É, mulambada: agora só coloco texto da coluna por aqui. Quem sabe em breve alguma outra coisa exclusiva pro blog. Mas por ora, vê se este te apetece.
(De quebra, tem um comentário sobre o show histórico que o Dulli fez com o Mark Lanegan aqui em São Paulo no ano passado, que eu pecaminosamente não resenhei no blog na época.)
É bem capaz que você nunca tenha ouvido falar nele. Normal. O cara jamais emplacou um hit significativo e suas bandas são sempre inconstantes demais, dando lugar a infinitos projetos. Além disso, Dulli desafina pra burro. Só que não existe outro que desafine com tanta sinceridade e emoção e é aí que ele faz bonito. Se você está mal, pode encontrar companhia na amargura do rapaz. Se estiver feliz, irá louvar suas melodias.
Vestido como Johnny Cash, por vezes esganiçado como Bob Dylan e bêbado como um gambá, Dulli faz música do fundo do coração há quase 20 anos. Seu primeiro conjunto, The Afghan Whigs – e eu podia parar o texto aqui: quem nomeia uma banda como “as perucas afegãs” é gênio e acabou – misturava o clima árido e agressivo do começo do grunge com a sensualidade do soul. As letras traduzem, com palavras chulas e berros doloridos, os desastres das relações adultas. Acurado pra caramba. O resultado disso é uma espécie de efeito Chico Buarque: em seu grupo restrito (porém fiel) de fãs, as mulheres babam pelo cara, que sorri com sua camisa preta semiaberta e um copo na mão.
Em 1994, fez parte da banda que recriou, para o filme Backbeat (Os Cinco Rapazes de Liverpool), o som dos Beatles quando eles ainda tocavam para platéias de turistas em Hamburgo. Junto a ele, estavam Mike Mills do REM, Dave Grohl do Nirvana, Thurston Moore do Sonic Youth e outros músicos-símbolo dos anos 90. Não seria a última participação de Dulli, que no ano seguinte figuraria como a única pessoa na gravação do primeiro álbum do Foo Fighters, além do próprio Dave Grohl. Sua parceria mais notável, no entanto, só foi acontecer em 2008, quando se juntou a Mark Lanegan (Screaming Trees e Queens of the Stone Age) e juntos criaram The Gutter Twins.
Antes disso, em 2000, Dulli lançou Twilight..., inaugurando o que se tornaria sua banda principal, Twilight Singers. E eu não sei porque o disco veio a aliviar minha fossa, tenho apenas hipóteses: pode ser a força das letras – a primeira frase é desoladora, “rock steady, baby, your man is dead” e a última é reconfortante, “everything is gonna be all right”; podem ser as batidas suingadas e remixadas pelo produtores Fila Brazillia; podem ser os arranjos constantemente belos; pode ser Clyde, uma das melhores músicas para fazer sexo já gravadas. Na verdade, é tudo isso, mais um fator importantíssimo: Twilight... mostra que há beleza e melodia mesmo na escuridão e te faz companhia até você sair dessa.
Anos depois, a voz enfumaçada, curtida no tabaco, de Lanegan caiu como uma luva tanto nos trabalhos prévios de Dulli quanto nos discos do Gutter Twins, Saturnalia e Adorata. Pode parecer pesado, e também irônico que eles se auto-intitulem os “irmãos da sarjeta”, mas também faz todo o sentido: a honestidade bêbada e sombria dos dois os faz tiozinhos manguaçados com muito a falar e pouco a explicar.
No ano passado, a dupla veio ao Brasil apresentar “Uma noite com Mark Lanegan e Greg Dulli”, onde tocaram versões acústicas de suas bandas e alguns covers. Consegui trocar uma idéia com ambos e agradeci Dulli pela corda de seu violão, que havia estourado durante a passagem de som (e um funcionário da casa de shows pegou e me deu). Tipo “você nem deve saber, mas valeu aí pela corda”. Ele não foi lá muito gentil, mas mesmo assim guardei a corda. Porque a sinceridade de Greg Dulli é comovente.
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