Tuesday, January 23, 2007

Pearl Jam e a Decadência

Músicos de rock não são como vinho. Ou pelo menos uma boa parte deles não é. A máxima do Rock and Roll ainda é a mesma de James Dean e River Phoenix: “Viva rápido, morra cedo, deixe um cadáver bonito”. E não é preciso ser tão literal quanto a “morrer cedo”, basta, sei lá, se lançar em uma carreira solo obscura, virar embaixador da boa vontade da Unicef, abrir um restaurante, trabalhar de encanador...

Veja só como a idade não faz bem às bandas: Os Rolling Stones viraram uma piada de mau gosto, o U2 hoje se resume ao outdoor animado de Bono Vox, o AC/DC não fez nada digno de nota desde Back in Black e nada com qualidade desde a morte de Bon Scott. Eu poderia ficar horas aqui citando bandas que morreram e só esqueceram de deitar, mas acho que os três exemplos acima são bem ilustrativos. E paralelamente, não é fácil perceber quando uma banda está em processo de declínio.

Ou até é, se prestarmos atenção em alguns detalhes moqueados pela aura cool dos rockstars. Como por exemplo, a síndrome de Peter Pan que insiste em acometer gente tão díspar quanto Elvis e Wacko Jacko.

Alguém lembra da psique do Rei por armas de fogo? E daquela palhaçada de colecionar distintivos de polícia? Faz favor, o cara atirava em postos de gasolina, ele queria ser o Kojack... Mas não rolava, porque daí ele lembrava que, além de ter uma bela cabeleira, tinha que fazer música pra comprar o leitinho da filha e quem sabe mais um Cadillac de ouro maciço. Já Michael Jackson, bem, a casa do homem chama Neverland (ou chamava, parece que a receita abocanhou o shangri-la do popstar bicolor), além de tudo que todo mundo ouviu falar, por isso me economizarei.

Mas se tem alguém do qual eu posso falar, cuja decadência está sendo esfregada na minha cara, é Eddie Vedder. Entenda, ele parece estar numa ladeira, e sem freio. E é engraçado, porque o cara sempre foi uma das estrelas mais competentes que eu já vi por aí. Era porra louca o suficiente para pular de uma altura de 4 metros, num dos stage dives mais intensos que eu já vi, mas não ficava vomitando em estúdios de TV, sabia falar, sabia ser gente. Encarnava a máxima de que o segredo do sucesso é a moderação, e levantava multidões por onde passava.

Agora é um típico tiozinho na pior crise da meia idade. Ostenta pra quem quiser ver que ele sabe pegar onda, que tem amigos havaianos, que toca ukelele com Ben Harper e chamou pro Pearl Jam um tecladista que parece um vendedor de peixe de Waikiki. Veja bem, eu gosto do Boom Gaspar, acho-o um tecladista fenomenal, com uma presença magnífica, mas não tem como negar que ele só está lá pra servir de suporte pra nova fantasia tropical do senhor Vedder.

Além disso, nos últimos tempos parece que é tipo melhor amigo de Bono Vox e está ficando tão politicamente pedante quanto o beijoqueiro irlandês. Apesar de ter grandes sacadas, o mais recente álbum do PJ exagera no conteúdo político. Só pra lembrar, quais são mesmo as melhores músicas deles? Quantas dessas falam de política?

Pois é, mas tudo isso seria facilmente relevado se a música estivesse a todo vapor. Porém a acomodação finalmente bateu no Pearl Jam e, principalmente, em Eddie. Ele deu uma pesquisada aqui e ali, fez uma ou outra conta, chegou ao formato ideal de show para agradar todos os tipos de fã da banda e aí ligou o piloto automático. O famoso ovo na boca foi substituído por uma voz anasalada tão insuportável, acompanhada por solos tão infindáveis e babacas e uma bateria tão sem tesão que eu nem me dou mais ao trabalho de baixar aqueles famosos bootlegs oficiais. Pra que? Eu já sei como começa, como prossegue, quando pára e como termina. Talvez essa história de “setlist que varia” do Pearl Jam seja uma farsa tão contundente quanto o Milli Vanilli.

Enfim, não há muito a se fazer quando seu ídolo chegou naquela hora de colocar as chinelas de pelúcia, mas ainda insiste em fazer rock. Só torcer pra que ele abra um restaurante ou entre em coma.

7 comments:

Anonymous said...

Eu particularmente gosto de ler quando alguém atira o peso na caneta, no seu caso, no teclado, e diz o que pensa de forma contundente e com inteligência. Fora isso, já deixo claro que opiniões divergentes são essenciais para o mundo e o diálogo, pra mim, ainda é a melhor saída quando se trata de opiniões radicalmente divergentes.
Agora, bem, eu não sei se você gostará de dialogar, eu gostaria, assim, aí vai meu e-mail: simoneoliveiradossantos@yahoo.com.br.
Não vai dar pra colocar tudo o que eu gostaria de dizer aqui, ou seja, tenho muitos argumentos para te convencer de que tanto o Pearl Jam quando o Eddie Vedder ainda têm muito a dar mas..., enfim, como já disse, se quiser conversar, o e-mail acima é justamente para servir de veículo. Ah, outra coisa, fiz questão de não olhar o seu profile ou fuçar a sua vida justamente para não me influenciar e descobrir o que você está ouvindo, nem mesmo a sua idade me interessa por enquanto.
Vamos lá. Eu sei que política é um saco, e concordo que no novo álbum do Pearl Jam ela pesou. Bem, mas estamos em 2007, com um idiota como o Bush engolindo o mundo com sua enorme boca vazia de discursos (“there’s a lot to say to nowhere”, certo? – “MFC” – Pearl Jam) e cheia de energia para cuspir fogo sobre o mundo inteiro, tanto no sentido de contribuição maciça para o aquecimento global quanto no sentido recorrente de armas e balas para todo o mundo, enjoy people, free violence for everyone. Hoje, tanto a política quanto o dinheiro são os regentes do mundo, e não podemos fazer nada em relação a isso (será?), e os USA tendo uma boa articulação em ambos os campos, nossa cabeça tem que se abaixar à visão magnífica e a todas as barbaridades do Tio Sam.
Agora, eu te pergunto: você não se sente incapacitado para sair gritando por aí e tentar mudar nem que seja uma vírgula em toda essa prosa de desgraça? Pois é, EU sinto. Assim, se um cara que toca numa banda de rock – espaço aberto para atingir muitas pessoas – e ele tenta fazer isso, ele está apenas monstrando que está gagá? (acho que eu nem preciso responder essa, certo?).
Hoje eu vejo todo a variedade de porcarias que a televisão (não vou nem entrar no mérito da MTV nisso), a Internet, a propaganda, o jornalismo, as rádios e etc. espalham por aí. Se você olhar com um pouco mais de atenção, você simplesmente conclui que o rock acabou, e que apenas devemos chorar e chorar pelos cantos sob a bênção dos hinos do My Chemical whatever. Agora, uma das poucas coisas que eu tenho certeza é que o rock não acaba, não morre, e muito menos pendura as chuteiras e se direciona ao asilo. Você ainda não escutou as guitarras ou o baixo do self-titled? Aquilo é rock. Ainda vivo e pulsando no meio de tanta coisa ruim.
Não estou pedindo para você concordar, só estou dizendo que o rock dos anos 90 (não, não estou falando única e exclusivamente do termo ‘grunge’ ou da explosão ‘Seattle’ no mundo) foi a última coisa que eu vi que ainda estava preocupada em fazer alguma coisa, em sair gritando que as coisas estavam erradas e que mudanças eram urgentemente necessárias (você já tentou relacionar a Guerra Fria e a queda do muro de Berlim com o surgimento dessa galera que fez o rock dos anos 90? Tem muita coisa lá, baby.). Se eles foram ouvidos por aqueles que mandam? Bem, isso não interessa, pois os ouvidos e mentes que interessavam eram os daqueles que lotavam os shows (e ainda lotam, vide os do Pearl Jam no Brasil em 2005). Ah, e eu particularmente acho que ao menos incomodar os poderosos eles conseguiram (mais ou menos como o Bono faz hoje, mesmo tendo deixado a música um pouco de lado, ou seja, eu concordo com você que o U2 andou se perdendo no meio do caminho... mas isso é outra história.).
Eu entendi (posso ter me enganado) que pra você rock é aquela coisa de revolta e fúria que faz com que você grite e espante o que te incomoda (“hear my fucking hate” "Beeswax" - Nirvana). Eu concordo com isso. Por isso que o Nirvana ainda tem tantos fãs (eu, inclusive, sou uma grande fã). Com o suicídio do Kurt o Nirvana simplesmente conseguiu um estado de pureza em relação a essa fúria (inerente na voz e nas letras do Cobain e na banda em si, aquela coisa de ir contra o senso comum que eles tinham, você me entende?) que o Pearl Jam, com o amadurecimento, simplesmente desviou para outras formas de expressão, como através da letra de WWS por exemplo (fora o fato de que fúria e revolta é um prato cheio para os adolescentes, ou seja, é típico da idade, por isso que os fãs adolescentes do PJ idolatram tanto o “Ten”). Agora eu te pergunto, só a letra de WWS não é simplesmente um tapa na cara de qualquer líder político de um país? For God sake, isso é rock, sweetheart! É rock, com letras pesadas e guitarras em movimento como todo bom rock’n’roll deve ser! O EV e o PJ como um todo simplesmente está vivendo e criando sobre a realidade do mundo e em principal do país deles (oh, que por acaso manda no mundo!).
Por último (sorry, escrevi demais...), pra mim, rock não é só vomitar as suas desgraças amorosas e os seus conflitos enquanto ser humano nas letras e nos riffs, a música é muito melhor quando ela tem um propósito, por menor que este seja, de relacionamento com o mundo. A arte não foi concebida unicamente para o aprecio estético, mas ela deve incomodar, abrir novas portas, tentar mostrar outros pontos de vista e fazer com que os tantos cegos e bitolados que há no mundo enxerguem. O rock, como uma vertente musical, tem que incomodar! E, cara, Pearl Jam me incomoda e me emociona. Fuce na Internet e leia apenas uma das frases inspiradas do EV, e você vai querer fazer alguma coisa pelo mundo e pelas pessoas que estão nele, pois, se ele que é ele (um rock star que poderia não ter outra preocupação na vida a não ser gastar dólares) acredita que dá, você vai ficar de braços cruzados?

PJ rocks!

post scriptum: meu post pode estar um pouco confuso pelo excesso de informação... assim, se houver dúvidas, email-me please. E obrigada.

Nota: said...

O_O
nossa...não vou falar tanto quanto a menina aí...mas também tenho minhas críticas...
acho que o pearl jam nunca deixou de ser uma banda foda...incrível! uma das melhores...foi o melhor show da minha vida...e é uma das bandas em que sempre tem que ter alguma coisa no pc...acho que a fase atual deles é realmente a pior...mas mesmo assim não é ruim...é baixo nos padrões pearl jam...e altíssimo pra quase tudo que se faz de música atualmente...achoei sacanagem vc dizer que espera que ele entre em coma huahuahuahua
na sua concepção então um artista deve acabar com a carreira quando estiver por cima? nem cara...deve estar sempre inovando...tipo beatles...quando estava pra acabar já estava uma boa merda...nem por isso hoje eles são tão criticados pela excelente discografia que já haviam lançado até então...

enfim...é isso...mas sim meo...continuo sendo seu fã...vc escreve bem pra caralho ;)

Anonymous said...

Concordo em genêro, número e Grau o que o Autor deste Blog escreveu ...
Diria mesmo o PJ de hoje esta realmente muito insosso (sei que escrevi errado) e sem vida.
Basta ver no Dvd aquele que ja tem até um tempo, o Touring Band, onde a banda mostra decadência executando as músicas porcamente, aumentando a velocidade (talvez por auto-afirmação, sei la o que se passa na cabeça desses caras) e o Eddie parece estar mais engajado em ser John Lennon do que o Eddie Vedder ligado na música de antigamente

Anonymous said...

peral jão eh moh palha veiu baum mesm eh snup dogui

Unknown said...

Nossa!...É realmente surpreendente q alguém ainda questione a atuação do PJ ou EV...achei q só o tempo q os caras conseguem se manter (vivos, né?!)...já seria uma grande a prova! Mesmo pq acho q as turnês mundiais...lotadas de gente saindo pelo ladrão...fossem as melhores provas...de q o som é bom e sempre teve conteúdo relevante!
Na verdade, desde de q recorde da "aparição" de EV...nos idos de 1991/92 na MTV...até q tento perceber todas essas "mudanças"...e sinceramente ele está muito mais próximo daquele contexto inicial...do q toda essa mesmice chatinha...
Mas, é importante ressaltar q as mudanças (ao longo da vida)...são inevitáveis! e digo mais imprescindíveis meu caro!...It's Evolution baby!
Afinal 2 coisas são inerentes na vida de qualquer ser-humano: O envelhecimento, e a Morte.
A forma com que cada um irá encarar isso na vida é diferente...seja como uma "dificuldade" ou como mais uma fase a ser vivia e experienciada!
Na boa?!...pra mim...Eddie Vedder sempre foi e SEMPRE será O CARA!...mesmo pq...opinião é que nem bunda...cada um tem a sua!...Ainda bem!

Unknown said...

Olha...Cada um tem sua opinião, mas a princípio discordo da opinião de quem diz que o PJ está decadente e que o EV está numa ladeira sem freios.

Eu sou um grande apreciador de músicas que tenham conteúdo político, principalmente as nacionais (anos 80). Por isso acho que não está numa decadencia, acho sim que está mudando como tudo muda e amadurecendo.

Não temos como comparar o PJ do Ten com o PJ do abacate. A sonoridade é totalmente diferente, e não é por nada, mas a cada CD que o PJ lança, sempre tem umas mudanças na sonoridade. Sinal que sempre estão mudando, e isso acho que é uma coisa muito boa! (OBS: Para algumas pessoas que se dizem fãs do PJ o único CD bom é o Ten... fazer o que...)

Quem assistiu o DVD Live at The garden e viu os bonus, deve ter visto um vídeo de um show que o PJ toca bushleaguer, com uma máscara do Mr. Bush e esta máscara é por várias vezes a espancanda pelo EV. Achei esse video absurdamente fodástico!!! É uma atitude que com certeza incomoda muita gente. Aquilo ali é uma atitule alá PJ início dos anos 90 que vocês tanto cobram.

No Touring Band, era outro tipo de show, tanto é que o Live at the garde é assustadoramente bom. E o shows de 2005 no Brasil são melhores ainda. E ambos que citei aconteceram depois do Touring Band.

Bueno... Acho que o cara ainda é foda, e sempre vai ser. Mesmo que um dia desses ele fale umas merdar por aí.

(pergunta no geral sobre a nova tour: Alguém ouviu o bootleg do show de lançamento do CD Abacate? Pois se não ouviram, ouçam! Procurem por Toronto, Canadá. O show é muito bom. Talvez dê outra cara ao abacate que algumas pessoas não gostaram)

Anonymous said...

Olha. Concordo com você em muitos aspectos, o album mais recente não agradou a quase ninguém muito menos a mim, mas quanto a show, não há show igual ao do Pearl Jam, os bootlegs são fantásticos..
Se o show de ontem do Aerosmith tivesse a emoção de PJ, seria mto diferente do que foi....

ps: o show do aero deixou a desejar

 
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