Sunday, January 10, 2010

12 Horas

4 anos escrevendo aqui. Que merda de desocupado eu sou.

Enfim, aniversário e quem ganha o presente é você. Escrevi esse continho dia desses. Não está lá muito bom, eu não tenho lá muito estilo, mas é o que tem. Beijo.

***

Nove e trinta e três. Ela me perguntou onde estava o escorredor de macarrão. Pro inferno, eu disse, nem sabia que nós tínhamos um! Foi a gota d’água para mim, peguei o carro e fui embora. Parece pouca bosta, mas nós estávamos brigando e toda vez que ela decidia fingir uma personalidade passiva-agressiva, eu estourava.

E eu estava errado. Na maioria das vezes estou errado, demora menos de 5 minutos para eu perceber que estou falando asneira e que não poderia estar mais equivocado. Só que, uma vez engajado na discussão, agarrado pela necessidade de sair por cima, não posso desistir. Ela sabe disso e desiste primeiro, pergunta sobre escorredores de macarrão, revistas e se vai chover, deliberadamente, como se nada estivesse acontecendo. Maldita, me tira do sério.

Normalmente, demoro os mesmos 5 minutos para deixar para lá. A esta altura, o normal era já ter voltado pra casa, olhar sereno, quase achando graça. Já teve até vez que voltei com flores, que me renderam uma trepada de reconciliação bastante proveitosa. Dessa vez, no entanto, um rancor esquisito tomou conta de mim. Sempre tive medo de rancor, não queria ficar como meus pais, que faziam uma briga durar um mês, que estavam sempre remoendo suas raivas e arrependimentos. Mesmo assim, continuei dirigindo até o outro lado da cidade. Parei numa loja de conveniência e comprei o diário de esportes. Pouco mais de um real por notícias que eu já tinha lido mais cedo. É a força do hábito ou é burrice?

Tanto faz, parei no bar e pedi uma Brahma. Podia com Bohemia, Original, mas algo me dizia que era dia de Brahma. Depois dessa primeira, vieram a segunda, a terceira e a quarta, todas de 600ml. Meia noite e dezessete ela me ligou. Não discuti, disse que estava bem e que não sabia que horas ia voltar. Disse também que não tinha ido pro puteiro (achei um absurdo que desconfiasse disso, não fazia meu estilo ir pro puteiro de birrinha - ainda que já tivesse dado minhas escapadas antes), mas que se ela continuasse a encher o saco, eu pegava e ia pra zona. Monte de bravatas, ainda sou imaturo o suficiente para esse tipo de coisa.

Não sei por que brigamos tanto. Quando a conheci, me pareceu a mulher mais bonita que eu já tinha visto e falávamos e queríamos e queríamos falar das mesmas coisas. Depois deu tudo meio errado, era compatibilidade demais, talvez. Ou talvez tenham sido as barrigas. Deus – nós éramos tão mais bonitos antes! No caso dela, pode ter sido a bebê. As mulheres ficam lindas depois de virarem mães... mas ela nunca emagreceu. Acho que é um tipo de futilidade da alma, mas todo mundo quer uma miss mundo ou um mister universo. A verdade definitiva sobre a humanidade? Nós sempre nos achamos grande coisa.

Claro que não foi só isso. Foi o emprego dela, e o meu também, as discordâncias em relação à bebê, meus amigos grosseiros. Enfim. Depois cansei de beber. Não vejo graça em beber sozinho, nem acho bonito ser alcoólatra. Paguei a conta, saí, duas e cinqüenta. Hora de voltar para casa. Elas já estariam dormindo. Mas não parecia certo. Andei pela rua, voltei para o carro, bêbado, mas consciente, em totais condições de guiar. No final, dirigi até o porto e parei. Acabei dormindo e acordei com a buzina.

Nove e quinze. Ninguém veio encher meu saco. Também, era domingo e o porto estava vazio. Morar “perto do mar” foi idéia dela. Maldita. Nove e trinta e três. Trinta e dois anos. Cada vez menos cabelo. Ainda dentro do carro, lesado, um dos meus amigos grosseiros liga. Nove e meia não é hora de gente direita ligar, mas o bom senso inexiste. Me chamou para jogar bola. “Jogar bola”! Nesta idade! Sou muito moleque mesmo. Aceitei, porque a ressaca hoje é piedosa (e parece que sempre foi assim). Voltei para casa, ela fingiria que não aconteceu nada. Almoçaríamos. Mais tarde, cerveja e futebol; a vida não estava ganha, mas quase.

1 comment:

Unknown said...

Muito bom, bro!
Keep on keepping on... Te dou toda a força!

 
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