Comecei a escrever uma coluna num jornal de Indaiatuba, a Tribuna de Indaiá. Aí que tinha escrito este texto sobre a Maria do Céu, mas acabou não vingando. Publico aqui porque achei que ficou legal e merece ver a luz do dia. Mas como quem lê a coluna a princípio não lê o blog, tem muita coisa que eu já falei aqui, alguns conceitos e tal. Quem leu a coluna e veio parar no blog provavelmente vai notar semelhanças com o texto do último sábado, porque era uma adaptação mesmo, com foco maior na Céu. Era um dos dois que sairia.
Divirtam-se.
No ano passado, ela plantou a semente: seu segundo álbum, Vagarosa, foi aclamado pela crítica (foi o melhor disco nacional segundo a Rolling Stone) e teve vendas impressionantes no mundo todo (por exemplo, alcançou o primeiro lugar na parada européia de World Music). Agora, colhe os frutos. Por enquanto, já está confirmada em dois dos maiores festivais do hemisfério norte (Coachella, na Califórnia e Roskilde, na Dinamarca) e teve o maior público do festival Rec Beat, em pleno Carnaval recifense, além de frequentemente lotar suas apresentações no eixo Rio-São Paulo. Obviamente, presumimos que muito mais está por vir.
O sucesso extraordinário de uma cantora independente brasileira pode parecer um acontecimento isolado que dificilmente se repetirá, mas há dois fatores determinantes em que o sucesso da Céu se baseia – e que podem significar o caminho das pedras para futuros êxitos da nossa música independente.
Primeiro fator: Vagarosa é um disco primoroso, daqueles que acontecem apenas uma ou duas vezes na vida do artista, em que todo elemento se encaixa magistralmente, num registro pop perfeito. Céu é a antítese da cantora turrona de MPB, daquelas que sentam num banco alto de bar e mandam uma “Detalhes” boladona. Na verdade, ela representa a menina que escuta reggae, dub, samba e gosta de caçar vinis numa feira hippie. E tudo isso é representado no seu som, malemolente, esperto e muitas vezes sexy.
Segundo fator: A valorização de Céu é apenas a ponta de um iceberg muito maior do que se imagina. Ela faz parte de uma rede de colaborações e parcerias que envolve músicos incríveis, como Curumin, Wado, Emicida, Orquestra Imperial, Cidadão Instigado, Guizado e muitos outros. Juntos, formam uma cena que tem tudo para revolucionar a nossa música, há tanto tempo estacionada, burocrática.
Acredito piamente que teremos um ano crucial para essa revolução da música nacional. Por isso, brindo à Céu, que começa a abrir o caminho. A garrafa, no entanto, espero que seja dividida com muito mais gente.