Monday, March 08, 2010

Descanse Em Paz, Sparklehorse


Quando escrevi meu top 10 de discos do ano passado neste blog, destaquei a importância e a relevância de Brian 'Danger Mouse' Burton na produção do quarto lugar, Dark Night of the Soul, um disco bonito pra burro. Então, no sábado, seu parceiro na produção do álbum, Mark Linkous se matou dramaticamente com um tiro no coração e, na onda mórbida que sempre segue esse tipo de morte, resolvi escutar um de seus álbuns como Sparklehorse.

Com parcos dois dias de audição, começo a entender por onde se move o espectro musical de Linkous - e até onde se estende sua participação e influência em Dark Night of the Soul. It's a Wonderful Life, terceiro LP do Sparklehorse, é uma ode melancólica à beleza da vida (na Wikipédia esse comentário é feito sobre a música-título, mas eu percebo esse clima durante todo o registro). Linkous se revela como uma espécie de Elliott Smith mais interessado na produção de um álbum. Por isso, mais do que o outro trovador suicidado em 2003, ele consegue trabalhar com influências e sonoridades, chegando a soar até como Radiohead às vezes.

Com essa maior possibilidade de brincar com estilos, vêm as participações de Tom Waits, Nina Persson, Vic Chesnutt, PJ Harvey e John Parish no disco. Anos depois, Persson e Chesnutt apareceriam no supracitado Dark Night of The Soul. Se a atuação de Linkous no projeto tivesse se limitado a conseguir participações incríveis para as músicas, sua importência já seria imensurável. Mas It's a Wonderful Life (e me perdoe por só conhecer esse até o momento) mostra direções musicais - melodias bonitas e, ao mesmo tempo, sujas - que permeiam o todo do trabalho com Danger Mouse.

O bonito dos dois discos de Mark Linkous que ouvi até hoje é notar como as músicas podem ser modificadas e adequadas às inúmeras parcerias e influências sem que percam sua identidade, sua espinha dorsal. Em outras palavras, quando Linkous imprime sua digital numa canção, é foda de apagar. E, na minha humilde visão, é isso que faz um grande artista.

Que este texto sirva para prestar a homenagem devida ao músico e para que ele me perdoe por ignorar sua importância por tanto tempo.

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