Thursday, March 25, 2010

Show do Coldplay: Não Vi e Gostei.

Mais um texto da Tribuna de Indaiá. Ando meio ocupado, minha produção de textos acabase restringindo aos textos da coluna. Aqui vai o do dia 6/03.

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Na última terça-feira (02/03), foi com algum pesar que perdi a apresentação do Coldplay no Morumbi. Não sou o maior fã da banda que você vai encontrar, mas acho o último álbum, Viva La Vida, honestamente bom e a faixa-título sensacionalmente catártica. E mais do que isso, observo no Coldplay sintomas do que é o mundo hoje (que eventualmente podem se tornar tendências do que será o mundo amanhã).

Primeiro que é uma banda cuja fama surgiu de dentro para fora, de um miolo indie para a grande mídia (mainstream). Se parece lógico que as coisas funcionem assim, é bom lembrar que durante anos o público foi forçado a aceitar astros pré-fabricados, entuchados goela abaixo diante da falta de opções e de acesso a alternativas.

Agora, a coisa mudou, e me parece que não só na música, mas na cultura como um todo. O caso do Coldplay, a banda que começou tímida, com clipe intimista na praia chuvosa e que neste momento é a maior banda do planeta, com cancha de “guia das multidões”, é bastante característico. Hoje em dia, para um grande empresário, vale mais apostar em um ícone consagrado em determinado nicho, tribo e/ou gueto cultural do que lançar o próximo “grande sucesso” sem nenhuma base de amostragem. Você vê isso até no Big Brother Brasil, onde alguns dos integrantes desta última edição foram selecionados a partir de uma fama prévia na internet (infelizmente, a web ainda é nicho, pois não é acessível para um monte de gente).

O Coldplay surgiu em 1997 em Londres, como Starfish. Depois de shows em clubes locais e alguns EPs independentes, assinaram com a Parlophone, selo da EMI famoso por lançar os Beatles no começo dos anos 60. Em 1999, o primeiro disco, Parachutes, soava como Travis e Radiohead e teve dois grandes sucessos, Trouble e Yellow. No entanto, esses hits serviram mais como cartão de visita do que como catapulta para o sucesso. Nos anos e trabalhos seguintes, a banda foi consolidando sua fama e crescendo sem parar com In My Place, The Scientist, Clocks, Fix You, etc. Cada vez mais, as canções do vocalista Chris Martin alcançavam o grande público, que gostava e queria mais. Foi mais ou menos nessa época de afirmação que minha mãe virou fã da banda, o que me fez imaginar que, talvez, eles não fizessem mais parte do universo independente “faça-você-mesmo”. Nesse meio tempo, Chris Martin ainda se casou com a mega atriz Gwyneth Paltrow, defendeu causas nobres e tornou-se alvo de paparazzi.

Com tudo (até a perseguição dos tablóides!) conspirando para um sucesso estrondoso, seria estranho que um disco de vocação tão grandiosa como Viva La Vida não desse certo. Coincidência ou não, Chris Martin acabou virando uma espécie de messias justo quando seu álbum mais com cara de U2 viu a luz do dia. O que ele estaria se tornando? Uma versão atualizada de Bono Vox? E o Coldplay? É o novo U2?

Faz todo sentido. Se hoje em dia Bono tem, para os mais jovens (e pode me colocar nesse bolo), mais cara de líder político pentelho do que de músico, Martin ainda apresenta a vitalidade e até certa sofreguidão necessária para ser respeitado como rockstar altruísta. E não dá pra negar que o guitarrista Jonny Buckland bebe na mesma fonte que o escudeiro de Bono, The Edge.

Está criado o cenário. Numa época em que praticamente não existem mais conjuntos musicais com cara de arrasa-quarteirão, o Coldplay é a exceção que confirma a regra. Você que foi ao show, pode ter certeza de uma coisa: assistiu à banda que está a um passo de representar a geração atual durante muitas décadas. Se os membros do Coldplay são as pessoas certas para isso, eu não sei. Mas você não sente um friozinho na barriga vendo a História acontecendo na sua frente?

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