O mais surpreendente dos shows do Radiohead no Brasil, para mim, não foi sua qualidade. Eu já tinha os visto no Roskilde Festival no ano passado e fiquei muito feliz em constatar que eles se esmeraram muito mais aqui na América Latina (a começar pelos setlists), mas já era esperado que fosse um show bom. É como se a banda não conseguisse fazer uma apresentação ruim, nem se quisesse – estão nitidamente presos à sua esquizofrenia musical, que transforma espasmos em entretenimento.
O que me espantou mesmo foi ver que se trata de uma banda, acima de tudo, de hits. Não é brincadeira o quanto as pessoas esperaram por Creep, No Surprises, Karma Police e pela música do Carlinhos, que faz aula de inglês (se bem que acho que hoje em dia ele já deve ter terminado o curso). Descobri também, que pra maioria do público, o Radiohead não começa em Kid A. Pra muitos, até termina. A julgar pela recepção do público às músicas do In Rainbows, além dos hits, é como se houvesse um buraco entre OK Computer e o disco das Casas Bahia.
Mesmo sendo indie o suficiente pra ter o Amnesiac como preferido, isso não me incomodou. Era nítido o quanto cada música de cada disco, no momento em que era executada, recebia o devido respeito e entusiasmo de uma platéia heterogênea - juro que cheguei a ver gente com abadá na Chácara do Jóquei -, fosse o silêncio reflexivo de Exit Music, a insanidade de National Anthem ou a beleza confusa de Climbing Up The Walls e How To Disappear Completely.
Dos shows em si, não adianta falar nada. Se você não estava lá em carne e osso, pelo menos já leu todos os reviews possíveis, tanto sobre o Rio quanto sobre São Paulo. Foram unânimes em constatar a qualidade técnica da banda e do palco (puta merda, e que palco lindo pra caralho!), os acertos do setlist, mencionando sempre os hits, e a esquisitice de Thom Yorke. Tudo verdade.
Me alegrou também ver um ou outro falando mal, já que toda a unanimidade é burra. Um conhecido meu disse que não se volta pro bis com música do disco novo e li por aí gente dizendo que o momento da banda já passou, além dos habituais comentários sarcásticos sobre a cabecice dos trabalhos pós OK Computer. Mission accomplished, Radiohead! Sério. O que essa gente não percebe é que o Radiohead não faz música pra eles. Quando Nick Hornby reclamou, lá por 2000/01, que eles não estavam fazendo música para homens que trabalham o dia inteiro e voltam pra casa cansados, estava coberto de razão.
A música pop pertence – e sempre pertenceu – à molecada e aos vagabundos, que têm tempo e disposição de entender um disco, uma tendência e evoluir junto de uma banda. Thom, Jonny, Phil, Ed e Colin sabem disso e quando mandam, noite após noite, uma música desconexa e “nem-tão-boa” como The Gloaming, estão dizendo “nosso momento de maior êxito pode até ter sido no fim da década de 90, mas nós não somos o Kiss. Não espere a OK Computer 10 years tour”.
Um show, acima de tudo, é performance, vontade. Se Jonny Greenwood vai dar seu melhor brincando com samples ajoelhado no chão, porque deveria empunhar uma guitarra e tocar uma música antiga apenas pra agradar os velhos que acham que o pop tem fórmula tipo “não se toca música nova no bis”? Se eles fossem assim, teriam feito o que fizeram pra lançar o último álbum?
O festival Just a Fest foi uma vitória do novo, pois reuniu Los Hermanos voltando sem quase nenhum sentido e aviso prévio, claramente só pela grana e pela publicidade, Kraftwerk desfalcado, mas impecável, e uma banda-catarse que levou 30 mil indivíduos à loucura com música eletrônica cabeça e esquisitice quase progressiva (além de alguns hits, é claro). É derrota demais pra quem acha que música tem que fazer sentido em pleno 2009.
Da minha parte, fiquei feliz porque vi três bandas que eu gosto fazendo seis shows bons ou sensacionais. No fim, é o que importa pra quem gosta de música, não é mesmo?
Tuesday, March 24, 2009
Radiohead/Just a Fest - 20 e 22 de Março
Postado por Jambo Ookamooga às 1:53 PM
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2 comments:
é, eu sabia que seu texto não iria me desapontar!
"eles não estavam fazendo música para homens que trabalham o dia inteiro e voltam pra casa cansados (...)A música pop pertence – e sempre pertenceu – à molecada e aos vagabundos, que têm tempo e disposição de entender um disco"
isso me fez pensar...
acho q é verdade!
eu espero nunca perder este espirito q pertence 'a molecada e aos vagabundos'.
Não só se tratando de musica, como também dos padrões da sociedade.
Acho tão careta e hipócrita os padrões de uma sociedade 'normal'.
Que considera normal viver apenas para trabalhar e voltar no final do dia para casa, cansado...e assim finalizar o dia, o mês, o ano...e a vida.
enfim, radiohead foi foda. Foi mágico e único. Uma energia como jamais senti.
Nunca foi tão dificil viver os dias seguintes de um show como esta sendo agora.
alguma coisa na minha vida mudou no exato momento em que eles subiram ao palco.
ps. que que foi kraft???
não tinha NOÇÃO do quanto maravilhoso seria!
Tento voltar cada segundo nas minhas lembranças para tentar reviver aquela sensação...
um dia único, que marcou a minha vida como nenhum outro dia vai marcar!
Entao eu quero ser moleca e vagabunda sempre, pra ouvir, sentir, me emocionar, ficar feliz ao ter contato com uma boa música. E acima de tudo nao me prender a rótulos como os q permeam o Radio: música pra depressivo-suicida, o tempo deles acabou depois do Ok Computer e outras bobagens do gênero.
E se tivesse um terceiro show em sp teria visto!
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