Fiquei em dúvida entre postar isso ou não. Mas no fim das contas, quero que a opinião dos outros sobre mim se foda com caco de vidro.
Pra falar a verdade, não recomendo a ninguém fazer o que fizeram os Diamantes, mas de vez em quando até que é legal.
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Foi desastroso. Talvez tenha sido o show mais desastroso que eu já presenciei. Tratou-se de um fiasco completo, pra ser bem sincero.
Tudo começa com um ácido que teria sido usado durante a noite do Tim Festa, mas só acabou aparecendo três dias depois. Ficou guardado. Salto no tempo para quinta-feira, dia 30 de outubro. A banda Lesbians convida a banda amiga Grigo Sttar e Seus Diamantes para tocar na noite glam do Clube Inferno, em São Paulo, dois dias depois. Grigo fica em dúvida por causa do pouco tempo para ensaio e porque o baterista titular não poderia tocar no dia referido. Mas e daí? Sábado à noite é uma bosta, mesmo, melhor fazer um showzinho de boa e ganhar um cachê. Fica decidido, então, que é a noite perfeita para tomar aquele doce. Syd Barret tomava, Jimi Hendrix tomava, isso já é o bastante pra corroborar a decisão, certo?
Sábado chega e dois quartos da banda – Grigo e um dos diamantes – se reúnem na casa de um amigo e os três esperam pacientemente pela dissolução de um terço de ácido nas respectivas línguas.
Corta pro camarim do Inferno. Pessoas em estado mental retroativo – por sorte, duas delas, os caras de camiseta vermelha e manguinha de outra cor, nem vão tocar -, conversas sem nexo, risadas sem parar, a coisa toda. É o típico camarim estereotipado glam rock. Homens se arrumando demoradamente, naquela coisa meio “metrossexual-andrógena”, fumando, afinando as guitarras, falando sobre mulher. Na visão de alguém sob o efeito de alucinógenos, devemos estar em Los Angeles, 1987.
Mas estamos em São Paulo e a primeira banda sobe no palco. Lesbians não é minha praia e nem a dos freqüentadores do Inferno (e eu ainda me pergunto quem é que iria de livre e espontânea vontade ao Inferno num sábado, de qualquer forma), por isso o show é frio, a platéia está a uns 10 metros da beira do palco. Alguns idiotas gritam “Toca Raul”, que nem como crítica é engraçado. No entanto, TUDO é engraçado se você tomou um bike, certo? Mesmo a precisão técnica do Lesbians, a habilidade indiscutível do guitarrista, a alucinação do baterista e a teatralidade competente do vocalista são motivo de riso.
Chega a hora da segunda banda. E não vou poupá-los por se tratarem de amigos. A instalação dos instrumentos foi caótica e o show foi uma bosta, sem desculpas. Eu ficava ali olhando aquilo e rindo. E observava as pessoas, e ria. Ninguém sabia o que estava fazendo, e só o fantasma de Dee Dee Ramone parecia estar gostando. É sério, eles estavam ali fazendo alguma coisa, meu pensamento ia longe, numa viagem que parecia durar umas 3 horas, e quando eu voltava, eles ainda estavam naquela mesma coisa, sem parar, o baterista tentava as viradinhas para terminar a música, mas nenhum dos guitarristas queria parar de solar. Deve ser duro para um baixista e um baterista sóbrios (ou quase isso) tocar numa banda com Syd Barret e Jimi Hendrix loucos de ácido. Depois de ouvir uns 389 “Toca Raul” e de ver o primeiro verso de 20th Century Boy ser repetido por cerca de (o que pareceu ser) uma hora, cansei de ver meus amigos sendo massacrados. Voltei pro camarim e esperei. Quando eles desceram, só restou rir. Histericamente, por umas seis horas.
Depois, as pessoas foram indo embora, mas nossos três heróis não sabiam exatamente o que fazer e esperaram. Quando já não havia mais o que fazer e tinham que fechar as comandas, foram embora.
Pra ser sincero, achei digno pra caralho. Um dia ruim com uma platéia de merda pedia um show desastroso. E isso foi legal demais. Tocar músicas ininteligíveis num estado completamente chapado é o verdadeiro espírito do rock. Não tem nada mais falso do que uma banda que prega a bebedeira e a chapação (t.c.p. 99% da cena independente brasileira), mas que toca sóbria e pensando em “não se queimar” com o circuitinho descolado-pau-no-cu-profissional-pra-caralho das baladinhas alternativas. Tá difícil pra todo mundo, mas em 73 também estava e nem por isso tiveram medo de abrir um corte no peito e tocar Louie, Louie por 45 minutos e mandar todo mundo se foder.
Foi o show mais patético que eu já assisti e, entretanto, foi o que chegou mais perto de 77. E de 67 também. Quantas bandas por aí conseguem estar em três lugares ao mesmo tempo durante um show de merda? Ponto pro Grigo e pro ácido lisérgico.
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