Uma entrevista para a tribuna. Fala um pouco da minha cidade, Indaiatuba, mas é interessante notar como essa situação é recorrente na maioria dos municípios pequenos aqui do Brasil.
Quando ouvi falar no Luiz Freitas, através de um amigo em comum (e sócio dele na Sinewave Records) quase caí pra trás. Mentira. Mas achei insólito e bastante surpreendente que houvesse em Indaiatuba alguém interessado em post rock. Mais: que tivesse uma banda do estilo. Claro, num lugar com quase 200 mil habitantes, é bastante provável que haja pelo menos um ou dois gatos pingados interessados em manifestações culturais obscuras como post rock. Mesmo assim, fiquei de cara.
O post rock, diga-se, é um movimento musical bastante novo, que mistura ambientes sonoros atmosféricos, sentimentos íntimos e guitarra distorcida. Pode ser que você conheça algumas canções do álbum Agætis Byrjun, da banda islandesa Sigur Rós, pelo filme Vanilla Sky, de 2001. Na minha humilde opinião, de leigo, trata-se do grande disco do pós roque. Três conjuntos legais para ir atrás: Godspeed You! Black Emperor, Mogwai, Explosions in the Sky.
A necessidade desse parágrafo explicativo vem da falta de intimidade do público com o estilo. Por causa disso, o Luiz, juntamente com seu sócio, o Elson Barbosa, fundou a Sinewave Records. Trata-se de um selo online que promove e lança, por meio de downloads gratuitos, discos de bandas brasileiras de post rock. O Luiz também tinha a sua banda, o Gray Strawberries, que acabou recentemente. Como todo moleque um pouco diferente do circuitinho Zoff-JC que passou sua adolescência em Indaiatuba, ele vê um monte de problemas nas opções de diversão da cidade. Falamos um pouco sobre esses assuntos, dá uma olhada.
Fala um pouco da Sinewave para começar.
A Sinewave surgiu duma idéia minha e do Elson quando a gente viu que não tinhamos o devido espaço na mídia, lugares pra tocar, porque não tinhamos os contatos, a repercussão, experiência necessária. Vendo iniciativas feitas "de banda pra banda", como a Constellation Records e o ATP, a gente, já que não tinhamos um selo, um site de notícias falando da gente, lugar pra tocar, etc, decidiu ser o selo, o site, o festival. Diante das dificuldades de ser um tipo de música nada popular, creio que os resultados são bastante satisfatórios. É visível que todas as bandas melhoraram depois da iniciativa nossa. Tá longe de ser algo reconhecido e famoso, mas é muito legal ver que essas bandas todas agora têm uma perspectiva, o que antes não era tão fácil
Você acha que ir por esse caminho de nichos mais bem definidos é o futuro da música independente brasileira?
Depende da situação. Por exemplo, para nós, é melhor aglutinar bandas que sejam parecidas, com o mesmo estilo. Porque da nossa experiência percebemos que a situação que ocorria era que muitas vezes essas bandas, no começo de carreira, não conseguiam shows num lugar legal, e aí tinham que tocar com bandas de hardcore, metal, coisas que não tinham nada a ver com a gente. O cenário musical independente está muito no começo. A gente não tem público formado. Não dá para esperar que mais pessoas gostem sem mostrar pra um pessoal novo, diferente. Hoje a gente já pensa numa correção de rota, se envolver com um pessoal que não faz um som tão parecido, já aceitamos bandas que não são tão post-rock assim. Em resposta à sua pergunta, acho que sim. Que hoje, na maioria dos festivais, selos, as bandas não são escolhidas por estilo, por genero. Elas são escolhidas por vários fatores que não a música que fazem. Acho que deveria se dar mais valor ao tipo de som que as pessoas fazem, mas não segregar totalmente e virar gueto. Afinal, precisamos de muito mais gente para termos um público grande o suficiente pra música independente ser um negócio rentável
Quando me falaram de você, fiquei bastante surpreso que houvesse uma banda de post rock em Indaiatuba, o que dá uma idéia de como a cultura na cidade parece linear, pouco ousada. Qual o motivo pra isso, na sua opinião?
O que pesa contra é o fato de sermos uma cidade muito rica e relativamente nova. Essas coisas deveriam ajudar a cidade a ser, como tu disse, mais ousada. Essa reclamação a respeito de cultura é clássica em Indaiatuba. Lembro que desde que eu era criança, se reclamava de que Salto tinha um teatro, e Indaiatuba não, mesmo sendo muito maior. O tempo passou, construiram o CIAEI e um auditório legal lá, e, pelo menos enquanto eu morava lá, rolavam as peças, eventos, e pouca gente tomava conhecimento e ninguém ia.
E como atrair o interesse das pessoas? E o que falta pra quem já está interessado?
Não sei. Mesmo. Musicalmente falando, seria legal se alguma banda da cidade se destacasse, isso puxaria outras, querendo repetir o mesmo caminho. Poderia até sido a gente, isso talvez resolveria a questão da iniciativa. Em outros setores, como teatro, e cinema, não sei. Mas, pelo que via quando fui embora, e pelo que leio nos jornais e fico sabendo, a coisa melhorou nos últimos anos, até pelo crescimento economico e populacional da cidade. Acho que também é uma questão de tempo.