Confesso: quando confirmaram a morte de Michael Jackson, eu chorei. Não foi um choro alto, desesperado, como se tivesse perdido algum ente querido. Mas senti aquele calafrio subindo pelas costas e as lágrimas começaram a rolar, ainda tentando compreender o que tinha ocorrido. Ninguém imaginava que isso podia acontecer e, agora, ninguém imagina o que vai acontecer.
Em termos práticos, Michael Jackson ainda significava muito pra música pop até o momento de sua morte. A simples esperança de ver o "rei do pop" em cima de um palco cantando, fora de forma que fosse, ainda era um fenômeno muito maior do que qualquer disco novo de Lil Wayne, Lady Gaga e qualquer um desses whoevers da música pop, que você ouve, gosta e depois esquece.
Em termos metafísicos, Micheal Jackson será sempre um gigante. O jeito mais simples de provar isso pra mim mesmo é continuar sentindo aquele arrepio e o umedecimento instantâneo dos olhos ao ler as condolescências de seus amigos famosos.
Além disso, seus famosos trabalhos com Quincy Jones - e sem ele também - possuiam uma coisa que não se encontra mais na pop music (diferente de "música pop"): eram todos inteiramente bons. Não eram só os singles, era muito mais. Workin' Day and Night, Girlfriend, PYT, The Girl is Mine (hilária) e tudo mais. Tudo feito com esmero e vontade, uma comunhão de interesses pela boa música.
Apesar da aparência de plástico, surpreendentemente, Jacko ainda era um ser humano capaz de sentir e falar e comer pizza. E enquanto há humanidade, ainda há esperança. Por isso, as 50 datas na O2 Arena (que fique registrado: a quantidade de shows foi contra a vontade do músico, e o stress é o que pode o ter matado, ironicamente) diziam muito tanto para londrinos quanto para o resto do mundo. Era a chance real de ver Micheal ao vivo, em carne-e-osso, pela última vez. Ou talvez pela primeira de muitas últimas vezes, como fazem os Stones há uns 15 anos. Se Mick e seus amigos, além de tantos outros impostores muito piores, podem, nada mais justo do que o rei do pop ter esse direito.
A verdade é que Jackson ainda merecia uma chance para fazer o que quisesse, musicalmente falando. Como uma forma de mostrar o dedo pra todo mundo que tentou o jogar para baixo apenas por ser um filho da puta tão esquizofrênico quanto qualquer descoladinho que entope as veias de heroína. Para mostrar para aquela legião de crianças oportunistas e suas famílias aproveitadoras que o bem sempre vence.
Seus amigos e família eram unânimes em afirmar que Jacko se tratava de uma pessoa gentil, carinhosa e preocupada em fazer o bem. Por nem um segundo eu cheguei a acreditar que ele era um pedófilo, muito por conta desses relatos, mas também por sentir que, de longe, o entendia um pouco. Sempre foi muito óbvio que Michael era uma criança por dentro, incapaz de fazer mal a alguém, e que achava muito normal comer bolacha e ver filmes com os filhos de estranhos debaixo das cobertas, simplesmente porque crianças nunca o apunhalariam pelas costas. Quando alguém é inocente e inconseqüente a esse ponto, deve ser tão cultuado quanto o doidão que cheirava formigas.
Tem gente que afirma que, artisticamente, Michael Jackson já estava morto há muito tempo e isso é difícil de contestar. Mas a morte do ser humano e da chance de vê-lo de volta doeram muito mais. Agora é definitivo, a esperança morreu. E todo mundo sabe que ela é a última.
Friday, June 26, 2009
Inocente e Inconseqüente.
Postado por Jambo Ookamooga às 7:28 AM
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1 comment:
Faço minha as suas palavras. Muito bem escrito este seu comentario.
Abraços
Bernoia.
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