Uma coisa em comum entre os dois shows que eu estive aqui na Dinamarca até agora foi a qualidade das bandas de abertura. Na primeira vez, Marvel Hill, abrindo para os milenares tiozinhos do DAD, conseguiu ofuscar a atração principal com uma apresentação esquisita, eletrônica demais para o público presente e com um baterista que literalmente exalava fumaça.
A banda que eu vi hoje à noite, no entanto, tinha uma missão um pouco mais difícil do que superar as macaquices de meia-idade do Disneyland After Dark. Quer dizer, Travis pode não ser mais aquela anda que fazia chover em Glastonbury, mas ainda é boa música. Sério, Selfish Jean põe no chinelo, fácil, qualquer single dos Klaxons ou Kate Nash. Não?
De qualquer modo, essa banda de hoje, Ave, à primeira vista parece demais Arcade Fire, mais do que seria saudável: Nove músicos no palco, terninhos, trocentos instrumentos clássicos... Mas é bom quando o som começa e você vê que as aparências enganam. Eles estão MUITO mais nessa de “Art Rock” (ui) do que o Arcade Fire. Oscilam naquele vaivém, hipnotizando a platéia com uma cantiga ao som do piano ou sintetizador e de repente acordam, irrompem em notas e batidas. Na verdade, em determinado momento, quando eu já estava com um pouco de, cof cof, medo deles, o baterista explodiu numa manifestaçäo sonora que foi das maiores que eu já vi ao vivo, possuindo a banda, engrandecendo, completando tudo aquilo de novo. Caralho, tomei um susto.
Uma coisa que aprendi com DAD e Marvell Hill é que quando você está num show e não exatamente sabe cantar as músicas junto dom a banda, sente necessidade de uma imagem, de algo visual que complete sua experiência, naquele momento muito mais sensorial do que racional – como escutar um CD novo folheando o encarte. Os músicos do Ave parecem estar cientes disso e montam um verdadeiro banquete visual. São dezenas de pequenas coisas para prestar atenção: Velas e abajoures espalhados pelo palco; Máscaras nos rostos das três garotas que tocam violoncelo e violino; Uns quadros de paisagem encostados nos instrumentos e caixas de som; Uma maçã que o guitarrista (separado do Frusciante no nascimento) parece estar muito interessado em comer; Uma máquina de escrever que realmente é usada como instrumento em certo ponto; O vocalista em si, que canta sentado numa cadeira, como se fosse um doente terminal, se controcendo, e depois levantando, e andando pelo palco gesticulando, e depois tocando trompete e piano; E no alto, o mais importante, um telão com imagens precisamente escolhidas para cada música, como se fosse um clipe.
Como banda iniciante e, portanto, filha da internet que é, o Ave sabe que apenas a música não é mais atrativo hoje em dia. Baixar bootlegs é mais fácil que tocar guitarra e não é mais preciso estar lá. É, é uma pena, mas é assim que é. E, portanto, para valer mesmo a pena, para moleques como eu, ou da minha geração, uma apresentação não pode ser menos que catártica.
Com suas explosões musicais e sons de máquina de escrever, Ave está no caminho certo, parece.
E o Travis, bom, foi grande. Ao som da música-de-treino-do-Rocky-Balboa, eles chegaram por trás da platéia com roupões coloridos de boxe, e passaram por todo mundo antes de pularem pro palco. Abriram com Selfish Jean, tocaram os hits esperados (e minha favorita pessoal, Love Will Come Throught), zoaram o tecladista sueco e mandaram aquele cover esperto de Britney Spears. Ótimo show, em muitos (quase todos) aspectos melhor do que os das outras três bandas citadas aqui, mas Travis é isso aí. Tem alguma coisa pra teorizar? Praticamente nenhuma.
Friday, October 19, 2007
Travis e Ave
Postado por Jambo Ookamooga às 5:07 PM
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1 comment:
Nunca ouvi falar desse Ave, vou procurar alguma coisa deles. Parece que você ficou mais impressionado com os caras do que com o Travis.
e o template novo ficou foda.
=*
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