Pós-nota: Irônico que na véspera do provável título, tenha morrido um dos principais (se não o principal) responsáveis por tornar o São Paulo o que o time é hoje. Pelo que fez entre 2002 e 2006, na presidência, Marcelo Portugal Gouvêa é ídolo são-paulino.
Mas não é isso que importa, agora, pra mim. A graça deste campeonato está no fato de o time ter recuperado o tesão pela bola. Acima de tudo, o futebol é o que realmente importa. Nós só estamos nessa de torcer, antes de tudo, porque o futebol é emocionante, porque nossos rivais podem, de uma hora para outra, nos superar, porque o melhor time nem sempre é o que ganha. Por causa das jogadas, dos gols e, também, de toda a politicagem nos bastidores e debates apaixonados nos periódicos (televisivos, impressos, etc.) que rodeiam o esporte, nós perdemos uma parte considerável do nosso tempo com nosso time.
Há uma semelhança fundamental entre os títulos são-paulinos dos dois últimos anos e o de 2008, que é a derrota na Libertadores da América. Em 2006 e 2007, o título nacional foi, claramente, um prêmio de consolação. Mas, mesmo assim, houve diferenças entre esses dois anos.
Há duas temporadas, perdemos a Copa Libertadores com a cabeça erguida, lutando, para um adversário que, infelizmente, era melhor e se esforçou mais. Deu gosto assistir àquela final em 16 de agosto de 2006, e, como admirador de futebol, foi bonito ver aquele time do Internacional jogar e levantar a taça. Lembravam o próprio São Paulo, um ano antes. A conquista do nacional, meses mais tarde, depois de 15 anos de jejum, foi um prêmio aos jogadores, que haviam merecido tanto o título continental quanto o Inter.
2007 não foi tão legal, ganhamos o Brasileirão e tudo mais, mas não passou de prêmio de consolação, mesmo. Tínhamos uma equipe sem vontade, sem carisma, sem talentos individuais, que perdeu a Libertadores mais humilhante que eu já vi, num dos piores momentos de Muricy Ramalho, que pecava pela falta de ousadia. O único motivo de orgulho pros são-paulinos no ano foi a defesa, que garantiu o pentacampeonato brasileiro juntamente com a ruindade dos concorrentes. Foi uma conquista sem emoção e a época em que mais se questionou o sistema de pontos corridos, uma vez que toda a “graça” do futebol, mencionada acima, estava ameaçada.
Pode ser que considerem este ano como uma repetição dos anos anteriores, justamente pela perda da Libertadores e o título brasileiro subseqüente, mas eu discordo. Sem se prender às convenções do tempo, o primeiro semestre de 2008 fez parte de 2007, e isso qualquer um pode perceber. A equipe perdeu poucos jogadores, nomes de peso foram contratados apenas para reiterar o que todos pensavam saber: “não existia time brasileiro melhor do que o São Paulo Futebol Clube”. Quão irônico foi ser eliminado da competição sulamericana justamente por um time Brasileiro (para piorar, um dos mais historicamente inexpressivos do tal G-12)?
Então, entramos em 2008 com a temporada já iniciada, na iminência de fecharmos o ano sem títulos, pela primeira vez desde 2005. De maio a, sei lá, outubro, fomos apenas mais um time médio, relegado a futuro participante da Copa do Brasil, que perdia, empatava e ganhava na mesma proporção.
De fato, 2008 tinha tudo para ser o ano da derrocada tricolor. Contratações equivocadas, uma eleição administrativa polêmica, declarações (ainda mais) arrogantes de dirigentes... Até nosso jogador-símbolo Rogério Ceni estava sem vontade, pegando mal, parecia abatido.
Antes que tudo isso arremessasse de volta o clube à terra, à poeira do lugar-comum, nosso técnico arrumou a casa e os jogadores entenderam o recado. Ainda assim, o objetivo nem era mais o título. Era a vaga para a Libertadores da América. Sem pressão, sem necessidade de afirmação, o time emendou dezesseis jogos sem derrota e está a dois pontos do hexacampeonato inédito e inesperado, que deve ser conquistado amanhã.
Essa é a beleza da coisa. O São Paulo precisou descer ao inferno, recuperar, no jargão boleiro, a “alegria em jogar futebol” para, finalmente, se tornar o maior time do país. Estou orgulhoso.