Durante o feriado, enquanto espero pelo Grande Dia, resolvi reler meus mangás de Dragon Ball, que estão aqui na casa da minha mãe. Não sei dizer se Dragon Ball seguiu alguma coisa já existente ou se é o começo de tudo, mas definitivamente sua narrativa - tanto o ritmo quanto os clichês, que estão todos ali – segue o padrão clássico de quadrinhos da revista japonesa Shonen Jump.
Esse tipo de forma de contar uma história e agregar valor a seus personagens é uma coisa tipicamente japonesa. É um lugar comum que nem as novelas por aqui. Mas qualquer um que já tenha lido os quadrinhos ou assistido a desenhos como Naruto, Yuyu Hakusho e Cavaleiros do Zodíaco percebe um padrão.
Mais ou menos assim, geralmente há um personagem principal com características marcantes, alguma excentricidade e personalidade de líder. Conforme a história avança, o herói vai encontrando pessoas em diversas situações inusitadas, que geralmente só acontecem por causa de uma aventura ou por causa de uma busca. Um caso clássico e que ultrapassou as barreiras do interesse por quadrinhos e cultura japonesa é o de Pokémon. Na trama, Ash Ketchum vai conhecendo companheiros e antagonistas, cada um representando um tipo de pessoa no universo em que o mangá acontece. Seus pokémons meio que refletem ou completam suas personalidades e têm suas características peculiares também.
Nunca li um quadrinho sobre uma banda, mas acredito que se existir um e ele tiver esse ritmo de “busca” ou “aventura”, pode ser facilmente imaginado. Visualizo um vocalista-líder percebendo que só conseguirá tocar suas músicas da forma que elas devem ser tocadas se encontrar a banda perfeita. Para isso, ele embarca numa jornada pelo planeta atrás dos melhores músicos. O clichê indica que o percussionista seria um africano, que encarnou o espírito de Fela Kuti, o naipe de metais seria formados por músicos durões de New Orleans, etc etc etc. Chamo atenção para o hipotético guitarrista, um cara meio excêntrico e sombrio. Haveria também um músico extremamente leal e o “garoto”, aquele músico jovem e talentoso, mas ainda meio imaturo e a gente pode continuar nessa por horas.
Esse grupo dos mangás existe e tem nome: Dave Matthews Band. A incrível jornada do carismático Dave o levou a montar a banda “de músico” mais bem sucedida da nossa geração. Com seus poderes, os integrantes da orquestra tentam mudar o mundo através da música, sempre com muita personalidade e carisma. Durante sua turnê pelo mundo, Dave e sua turma encontram inimigos ardilosos, rivais honoráveis e aliados preciosos.
Ou quase isso. Sempre reservei um certo desprezo pela Dave Matthews Band sem saber por quê. Quer dizer, é uma puta música de bicha, de casalzinho em lua de mel e de casalzinho bicha em lua de mel. Normalmente ignoro esse tipo de caso, torcendo só para que apertem pause o mais rápido possível, mas desde o começo considerei silenciosamente o DMB a grande mancha negra no cast do SWU, pior que Jota Quest e Capital Inicial, muito pior do que Linkin Park, talvez só um pouco menos aceitável do que a hedionda Avenged Sevenfold. A birra foi se explicar só hoje há pouco, quando assisti à transmissão do seu show pela TV.
O grande problema é cada integrante parecer um personagem, um bravo guerreiro da música ocidental, guiado pelo seu líder cheio de empatia. Cada um desses músicos parece um boneco colecionável, com seu cabelo peculiar e sua técnica apurada. Quer dizer, chega um ponto em Dragon Ball em que os poderes dos personagens mais importantes é tanto que destruir o mundo é parte da rotina, é só mais um hematoma numa luta que vai para níveis não-terrenos. E os rapazes continuam super descolados!
A Dave Matthews Band esbarra nisso. A técnica de cada Davezette é tanta que nenhuma música parece complicada o suficiente. Mesmo assim, eles recusam a “tarefa” de tocar música erudita ou “punheta” que seu “ dom” impõe. Continuam fazendo música pop, vendável, sexy, compulsiva, sempre com um sorriso brilhoso. Tem o baterista rasta de camisa de time de futebol americano, o guitarrista com óculos vermelhos extravagantes e muitas caras e bocas durante o solo, o violinista com roupa de rapper e cabeleireiro do Djavan...
Todos eles aliens de diferentes planetas que nunca interagiriam se não fosse o carisma conciliador do Grande Dave. Eles parecem como Kuririn e Piccolo em Dragon Ball, Brock e Misty em Pokémon, Yahiko e Sanosuke em Samurai X (para ficarmos nos mais populares) e mais uma infinidade de personagens sem nada em comum de uma infinidade de mangás que nunca lemos.
Já passei da fase dos mangás. Com 14 anos, aquelas histórias pareciam geniais e originais, mas hoje em dia, consigo encontrar todas as repetições que eles trazem. Seja como for, ainda curto dar uma relida neles de vez em quando. O que não curto de jeito nenhum é ver esse tipo de narrativa parecer se repetir na música. Ainda mais sendo o personagem principal o boa-praça -coração-de-ouro Dave Matthews. A música pop só existe por causa dos anti-heróis.
Sunday, October 10, 2010
Dave Matthews e Sua Banda de Mangá
Postado por Jambo Ookamooga às 8:10 PM
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