Friday, January 23, 2009

Confissões de uma Groupie: I'm With The Band

Antigamente, eu tinha uma convicção muito boba, de que tudo que fosse escrito deveria possuir o estilo e classe de um Machadão ou Fante, pra citar dois nomes aleatoriamente. Claro que eu sabia que isso nunca ocorreria, mas imaginava um mundo perfeito, onde todo mundo saberia escrever bem.

Eu já tinha sacado que isso não existe, mas foi Confissões de Uma Groupie: I’m With The Band que jogou a pá de cal sobre essa idéia. Não tem cabimento esperar que autora-e-ex-groupie Pamela Des Barres escreva algo que deixaria o pau do velho Fiódor duro na tumba. É um livro que serve apenas para contar história – o que vale é a mensagem e não a forma como essa mensagem é trazida.

E a história é boa: uma das maiores groupies do fim dos anos 60 e começo dos 70 conta como era vida na sua juventude, quando saiu com Jimmy Page, Jim Morrison, Noel Redding, Keith Moon, Mick Jagger, Chris Hillman, Don Johnson, Waylon Jennings (entre outros) e conviveu com gente como os Zappa, Captain Beefheart, Gram Parsons, Alice Cooper e outras groupies famosas, as GTOs. Para voyeurs, apenas esses nomes soltos já garantem o interesse, mas Pamela vai além. Como eu – e muita gente, espero – cago e ando solenemente para a vida sexual alheia, para mim, a grande sacada do livro é a relação que é traçada entre pessoas e lugares e as milhares de referências en passant de pessoas e lugares.

Pamela estava em todas. A cena psicodélica de Los Angeles, a arte de Cynthia Plaster-Caster em Chicago, o movimento hippie em San Francisco, UK Underground, os bastidores de Altamont Speedway, os bacanais de Vito Paulekas e Carl Franzoni, a vida doméstica de Frank e Gail Zappa, etc etc etc. Ela cita tudo isso em diferentes graus de aproximação e empolgação e essa forma de contar a história é importante para dimensionarmos o tamanho de cada episódio na vida de Miss Pamela e das groupies de Los Angeles.

Confissões de Uma Groupie foi escrito e lançado em 1987, quando Pamela já estava casada com um músico (seu grande, err, sonho), vários de seus amigos e namorados já haviam morrido e seus sonhos de estrelato como atriz e cantora já estavam sepultados. Isso serve para segurar a empolgação do texto (que mesmo assim é bastante deslumbrado) e torna algumas histórias mais sóbrias. E o fato da groupie ter mantido diários durante toda sua juventude, desde a época que era apenas uma pré adolescente fã de Beatles, colabora com a veracidade e detalhamento dos relatos. Há cenas impagáveis, como quando ela e Keith Moon passam uma noite encenando sketches sexuais até o baterista do Who irromper numa crise de choro, eternamente atormentado por ter atropelado seu roadie.

O maior problema do livro se encontra justamente na narração, na forma como as informações são trazidas – justamente o que deveria ser desconsiderado. Mas não dá. Pamela floreia demais as descrições, tudo é “dourado” e “maravilhoso”, todos os rockstars parecem cascas ocas de estilo e maneirismos exagerados com um pau sempre em riste. Daí, pode-se tirar duas conclusões: a que a autora tenta caprichar suas histórias com adjetivos, para que elas pareçam mais interessantes e a que os músicos que sempre imaginamos como os mais autênticos e revolucionários da história eram apenas poseurs sem cérebro iguaizinhos aos moleques de hoje; e as míticas groupies não passavam de garotinhas estridentes e deslumbradas como as que encontramos hoje por todo lugar, de Birmingham a Valinhos.

Provavelmente um pouco dos dois, o que faz cair por terra todos os nossos sonhos lindos com os anos 60 e 70. Nesse aspecto, I’m With The Band, na verdade, presta um serviço, mostrando que nenhuma década foi necessariamente melhor ou pior que outra. As pessoas sempre foram e serão cheias de merda e talento, em igual proporção.

Às vezes, são as coisas mais improváveis que acabam com certas idiossincrasias. Essa é a beleza da vida.

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