Às vezes eu fico imaginando quantas crianças prodígio não nasceram já mortas... Quantos seres humanos que poderiam ter feito mudanças cruciais no planeta, tanto culturais quanto sociais, políticas ou de meio ambiente, não vieram ao mundo, por alguma infeliz circunstância, já sem vida? E nenhuma dessas pessoas teve a chance de não apenas ressuscitar, mas morrer outras inúmeras vezes, para sempre voltar com novas idéias.
Mas não lamente: o rock n’ roll, aquele que nós amamos, que parece tão blindado aos infortúnios dos séculos é bem assim. Veja só, não foi a ida de Elvis para o exército, o escândalo Payola, a prisão de Chuck Berry e o boicote a Jerry Lee Lewis a primeira morte? E o descenso criativo da metade dos anos 70, o fim do punk, a era glam e o apagamento da chama de Seattle, as mortes subseqüentes?
Mas se hoje o rock é o que é, isso se deve única e exclusivamente à sua capacidade de se reciclar após cada morte, encarnado num novo maluco pronto para pôr abaixo e exaltar diferentes sons, mitos e momentos. E é essa constante reinvenção que cria novos heróis a cada ano e também os derruba. Lester Bangs dizia que “a única razão para se construir um ídolo é joga-lo por terra novamente”. Só não imaginava que, a esta altura do campeonato, seria o próprio rock n’ roll que faria o trabalho sujo.
Na Veja de 18/10/2006 há um artigo exatamente sobre essa renovação do rock e de como o reinado das bandas vem durando cada vez menos. Seria porque as ressurreições já não significam mais nada para o público, seja musical ou socialmente? Eu realmente não sei. Mas a verdade é que desde a última morte, o estilo parece ser paciente de aparelhos que apenas garantem uma sobrevida debilitada. E não falamos aqui da qualidade musical das bandas atuais (ainda há bandas boas por aí, muito boas, aliás) e sim do seu impacto. É inegável que os Strokes causaram um choque muito menor do que causaram os Beatles, o Led Zeppelin ou até mesmo o Nirvana. Uma das bandeiras do rock, continua a revista, sempre foi o objetivo inabalável de causar desconforto aos mais velhos e transgredir as velhas normas. Mas como fazer isso se hoje em dia balançar a pélvis ou cantar sobre a anarquia no Reino Unido não choca mais ninguém? Talvez o que o rock esteja demandando para renascer mais uma vez, avassalador como outrora, seja o desapego a valores ultrapassados até mesmo para ele próprio. Esquecer os aspectos exteriores que a música pode acarretar e simplesmente amá-la novamente, fazendo canções para se divertir.
O grande lance do rock and roll é que ele nunca cresceu, estava sempre falecendo antes de virar adulto. O que é esperado de nós, então, filhos do rock, é não deixar que ele se torne um marmanjo barrigudo que ainda mora com a mãe aos 40 anos de idade.
2 comments:
1º
"Às vezes eu fico imaginando quantas crianças prodígio não nasceram já mortas..."
se a grande maioria delas nasce sem cérebro, não acho que seriam prodígio.
2° sigur ros é a nova cara do rock.
dream theater é a nova cara do roque
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