Monday, February 22, 2010

Céu 2010

Comecei a escrever uma coluna num jornal de Indaiatuba, a Tribuna de Indaiá. Aí que tinha escrito este texto sobre a Maria do Céu, mas acabou não vingando. Publico aqui porque achei que ficou legal e merece ver a luz do dia. Mas como quem lê a coluna a princípio não lê o blog, tem muita coisa que eu já falei aqui, alguns conceitos e tal. Quem leu a coluna e veio parar no blog provavelmente vai notar semelhanças com o texto do último sábado, porque era uma adaptação mesmo, com foco maior na Céu. Era um dos dois que sairia.

Divirtam-se.

***


Dizem que o ano no Brasil só começa depois do Carnaval. Com o fim dele, é hora de olhar pra frente e decidir o que será feito de 2010. Se parece uma tarefa difícil e cansativa planejar um ano inteiro, e se você anseia por uma definição do seu futuro, pode invejar a cantora paulistana Céu. Seus próximos doze meses já estão bem definidos. E vão ser legais pra chuchu.

No ano passado, ela plantou a semente: seu segundo álbum, Vagarosa, foi aclamado pela crítica (foi o melhor disco nacional segundo a Rolling Stone) e teve vendas impressionantes no mundo todo (por exemplo, alcançou o primeiro lugar na parada européia de World Music). Agora, colhe os frutos. Por enquanto, já está confirmada em dois dos maiores festivais do hemisfério norte (Coachella, na Califórnia e Roskilde, na Dinamarca) e teve o maior público do festival Rec Beat, em pleno Carnaval recifense, além de frequentemente lotar suas apresentações no eixo Rio-São Paulo. Obviamente, presumimos que muito mais está por vir.

O sucesso extraordinário de uma cantora independente brasileira pode parecer um acontecimento isolado que dificilmente se repetirá, mas há dois fatores determinantes em que o sucesso da Céu se baseia – e que podem significar o caminho das pedras para futuros êxitos da nossa música independente.

Primeiro fator: Vagarosa é um disco primoroso, daqueles que acontecem apenas uma ou duas vezes na vida do artista, em que todo elemento se encaixa magistralmente, num registro pop perfeito. Céu é a antítese da cantora turrona de MPB, daquelas que sentam num banco alto de bar e mandam uma “Detalhes” boladona. Na verdade, ela representa a menina que escuta reggae, dub, samba e gosta de caçar vinis numa feira hippie. E tudo isso é representado no seu som, malemolente, esperto e muitas vezes sexy.

Segundo fator: A valorização de Céu é apenas a ponta de um iceberg muito maior do que se imagina. Ela faz parte de uma rede de colaborações e parcerias que envolve músicos incríveis, como Curumin, Wado, Emicida, Orquestra Imperial, Cidadão Instigado, Guizado e muitos outros. Juntos, formam uma cena que tem tudo para revolucionar a nossa música, há tanto tempo estacionada, burocrática.

Acredito piamente que teremos um ano crucial para essa revolução da música nacional. Por isso, brindo à Céu, que começa a abrir o caminho. A garrafa, no entanto, espero que seja dividida com muito mais gente.

Tuesday, February 09, 2010

Nesta semana, o Hotel Fasano é o Studio 54


O Studio 54 foi um clube em Nova York frequentado por celebridades do nível de David Bowie e Mick Jagger (aliás, você pode vê-los batendo um papo super agradável com Ozymandias, na realidade alternativa do filme dos Watchmen). A danceteria foi aberta em 1977 e tinha um estilo que atraía celebridades tão diversas quanto o tenista sueco Björn Borg e a cantora country Dolly Parton. Você podia assistir a shows de James Brown e Grace Jones. Tem uma lista interessante com os frequentadores na página do clube na Wikipédia. Se você quiser saber mais, sugiro ler tanto a página em questão quanto mais ocorrências registradas pelo Google. Era tanta influência que ainda existem alguns filmes que tratam sobre o Studio 54.

O Hotel Fasano, em Ipanema, não tem a mesma badalação (até porque é uma porra de um hotel!), mas certamente oferece a seus hóspedes mimos dignos de Studio 54. Tanto é que costuma hospedar as celebridades que passam pelo Rio de Janeiro - eu mesmo confesso que fiquei tomando uma cervejinha na frente do prédio numa manhã livre quando o Radiohead estava hospedado por lá no ano passado (e não me orgulho disso).

Nesta semana, o Hotel Fasano é o Studio 54 porque abriga, coincidência ou não, Madonna, Beyoncée e Alicia Keys ao mesmo tempo. Isso, no entanto, é mais triste do que parece. Metade pelo fato de um hotel é meio que a sua casa durante o tempo que você passa nele e não deve ser agradável ter fãs de três estrelas diferentes se esgoelando dia e noite atrás de uma foto ou simples aceno seu. Metade pelo fato de as três estarem singelamente no mesmo ponto durante certo tempo causar tanta comoção. Evidencia o tal lado triste da celebridade.

Se a ordem do século XXI é transformar cada mortal numa marca, num personagem de si mesmo, único, sendo todo mundo igualmente interessante, então não deveriam existir mais Studios 54 e Hotéis Fasanos. Moças talentosas como a Beyoncée e a Alicia Keys e uma senhora que fez por merecer o que já conquistou na vida como a Madonna deveriam poder tomar um sol sossegado em Ipanema sem nenhuma fotografia de cofrinho caindo na internet.

Quando chegar o dia e a ficha cair, nem mais posts assim existirão. E o mundo será um lugar melhor, eu tenho certeza. Quem sabe em 2012?

Friday, February 05, 2010

Apocalipse

Geisy Arruda transformada em Lady Gaga

Saca a alegria da moça:

Thursday, February 04, 2010

Em Busca do Post Perdido

A falta de assunto e inspiração me fez sair por aí, desesperado, vestindo só cueca, chinelos e óculos escuros, atrás de novidades que eu pudesse comentar aqui no Schprreading Leisz (como eles falam na Polônia). Eu disse que atualizaria todo dia, não importa como. A seguir, você acompanha meu esforço claudicante em conseguir algo minimamente interessante para colocar no blog, sem apelar para a metalinguagem.

A primeira notícia mais ou menos pop que eu achei foi que a Angélica, a lésbica gatinha do Big Brother, está apaixonada por uma mulher da casa. Achei melhor passar. Mas o pior estava por vir: logo depois, me deparei com uma foto do Sr. Orgastic fazendo um bolagato numa banana. Minha manhã não poderia ter começado pior.

Dez e quarenta e seis. Um mendigo ficou com pena dos meus trajes e me doou um sobretudo. Está frio, e a correria continua. Acesso os sites de música através de meu iPad 3g 967 Gb. A safra não é boa. Uma manchete, no entanto, chama minha atenção: "Ainda há ingressos para Beyoncé; Iced Earth se apresenta na mesma noite". Levando em conta que o público da maior diva da América nos últimos anos é o mesmo do Iced Earth, essa notícia deve ter esfarelado cérebros a granel. A dor da dúvida deve ser lancinante.

Não dói mais, porém, do que descobrir que, além de acabar com o AC/DC há quase 30 anos, Brian Johnson é tão complexado que acha que artistas não devem conscientizar seu público. Como eu suspeitava, o mundo está mesmo dominado por cavalheiros e doutores, além de roqueiros super aptos para falar em público.

Onze e treze. Desisti. 04/02/2010 não vem sendo um dia bom para blogs. Melhor parar. Se não, o próximo passo é analisar o BBB como um troço muito sério. Aí, como diria Caco Antibes, não há mais degraus a descer.

Tuesday, February 02, 2010

Grama Praiana

A idéia agora é atualizar o blog todo dia. Com isso, não só textos e análises rocambólicas serão postadas por aqui. O que eu quero mesmo é que você escute um monte de música, por isso inauguro hoje a sessão de playlist, aproveitando que conheci o tal do Grooveshark (grazie, Elson).

O critério para a lista temática de hoje é um monte de som brisante que você gostaria de escutar na praia, chapado de cerveja, camarão e queijinho com os amigos. Divirta-se.



Link direto.

Monday, February 01, 2010

A cigarra Kashmir e a formiga Mew

Mesmo que eu tente ser o mais racional possível, a música ainda é capaz de me impor certas sensações que, tivesse eu um pouco mais de juízo, seriam evitadas a todo custo, combatidas até. Mas a gente não foge, aceita, gosta até.

Exemplo claro, para mim: gostar da banda dinamarquesa Kashmir. Que justo eu, o arrogante e auto-intitulado arauto do bom gosto, da sinceridade musical, da identidade, goste tanto de uma banda tão sem personalidade é um mistério daqueles. Ainda mais porque desta vez eles foram longe demais.

Kashmir

Veja se isso não te causa indignação: são quatro músicos; um deles é o maior poeta vivo e um dos maiores guitarristas da Dinamarca, outro fez belas linhas de baixo e backing vocals ao longo dos 18 anos de banda, o terceiro é um baterista conceituado de funk e jazz e possui um molejo de dar inveja, enquanto o último entende o suficiente de música e produção musical para alavancar qualquer banda. Eles gravaram seu disco novo no Electric Lady, o estúdio do Jimi Hendrix. Além disso, foram produzidos por Andy Wallace (Nevermind, Reign in Blood, Grace) e tiveram um hiato de quatro anos e meio para preparar seu novo trabalho. Mesmo assim, pela quinta vez em suas carreiras, lançam um registro chupado de algum lugar.

Trespassers soa estranho para quem esperou de outubro de 2005 até hoje, porque justamente em outubro de 2005 o Kashmir mostrava ao mundo seu álbum com mais personalidade, No Balance Palace. Meia década mais experientes, era de se esperar que Kasper Eistrup e seus comparsas amplificassem a aventura do último disco em direção à perfeição, salpicada de novas influências e idéias.

As novas influências até estão ali, mas a (já exaustivamente repetida por aqui) personalidade não. Trespassers, na verdade, é um exercício de síntese/amálgama de tudo que tem influenciado as bandas indie que estouraram justamente nos últimos cinco anos. Algumas delas até chegaram ao estrelato total, como o Coldplay. Você ouve um pouco de pós punk, de shoegazer, de U2 no novo disco do Kashmir, coexistindo da mesma forma como coexistem nos inúmeros discos hypes que você escutou nos últimos tempos.

Como não me interesso nem um pouco por esses estilos, tudo isso poderia ter passado despercebido por mim. Só que o destino é traiçoeiro e, alguns dias atrás, ao chegar de volta a São Paulo, recebi uma encomenda da Dinamarca com o mais recente lançamento do Mew. No More Stories... é competentíssimo em reunir todas essas influências supracitadas e em fundi-las com um som próprio que consagrou a banda desde o sucesso Frengers, de 2003.

Alguns maneirismos deles chegam a irritar (como disse um crítico da Slant Magazine, a banda não é reflexiva e inventiva como pensa, mas sua convicção é inspiradora), mas é absolutamente inegável que Mew soa sempre como Mew.

Mew

Apelando para a analogia com a fábula, é como se o Mew fosse a formiga e o Kashmir a cigarra. Os primeiros, infinitamente menos talentosos - o que não é nenhum demérito, uma vez que a maioria dos seres humanos me parece menos talentosa do que os integrantes do Kashmir - seguem com sua fervorosidade quase religiosa, lançando álbuns a cada dois anos, procurando refinar seu som e torná-lo uma marca registrada sem descambar para o lugar comum.

Já a cigarra deita apoiada em seu talento e parece escolher a dedo, depois de intervalos preguiçosos de três ou quatro anos, o som mais apropriado para tornar grande seu próximo disco - no passado, elegeram o Pearl Jam e o Radiohead e desta vez, o Coldplay e o próprio Mew, que é, atualmente, a banda dinamarquesa de maior sucesso internacional. Longe de mim afirmar qualquer coisa (me identifico melhor com a especulação desleal!), mas a obsessão pelo sucesso do Kashmir mira alvos tão óbvios que parece totalmente deliberada.

Ainda assim, numa dessas peculiaridades pessoais impostas a nós pela música, tão irascível e teimosa, cometi o crime de preferir o álbum da cigarra. Trespassers possui um clima de desolação árida que toca meu coração de uma forma engraçada. Mais que isso, seja como for, minha história com o Kashmir irá me perseguir para sempre, a identificação com a banda nunca vai deixar de existir.

Acontece que o mundo não é regido pelas minhas preferências e um questionamento muito pertinente que você pode fazer é: quem é mais conhecido fora dos limites da pequena Dinamarca? Quem estará no festival de Coachella junto de Faith No More, Sly and The Family Stones, Thom Yorke, LCD Soundsystem e Them Crooked Vultures?

Pois é. Como não poderia deixar de ser, a fábula estava certa.

 
Clicky Web Analytics