Em 1969, quando Tony, Geezer, Bill e Ozzy escreveram Wicked World, muito provavelmente não pensavam em aviões enfiados
Hoje, as coisas parecem, justamente, e a palavra é essa, perversas. Não é só morrer. Estar num avião pilotado por um xiita louco significa deixar como legado da sua morte uma guerra no oriente e um pavor generalizado entre os seres humanos. Antes, pessoas eram mandadas pra guerra por causa da soberba dos reis, e presidentes e militares. Como é que eu vou dizer isso? Não é que suas mortes tinham menos significado, mas quando você vai pra guerra tem mais chances de morrer. Quer dizer, NÃO morrer é a exceção que comprova a regra. Agora, tudo é parte de um quebra cabeças funesto. Não é que você perece por fazer parte de uma inocente conspiração Rússia x EUA, ou porque um maníaco resolveu atirar na sua cabeça. Você morre engolido por um buraco que aparece por baixo do asfalto, quando o engenheiro que projetou a obra tinha sido contratado pelo estado, com toda a tecnologia e know-how ao seu dispor. Sinal dos tempos, as mortes ficam ainda mais tolas e quem está vivo fica, assim como eu, achando que a Guerra Fria, que aterrorizou tanta gente por 40 anos, é brincadeira de criança.
Essa tragédia com o avião E prédio da TAM (que macabro!) pegou no fundo do meu estômago. Foi o que abriu meus olhos pra essa brutalidade do mundo. No momento que o acidente aconteceu, eu estava no carro, com a minha mãe, indo para São Paulo. Minutos depois, alheios, recebemos uma ligação da minha avó, contando o que aconteceu e falando para evitarmos os arredores do aeroporto. Depois, meu pai. Ele já adiantou, antes que precisássemos ver na TV, aquele lance das ranhuras na pista. Esqueceram de colocar as ranhuras aderentes, para dias chuvosos, na pista auxiliar do Aeroporto de Congonhas, reformada única e exclusivamente para desafogar a pista principal e aquietar, na medida do possível, o caos dos controladores de vôo que vem incomodando o país há alguns meses. Quer dizer, pros políticos, pra Infraero, o importante era jogar o pepino pra algum outro otário. Quiseram solucionar o problema do céu (e bem mal solucionado) sem pensar que na aterrissagem, talvez, alguns 186 filhos-da-puta azarados pudessem morrer. Deus abençoe esses políticos! Pode ser que a causa do acidente nem tenha sido ESSA negligência e pode até ser que tenha sido uma cagada do piloto ou um problema mecânico, mas só o levantamento da questão, a menor possibilidade disso ter acontecido, já corrobora a hipótese. Percebe a ironia? Por causa de um caos aéreo que começou depois das investigações acerca de um acidente horrível, outro acontece, e ainda mais trágico, no meio de uma cidade gigante, acertando um prédio e matando mais umas pessoas que nem sonhavam em pegar um avião. Pra piorar, aconteceu no solo, onde deveria ser seguro. Recentemente, eu andei de avião. Por mais confiante e ciente das estatísticas aéreas (é mais fácil você ficar tetraplégico num acidente de carro do que morrer voando pelo céu) que você possa ser, sempre sente algum alívio quando as rodas tocam o chão. “Agora não tem mais como dar zica”. Então, quão cruel é ser arremessado contra um bloco de concreto segundos depois de sentir esse alívio, esse aconchego quase maternal? Quão cruel é ser acertado por um avião desgovernado quando se pensa estar seguro, em terra, protegido por paredes grossas de concreto?
Muitas coisas mudaram desde que Wicked World foi escrita. Mas talvez a principal seja que os políticos não escolhem mais quem vai “sair e morrer” (A politician’s job they say is very high, ‘cos he has to say who’s gonna go out and die), só preparam as armadilhas.
5 comments:
quem será o otário que eles vão culpar dessa vez?
Foda, Pedrim.
O melhor post de todos já realizados.
Gratoeumbeijo.
isso porque você ainda não ouviu Astral Weeks do Morrison, que medo.
A culpa foi do piloto! O bundão se esqueceu de desativar a turbina que tinha defeito no reverso e não procurou arremeter enquanto era tempo.
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