Quando estava sem assunto para a coluna, o Pearl Jam me salvou de novo. Amo essa banda. Esse artigo saiu no dia 15/5.
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O grunge morreu, de ressaca, em 1996. Mesmo que o suicídio de Kurt Cobain em 1994 tenha sido o porre, a cabeça só foi doer dois anos depois. Foi quando Soundgarden e Screaming Trees lançaram seus últimos discos, o brit pop surgiu e Dave Grohl se desvinculou do Nirvana. Como uma triste nota final, o acústico MTV do Alice in Chains – último registro do grupo, que definharia por seis longos anos até a morte do vocalista Layne Staley – ainda figura como uma das manifestações artísticas mais fúnebres de todos os tempos. Mais emblemático que tudo isso, no entanto, é No Code.
Apesar do impacto do Nirvana, era o Pearl Jam a banda que mais vendia nos anos da calça rasgada e da camisa de flanela, e No Code, seu quarto LP, escancarou o fim do grunge. Porque é um álbum onde o desespero expansivo e grandiloqüente do movimento é substituído por resignação íntima e reflexiva. Basicamente, não havia mais bandeiras a levantar, nem inimigos a combater – o hair metal estava acabado, as drogas pesadas não tinham mais glamour nenhum e todos estavam milionários. Restaram apenas os demônios interiores.
Daí a Eddie Vedder cantar sobre abrigos em árvores, onde jornais não importam (“In My Tree”) foi um pulo. Ainda tem canções sobre autoconhecimento, distância e até uma supostamente dedicada a Kurt Cobain. Porém Sometimes, mais do que todas, numa combinação incrível de música e letra, escancara o que era o momento confuso e introspectivo da banda.
Talvez tenha sido a experiência de Neil Young, com quem trabalharam no ano anterior, que trouxe essa serenidade aos músicos, ou o fim iminente do grunge, por todos os motivos já citados. Seja como for, o conjunto ficou muito mais legal, adultamente falando. Se os primeiros álbuns eram epolgantes, cheios de vitalidade e rock and roll, como é a adolescência, a partir de No Code, os temas ficaram bem mais complexos.
Dali para frente, mais do que famoso, o Pearl Jam tornou-se uma banda de massa – no sentido de que fala sobre os sentimentos mais íntimos da massa oprimida do rock, seja lá o que isso for. E como costuma acontecer com os “messias”, em algum ponto dos anos 2000, Eddie Vedder começou a perder a linha. Seu discurso anti-republicano e sua militância exagerada, em cada música e entrevista, transformaram-no em um vocalista mala de uma banda chatonilda.
Talvez seja por isso que muita gente apenas enxergue valor no Pearl Jam exasperado e eloqüente do começo dos anos 90. Mas, tanto na vida quanto na trajetória de emancipação da banda, uma crise dos 40 anos é aceitável. Depois de lançar seu pior disco em 2006, a banda teve um breve hiato em que cada um dos integrantes se dedicou a seus projetos particulares. Eddie Vedder, em especial, conseguiu renovar sua imagem com a trilha-sonora do filme Na Natureza Selvagem.
Finalmente assumindo a posição de trovador solitário que teimava em impor na banda, Vedder foi bem sucedido. Talvez por causa desse ato de bravura (inconseqüência até, se pensarmos que é mais conveniente ficar ao lado de um conjunto mundialmente conhecido), ele foi capaz de se transformar mais uma vez. A volta ao Pearl Jam não poderia ser melhor. Backspacer, do ano passado, mostra cada um dos integrantes na sua melhor forma e sem muita preocupação em passar mensagens paternalistas ou em mudar o mundo (a eleição do democrata Barack Obama contribuiu muito nesse aspecto).
No fim das contas, a beleza do Pearl Jam, para mim, reside tanto nas suas melodias e letras quanto na sua coragem para expor seus erros e acertos. Não tinha idade para acompanhar seu desenvolvimento em tempo real, mas, na época mais importante da minha formação – ali pelos dezesseis anos – eles eram minha banda favorita, mostrando como crescer é doloroso e instigante. Por isso, não julgo seus maus momentos, só tenho a agradecer. Obrigado.
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