick virou um detalhe, e por isso mesmo é mais fácil de acontecer. Se você era fã da banda e sofria com essa indefinição, pode estourar uma garrafa de champagne.
Adendo:
Tinha pensado no parágrafo acima como conclusão do texto, mas isso me incomodava. Parei de escrever isso aqui por uns 10 dias. Pensei, pensei, escutei o disco até enjoar, até arranjei uns outtakes bem fodas pra incrementar a pasta de MP3 (a saber: covers do Billy Idol, Tom Waits e Elliot Smith, a versão definitiva de Fun Machine e uma versão acústica de Suture Up Your Future). Aí que percebi. Porra, ta na hora de esquecer o Oliveri. Mesmo. Qualquer que tenha sido o problema que os caras tiveram, isso já foi superado, pelo menos musicalmente. E é assim que importa. Se não, periga de nós parecermos com aquelas amebas que ficam realmente tristes porque uma banda acabou ou porque seus integrantes brigaram ou pegaram dengue. Fodam-se, caras, eu estou cagando para as suas vidas.