Wednesday, June 09, 2010

Gorillaz - Plastic Beach

Da Tribunation-tion. Engraçado que, apesar das críticas, que mantenho, tô considerando o plastic Beach o grande disco do ano até o momento. Recomendadíssimo.

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Quando morreu o rapper Guru, dia 19 de abril deste ano, foi com ele parte da história do hip hop. O alterego de Keith Elam foi um dos primeiros a incluir ritmos além do soul, do funk e da música eletrônica na mistura do estilo. Jazzmatazz Vol. 1, de 1993, como o nome sugere, coloca uma banda de jazz e alguns MCs no mesmo ambiente sonoro. O resultado é experimental, não se trata do melhor álbum de hip hop de todos os tempos, mas com ele, Guru mostrou o caminho do futuro.

A década passada foi para o hip hop o que foram os anos 70 para o rock. Depois de uma origem tímida na era de aquário, o movimento passou pela consolidação nos anos 80, pela sofisticação nos dez anos seguintes e pelo grande sucesso comercial nos 2000. Por conta desse êxito, apareceu muito lixo megalomaníaco, inflado pelo dinheiro inesgotável. Porém, com ele também veio respaldo artístico, a posibilidade de experimentar, procurar o som perfeito. Hoje em dia, o melhor tipo de hip hop existente é fruto dessas experiências, da mistura que DJs e MCs de gosto eclético injetam na sua música.

É aí que você entende a importância de Guru e é aí que entra o Gorillaz. Damon Albarn era o vocalista do Blur até que um dia se cansou de britpop e resolveu tentar algo novo. Se uniu ao cartunista Jamie Hewlett e, juntos, criaram uma banda-desenho-animado, com intergantes/personagens e tudo. Basicamente, o Gorillaz foi o primeiro conjunto musical “virtual” (ou digital, se preferir) e trouxe para a grande mídia o trabalho esquizofrênico e multifacetado do underground. Sendo o estúdio o principal instrumento do hip hop e da música eletrônica hoje em dia, é natural que num trabalho desse tipo apareçam símbolos dos ritmos favoritos do produtor em questão. Albarn gostou da idéia e cada disco do Gorillaz parece refletir sua coleção de LPs.

A banda é recheada de referências pop: desenho animado, grafitti, consumismo, multiculturalismo e, como não poderia deixar de ser, variadas linguagens musicais. Por cima de batidas sincopadas, tem rock, rap, soul, IDM (t.c.p. intelligent dance music, um tipo de música eletrônica calma e introspectiva) e até ritmos latinos. Entretanto, alguma coisa me parece errada com o mais recente disco da banda, aclamado pela crítica.

Plastic Beach tem seus bons momentos, mas não dá pra acreditar que são os quatro macacos de desenho animado que estão tocando aquele som. São instrumentos demais, participações demais... Você precisa de uma grande imaginação para conceber Lou Reed e Snoop Dogg no mesmo espaço que quatro personagens de desenho animado. Afinal de contas, qual a proposta do Gorillaz?

Agora você deve estar me chamando de conservador, de falso moralista. Com certeza você sabe que, uma vez que o Gorillaz é uma banda 100% virtual – os integrantes não existem fisicamente, numa fantasia de lã tipo Mickey Mouse, por exemplo –, eles podem absolutamente tudo, nada é inverossímil. O vocalista 2-D pode virar um pteranodonte mestre de kung-fu com um sintetizador acoplado ao peito, se Albarn e Hewlett assim decidirem. Mais ainda: e daí que as músicas não parecem de fácil execução ao vivo? Os Beatles um dia também resolveram levar a experiência do estúdio a níveis nunca cogitados antes, parando até de fazer shows. E eles nem eram cartuns!

O problema é que o Gorillaz já tem turnê marcada para promover Plastic Beach. E uma apresentação do grupo é um voto de confiança em Albarn, já que consiste num telão exibindo imagens dos personagens enquanto músicos fazem o trabalho sujo atrás dele. E aí? Esperar transparência de um conjunto fictício em plena era digital talvez seja forçar a barra demais?

No fim das contas, não é uma coisa que incomode tanto assim. Sei que os responsáveis têm tudo sob controle e vão dar um jeito. E Plastic Beach já é um sucesso. Mas sua verdadeira vocação é trazer à tona um debate que até agora não parecia muito importante: como lidar com tantas possibilidades na música atual e ainda assim se manter coerente? Pena o Guru ter morrido. Talvez ele tivesse uma dica ou duas para nós.

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