Tuesday, May 18, 2010

John Frusciante

Mais um da Tribuna, já fazia tempo. Tchangas afuniladas são isso aí.

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No comecinho de abril, os ouvintes da rádio BBC 6 Music elegeram John Frusciante o melhor guitarrista dos últimos 30 anos. Sem dúvida, o ex- Red Hot Chili Peppers fez parte de uma das minhas bandas de rock favoritas e ele próprio, com seu trabalho solo, teve as manhas de fazer um dos 10 discos da minha vida. Mesmo assim, não acho que seja o mais importante desde 1980.

Basicamente porque Frusciante nunca foi especialmente imprescindível como guitarrista na sua própria banda. Antes dele, veio o finado Hillel Slovak, que praticamente criou a guitarra do funk rock e viria a inspirar seu sucessor, um fã antes mesmo de entrar para a banda. Mesmo quando largou os Chili Peppers no meio dos anos 90, Frusciante foi substituído com bastante maestria por Dave Navarro (e arrenego de quem afirma que One Hot Minute é o pior disco do conjunto).

Só que bróder: quem disse que um bom guitarrista só sabe tocar bem seu instrumento? Se no rock a figura do tocador de guitarra acabou associada a uma espécie de camisa 10, esperto é o músico que assume a tarefa com a cabeça erguida, olhando para o gol. Um exemplo legal é Jonny Greenwood, do Radiohead. Sem se limitar às seis cordas, Greenwood programa samples e batidas, arranja músicas, toca piano, sintetizadores e até uma espécie de rádio de pilha.

Já Frusciante é um artista mais, digamos, analógico. Se os Chili Peppers estouraram no mundo todo com Blood Sugar Sex Magik e depois tomaram conta dele com Californication, muito se deve à capacidade do guitarrista em criar melodias, backing vocals e adaptar seus maneirismos ao estilo pulsante e suingado da banda.

Fã de Jimi Hendrix, Frank Zappa, Marc Bolan, além de bandas punk, o nova-iorquino radicado na Califórnia chegou a estudar guitarra por um tempo numa das escolas mais renomadas dos Estados Unidos, mas largou o curso rapidamente. Aos quinze anos, Frusciante assistiu a um show de sua futura banda pela primeira vez e instantaneamente tornou-se fã. Pouco tempo depois aprendeu todas as músicas do grupo e impressionou os veteranos Anthony Kiedis e Flea, que o elegeram para substituir Hillel Slovak, morto em 1988 numa overdose de heroína.

Nos anos seguintes, John gravou Mother’s Milk e Blood Sugar Sex Magik com o Red Hot Chili Peppers, e o segundo foi um enorme sucesso. Cansado das turnês e do que a banda estava virando, ele resolveu jogar tudo para o alto e se demitiu. Essa fase coincidiu com o princípio de seu vício em heroína e nos anos seguintes, enquanto seus antigos companheiros gravavam One Hot Minute com Dave Navarro, Frusciante passou em casa, consumindo heroína e gravando discos terríveis. A nóia era tanta que ele perdeu todos os dentes e Smile From The Streets You Hold, seu segundo álbum solo, é um retrato fiel do que é o fundo do poço.

Em 1998, depois da saída de Navarro, John finalmente estava sóbrio e quis voltar para o Red Hot Chili Peppers. Do casamento renovado, veio Californication, seu maior sucesso comercial até o momento. É o trabalho mais “autoral” do guitarista com a banda, e é possível encontrar a primeira grande ruptura com o funk que vinham tocando havia 15 anos. Em 2002, lançaram By The Way e logo depois, Frusciante produziria sua obra-prima solo (e, como destacado anteriormente, um dos dez discos da vida deste colunista): Shadows Collide With People.

O álbum de 2004 soa como um suspiro aliviado, resignado de um ex-viciado com feridas ainda cicatrizando. Nosso “melhor guitarrista dos últimos 30 anos” mostra que é um cantor de primeiríssima linha – na realidade, muito melhor do que Anthony Kiedis – e ainda exibe habilidades como produtor musical, com umas pirações muito doidas entre as 17 faixas do disco. Ele ainda voltou para gravar Stadium Arcadium com os Chili Peppers, mas no fim do ano passado, deixou o conjunto.

Dito isso tudo, ainda tenho coragem de manter minha posição: John Frusciante não é o maior guitarrista dos últimos 30 anos. Mas isso não exclui o valor de um cara que desceu ao inferno e voltou, foi pivotal na confecção de dois dos trabalhos musicais de maior sucesso dos anos 90 e ainda fez um dos meus LPs favoritos. Tá bom ou quer mais?

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