Friday, December 05, 2008

Top 10 2008 - Os Discos

2008 foi uma merda para mim, na vida pessoal. Musicalmente, no entanto, não houve ano melhor nestas 19 primaveras. Mais do que descobrir bandas, abri minha cabeça para estilos. Conheci um monte de coisa nova, aprendi a dar valor a certas coisas e percebi o que é realmente ruim. O rock, que eu tanto gostava, ficou ainda melhor depois de aprender a respeitar o hip hop, por exemplo, que eu tanto menosprezava. Ao não depender de uma coisa só, você começa a filtrar o que de melhor há em cada uma. Fui muito, muito burro em não perceber isso antes, em demorar 18 anos e alguns (poucos, vai) meses para colocar toda essa coisa em prática. Música está acima de quase tudo, portanto é coisa de mãe-na-zona se limitar.

Além disso, fui nos melhores shows da vida neste ano. A temporada na Dinamarca ajudou, mas no Brasil também houve coisas muito boas, como Dan Deacon, Gogol Bordello, Black Mountain, REM e mesmo meu conterrâneo Curumin.

Para mim, os últimos 12 meses contaram com pelo menos 25 discos muito bons, e uns 5 não menos do que geniais. Até por isso, neste ano fiz uma lista com 20 títulos. Escrevo aqui sobre os 10 primeiros, mas não custa citar os outros. Compõe também meu top 20 os discos novos de:

Sigur Rós, The Last Shadow Puppets, The Raconteurs, Black Mountain, Turbo Trio, Wado, Isobel Campbell & Mark Lanegan, Brant Bjork, The Streets e Duffy.

Agora, o top 10, pra comentar na escola e parecer bacana:


10. The Bug – London Zoo
Na real, o décimo lugar foi praticamente um empate técnico entre este do Bug, o quinto do Sigur Rós e o Last Shadow Puppets. Pessoalmente, escolhi o primeiro por ser a representação do quanto meu gosto musical mudou, e o quanto isso foi positivo. Em favor da música, posso dizer que o trabalho do DJ inglês Kevin Martin é dubstep grave pra caralho, com o baixo clipando, perfeito pra pista, ou estourando um, ou pra ouvir no ônibus lotado (principalmente as duas primeiras faixas, meio pessimistas, o que casa muito bem com um ônibus lotado, o mais próximo do inferno que chegamos no cotidiano). Poison Dart, com a MC jamaicana Warrior Queen, é uma das melhores músicas do ano.


9. N.E.R.D – Seeing Sounds

Bons produtores musicais, via de regra, são ecléticos. O N.E.R.D, de Pharell Williams, externa esse conceito básico quando mistura quase todo tipo de “música popular americana da segunda metade do século XX pra frente” (às vezes eu exagero?) em seus álbuns. No terceiro, encontra-se música para dançar tipo Spaz e Anti Matter, levadas pro hip hop como em Everyone Nose e Time for Some Action e até mesmo rock meio oitentista em Happy. Seeing Sounds, no fim das contas, é mais um expoente da época eclética e iconoclasta em que vivemos. E o nono lugar da lista anual de Jambo Ookamooga, a maior honra de todas.


8. Coldplay – Viva La Vida or Death and All His Friends
Coldplay era pra ser uma merda, certo? Uma banda meio sem graça, fresca, um U2 moderno... Viva La Vida foi um choque para mim, porque é na verdade muito, muito bom. Em geral, o estilo meloso das músicas é mantido, provando que as composições em si não eram ruins, mas sim os arranjos. Brian Eno teve uma participação fundamental, assim como os novos ritmos que ele deve ter apresentado a Chris Martin e sua turma. Provou que toda banda – até o Coldplay – tem chance de se redimir.



7. Apes & Androids – Blood Moon
Blood Moon é o tipo de disco que tem apelo com críticos e fãs. Com críticos por dar a eles a chance de desfilar seu formidável conhecimento enciclopédico apontando todas as dezenas de influências da banda, e com fãs por ser extremamente pop. É um pouco como o disco do N.E.R.D, com a diferença da porra-louquice, da juventude, que o Apes & Androids passa com a música. O segundo melhor début do ano.



6. Eagles of Death Metal – Heart On
Josh Homme é Deus. Qualquer dúvida que eu tivesse em relação a isso se dissipou com Heart On, por ser o melhor disco do EODM justamente quando Carlo Von Sexron/Baby Duck mais aparece. É claro que Jesse Hughes também é importantíssimo, principalmente por ser o único que parece conseguir extrair a veia humorísta de Josh num disco. Heart On, Cheap Thrills e Secret Plans, por exemplo, têm a identidade das águias, mas estão mais bem acabadas, com timbres de guitarra trabalhadinhos, o tipo de carinho que só o QotSA recebia.



5. Okkervil River – The Stand Ins

Em 2007, quando ouvi The Stage Names, foi como se uma luz brilhasse sobre minha cabeça. Por mais que todo mundo esteja fazendo esse som meio “Arcade Fire tocando Americana” (viajei demais?), ninguém o faz melhor que o Okkervil River. Não só isso, poucos têm a sagacidade das letras e perspectiva pop de Will Sheff. The Stand Ins é ainda melhor do que seu antecessor e faz pensar que é realmente uma pena que a banda só tenha recebido atenção quase dez anos após sua formação. Escute Pop Lie, Blue Tulip e In Tour With Zykos, no mínimo.



4. Kings of Leon – Only by The Night
Duas coisas me impressionaram nesse álbum, além do som em si. Das principais bandas indies-roqueiras do começo da década, Kings of Leon foi a primeira a chegar ao quarto álbum (Strokes, Interpol, Arcade Fire, Franz Ferdinand, The Killers, nenhuma chegou a essa marca). O outro aspecto admirável de Only By The Night é o fato de ele se mostrar muito mais maduro do que Because of the Times. Apontou que, mesmo depois das mudanças de som e estilo, os caipiras não se acomodaram, e continuam tentando fazer música cada vez melhor e melhor. Não dá pra partir pro clichê e dizer que “isso é raro hoje em dia”, mas entre bandas de rock indie, é raro, sim.


3. Curumin – Japan Pop Show
Luciano Nakata Albuquerque é um sujeito iluminado. É um dos caras mais sangue-bão da música brasileira, faz música boa para cacete e ainda conhece/trabalha com as pessoas mais legais do pop nacional. Além de tudo, mistura dub, samba, samba-rock, hip hop. E bem! Não só o melhor disco brasileiro do ano, Japan Pop Show é também o mais importante.



2. Yeasayer – All Hour Cymbals

Tem alguma coisa especial no Brooklyn. TV On The Radio, MGMT, Apes & Androids, Vampire Weekend… Todas essas bandas surgiram há pouco tempo na região, todas com uma veia “art rock”, todas muito legais... Mas nenhuma supera o álbum de estréia do Yeasayer, banda-irmã do mesmo lugar. Pelo menos no meu gosto, e eu nem tenho como explicar isso. Não sou muito fã de world music, corinhos hippies, e coisa do tipo, mas as canções do disco, todas muito boas, e as incursões eletrônicas criam um clima diferente. Eu não sou mais a mesma pessoa desde que ouvi No Need to Worry (sem brincadeira) e, como isto aqui é um blog pessoal, é motivo o suficiente para o Yeasayer estar na segunda e merecidíssima colocação do ano.


1. Gnarls Barkley – The Odd Couple
É a perfeição. Marcando o ano das misturas musicais (ou pelo menos, da descoberta delas por parte deste que vos escreve), a mais insana de todas. Danger Mouse é o maior produtor da atualidade e Cee-Lo o melhor cantor e um dos letristas mais sombrios. É notável como uma banda pop alcança tanto sucesso com letras tão pessimistas, carregadas, sofridas (Cee-Lo me lembra Tim Maia nesse aspecto, a do cantor extremamente talentoso, mas com sérios problemas de auto-estima por conta de sua aparência física). Danger Mouse faz as melhores bases instrumentais do mundo, com xilofones, sintetizadores, baterias e guitarras, ora mantendo o clima desesperado das letras, ora contrastando com elas, como que se manipulasse as emoções da música. Um exemplo da amálgama perfeita entre os dois é, também, o melhor momento musical (em álbum) do ano: a voz do cantor tornando-se, num ponto indefinido, uma motosserra em Would-Be Killer. Matador, mesmo.

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