Ou "Como eu sou desocupado pra caralho!". Ou ainda "Como, mesmo sendo leigo em jornalismo e inventando um personagem, é fácil fazer uma matéria igualzinha àquelas da Rolling Stone". Espero que gostem ou leiam inteiro. Não precisa os dois.
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Estou sentado num confortável sofá de oncinha, situado no meio de uma sala ampla. Espelhos, uma televisão de plasma, muitos DVDs, um tapete de pele de urso polar (real, dizem) completam uma visão mais geral do recinto. No hall de entrada, numa inscrição em diamantes, se lê o nome do dono da casa: “Miojinho”.
À primeira vista, pode parecer brega, e certamente é, mas não se pode subestimar a força do nome de Miojinho na indústria fonográfica brasileira. Após vender mais de dois milhões de CDs originais em tempos de pirataria intensa, não há realmente muita coisa que Uélito de Souza Borges não possa ousar. No ano passado, lotou dois shows no Maracanã, em que metade do repertório era constituído de músicas de seu novo álbum, “Paixão Quente”, à época, ainda inacabado. Mesmo sem conhecer todas as músicas, o público, constituído predominantemente pelas classes C e D, aplaudiu de forma quase unânime.
Ao chegarmos para a entrevista e sessão de fotos, Miojinho está nos esperando com um sorriso, uma garrafa de uísque 12 anos e uma de suas famosas histórias para descontrair.
“Uma vez, quando ainda era adolescente, eu estava com uma minazinha. O tipo de menina que eu gostava. Coxas grossas, bunda arrebitada, uma beleza. Nós acabamos indo pra cama, como eu queria. Quem é que sai com uma garota se não vai pra cama com ela? Tiramos a roupa e tudo o mais, e eu comecei a bombar”. Ele beberica seu uísque e continua. “Depois de algum tempo, eu comecei a estranhar, porque a menina não falava nada. Fiquei encucado, mas continuei, até ela dizer, assim, de repente, ‘mete mais forte!’. A gente pensa que está fazendo um bom trabalho e não está, às vezes. Mas foi bom, porque ela foi sincera, e comecei a meter mais forte. Cinco minutos depois, ela repete. ‘Mete mais forte!’, grita a desgraçada. Meti mais forte, mais e mais forte. Mas ela continuou a repetir, sem parar. Eu já estava todo suado, esfolando meu pau, sem conseguir gozar porque estava muito nervoso com todo aquele ‘mais forte!’. Até que eu resolvi parar. A garota tinha um olhar fixo, a boca dela ficava mexendo. Falei pra ela que ia levar ela para casa, ela não respondeu. Daí tentei ajudar a garota a se vestir, mas ela estava com o corpo todo duro. Fiz o que qualquer um faria, deixei dinheiro pra ela pegar um táxi e zarpei. Nunca mais vi ela, mas soube que ela ficou bem. Ninguém sabe o que aconteceu”.
É assim que Uélito se apresenta, com irreverência, tranqüilidade e, claro, muita polêmica. O que, convenhamos, não parece fazer sentido em contraste com suas letras românticas, não muito diferentes do resto do pagode.
“No começo eu jogava o jogo, tentava falar um monte de coisa bonita, mas no fim das contas, não agüentei, acho que tenho uma personalidade forte. Mas meu público sabe diferenciar as coisas, mesmo com as coisas erradas que eu faço e falo, eu continuo tratando todo mundo bem, quando vêm pedir autógrafo, tirar foto... É diferente”.
Diferente é uma boa palavra para definir a trajetória de Uélito. Nascido em 1983 no bairro de Itaquera, localidade humilde na zona leste de São Paulo, viveu por lá até os treze anos, quando seu pai, um professor da rede pública, ganhou um prêmio na loteria. “Não foi uma bolada tipo 50 milhões, mas o velho montou na grana”, ele conta. Mudou-se para o bairro da Vila Mariana, e na escola nova, demorou a fazer amigos, brigou muito. Foi lá que recebeu o apelido de Miojinho, pois já descoloria os cabelos encaracolados naquele tempo. Surpreendeu-se quando viu que mesmo os garotos ricos escutavam o pagode que ele aprendera a gostar alguns anos antes. Quer dizer, em termos. “Nunca engoli esses pagodes de playboy, tipo Inimigos [da HP, conjunto de pagode universitário de São Paulo], e isso já estava começando naquela época”. Mas foi ali que Uélito afirma que percebeu a força comercial do pagode, que ele pensava se restringir às camadas mais pobres da população.
Depois de alguns problemas com os pais em São Paulo, mudou-se sozinho, em 2002, para a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Era ali que queria estar, na cidade de Jorge Aragão e Zeca Pagodinho. “Pensei até em mudar para Xerém, mas ia ficar um pouco longe de tudo”, ele ri. Logo que chegou à nova cidade, começou a compor algumas músicas e tocar com a banda Sem Maldade em bares e festas. Em 2003, conheceu o produtor Martinho Xavier, que o aconselhou a seguir em carreira solo como Miojinho.
O primeiro hit, “Meu Amor Não Tem Erro”, saiu em janeiro de 2004 e tocou sem parar nas rádios FM. O produtor garante que não houve nenhum tipo de incentivo da gravadora Som Livre ou jabá. “O cara tem talento mesmo, tem apelo comercial, nunca vi alguém tão diferenciado”. O álbum “Miojinho Só Pra Ti”, saiu em março do mesmo ano e estava recheado de hits, como “Volta Pra Mim” e “Canseira Sem Igual” que tocariam até o começo de 2005, mesmo ano em que fez uma parceria funk carioca com o MC Coração. A música “Dança da Boneca Inflável” foi seu maior hit até o momento. “Foi divertido gravar aquele funk. A letra é engraçada, diferente do que a gente geralmente faz e também gerou muito dinheiro e shows”, relembra.
Mais tarde, ainda em 2005, sua primeira polêmica. Depois de um show em um festival em Rio Branco, Acre, alguns membros de sua equipe se desentenderam com o agente de Bruno e Marrone. A confusão chegou até Miojinho e Marrone, que trocaram socos e pontapés, fato que foi amplamente explorado pela imprensa. Depois de algum tempo, reconciliaram-se ao vivo num programa de variedades. “Na verdade, nós fizemos as pazes bem antes, porque não tinha acontecido nada, uns socos, um empurra-empurra, mas tudo por causa de umas cervejas a mais na cabeça. Nenhum problema pessoal com ele”.
Impulsionado pela publicidade de seus hits e da polêmica com Marrone e pela gravação de um novo disco, Uélito começou a freqüentar o circuito de programas de auditório dominicais em meados de 2006. O apresentador Gugu Liberato até apareceu no primeiro clipe de seu segundo álbum, “Tô Com Fome de Você”. Faustão também elogia o pagodeiro. “É um artista exemplar, sempre que aparece no Domingão se porta muito bem e tem histórias muito boas pra contar. No ar ou em off”.
“É fácil lidar com Gugu, Faustão, Silvio Santos, Sônia Abrão, qualquer um desses”, Uélito explica, já abrindo a segunda garrafa de uísque, “você vai ao programa deles, e tem que dar ibope, tem que falar as coisas certas. Se você ajuda eles, eles te ajudam. Uma mão lava a outra”.
Depois de toda a publicidade gerada, o segundo disco, “Amor Sem Zoeira”, foi o que mais vendeu no ano de seu lançamento. Foi ali que Miojinho virou o que se pode chamar de pop star, pelo menos no sentido tupiniquim da coisa. Fechou uma das noites do Festival de Verão de Salvador, lotou todos os seus shows em São Paulo e Rio e chegou a tocara para a comunidade brasileira em Nova York. Além disso, a dupla francesa Daft Punk resolveu remixar, num arroubo de excentricidade, a faixa “Não Faz Assim, Pudinzinho”, do primeiro álbum. O remix ficou na obscuridade por algum tempo, mas em meados de 2007, tornou-se um hit nas pistas de São Paulo.
“Rapaz, achei aquilo muito esquisito. O pessoal da música eletrônica gostando, essa versão desses gringos... Mas gostei, nem cobrei direitos autorais, foi como uma homenagem”, pondera.
No auge, mais uma polêmica. Em agosto, Uélito teria dado em cima de Gracyanne Barbosa e insultado seu namorado, Belo, chamando-o de, segundo consta, “traficantezinho de merda”. Ele nega veementemente. “Imagina, cara! Sou casado, estava num momento super feliz, gravando meu CD, fazendo shows por aí. Além disso, nunca gostei de Soweto e não ando com esse povo das drogas”, alfineta. Um processo judicial ainda está em trâmite, mas Uélito se diz tranqüilo, e afirma que todas essas confusões não afetam em nada a marca Miojinho. “O povo quer saber da qualidade da música, da presença de palco, da simpatia do cantor. Essas picuinhas de gente menor, eles sabem diferenciar”.
O fim de 2007 viu, então, seu plano mais ambicioso: fazer o pré-lançamento de seu último álbum em pleno Maracanã, palco que havia abrigado artistas do quilate de Ivete Sangalo no ano anterior e The Police poucos dias antes (e Madonna no fim deste ano). O projeto era ousado, mas artista e produtores esperavam que uma superprodução hollywoodiana, as participações de Júnior Lima, Champignon (ex-Charlie Brown Jr, que está em todas, praticamente), Wanessa Camargo e MC Coração e, é claro, os hits fossem segurar o clima e lotar o estádio.
“Foi uma trabalheira do inferno. Eu até ajudei a montar o palco, pra você ver o tanto de trabalho que deu. Mas no fim, tudo funcionou”, ele recorda. De fato, o show foi um sucesso. Apesar de não ter tido liberado toda a capacidade do estádio, 60 mil pessoas por noite compraram todos os ingressos disponíveis. E ainda responderam bem às canções novas. “Tocamos umas cinco em cada noite, e a platéia gostou muito de ‘Enquanto Você Me Amar’”. O show ainda gera lucros ao músico, já que o DVD "Obrigado, Maraca!" acaba de chegar ao primeiro lugar das paradas em 10 estados.
Até onde Miojinho pode chegar? “Não sei. Vamos continuar trabalhando, eu, a banda, o Martinho Xavier... Pra que esse sucesso nunca acabe, não é? Tudo isso, esse sucesso, os fãs, as festas... Eu me sinto abençoado por Deus, mesmo. Vamos continuar trabalhando”, ele pondera, finalizando a terceira garrafa da noite.
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