Saturday, November 29, 2008

Alegria em Jogar Futebol

Minha primeira tentativa escrevendo sobre futebol, que é outra coisa que eu gosto bastante. Quem não é são-paulino provavelmente não vai gostar. Mas, no fim das contas, foda-se quem não é são-paulino.

Pós-nota: Irônico que na véspera do provável título, tenha morrido um dos principais (se não o principal) responsáveis por tornar o São Paulo o que o time é hoje. Pelo que fez entre 2002 e 2006, na presidência, Marcelo Portugal Gouvêa é ídolo são-paulino.

***


Tem algo diferente nesse hexacampeonato do São Paulo. Não é pelo título em si, ou pelas marcas inéditas. Ser o primeiro time a conquistar três Brasileiros seguidos ou seis alternados é bem legal, e deve ser motivo de orgulho pros jogadores fazer parte do primeiro plantel do Time da Fé a ganhar três títulos consecutivos.

Mas não é isso que importa, agora, pra mim. A graça deste campeonato está no fato de o time ter recuperado o tesão pela bola. Acima de tudo, o futebol é o que realmente importa. Nós só estamos nessa de torcer, antes de tudo, porque o futebol é emocionante, porque nossos rivais podem, de uma hora para outra, nos superar, porque o melhor time nem sempre é o que ganha. Por causa das jogadas, dos gols e, também, de toda a politicagem nos bastidores e debates apaixonados nos periódicos (televisivos, impressos, etc.) que rodeiam o esporte, nós perdemos uma parte considerável do nosso tempo com nosso time.

Há uma semelhança fundamental entre os títulos são-paulinos dos dois últimos anos e o de 2008, que é a derrota na Libertadores da América. Em 2006 e 2007, o título nacional foi, claramente, um prêmio de consolação. Mas, mesmo assim, houve diferenças entre esses dois anos.

Há duas temporadas, perdemos a Copa Libertadores com a cabeça erguida, lutando, para um adversário que, infelizmente, era melhor e se esforçou mais. Deu gosto assistir àquela final em 16 de agosto de 2006, e, como admirador de futebol, foi bonito ver aquele time do Internacional jogar e levantar a taça. Lembravam o próprio São Paulo, um ano antes. A conquista do nacional, meses mais tarde, depois de 15 anos de jejum, foi um prêmio aos jogadores, que haviam merecido tanto o título continental quanto o Inter.

2007 não foi tão legal, ganhamos o Brasileirão e tudo mais, mas não passou de prêmio de consolação, mesmo. Tínhamos uma equipe sem vontade, sem carisma, sem talentos individuais, que perdeu a Libertadores mais humilhante que eu já vi, num dos piores momentos de Muricy Ramalho, que pecava pela falta de ousadia. O único motivo de orgulho pros são-paulinos no ano foi a defesa, que garantiu o pentacampeonato brasileiro juntamente com a ruindade dos concorrentes. Foi uma conquista sem emoção e a época em que mais se questionou o sistema de pontos corridos, uma vez que toda a “graça” do futebol, mencionada acima, estava ameaçada.

Pode ser que considerem este ano como uma repetição dos anos anteriores, justamente pela perda da Libertadores e o título brasileiro subseqüente, mas eu discordo. Sem se prender às convenções do tempo, o primeiro semestre de 2008 fez parte de 2007, e isso qualquer um pode perceber. A equipe perdeu poucos jogadores, nomes de peso foram contratados apenas para reiterar o que todos pensavam saber: “não existia time brasileiro melhor do que o São Paulo Futebol Clube”. Quão irônico foi ser eliminado da competição sulamericana justamente por um time Brasileiro (para piorar, um dos mais historicamente inexpressivos do tal G-12)?

Então, entramos em 2008 com a temporada já iniciada, na iminência de fecharmos o ano sem títulos, pela primeira vez desde 2005. De maio a, sei lá, outubro, fomos apenas mais um time médio, relegado a futuro participante da Copa do Brasil, que perdia, empatava e ganhava na mesma proporção.

De fato, 2008 tinha tudo para ser o ano da derrocada tricolor. Contratações equivocadas, uma eleição administrativa polêmica, declarações (ainda mais) arrogantes de dirigentes... Até nosso jogador-símbolo Rogério Ceni estava sem vontade, pegando mal, parecia abatido.

Antes que tudo isso arremessasse de volta o clube à terra, à poeira do lugar-comum, nosso técnico arrumou a casa e os jogadores entenderam o recado. Ainda assim, o objetivo nem era mais o título. Era a vaga para a Libertadores da América. Sem pressão, sem necessidade de afirmação, o time emendou dezesseis jogos sem derrota e está a dois pontos do hexacampeonato inédito e inesperado, que deve ser conquistado amanhã.

Essa é a beleza da coisa. O São Paulo precisou descer ao inferno, recuperar, no jargão boleiro, a “alegria em jogar futebol” para, finalmente, se tornar o maior time do país. Estou orgulhoso.

Monday, November 24, 2008

SP Noise Festival - 21/11

Sobre o SP Noise. Agradecimento à Ana, pela credencial de convidado (é esse o nome?), ao povo da Bizz, pela companhia, e ao Renato, do Black Drawing Chalks, pelas dicas de pedais.

Mais uma coisa, reabri os comentários.

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Parece que as pessoas têm medo de barulho. Estranhamente, a primeira edição do braço paulista do Goiânia Noise Festival, estava às moscas na sua hora oficial de abertura. Pode ser culpa do horário (e do trânsito, num fim de tarde de sexta-feira) ou do line up pouco conhecido pelo público em geral, mas a real é que nem eu estava lá a tempo. Por volta das 19h00, cheguei apressado, pensando que já havia perdido alguma (ou muita) coisa, mas as portas nem abertas estavam. Um pouco depois, com quase 1h30 de atraso, a entrada foi permitida.

Emendada com a abertura dos portões, começou a apresentação do Black Drawing Chalks, de Goiânia. Alguém havia dito que é a melhor banda de rock ao vivo no Brasil. Pelo que tenho visto por aí, provavelmente a informação se confirma. Apesar de o som estar embolado no Palco 2, dava pra absorver todo o peso e paudurice da banda. Sem frescura, sem roupinha “de palco”, sem pose, sem querer estar nos anos 50. Mas parece que o povo tem medo de barulho, mesmo, a julgar pela distância que mantinha do palco. Não importa realmente, porque o problema de organização e o público acanhado não estragaram a apresentação de uma banda independente que, enfim, não copia os Stooges.

Em seguida, The Tormentos, da Argentina, abriu o palco principal, com um som melhor. O mundo não é justo, porque, sem firula e panos quentes, The Tormentos é uma bela bosta mole e merecia, no máximo, o som que estava disponível pro Black Drawing Chalks. Surf rock repetitivo, bateria monocromática, toda a parte ruim do rock. Música não é competição, mas é irresistível: não basta apanharem no futebol, os argentinos também comem na nossa mão quando é pra fazer rock.

Mesmo assim, honraram o nome do festival: era barulho, não tinha pose, Kaiser Chiefs, Cosplay folk, óculos de aro grosso e dedo enfiado no cu. E tinham presença de palco, o vocalista falava bom português e entretinha a platéia. Isso foi o mais legal, porque refletia um pouco o melhor do festival, a casualidade de tudo, bandas que se comunicam realmente com os espectadores, músicos que saem do camarim para assistir aos outros shows e conversam com o público, que não parecia estar ali pra fazer número ou “ser visto”. Mais ou menos como as coisas deveriam ser.

Até por esse aspecto “acolhedor”, Motek, no palco principal, acabou passando meio batido, fiquei conversando com as pessoas, pedindo dicas de pedais pro guitarrista do Black Drawing Chalks e coisas assim. Mal, ninguém é perfeito.

Ambervisions, penúltima banda no Palco 2, continuou com o barulho. Sinceramente, pareceu mesmo só isso: barulho por barulho, mas pode ser que eu não estivesse no clima, ou não tenha o ouvido suficientemente apurado. Ainda assim, a presença de palco da banda valeu pelo show. A apresentação ao vivo é a catarse, não precisa ser musicalmente impecável para ser boa. Por isso, cada vez que o vocalista, com sua máscara tosca de lutador mexicano (ou assaltante), dizia “Boa noite, nós somos o Black Mountain”, com uma ironia que inexiste no indie paulistano, eu sentia uma pontada de esperança no alto do estômago. Toda vez que ele descia do palco e andava entre o público, cambaleando, dava até pra imaginar um mundo em que moleques chorões seriam proibidos de pegar em instrumentos musicais.

Flaming Sideburns foi a que chegou mais perto da afetação irritante do rock. Li por aí que o vocalista parecia uma mistura de He-Man com David Johansen, e é bem por aí. Esse tipo de afetação irrita, porque ninguém sai na rua com calça de oncinha. Mas a música em si não era fake, era tocada com tesão. Talvez a mensagem seja essa: você pode manter o pensamento no passado e não inovar se seu produto final for bom o suficiente.

Saí durante as últimas músicas para pegar uma cerveja, cerrar um cigarro de alguém (os meus acabaram cedo demais) e postar-me bem à frente do palco principal, onde o Black Mountain tocaria em seguida. Alguns meses atrás, perdi uma oportunidade de vê-los ao vivo, então dessa vez resolvi ficar bem perto, na grade. Dignidade inexiste por aqui. Mas valeu a pena. O ambiente foi lotando, dava pra sentir a empolgação, a vontade pura de ver o show. É como se as pessoas tivessem perdido, finalmente, o medo de barulho.

Rock não é música pra gente educada, mas a conduta da platéia, que não empurrava, não fazia rodinha e coisas do tipo, somada àquele aspecto “acolhedor” mencionado anteriormente, fizeram com que, sei lá, o clima ficasse propício. Mesmo com toda a porrada e psicodelia, foi o show mais aconchegante que eu já vi.

Começaram o set com Stormy High, Angels, Wucan e Druganaut, nessa ordem. Nada poderia ser mais perfeito, foram 4 das músicas mais intensas que eu já presenciei, as pessoas balançavam o corpo, estava todo mundo em sintonia. Amber Webber é uma deusa, Stephen McBean é um gênio, baixo, bateria, teclado, moog, platéia, cervejas, tudo comungado numa experiência sensacional. Sinceramente, esqueci qual foi a quinta música (Evil Ways, talvez), mas ela manteve o pique e, ao seu final, quando parecia que tudo ia engrenar mais ainda e todos seríamos engolidos por um acontecimento quase orgásmico, o show foi interrompido abruptamente.

Ficamos frustrados, querendo mais. Os seguranças nos empurravam em direção à porta, limitavam o uso do banheiro, tudo para que saíssemos o mais rápido possível da Eazy. Não digo isso com os olhos ofuscados pela homofobia, mas sim pela indignação: INTERROMPERAM NOSSO BLACK MOUNTAIN PRA QUE UM MONTE DE BICHINHA VIESSE DANÇAR HOUSE MEIA HORA DEPOIS.

O público culpou os produtores e estes depois explicaram que o problema foi mesmo o horário de término combinado com a casa. Sendo bem justo, acho que a culpa pode ser dividida entre os produtores, que fecharam um acordo com um horário muito apertado, os espectadores atrasados, que impossibilitaram a realização de um show (imagine a primeira banda tocando para 3 pessoas ou coisa do tipo) e a inflexibilidade da Eazy.

Mesmo com todos os problemas, o primeiro dia do SP Noise teve um balanço positivo, pelas boas apresentações e clima – repito – aconchegante. Comercialmente, percebe-se que não foi um sucesso, mas, se houver perseverança, podemos estar presenciando a criação do nosso próprio festival. Sem empresa de telefonia, sem Medina, sem frescurada. Imagina só?

Friday, November 14, 2008

Mallu Magalhães

A introdução deste texto a seguir, sobre punk e tudo o mais, eu já tinha bolado há algum tempo, porque sinceramente acho que há uma relação com a atitude que a Mallu tomou. Mas, juntando com os dois últimos posts sérios, acabou ficando algo maçante, exagerado. Fez sentido, no entanto, unir os três, um atrás do outro, como se fosse uma série sobre o punk e a cena musical brasileira da atualidade.
Por outro lado, prometo parar com esse assunto durante um tempo. Todo mundo cansou de Iggy e Dee Dee.

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As pessoas sentem-se fascinadas pelo punk, geralmente, por causa do som forte, ardido, destemido, ou por causa da atitude, “do it yourself”, as histórias que são contadas sobre gente como Stiv Bators e Dee Dee Ramone. Ou pela junção de ambos. Da minha parte, esse fascínio vem principalmente da segunda característica, da possibilidade de revolucionar com pouco, concentrado numa bolha que vai crescendo e dominando o mundo.

Por isso, quando Mallu Magalhães surgiu, foi uma coisa muito empolgante. Era uma menininha pequena, bonitinha, com pouca técnica instrumental, do tipo que você não bota fé, mas que conseguiu bastante atenção apenas com suas músicas gravadas toscamente, apesar de todo mundo saber que rolou uma “boa vontade” de pessoas mais influentes em ouvir (e divulgar) aquilo ali. Seja como for, foi a primeira vez que esse tipo de divulgação deu certo no Brasil, e a história da menina, em si, era interessante. Por mais rica que ela seja, por mais irreal que seja alguém de 15 anos ganhar uma bolada da avó no aniversário (pelo menos neste país), foi na raça que Mallu gravou suas quatro primeiras músicas, foi “metendo a cara”, algo muito punk, na minha opinião.

Então quiseram canonizar a menina, elevá-la ao status de gênio, vendê-la a qualquer custo. Algumas pessoas acharam que se tratava de uma “artista”, de um ser humano pronto para escrever músicas que realmente significariam algo, que valeriam a pena. Colocaram-na para aparecer no Jô, para participar de programas de rádio e do (chatíssimo) début solo de Marcelo Camelo e até chamaram Mário Caldato para produzir seu disco, que, instantaneamente, tornou-se um dos mais aguardados do ano. Aí, o encanto acabou. Como artista, Mallu é nula. Dando entrevistas, é constrangedora e infantilóide.

Bom, o disco apareceu, finalmente, e o melhor adjetivo pra defini-lo é “frustrante”. Porque, apesar de tudo, é um álbum com boas canções que não conseguem sustentar o resto.

A produção, por exemplo, é boa, feita por um dos melhores profissionais disponíveis, mas cai na vala comum, é clichezenta. Nem deve ser culpa do Caldato, porque, com sua publicidade exageradamente direcionada e pensamento retroativo (“sou Dylan, só gosto de Cash, não existe nada além de Brian Wilson”), Mallu e seu pessoal não deixaram outra escolha ao produtor. A persona da “artista” vem antes da qualidade das composições, da performance, dos timbres. Portanto, ninguém deixa você esquecer, nem por um segundo que seja, de que se trata de um disco de uma garotinha que escuta folk e country e curte fazer rabiscos toscos com lápis de cera.

Uma garotinha que escuta folk e country, curte fazer rabiscos toscos com lápis de cera e tem um fiapinho de voz. Pode ser que isso seja esperado e aceito pra compor a persona mencionada acima, mas não deixa de ser inaceitável. Os gemidos, os suspiros, os versos cantados em vários impulsos, tipo Dylan, se inseridos nos momentos certos, de vez em quando, dariam uma identidade à voz de Mallu. Como são constantes e sem critério, indicam apenas uma tentativa de camuflar pouca técnica vocal. É verdade que ninguém precisa cantar bem, mas geralmente, com cada Neil Young e Lou Reed, vem algum tipo de característica genuína, que corrobora aquilo que eles estão cantando (mal).

Mallu perdeu toda essa “característica genuína”, toda a autenticidade que possuía, quando virou “artista de verdade”, com aparatos de publicidade, disco lançado por compania de celular, e não foi capaz de suprir a demanda disso. Lógico, ela só tem 16 anos. Mas o fato é que na vida real ninguém irá considerar isso. Nossa “artista”, ao vender-se ainda tão verde e despreparada, deu armas carregadas pra qualquer detrator fazer uso quando quiser. Acima de todo o resto, é a primeira coisa que um artista de verdade, desta vez sem aspas, costuma evitar.

Thursday, November 13, 2008

Dicas #4

Cheguei pra mais um filler. Porque este blog, diferente daquele álbum do Sum 41, é all filler, no killer. Heh.

Reflexão da semana:
Diferente do que a maioria pensa, a maior contribuição da Bossa Nova pro Brasil não foi uma nova identidade para a música popular brasileira, nem a moral lá no exterior. Na real, a Bossa Nova revolucionou as praças de alimentação de shoppings. Sério, alguém imagina comer um McDonald's sem ter um tiozinho ali do lado tocando Águas de Março num banquinho? Reflitam.

Orgulho da semana:
São poucos os que têm a sorte de terem nascido no mesmo dia que a SYANG.

Felicidade da semana:
CARALHO MEU PIRU É NÓIS RADIOHEAD EM MARÇO!

Cansei da semana:
Cansei, até o próximo post sério.

Sunday, November 09, 2008

Overdose de Iggy

Tenho um pedido pra editora L&PM. Um pedido fodidamente sério. Parem de distribuir a versão pocket de Mate-me Por Favor aqui em São Paulo, ou enfiem preços escrotamente exorbitantes.

É sério, cansei. Todas as bandinhas alternativas daqui querem parecer com os Stooges, e o público quer ser tão andrógino quanto os Dolls ou nerd como o Tom Verlaine. Acho que ia ser bem mais digno se eles aprendessem com o Billy Murcia ou com a Edie Sedgwick. Morram rápido, filhos de uma puta.

Toda vez que eu vejo alguém num lugar público, de convívio social, fazendo air guitar, tenho vontade de morrer. Por que as pessoas fazem isso nas baladas ditas alternativas? Meu irmão vive dizendo que, pelo menos, numa micareta, as pessoas parecem estar se divertindo genuinamente. É capaz de ele ter razão.

Cansei dessa coisa escrota, em que ser blasé é legal, em que todo mundo se veste igual, em que parecer o filho da puta mais inadequado e cheio de bactérias fazendo air guitar é que é bacana. Falando sério, ontem vi um maluco dançando pogo (é pogo, o nome?) durante a DISCOTECAGEM de Should I Stay or Should I Go. Não, bróder, não era o Clash que estava ali, nem mais uma das novecentas e setenta e sete mil bandas que copiam os Stooges fazendo um cover de Clash. Era a porra de um CD (os sets nesses lugares não são com vinis e turntables, he-he-he) e o sujeito estava lá, com os cotovelos arqueados, a bundinha arrebitada, empurrando os amigos com sua camiseta milimetricamente furada. Tipo, cara, você não é o Richard Hell. No meu quintal, isso era passível de surra de pau mole.

Mate-me Por Favor é provavelmente um dos meus livros favoritos. O modo como foi escrito, as histórias, tudo isso é genial demais. Mas eu tenho uma certeza inabalável de que ele faz parte de uma revitalização babaca do “espírito de 77”, que vem com bandas e casas noturnas e a leitura de um livro “seminal” que é vendido a preço de banana em qualquer padaria. E a absorção das idéias que tudo isso pode passar é errônea pra caralho. Em vez de ir à raiz da coisa, o do it yourself, o foda-se, o “encontrar maneiras alternativas de ser representado”, as pessoas continuam pensando que o caminho é simplesmente copiar, copiar, copiar. E discriminar tudo que não siga essa cartilha, como se não fosse digno de participar do seu movimento mariquinha.

Falando sério, quem está mais próximo de 77: Os Forgotten Boys, com suas jaquetas impecáveis, som “rock and roll pra cacete” e cabeçotes Orange ou o gordo fodido Dan Deacon, que toca música eletrônica de gameboy no meio da platéia, que pode mexer à vontade no seu setup?

Se as pessoas pensassem um pouco mais nesse tipo de coisa, não seriam tão medíocres.

É, fiquei velho e rabugento.

Thursday, November 06, 2008

Decadência Com Um Pouco de Elegância

Fiquei em dúvida entre postar isso ou não. Mas no fim das contas, quero que a opinião dos outros sobre mim se foda com caco de vidro.
Pra falar a verdade, não recomendo a ninguém fazer o que fizeram os Diamantes, mas de vez em quando até que é legal.

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Foi desastroso. Talvez tenha sido o show mais desastroso que eu já presenciei. Tratou-se de um fiasco completo, pra ser bem sincero.

Tudo começa com um ácido que teria sido usado durante a noite do Tim Festa, mas só acabou aparecendo três dias depois. Ficou guardado. Salto no tempo para quinta-feira, dia 30 de outubro. A banda Lesbians convida a banda amiga Grigo Sttar e Seus Diamantes para tocar na noite glam do Clube Inferno, em São Paulo, dois dias depois. Grigo fica em dúvida por causa do pouco tempo para ensaio e porque o baterista titular não poderia tocar no dia referido. Mas e daí? Sábado à noite é uma bosta, mesmo, melhor fazer um showzinho de boa e ganhar um cachê. Fica decidido, então, que é a noite perfeita para tomar aquele doce. Syd Barret tomava, Jimi Hendrix tomava, isso já é o bastante pra corroborar a decisão, certo?

Sábado chega e dois quartos da banda – Grigo e um dos diamantes – se reúnem na casa de um amigo e os três esperam pacientemente pela dissolução de um terço de ácido nas respectivas línguas.

Corta pro camarim do Inferno. Pessoas em estado mental retroativo – por sorte, duas delas, os caras de camiseta vermelha e manguinha de outra cor, nem vão tocar -, conversas sem nexo, risadas sem parar, a coisa toda. É o típico camarim estereotipado glam rock. Homens se arrumando demoradamente, naquela coisa meio “metrossexual-andrógena”, fumando, afinando as guitarras, falando sobre mulher. Na visão de alguém sob o efeito de alucinógenos, devemos estar em Los Angeles, 1987.

Mas estamos em São Paulo e a primeira banda sobe no palco. Lesbians não é minha praia e nem a dos freqüentadores do Inferno (e eu ainda me pergunto quem é que iria de livre e espontânea vontade ao Inferno num sábado, de qualquer forma), por isso o show é frio, a platéia está a uns 10 metros da beira do palco. Alguns idiotas gritam “Toca Raul”, que nem como crítica é engraçado. No entanto, TUDO é engraçado se você tomou um bike, certo? Mesmo a precisão técnica do Lesbians, a habilidade indiscutível do guitarrista, a alucinação do baterista e a teatralidade competente do vocalista são motivo de riso.

Chega a hora da segunda banda. E não vou poupá-los por se tratarem de amigos. A instalação dos instrumentos foi caótica e o show foi uma bosta, sem desculpas. Eu ficava ali olhando aquilo e rindo. E observava as pessoas, e ria. Ninguém sabia o que estava fazendo, e só o fantasma de Dee Dee Ramone parecia estar gostando. É sério, eles estavam ali fazendo alguma coisa, meu pensamento ia longe, numa viagem que parecia durar umas 3 horas, e quando eu voltava, eles ainda estavam naquela mesma coisa, sem parar, o baterista tentava as viradinhas para terminar a música, mas nenhum dos guitarristas queria parar de solar. Deve ser duro para um baixista e um baterista sóbrios (ou quase isso) tocar numa banda com Syd Barret e Jimi Hendrix loucos de ácido. Depois de ouvir uns 389 “Toca Raul” e de ver o primeiro verso de 20th Century Boy ser repetido por cerca de (o que pareceu ser) uma hora, cansei de ver meus amigos sendo massacrados. Voltei pro camarim e esperei. Quando eles desceram, só restou rir. Histericamente, por umas seis horas.

Depois, as pessoas foram indo embora, mas nossos três heróis não sabiam exatamente o que fazer e esperaram. Quando já não havia mais o que fazer e tinham que fechar as comandas, foram embora.

Pra ser sincero, achei digno pra caralho. Um dia ruim com uma platéia de merda pedia um show desastroso. E isso foi legal demais. Tocar músicas ininteligíveis num estado completamente chapado é o verdadeiro espírito do rock. Não tem nada mais falso do que uma banda que prega a bebedeira e a chapação (t.c.p. 99% da cena independente brasileira), mas que toca sóbria e pensando em “não se queimar” com o circuitinho descolado-pau-no-cu-profissional-pra-caralho das baladinhas alternativas. Tá difícil pra todo mundo, mas em 73 também estava e nem por isso tiveram medo de abrir um corte no peito e tocar Louie, Louie por 45 minutos e mandar todo mundo se foder.

Foi o show mais patético que eu já assisti e, entretanto, foi o que chegou mais perto de 77. E de 67 também. Quantas bandas por aí conseguem estar em três lugares ao mesmo tempo durante um show de merda? Ponto pro Grigo e pro ácido lisérgico.

 
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