Tuesday, December 11, 2007

James Murphy e o Homem Moderno

A primeira vez que eu tomei conhecimento da crítica musical foi em 2002. Pré-adolescente, eu assistia na MTV um especial de fim de ano, na época que a MTV Brasil ainda tinha alguma moral (ou talvez só tivesse pra mim, pivete), e entrou o Fábio Massari falando o quanto o Songs for the Deaf, do Queens of the Stone Age era um dos discos legais do ano. Um must-have. Eu não sabia exatamente quem era o Massari e o que ele já tinha feito, mas sabia que era um cara que entrevistava músico famoso e devia ter um passado muito true, por causa daquela cicatriz na boca. E me senti extremamente feliz por ter comprado, por livre e espontânea vontade, com 12 anos apenas, um disco que ele endossava daquela maneira.

Depois de um tempo, as coisas mudaram. Minha forma de ver as coisas ficou mais cética, e a crítica em si já parece ter aberto e fechado ciclos em mim diversas vezes. Por exemplo, já achei que seria legal demais viver como o Lester Bangs (e talvez eu fosse ainda mais ingênuo quando pensava desse jeito), e já percebi que não tenho talento nenhum para isso. Hoje em dia, ficar pensando muito na análise de música não é mais alguma coisa que me empolga. Até por isso, escrever isso aqui está muito estranho para mim. É como se tivesse voltando num ponto e brigando por ele sem realmente sentir mais nada. Mas eu precisava, porque ainda uso do assunto que eu falo. Quando leio a Uncut, quando leio um livro de artigos velhos do Simon Reynolds, quando discuto sobre bandas no Orkut ou quando sigo uma indicação para pegar um disco. Mesmo tendo aprendido nesse meio tempo que não é nenhum crime escutar uma "banda ruim", eu continuo considerando certas opiniões especializadas. Para o bem e para o mal.

E foi assim que conheci LCD Soundsystem. Ainda munido de algum preconceito compreensível com "sons modernos", demorei a aceitar o que é fato: James Murphy é Deus. Fiquei relutando em escutar, mas o consenso foi tão consensual e massivo que não resisti. Fui atrás. Não preciso nem ficar descrevendo o que é a música dele por muito tempo. LCD Soundsystem é igual ao rock que você sempre escutou, com as melodias e batidas e tudo que você necessita (até solos!), só que com um instrumental sampleado e sintetizado. E, como se isso não bastasse, ao ouvir, apenas ouvir, você aprende a desprezar a desconfiança que tinha antes com sons eletrônicos.

Eu vejo o mainstream hoje em dia dividido entre a música "orgânica" e a música "artificial". Revistas como a Uncut promovem o revival do folk e do rock clássico e, do outro lado, temos bandas dançantes e produtores badalados. A figura do produtor, na era do sampler e do download, se glamourizou. Timbaland, Bob Rock, Rick Rubin e até mesmo o próprio James Murphy são agora mais famosos do que muitos dos artistas que produzem, e um timbre diferenciado, ou um eco bem localizado são às vezes mais apreciados do que um riff. Pode ser sinal dos tempos modernos, ou pode ser (e me desculpe pelo jargão proto-futebolístico) apenas o reconhecimento de um trabalho que faz, sim, milagres. Se Era Vulgaris é um dos meus discos preferidos no ano de 2007, além do surto criativo de Josh Homme, muito disso se deve, tenho certeza, à produção de Chris Goss. Porque um bom produtor, mais do que colocar os trecos tecnológicos nas músicas, é alguém que inspira e dá uma direção ao artista.

Por outro lado, o trovador também está em alta. Como se desafiando toda a gama de opções "artificiais", ele pega um violao, um piano e um acordeon e faz as melodias mais bonitas que você pode encontrar. Ressucita Tom Waits, Bert Jansch e Nick Drake (sem que todos estejam propriamente mortos) numa era em que só o Kraftwerk e o Brian Eno parecem importar. É o escapismo perfeito pra quem não acha que deve suportar tudo isso.

James Murphy é um pouco dos dois. Apaixonado pela sua cidade, ele cria um vínculo passional com o ouvinte e mostra que sabe do que está falando. Pode ser um contador de histórias como Devendra Banhart e também pode controlar uns aparatos eletrônicos como um membro dos Chemical Brothers. E ainda produz os próprios álbuns, o que elimina o dilema do "produtorversusartista" e o eleva a um nível mais complexo como músico. Timbaland consegue ser popular com o que faz, mas há quem diga que é melhor produtor. Rick Rubin é provavelmente o melhor produtor de discos de rock do mundo, mas sua banda nunca foi popular. Murphy une tudo isso e em prol de si mesmo.

Talvez ele seja a evolução do popstar. Talvez ele seja só o homem moderno. E talvez o cara seja a ruína da música. Mas o que importa mesmo é que Sound of Silver é do caralho, amigo.

3 comments:

Anonymous said...

Agora quero ouvir a banda

•Nico said...

Nunca ouvi falar em James Murphy, mas se for tão bom quando Nick Drake vale a pena procurar.

ps:Odeio a cor de fundo do seu blog.

Anonymous said...

a cada vez que ouço eu gosto mais de LCD
ps2: eu tbm odeio a cor de fundo!

 
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