Saturday, November 12, 2011

SWU

Texto que eu mandei na Mixmag no ano passado, depois do SWU. Como estou saindo daqui a pouco para a edição 2011 (que line-up maravilhoso!), achei bonito compartilhar.

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No último dia do SWU, eu pude ver o futuro. Não tem a ver com uma população mais consciente num mundo sustentável (lá dentro do SWU, todas as coisas sustentáveis funcionavam muito bem, mas pareciam irreais; era como um parque de diversões ou um mundo dentro de uma propaganda de achocolatado). Não. Minha visão começou num Max Cavalera gordo, envelhecido, mas ainda brutal. Passou por um BNegão cada vez mais soulman e menos rapper. Chegou num Josh Homme barbado quase Jeff Bridges em Coração Louco. O futuro que eu antevi tem velhos com dreadlocks, tatuagens, guitarras afinadas em dó, samples e consumo de drogas. É verdade, crianças, a próxima geração terá nos idosos boludos sua fundação. Seja ela sustentável ou não, será muito mais legal do que os politicamente corretos anos 00. (Ainda assim, pessoalmente, acho que fiquei velho um pouco cedo demais. Da próxima vez, vou pensar muito bem antes de enfrentar a muvuca de um grande festival.)

Sobre a ocupação na USP (tomei a liberdade)

Prova que blog já era, coloquei esse texto como nota no Facebook e tive muito mais feedback do que qualquer outro post daqui dos últimos, sei lá, 3 anos. Mas negligenciar meu bom e velho endereço na interweb? Qual a chance?

Reproduzo abaixo, portanto.

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Pensei, pensei e pensei (a ponto de perder o timing perfeito) e cheguei a uma conclusão, coisa que sentia que precisava fazer. A ela, sem muitos rodeios: sou totalmente a favor da ocupação da reitoria da USP pelos alunos.

Mais do que argumentos a favor, há argumentos contra os dois lados: maconheiro tomando enquadro não deveria ser motivo suficiente para engatilhar uma revolução; a polícia está lá mas os assaltos, estupros e traficantes continuam; o discurso dos alunos estava mal fundamentado e as festinhas realmente vieram na pior hora possível; Rodas e sua administração representam o que há de mais kassabista, serrista e vejista no mundo (e no meu mundinho ideal, até a extrema direita deveria perceber como isso é cancerígeno); etecetera.

Mas dois fatores essenciais me fizeram perceber que relevar as falhas grotescas dos estudantes é o mais sensato a se fazer neste momento. Primeiro: a truculência da PM, uma organização corrupta e terrorista que só faz valer seu poder ante os mais fracos - jovens desarmados, maconheiros chapados demais para protestar, gente pobre, feia e desinformada e inimigos do "sistema" em geral - e aproveitou a fragilidade do movimento de ocupação e uma decisão da justiça para colocar em prática, mais uma vez, seus métodos escrotos.

E em segundo lugar, o que considero ainda mais importante, o rebu todo na USP está diretamente relacionado a tudo o que vem acontecendo no mundo durante este ano marcante. Primavera árabe, revoltas na Inglaterra, Occupy Wall Street e o que mais eu estiver esquecendo. Diferentes reivindicações em locais e culturas distintas, é claro, mas todas relacionadas ao finalzinho amargo de um sistema que funcionou por muito tempo como um programa da Microsoft: bem apresentado, limpinho, mas salpicado de probleminhas recorrentes.

Em novembro de 2011 as reivindicações em si importam menos, o grande lance é aporrinhar até o limite todos os filhos da puta que estão tornando nossa vida um lixo e esfregar na cara do mundo como tudo está podre, podre, podre. É nossa missão lutar contra os patrões que impõem um empreguinho de merda como ponto central da nossa vida, os outros que não querem nos dar trabalho por causa do nosso estilo de vida ou nossa cara e os responsáveis por transformar nossa vida num tédio caro e precário.

Devemos brigar, com unhas, dentes, cotovelos e socos ingleses, contra os prefeitos eugenistas que tentam transformar as metrópoles em shopping centers de luxo, contra os leitores de revistinhas que repetem frases feitas e tiram sarro da doença dos outros, contra os desgraçados que apelam para o ódio quando não entendem algo novo. Em resumo, e acima de tudo, devemos lutar contra aqueles que querem impor a nós um estilo de vida que não concordamos.

Se ocupar uma reitoria de forma estabanada faz parte dessa luta, paciência. Pelo menos não estamos jogando bombas. Até porque nem precisamos. Historicamente está claro que o futuro atropela o passado e é isso que está sendo feito agora, diante de nossos olhos. Minha sugestão mais sincera aos retrógrados e reacionários: é melhor que pulem para a calçada.

 
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