Sou contra esse lance de usar letras/textos dos outros pra expressar o que se sente, porque na real, nós mesmos temos que fazer essas coisas. Mas desta vez, seria inútil escrever qualquer outra coisa que não fosse a letra de New Year's Eve, do Kashmir.
new year's eve
fine dark suits
paper hats
les grands salutes
your tear stained speech
and your wounded eyes
your frail attempts
to be remembered -
takes me down
dries me out
it shoves me around
blows my flame out
the moon is on
and the morning lurks
but the mood is gone
with the fireworks
I lost my faith
in new year's eve
serpentines
cheap cigars
sparkling wine
fallen stars
it's time to quit
and start again
only god knows
what we're celebrating
Seja como for, que 2009 seja melhor (ou "ainda melhor", se seu 2008 já foi bom) do que este ano. No fim das contas, não dá nada desejar o bem - mesmo nesses momentos clichês e constrangedores.
Beijo.
Saturday, December 27, 2008
New Year's Eve
Postado por Jambo Ookamooga às 2:52 PM 0 comentários
Tuesday, December 16, 2008
Top 10 2008 - Os Shows
Os melhores shows que eu fui neste ano. =)
Menções honrosas para Kashmir, que por um mês não fez parte de 2008, The Streets, que eu desperdicei por estar meio alterado, e Yeasayer, que só presenciei três músicas, por ter preferido ver Streets (que não curti por estar benloco). Irônico, né?
10. Slayer – Roskilde Festival, 06/07
Das bandas brutais que existem na Terra, Slayer é a mais classuda de todas. Sim, Kerry King é um idiota, mas quando ele e Jeff Hanneman pegam suas guitarras pra tocar, nada pode ser mais pesado e catártico. Tom Araya é outro monstro e, a roda de pancadaria que se forma na platéia, apesar de uma das coisas mais burras que podem existir, é extrema, assim como o show. Assisti colado na segunda grade do Orange Stage, onde tudo ficava mais calmo e a visão era perfeita. Grande, grande show.
9. Black Mountain – SP Noise Festival, 21/11
Puta show. Clima aconchegante, mas pesado, tudo perfeito. Porém, muito curto. Tivesse uma hora a mais, teria sido o número um, sem nenhuma dúvida.
8. Curumin – Galeria Olido, 29/10
Último show da série que Curumin fez na Galeria Olido. Foi pau a pau com o que ele faria uma semana depois, no Planeta Terra, mas escolhi este pelo fator intimidade. Na verdade, Curumin estava ali tocando para amigos (era incrível o número de gente presente que conhecia o músico pessoalmente), no centro de São Paulo, um dos lugares mais incríveis do país, de costas para a janela, onde os transeuntes iam passando. Além disso, contou com discotecagem entre as músicas e participações de MCida e Kamau. Curumin em seu melhor momento, tocando para e com amigos. Merece o oitavo lugar.
7. Gogol Bordello – Tim Festival, 24/10
Teve tudo o que uma boa apresentação necessita (performance, som bom, repertório, energia e etc.) e duas minas muito bem apessoadas de shortinho tocando bumbo e dançando. Não carece de mais, né?
6. The Campbell Brothers – Roskilde Festival, 06/07
Banda com uma guitarra lap steel, uma guitarra pedal steel, guitarra, baixo, bateria e uma “vocalista-soul” tipo Lisa Kekaula (The Bellrays). Cantando música gospel. E sem soar cansativo. Campbell Brothers junta tudo o que acontecia no sul dos Estados Unidos nos anos 30 numa performance sensacional, de fazer inveja a qualquer banda de hard/blues rock dos anos 70. É pra ficar até meio religioso.
5. Radiohead – Roskilde Festival, 03/07
Sessenta mil pessoas olhavam atônitas para Thom Yorke, Phil Selway, Ed O’ Brien, Jonny e Colin Greenwood. Uma das bandas mais geniais da nossa geração estava insana no maior palco de um dos maiores festivais europeus, com o sol se pondo ao fundo. Sem contar a música, já garantiria um lugar nesta lista. Mas a música conta, sim, e o que tivemos ali foi um dos melhores setlists que alguém poderia esperar. O final, com Thom Yorke sozinho no violão, ladeado por seus companheiros de banda, ouvindo a platéia cantar o refrão de Karma Police a plenos pulmões, foi um dos momentos mais bonitos que eu já presenciei.
4. Dan Deacon – Tim Festival, 24/10
Pelo aspecto punk de seu show (que acontece no chão, junto com a platéia, sem nenhuma barreira), Dan Deacon poderia apenas apertar play e se acomodar. Já seria motivo de notícia, já seria alvo de hype. Mas o que ocorreu no dia 24 de outubro foi das coisas mais incríveis. Dan Deacon revertia o som de gameboy de seu disco mais recente em uma balada de música eletrônica pesada e pulsante, comandando a platéia, fazendo todos obedecerem-no, mexendo o corpo, fazendo quadrilha e roda de dança. Intenso pra caralho.
3. Queens of the Stone Age – KB Hallen, 24/02
Nada mais precisa ser dito.
2. Solomon Burke – Roskilde Festival, 05/07
Imagine a cena: Solomon Burke canta várias de suas músicas e um sem-número de sucessos do soul e do blues, homenageia grandes nomes da música negra, principalmente seu parceiro Otis Redding, com uma versão de emocionar de Dock of the Bay e, após tudo isso, não quer terminar seu concerto. Simplesmente. As cortinas se fecham e Big Sol pede para alguém da sua banda abrir, para continuar saudando o público. As cortinas se fecham novamente e ele não se levanta de seu trono dourado com veludo vermelho (sim, tinha isso, pra ficar perfeito) e ordena que a banda continue tocando. O público delira, não pára de aplaudir nem quando a organização do festival corta o som e entra o apresentador do palco (Arena) para anunciar a pausa até a próxima atração. Cinco minutos ininterruptos de palmas. Uau.
1. Gnarls Barkley – Roskilde Festival, 04/07
Pode parecer forçado que o primeiro lugar nos álbuns tenha também o melhor show, mas o que eu vi no dia da independência americana foi uma banda em sua melhor forma. Sim, uma banda. Gnarls Barkley ao vivo transcende o duo Cee-Lo Green e Danger Mouse Burton. Todos disciplinados, unidos, uniformizados e, ainda assim, cada um com sua própria postura. Meus favoritos são o grande guitarrista (que enfia solos nas músicas mais improváveis) e a baixista gordinha que é cool como gelo. Danger Mouse é mais descolado ainda e não tira os óculos, não troca palavras, apenas senta e toca seu teclado ou seu xilofone. Mas não de uma forma arrogante ou antipática, apenas cool.
Seja como for, nada disso seria tão legal se Cee-Lo não estivesse ali entretendo a platéia, cantando a plenos pulmões, comentando o clima e elogiando o cheiro de maconha que emanava no ar (não pra mim, não senti nada). Cee-Lo mostra que gosta do palco, das pessoas, sorri, senta na beira do palco, interage, esquecendo todos os seus problemas de auto-estima.
Ainda diz no final, durante o bis: “vocês sabem que nós somos fãs de música e como fãs de música gostamos de tocar coisas dos outros”. A bateria é inconfundível, a guitarra também. Gnarls Barkley está tocando uma versão de Reckoner ainda melhor do que a que o Radiohead havia apresentado no dia anterior, precedida por Who’s Gonna Save My Soul e seguida por Smiley Faces. Não menos que sensacional, a banda do ano.
Postado por Jambo Ookamooga às 8:29 AM 0 comentários
Sunday, December 14, 2008
Friday, December 05, 2008
Top 10 2008 - Os Discos
2008 foi uma merda para mim, na vida pessoal. Musicalmente, no entanto, não houve ano melhor nestas 19 primaveras. Mais do que descobrir bandas, abri minha cabeça para estilos. Conheci um monte de coisa nova, aprendi a dar valor a certas coisas e percebi o que é realmente ruim. O rock, que eu tanto gostava, ficou ainda melhor depois de aprender a respeitar o hip hop, por exemplo, que eu tanto menosprezava. Ao não depender de uma coisa só, você começa a filtrar o que de melhor há em cada uma. Fui muito, muito burro em não perceber isso antes, em demorar 18 anos e alguns (poucos, vai) meses para colocar toda essa coisa em prática. Música está acima de quase tudo, portanto é coisa de mãe-na-zona se limitar.
Além disso, fui nos melhores shows da vida neste ano. A temporada na Dinamarca ajudou, mas no Brasil também houve coisas muito boas, como Dan Deacon, Gogol Bordello, Black Mountain, REM e mesmo meu conterrâneo Curumin.
Para mim, os últimos 12 meses contaram com pelo menos 25 discos muito bons, e uns 5 não menos do que geniais. Até por isso, neste ano fiz uma lista com 20 títulos. Escrevo aqui sobre os 10 primeiros, mas não custa citar os outros. Compõe também meu top 20 os discos novos de:
Sigur Rós, The Last Shadow Puppets, The Raconteurs, Black Mountain, Turbo Trio, Wado, Isobel Campbell & Mark Lanegan, Brant Bjork, The Streets e Duffy.
Agora, o top 10, pra comentar na escola e parecer bacana:
10. The Bug – London Zoo
Na real, o décimo lugar foi praticamente um empate técnico entre este do Bug, o quinto do Sigur Rós e o Last Shadow Puppets. Pessoalmente, escolhi o primeiro por ser a representação do quanto meu gosto musical mudou, e o quanto isso foi positivo. Em favor da música, posso dizer que o trabalho do DJ inglês Kevin Martin é dubstep grave pra caralho, com o baixo clipando, perfeito pra pista, ou estourando um, ou pra ouvir no ônibus lotado (principalmente as duas primeiras faixas, meio pessimistas, o que casa muito bem com um ônibus lotado, o mais próximo do inferno que chegamos no cotidiano). Poison Dart, com a MC jamaicana Warrior Queen, é uma das melhores músicas do ano.
9. N.E.R.D – Seeing Sounds
Bons produtores musicais, via de regra, são ecléticos. O N.E.R.D, de Pharell Williams, externa esse conceito básico quando mistura quase todo tipo de “música popular americana da segunda metade do século XX pra frente” (às vezes eu exagero?) em seus álbuns. No terceiro, encontra-se música para dançar tipo Spaz e Anti Matter, levadas pro hip hop como em Everyone Nose e Time for Some Action e até mesmo rock meio oitentista em Happy. Seeing Sounds, no fim das contas, é mais um expoente da época eclética e iconoclasta em que vivemos. E o nono lugar da lista anual de Jambo Ookamooga, a maior honra de todas.
8. Coldplay – Viva La Vida or Death and All His Friends
Coldplay era pra ser uma merda, certo? Uma banda meio sem graça, fresca, um U2 moderno... Viva La Vida foi um choque para mim, porque é na verdade muito, muito bom. Em geral, o estilo meloso das músicas é mantido, provando que as composições em si não eram ruins, mas sim os arranjos. Brian Eno teve uma participação fundamental, assim como os novos ritmos que ele deve ter apresentado a Chris Martin e sua turma. Provou que toda banda – até o Coldplay – tem chance de se redimir.
7. Apes & Androids – Blood Moon
Blood Moon é o tipo de disco que tem apelo com críticos e fãs. Com críticos por dar a eles a chance de desfilar seu formidável conhecimento enciclopédico apontando todas as dezenas de influências da banda, e com fãs por ser extremamente pop. É um pouco como o disco do N.E.R.D, com a diferença da porra-louquice, da juventude, que o Apes & Androids passa com a música. O segundo melhor début do ano.
6. Eagles of Death Metal – Heart On
Josh Homme é Deus. Qualquer dúvida que eu tivesse em relação a isso se dissipou com Heart On, por ser o melhor disco do EODM justamente quando Carlo Von Sexron/Baby Duck mais aparece. É claro que Jesse Hughes também é importantíssimo, principalmente por ser o único que parece conseguir extrair a veia humorísta de Josh num disco. Heart On, Cheap Thrills e Secret Plans, por exemplo, têm a identidade das águias, mas estão mais bem acabadas, com timbres de guitarra trabalhadinhos, o tipo de carinho que só o QotSA recebia.
5. Okkervil River – The Stand Ins
Em 2007, quando ouvi The Stage Names, foi como se uma luz brilhasse sobre minha cabeça. Por mais que todo mundo esteja fazendo esse som meio “Arcade Fire tocando Americana” (viajei demais?), ninguém o faz melhor que o Okkervil River. Não só isso, poucos têm a sagacidade das letras e perspectiva pop de Will Sheff. The Stand Ins é ainda melhor do que seu antecessor e faz pensar que é realmente uma pena que a banda só tenha recebido atenção quase dez anos após sua formação. Escute Pop Lie, Blue Tulip e In Tour With Zykos, no mínimo.
4. Kings of Leon – Only by The Night
Duas coisas me impressionaram nesse álbum, além do som em si. Das principais bandas indies-roqueiras do começo da década, Kings of Leon foi a primeira a chegar ao quarto álbum (Strokes, Interpol, Arcade Fire, Franz Ferdinand, The Killers, nenhuma chegou a essa marca). O outro aspecto admirável de Only By The Night é o fato de ele se mostrar muito mais maduro do que Because of the Times. Apontou que, mesmo depois das mudanças de som e estilo, os caipiras não se acomodaram, e continuam tentando fazer música cada vez melhor e melhor. Não dá pra partir pro clichê e dizer que “isso é raro hoje em dia”, mas entre bandas de rock indie, é raro, sim.
3. Curumin – Japan Pop Show
Luciano Nakata Albuquerque é um sujeito iluminado. É um dos caras mais sangue-bão da música brasileira, faz música boa para cacete e ainda conhece/trabalha com as pessoas mais legais do pop nacional. Além de tudo, mistura dub, samba, samba-rock, hip hop. E bem! Não só o melhor disco brasileiro do ano, Japan Pop Show é também o mais importante.
2. Yeasayer – All Hour Cymbals
Tem alguma coisa especial no Brooklyn. TV On The Radio, MGMT, Apes & Androids, Vampire Weekend… Todas essas bandas surgiram há pouco tempo na região, todas com uma veia “art rock”, todas muito legais... Mas nenhuma supera o álbum de estréia do Yeasayer, banda-irmã do mesmo lugar. Pelo menos no meu gosto, e eu nem tenho como explicar isso. Não sou muito fã de world music, corinhos hippies, e coisa do tipo, mas as canções do disco, todas muito boas, e as incursões eletrônicas criam um clima diferente. Eu não sou mais a mesma pessoa desde que ouvi No Need to Worry (sem brincadeira) e, como isto aqui é um blog pessoal, é motivo o suficiente para o Yeasayer estar na segunda e merecidíssima colocação do ano.
1. Gnarls Barkley – The Odd Couple
É a perfeição. Marcando o ano das misturas musicais (ou pelo menos, da descoberta delas por parte deste que vos escreve), a mais insana de todas. Danger Mouse é o maior produtor da atualidade e Cee-Lo o melhor cantor e um dos letristas mais sombrios. É notável como uma banda pop alcança tanto sucesso com letras tão pessimistas, carregadas, sofridas (Cee-Lo me lembra Tim Maia nesse aspecto, a do cantor extremamente talentoso, mas com sérios problemas de auto-estima por conta de sua aparência física). Danger Mouse faz as melhores bases instrumentais do mundo, com xilofones, sintetizadores, baterias e guitarras, ora mantendo o clima desesperado das letras, ora contrastando com elas, como que se manipulasse as emoções da música. Um exemplo da amálgama perfeita entre os dois é, também, o melhor momento musical (em álbum) do ano: a voz do cantor tornando-se, num ponto indefinido, uma motosserra em Would-Be Killer. Matador, mesmo.
Postado por Jambo Ookamooga às 12:11 PM 0 comentários
Monday, December 01, 2008
Tom Zé, Caetano Veloso E Sua Influência Seminal na Blogosfera Anarco-musical Tupiniquim (Ou O Porquê de Não Se Recomendar Usar Ácido em Demasia)
http://www.rollingstone.com.br/secoes/novas/noticias/3975/
"No fim do espetáculo, Tom começou a agradecer a presença de amigos conhecidos e jornalistas e trouxe para a cena um "desentendimento" que até aquele momento estava restrito ao blog de Caetano Veloso e ao seu."
Escrever um blog é essa coisa vergonhosa que é por causa de filhos da puta desse tipo. Quem é que briga via blog, cara? Quão fundo é o poço pra uma pessoa que se "desentende" com outra através de uma treta de diário virtual?
Eu, particularmente, uso isto aqui pra publicar meus textos, não pra brigar com alguém ou ficar de chororô. Mas aí, aparecem dois ex-músicos em atividade falando bosta e fica parecendo que todo mundo é punheteiro assim. No fim das contas, bem disse Noel Gallagher: " blog is for someone who’s got no mates". O problema é que, assim como ele, "I've got more than a dozen [mates]."
Então fica combinado que, a partir de hoje, isto aqui não é mais um blog. É um diário de viagem. Graças ao Tom, ao Caê e ao Noel, grandes caras.
(no mais, até o fim da semana, posto o top 10 de discos de 2008, já que não tenho vida, mesmo)
Postado por Jambo Ookamooga às 5:35 AM 1 comentários
Saturday, November 29, 2008
Alegria em Jogar Futebol
Pós-nota: Irônico que na véspera do provável título, tenha morrido um dos principais (se não o principal) responsáveis por tornar o São Paulo o que o time é hoje. Pelo que fez entre 2002 e 2006, na presidência, Marcelo Portugal Gouvêa é ídolo são-paulino.
Mas não é isso que importa, agora, pra mim. A graça deste campeonato está no fato de o time ter recuperado o tesão pela bola. Acima de tudo, o futebol é o que realmente importa. Nós só estamos nessa de torcer, antes de tudo, porque o futebol é emocionante, porque nossos rivais podem, de uma hora para outra, nos superar, porque o melhor time nem sempre é o que ganha. Por causa das jogadas, dos gols e, também, de toda a politicagem nos bastidores e debates apaixonados nos periódicos (televisivos, impressos, etc.) que rodeiam o esporte, nós perdemos uma parte considerável do nosso tempo com nosso time.
Há uma semelhança fundamental entre os títulos são-paulinos dos dois últimos anos e o de 2008, que é a derrota na Libertadores da América. Em 2006 e 2007, o título nacional foi, claramente, um prêmio de consolação. Mas, mesmo assim, houve diferenças entre esses dois anos.
Há duas temporadas, perdemos a Copa Libertadores com a cabeça erguida, lutando, para um adversário que, infelizmente, era melhor e se esforçou mais. Deu gosto assistir àquela final em 16 de agosto de 2006, e, como admirador de futebol, foi bonito ver aquele time do Internacional jogar e levantar a taça. Lembravam o próprio São Paulo, um ano antes. A conquista do nacional, meses mais tarde, depois de 15 anos de jejum, foi um prêmio aos jogadores, que haviam merecido tanto o título continental quanto o Inter.
2007 não foi tão legal, ganhamos o Brasileirão e tudo mais, mas não passou de prêmio de consolação, mesmo. Tínhamos uma equipe sem vontade, sem carisma, sem talentos individuais, que perdeu a Libertadores mais humilhante que eu já vi, num dos piores momentos de Muricy Ramalho, que pecava pela falta de ousadia. O único motivo de orgulho pros são-paulinos no ano foi a defesa, que garantiu o pentacampeonato brasileiro juntamente com a ruindade dos concorrentes. Foi uma conquista sem emoção e a época em que mais se questionou o sistema de pontos corridos, uma vez que toda a “graça” do futebol, mencionada acima, estava ameaçada.
Pode ser que considerem este ano como uma repetição dos anos anteriores, justamente pela perda da Libertadores e o título brasileiro subseqüente, mas eu discordo. Sem se prender às convenções do tempo, o primeiro semestre de 2008 fez parte de 2007, e isso qualquer um pode perceber. A equipe perdeu poucos jogadores, nomes de peso foram contratados apenas para reiterar o que todos pensavam saber: “não existia time brasileiro melhor do que o São Paulo Futebol Clube”. Quão irônico foi ser eliminado da competição sulamericana justamente por um time Brasileiro (para piorar, um dos mais historicamente inexpressivos do tal G-12)?
Então, entramos em 2008 com a temporada já iniciada, na iminência de fecharmos o ano sem títulos, pela primeira vez desde 2005. De maio a, sei lá, outubro, fomos apenas mais um time médio, relegado a futuro participante da Copa do Brasil, que perdia, empatava e ganhava na mesma proporção.
De fato, 2008 tinha tudo para ser o ano da derrocada tricolor. Contratações equivocadas, uma eleição administrativa polêmica, declarações (ainda mais) arrogantes de dirigentes... Até nosso jogador-símbolo Rogério Ceni estava sem vontade, pegando mal, parecia abatido.
Antes que tudo isso arremessasse de volta o clube à terra, à poeira do lugar-comum, nosso técnico arrumou a casa e os jogadores entenderam o recado. Ainda assim, o objetivo nem era mais o título. Era a vaga para a Libertadores da América. Sem pressão, sem necessidade de afirmação, o time emendou dezesseis jogos sem derrota e está a dois pontos do hexacampeonato inédito e inesperado, que deve ser conquistado amanhã.
Essa é a beleza da coisa. O São Paulo precisou descer ao inferno, recuperar, no jargão boleiro, a “alegria em jogar futebol” para, finalmente, se tornar o maior time do país. Estou orgulhoso.
Postado por Jambo Ookamooga às 10:03 AM 2 comentários
Monday, November 24, 2008
SP Noise Festival - 21/11
Sobre o SP Noise. Agradecimento à Ana, pela credencial de convidado (é esse o nome?), ao povo da Bizz, pela companhia, e ao Renato, do Black Drawing Chalks, pelas dicas de pedais.
Mais uma coisa, reabri os comentários.
Parece que as pessoas têm medo de barulho. Estranhamente, a primeira edição do braço paulista do Goiânia Noise Festival, estava às moscas na sua hora oficial de abertura. Pode ser culpa do horário (e do trânsito, num fim de tarde de sexta-feira) ou do line up pouco conhecido pelo público em geral, mas a real é que nem eu estava lá a tempo. Por volta das 19h00, cheguei apressado, pensando que já havia perdido alguma (ou muita) coisa, mas as portas nem abertas estavam. Um pouco depois, com quase 1h30 de atraso, a entrada foi permitida.
Emendada com a abertura dos portões, começou a apresentação do Black Drawing Chalks, de Goiânia. Alguém havia dito que é a melhor banda de rock ao vivo no Brasil. Pelo que tenho visto por aí, provavelmente a informação se confirma. Apesar de o som estar embolado no Palco 2, dava pra absorver todo o peso e paudurice da banda. Sem frescura, sem roupinha “de palco”, sem pose, sem querer estar nos anos 50. Mas parece que o povo tem medo de barulho, mesmo, a julgar pela distância que mantinha do palco. Não importa realmente, porque o problema de organização e o público acanhado não estragaram a apresentação de uma banda independente que, enfim, não copia os Stooges.
Em seguida, The Tormentos, da Argentina, abriu o palco principal, com um som melhor. O mundo não é justo, porque, sem firula e panos quentes, The Tormentos é uma bela bosta mole e merecia, no máximo, o som que estava disponível pro Black Drawing Chalks. Surf rock repetitivo, bateria monocromática, toda a parte ruim do rock. Música não é competição, mas é irresistível: não basta apanharem no futebol, os argentinos também comem na nossa mão quando é pra fazer rock.
Mesmo assim, honraram o nome do festival: era barulho, não tinha pose, Kaiser Chiefs, Cosplay folk, óculos de aro grosso e dedo enfiado no cu. E tinham presença de palco, o vocalista falava bom português e entretinha a platéia. Isso foi o mais legal, porque refletia um pouco o melhor do festival, a casualidade de tudo, bandas que se comunicam realmente com os espectadores, músicos que saem do camarim para assistir aos outros shows e conversam com o público, que não parecia estar ali pra fazer número ou “ser visto”. Mais ou menos como as coisas deveriam ser.
Até por esse aspecto “acolhedor”, Motek, no palco principal, acabou passando meio batido, fiquei conversando com as pessoas, pedindo dicas de pedais pro guitarrista do Black Drawing Chalks e coisas assim. Mal, ninguém é perfeito.
Ambervisions, penúltima banda no Palco 2, continuou com o barulho. Sinceramente, pareceu mesmo só isso: barulho por barulho, mas pode ser que eu não estivesse no clima, ou não tenha o ouvido suficientemente apurado. Ainda assim, a presença de palco da banda valeu pelo show. A apresentação ao vivo é a catarse, não precisa ser musicalmente impecável para ser boa. Por isso, cada vez que o vocalista, com sua máscara tosca de lutador mexicano (ou assaltante), dizia “Boa noite, nós somos o Black Mountain”, com uma ironia que inexiste no indie paulistano, eu sentia uma pontada de esperança no alto do estômago. Toda vez que ele descia do palco e andava entre o público, cambaleando, dava até pra imaginar um mundo em que moleques chorões seriam proibidos de pegar em instrumentos musicais.
Flaming Sideburns foi a que chegou mais perto da afetação irritante do rock. Li por aí que o vocalista parecia uma mistura de He-Man com David Johansen, e é bem por aí. Esse tipo de afetação irrita, porque ninguém sai na rua com calça de oncinha. Mas a música em si não era fake, era tocada com tesão. Talvez a mensagem seja essa: você pode manter o pensamento no passado e não inovar se seu produto final for bom o suficiente.
Saí durante as últimas músicas para pegar uma cerveja, cerrar um cigarro de alguém (os meus acabaram cedo demais) e postar-me bem à frente do palco principal, onde o Black Mountain tocaria em seguida. Alguns meses atrás, perdi uma oportunidade de vê-los ao vivo, então dessa vez resolvi ficar bem perto, na grade. Dignidade inexiste por aqui. Mas valeu a pena. O ambiente foi lotando, dava pra sentir a empolgação, a vontade pura de ver o show. É como se as pessoas tivessem perdido, finalmente, o medo de barulho.
Rock não é música pra gente educada, mas a conduta da platéia, que não empurrava, não fazia rodinha e coisas do tipo, somada àquele aspecto “acolhedor” mencionado anteriormente, fizeram com que, sei lá, o clima ficasse propício. Mesmo com toda a porrada e psicodelia, foi o show mais aconchegante que eu já vi.
Começaram o set com Stormy High, Angels, Wucan e Druganaut, nessa ordem. Nada poderia ser mais perfeito, foram 4 das músicas mais intensas que eu já presenciei, as pessoas balançavam o corpo, estava todo mundo em sintonia. Amber Webber é uma deusa, Stephen McBean é um gênio, baixo, bateria, teclado, moog, platéia, cervejas, tudo comungado numa experiência sensacional. Sinceramente, esqueci qual foi a quinta música (Evil Ways, talvez), mas ela manteve o pique e, ao seu final, quando parecia que tudo ia engrenar mais ainda e todos seríamos engolidos por um acontecimento quase orgásmico, o show foi interrompido abruptamente.
Ficamos frustrados, querendo mais. Os seguranças nos empurravam em direção à porta, limitavam o uso do banheiro, tudo para que saíssemos o mais rápido possível da Eazy. Não digo isso com os olhos ofuscados pela homofobia, mas sim pela indignação: INTERROMPERAM NOSSO BLACK MOUNTAIN PRA QUE UM MONTE DE BICHINHA VIESSE DANÇAR HOUSE MEIA HORA DEPOIS.
O público culpou os produtores e estes depois explicaram que o problema foi mesmo o horário de término combinado com a casa. Sendo bem justo, acho que a culpa pode ser dividida entre os produtores, que fecharam um acordo com um horário muito apertado, os espectadores atrasados, que impossibilitaram a realização de um show (imagine a primeira banda tocando para 3 pessoas ou coisa do tipo) e a inflexibilidade da Eazy.
Mesmo com todos os problemas, o primeiro dia do SP Noise teve um balanço positivo, pelas boas apresentações e clima – repito – aconchegante. Comercialmente, percebe-se que não foi um sucesso, mas, se houver perseverança, podemos estar presenciando a criação do nosso próprio festival. Sem empresa de telefonia, sem Medina, sem frescurada. Imagina só?
Postado por Jambo Ookamooga às 7:48 AM 1 comentários
Friday, November 14, 2008
Mallu Magalhães
A introdução deste texto a seguir, sobre punk e tudo o mais, eu já tinha bolado há algum tempo, porque sinceramente acho que há uma relação com a atitude que a Mallu tomou. Mas, juntando com os dois últimos posts sérios, acabou ficando algo maçante, exagerado. Fez sentido, no entanto, unir os três, um atrás do outro, como se fosse uma série sobre o punk e a cena musical brasileira da atualidade.
Por outro lado, prometo parar com esse assunto durante um tempo. Todo mundo cansou de Iggy e Dee Dee.
As pessoas sentem-se fascinadas pelo punk, geralmente, por causa do som forte, ardido, destemido, ou por causa da atitude, “do it yourself”, as histórias que são contadas sobre gente como Stiv Bators e Dee Dee Ramone. Ou pela junção de ambos. Da minha parte, esse fascínio vem principalmente da segunda característica, da possibilidade de revolucionar com pouco, concentrado numa bolha que vai crescendo e dominando o mundo.
Por isso, quando Mallu Magalhães surgiu, foi uma coisa muito empolgante. Era uma menininha pequena, bonitinha, com pouca técnica instrumental, do tipo que você não bota fé, mas que conseguiu bastante atenção apenas com suas músicas gravadas toscamente, apesar de todo mundo saber que rolou uma “boa vontade” de pessoas mais influentes em ouvir (e divulgar) aquilo ali. Seja como for, foi a primeira vez que esse tipo de divulgação deu certo no Brasil, e a história da menina, em si, era interessante. Por mais rica que ela seja, por mais irreal que seja alguém de 15 anos ganhar uma bolada da avó no aniversário (pelo menos neste país), foi na raça que Mallu gravou suas quatro primeiras músicas, foi “metendo a cara”, algo muito punk, na minha opinião.
Então quiseram canonizar a menina, elevá-la ao status de gênio, vendê-la a qualquer custo. Algumas pessoas acharam que se tratava de uma “artista”, de um ser humano pronto para escrever músicas que realmente significariam algo, que valeriam a pena. Colocaram-na para aparecer no Jô, para participar de programas de rádio e do (chatíssimo) début solo de Marcelo Camelo e até chamaram Mário Caldato para produzir seu disco, que, instantaneamente, tornou-se um dos mais aguardados do ano. Aí, o encanto acabou. Como artista, Mallu é nula. Dando entrevistas, é constrangedora e infantilóide.
Bom, o disco apareceu, finalmente, e o melhor adjetivo pra defini-lo é “frustrante”. Porque, apesar de tudo, é um álbum com boas canções que não conseguem sustentar o resto.
A produção, por exemplo, é boa, feita por um dos melhores profissionais disponíveis, mas cai na vala comum, é clichezenta. Nem deve ser culpa do Caldato, porque, com sua publicidade exageradamente direcionada e pensamento retroativo (“sou Dylan, só gosto de Cash, não existe nada além de Brian Wilson”), Mallu e seu pessoal não deixaram outra escolha ao produtor. A persona da “artista” vem antes da qualidade das composições, da performance, dos timbres. Portanto, ninguém deixa você esquecer, nem por um segundo que seja, de que se trata de um disco de uma garotinha que escuta folk e country e curte fazer rabiscos toscos com lápis de cera.
Uma garotinha que escuta folk e country, curte fazer rabiscos toscos com lápis de cera e tem um fiapinho de voz. Pode ser que isso seja esperado e aceito pra compor a persona mencionada acima, mas não deixa de ser inaceitável. Os gemidos, os suspiros, os versos cantados em vários impulsos, tipo Dylan, se inseridos nos momentos certos, de vez em quando, dariam uma identidade à voz de Mallu. Como são constantes e sem critério, indicam apenas uma tentativa de camuflar pouca técnica vocal. É verdade que ninguém precisa cantar bem, mas geralmente, com cada Neil Young e Lou Reed, vem algum tipo de característica genuína, que corrobora aquilo que eles estão cantando (mal).
Mallu perdeu toda essa “característica genuína”, toda a autenticidade que possuía, quando virou “artista de verdade”, com aparatos de publicidade, disco lançado por compania de celular, e não foi capaz de suprir a demanda disso. Lógico, ela só tem 16 anos. Mas o fato é que na vida real ninguém irá considerar isso. Nossa “artista”, ao vender-se ainda tão verde e despreparada, deu armas carregadas pra qualquer detrator fazer uso quando quiser. Acima de todo o resto, é a primeira coisa que um artista de verdade, desta vez sem aspas, costuma evitar.
Postado por Jambo Ookamooga às 2:32 PM 2 comentários
Thursday, November 13, 2008
Dicas #4
Cheguei pra mais um filler. Porque este blog, diferente daquele álbum do Sum 41, é all filler, no killer. Heh.
Reflexão da semana:
Diferente do que a maioria pensa, a maior contribuição da Bossa Nova pro Brasil não foi uma nova identidade para a música popular brasileira, nem a moral lá no exterior. Na real, a Bossa Nova revolucionou as praças de alimentação de shoppings. Sério, alguém imagina comer um McDonald's sem ter um tiozinho ali do lado tocando Águas de Março num banquinho? Reflitam.
Orgulho da semana:
São poucos os que têm a sorte de terem nascido no mesmo dia que a SYANG.
Felicidade da semana:
CARALHO MEU PIRU É NÓIS RADIOHEAD EM MARÇO!
Cansei da semana:
Cansei, até o próximo post sério.
Postado por Jambo Ookamooga às 4:09 PM 0 comentários
Sunday, November 09, 2008
Overdose de Iggy
Tenho um pedido pra editora L&PM. Um pedido fodidamente sério. Parem de distribuir a versão pocket de Mate-me Por Favor aqui em São Paulo, ou enfiem preços escrotamente exorbitantes.
É sério, cansei. Todas as bandinhas alternativas daqui querem parecer com os Stooges, e o público quer ser tão andrógino quanto os Dolls ou nerd como o Tom Verlaine. Acho que ia ser bem mais digno se eles aprendessem com o Billy Murcia ou com a Edie Sedgwick. Morram rápido, filhos de uma puta.
Toda vez que eu vejo alguém num lugar público, de convívio social, fazendo air guitar, tenho vontade de morrer. Por que as pessoas fazem isso nas baladas ditas alternativas? Meu irmão vive dizendo que, pelo menos, numa micareta, as pessoas parecem estar se divertindo genuinamente. É capaz de ele ter razão.
Cansei dessa coisa escrota, em que ser blasé é legal, em que todo mundo se veste igual, em que parecer o filho da puta mais inadequado e cheio de bactérias fazendo air guitar é que é bacana. Falando sério, ontem vi um maluco dançando pogo (é pogo, o nome?) durante a DISCOTECAGEM de Should I Stay or Should I Go. Não, bróder, não era o Clash que estava ali, nem mais uma das novecentas e setenta e sete mil bandas que copiam os Stooges fazendo um cover de Clash. Era a porra de um CD (os sets nesses lugares não são com vinis e turntables, he-he-he) e o sujeito estava lá, com os cotovelos arqueados, a bundinha arrebitada, empurrando os amigos com sua camiseta milimetricamente furada. Tipo, cara, você não é o Richard Hell. No meu quintal, isso era passível de surra de pau mole.
Mate-me Por Favor é provavelmente um dos meus livros favoritos. O modo como foi escrito, as histórias, tudo isso é genial demais. Mas eu tenho uma certeza inabalável de que ele faz parte de uma revitalização babaca do “espírito de 77”, que vem com bandas e casas noturnas e a leitura de um livro “seminal” que é vendido a preço de banana em qualquer padaria. E a absorção das idéias que tudo isso pode passar é errônea pra caralho. Em vez de ir à raiz da coisa, o do it yourself, o foda-se, o “encontrar maneiras alternativas de ser representado”, as pessoas continuam pensando que o caminho é simplesmente copiar, copiar, copiar. E discriminar tudo que não siga essa cartilha, como se não fosse digno de participar do seu movimento mariquinha.
Falando sério, quem está mais próximo de 77: Os Forgotten Boys, com suas jaquetas impecáveis, som “rock and roll pra cacete” e cabeçotes Orange ou o gordo fodido Dan Deacon, que toca música eletrônica de gameboy no meio da platéia, que pode mexer à vontade no seu setup?
Se as pessoas pensassem um pouco mais nesse tipo de coisa, não seriam tão medíocres.
É, fiquei velho e rabugento.
Postado por Jambo Ookamooga às 2:07 PM 0 comentários
Thursday, November 06, 2008
Decadência Com Um Pouco de Elegância
Fiquei em dúvida entre postar isso ou não. Mas no fim das contas, quero que a opinião dos outros sobre mim se foda com caco de vidro.
Pra falar a verdade, não recomendo a ninguém fazer o que fizeram os Diamantes, mas de vez em quando até que é legal.
Foi desastroso. Talvez tenha sido o show mais desastroso que eu já presenciei. Tratou-se de um fiasco completo, pra ser bem sincero.
Tudo começa com um ácido que teria sido usado durante a noite do Tim Festa, mas só acabou aparecendo três dias depois. Ficou guardado. Salto no tempo para quinta-feira, dia 30 de outubro. A banda Lesbians convida a banda amiga Grigo Sttar e Seus Diamantes para tocar na noite glam do Clube Inferno, em São Paulo, dois dias depois. Grigo fica em dúvida por causa do pouco tempo para ensaio e porque o baterista titular não poderia tocar no dia referido. Mas e daí? Sábado à noite é uma bosta, mesmo, melhor fazer um showzinho de boa e ganhar um cachê. Fica decidido, então, que é a noite perfeita para tomar aquele doce. Syd Barret tomava, Jimi Hendrix tomava, isso já é o bastante pra corroborar a decisão, certo?
Sábado chega e dois quartos da banda – Grigo e um dos diamantes – se reúnem na casa de um amigo e os três esperam pacientemente pela dissolução de um terço de ácido nas respectivas línguas.
Corta pro camarim do Inferno. Pessoas em estado mental retroativo – por sorte, duas delas, os caras de camiseta vermelha e manguinha de outra cor, nem vão tocar -, conversas sem nexo, risadas sem parar, a coisa toda. É o típico camarim estereotipado glam rock. Homens se arrumando demoradamente, naquela coisa meio “metrossexual-andrógena”, fumando, afinando as guitarras, falando sobre mulher. Na visão de alguém sob o efeito de alucinógenos, devemos estar em Los Angeles, 1987.
Mas estamos em São Paulo e a primeira banda sobe no palco. Lesbians não é minha praia e nem a dos freqüentadores do Inferno (e eu ainda me pergunto quem é que iria de livre e espontânea vontade ao Inferno num sábado, de qualquer forma), por isso o show é frio, a platéia está a uns 10 metros da beira do palco. Alguns idiotas gritam “Toca Raul”, que nem como crítica é engraçado. No entanto, TUDO é engraçado se você tomou um bike, certo? Mesmo a precisão técnica do Lesbians, a habilidade indiscutível do guitarrista, a alucinação do baterista e a teatralidade competente do vocalista são motivo de riso.
Chega a hora da segunda banda. E não vou poupá-los por se tratarem de amigos. A instalação dos instrumentos foi caótica e o show foi uma bosta, sem desculpas. Eu ficava ali olhando aquilo e rindo. E observava as pessoas, e ria. Ninguém sabia o que estava fazendo, e só o fantasma de Dee Dee Ramone parecia estar gostando. É sério, eles estavam ali fazendo alguma coisa, meu pensamento ia longe, numa viagem que parecia durar umas 3 horas, e quando eu voltava, eles ainda estavam naquela mesma coisa, sem parar, o baterista tentava as viradinhas para terminar a música, mas nenhum dos guitarristas queria parar de solar. Deve ser duro para um baixista e um baterista sóbrios (ou quase isso) tocar numa banda com Syd Barret e Jimi Hendrix loucos de ácido. Depois de ouvir uns 389 “Toca Raul” e de ver o primeiro verso de 20th Century Boy ser repetido por cerca de (o que pareceu ser) uma hora, cansei de ver meus amigos sendo massacrados. Voltei pro camarim e esperei. Quando eles desceram, só restou rir. Histericamente, por umas seis horas.
Depois, as pessoas foram indo embora, mas nossos três heróis não sabiam exatamente o que fazer e esperaram. Quando já não havia mais o que fazer e tinham que fechar as comandas, foram embora.
Pra ser sincero, achei digno pra caralho. Um dia ruim com uma platéia de merda pedia um show desastroso. E isso foi legal demais. Tocar músicas ininteligíveis num estado completamente chapado é o verdadeiro espírito do rock. Não tem nada mais falso do que uma banda que prega a bebedeira e a chapação (t.c.p. 99% da cena independente brasileira), mas que toca sóbria e pensando em “não se queimar” com o circuitinho descolado-pau-no-cu-profissional-pra-caralho das baladinhas alternativas. Tá difícil pra todo mundo, mas em 73 também estava e nem por isso tiveram medo de abrir um corte no peito e tocar Louie, Louie por 45 minutos e mandar todo mundo se foder.
Foi o show mais patético que eu já assisti e, entretanto, foi o que chegou mais perto de 77. E de 67 também. Quantas bandas por aí conseguem estar em três lugares ao mesmo tempo durante um show de merda? Ponto pro Grigo e pro ácido lisérgico.
Postado por Jambo Ookamooga às 1:05 PM 0 comentários
Tuesday, October 14, 2008
Jeff Ament e as Férias
Olhando pra trás, neste blog, eu vejo o quanto essa banda ainda significa pra mim. Merda.
Tone, de Jeff Ament, significa a derrota do Pearl Jam como coletivo, pelo menos por enquanto. Se no ano passado tivemos Eddie Vedder superando o “disco do abacate" com sua trilha sonora para Into the Wild, em 2008 Ament repete o feito. Que não é lá um feeeito, tendo em vista que o último disco da sua banda, se não é uma bomba, é um amontoado de clichês bem sem graça. E, se eu não era tão contundente antes, é porque o abacate ainda não tinha amadurecido (meu humor continua uma coisa linda). Dois anos depois, não passou no teste do tempo.
Já Jeff Ament consegue fazer rock básico nada revolucionário ou relevante, mas bastante agradável. Pra te situar, ele é ex-baixista de bandas seminais do, cof cof, “grunge” Green River, Mother Love Bone e Temple of the Dog, além do próprio Pearl Jam. Além disso, é o compositor de algumas músicas da banda, algumas muito boas e pelo menos uma muito ruim.
Sendo sincero, quando o trabalho foi anunciado, não esperava muita coisa. A decadência do Pearl Jam, de uma banda tipo divina pra uma banda “legalzinha” e irrelevante, acabou eclipsando seus integrantes e só Eddie, por ser uma espécie de porta-voz, se sobressaía. O álbum tinha cara de “um quinto de alguma coisa medíocre”. Talvez tenha sido sorte ficar nesse preconceito burro, porque a surpresa positiva, sem dúvida, foi benéfica. Quer dizer, eu poderia estar aqui numas de “Pearl Jam só tem gênio!”.
Tone, como dito anteriormente, é só rock básico que não importa de verdade. Mas é competente no que se propõe a fazer e, seja como for, apresenta as melhores músicas de Jeff Ament desde... sei lá, muito tempo. Em geral, é um disco composto de boas canções pop-rock grudentas (The Forest, Just Like That, Bulldozer) e baladas, como Say Goodbye e Doubting Thomasina. A última, aliás, tem a participação de Doug Pinnick, do King’s X, e tem forte influência soul no vocal. Pode ser ou não porque Ament quis, mas quando é que foi a última vez que a banda-mãe tentou alguma coisa mais ousada?
Essa competência descompromissada pode ter vindo da forma como o álbum foi realizado e lançado. Demorou 12 anos para ficar pronto, saiu por uma gravadora independente e só foram prensadas 3 mil cópias, vendidas apenas numa rede de lojas independentes (ou seja, nada de Walmart ou Virgin) e pelo site do fã clube do Pearl Jam. Jeff não quer revolucionar nada. Não tem panfletagem, não tem vendas revolucionárias pela internet, nem vote Obama, nem salve a Mata Atlântica. Só música, sabe? Pelo simples prazer de lançar suas faixas que demoraram anos pra ficar prontas. É tão respeitável quanto qualquer revolução ou causa humanitária.
No fim das contas, Tone não estará nas listas dos melhores do ano, em dezembro, mas acaba corroborando uma coisa muito importante: bandas não foram feitas pra durarem 20 anos, sem pausas. É possível que os integrantes do Pearl Jam tenham percebido isso (Stone Gossard está para lançar seu segundo disco solo, Eddie Vedder está excursionando sozinho e fazendo música pra times de beisebol) e deixado de lado essa idéia estúpida de fazer música panfletária sem inspiração, só pela “obrigação para com os fãs”. Tanto faz. A verdade é que serão três anos entre os lançamentos do último disco e o do próximo (presumivelmente) e eu posso apostar contigo como essas férias vão ter feito bem. 50 conto, vamo aí?
Postado por Jambo Ookamooga às 11:42 PM 0 comentários
Friday, October 10, 2008
Isolamento
Texto baseado no quarto disco do Pearl Jam. Tipo aqueles Mojo Books, mas muito curto pra um Mojo Book. Oh, well.
Há quanto tempo estava ali? Podiam ser semanas ou uns poucos meses. Ou mais. Sem psicose, sem se considerar o maior misantropo da Terra. Um dia, ele simplesmente resolveu ficar. Nenhuma euforia, nenhuma ligação e nenhum objetivo a não ser se desintoxicar. Alguns amigos visitaram, fizeram o próprio café e serviram-se de conhaque sozinhos. A namorada tentou compreender, mas já tinha desistido. E sumido.
Lá fora, uma pilha de jornais se decompunha. Mas não havia tanta diferença entre a manchete dos primeiros e a dos mais novos, ainda inteiros. Era um ciclo e, se fechando para o mundo, ele mantinha seus olhos afastados desse ciclo. A grama do jardim estava alta, mas parecia mais saudável do que nunca, e observá-la era um dos seus passatempos. Seu nome era James, a propósito, e ele não havia se tornado um retardado. Ainda possuia pensamentos, ainda sabia do que se tratavam os anúncios no outdoor voltado pra janela da cozinha (apesar de ressaltar para si mesmo que aquilo era irrelevante e inócuo). James, ele nunca quis ser um ermitão.
Mas era preciso afogar-se em si mesmo e esperar. Tudo havia começado sem intenção, mas agora era uma busca. Sincera e imprevisível. Ler um livro ou seguir a trajetória de uma formiga ou tocar uma música no violão de corda de nylon que ele tinha roubado do primo há quase 15 anos. Eram todas missões e encaradas com a seriedade que mereciam.
Havia um amigo, um conhecido, que sempre aparecia e era o único com quem James falava. Porque era ele o único que sabia conversar, com as pausas necessárias e sem nenhum julgamento, como se estivesse alheio ao isolamento. E falava do tempo, e de algumas coisas do passado, trazia livros e cigarros, de vez em quando comentava alguma novidade do mundo lá fora, como se não pudesse se conter. Era algo um pouco proibido, sentia. James encarcerava-se por querer estar encarcerado e muitas informações quebrariam esse voto, despedaçariam essa busca. E depois, com o cenho franzido, flutuava para a porta de entrada e dizia adeus.
Por muito tempo, se esqueceu do lixo e do banho. Depois, lembrou-se. E aí colocava o lixo para fora de vez em quando e tomava banhos regularmente. Mais pela sensação do ar fresco do jardim e pela sensação do corpo imerso na água do que pela higiene em si. Sem tempo para higiene. Por acaso ela estava atrelada ao bem-estar que James precisava sentir.
Ao ser engolfado pela água, certo dia, ouviu a campainha. E depois ouviu de novo. Estava absorto em pensamentos, em conclusões, mas algum pedaço da sua consciência ainda estava conectado ao mundo “real”, onde atender à campainha significava alguma coisa. O quê, ele não sabia ao certo. Sem roupas ou toalhas e ainda pingando, abriu a porta. Um carteiro vestido de amarelo o encarava. James abriu a boca e falou pela primeira vez em muito tempo. Sua voz saiu fraca e rouca no começo, e depois foi se fortalecendo até tornar-se quase um brado.
- A vida tem dois lados, um bom e um ruim. E é como uma bicicleta, quando você tira as mãos, ela tende a virar pra um lado, sempre o ruim. É preciso buscar sempre o lado bom e ficar cansado, por nunca poder parar.
E fechou a porta.
Não teve tempo para sentir-se um clichê ambulante, um ermitão estabanado. Imergiu na água de novo e manteve-se funcionando, manteve-se pensando. O carteiro nunca mais voltou. Deixava as cartas na soleira da porta, às vezes as empurrava por baixo dela.
A maioria delas, das cartas, não importavam. O que importava a James agora era pensar. Ele tanto pensava que já havia desenvolvido um vício. Quer dizer, todos nós pensamos o tempo todo, mas ele sentia uma necessidade em filosofar acerca de tudo, do mais insignificante prego segurando um quadro na parede aos gravíssimos problemas da Terra. Mas seria assim tão insignificante aquele prego? Afinal de contas, ele segurava o quadro que seus pais tanto apreciaram um dia, e se um prego suportava algo que trazia alguma felicidade a alguém, não podia ser tão descartável. Era nesse tipo de besteira que James se prendia e, definitivamente, não era o ponto. Ele chorou algumas vezes, assombrado pela sua compulsão e ameaçou voltar para o “mundo lá fora”, mas quando encostava os dedos na maçaneta gelada, desistia. Algo ainda o prendia ali.
James nasceu numa sexta-feira de primavera em 1978, cresceu rápido e aprendeu a sentir raiva de muita coisa muito cedo. Da injustiça que via nas ruas todos os dias, dos pais ricos e vazios, das pernas longas demais, dos colegas de classe sem objetivo na vida, das namoradas possessivas e das infiéis, das dores de cabeça constantes que sentia... Ele odiava e amava sem parar, até o cérebro explodir, até as entranhas queimarem em bile, até os olhos cegarem de fúria. Vendo o mundo com tanta paixão, virou fotógrafo de pessoas, de situações, de tudo o que chamava a sua atenção. E o que não chamava, James tentava fazer chamar. Canais de esgoto, ruínas, chaminés, campos abertos, pátios vazios, calçadas imundas. Com a lente correta, o brilho e a nitidez bem escolhidas e alguns efeitos de computador, James fez arte de tudo isso e ficou conhecido. Ganhou o dinheiro que se recusou a receber dos pais, comprou uma casa, comprou um carro, comprou os próprios cigarros, as próprias drogas e a própria comida. Em ascenção, feliz, viu ternura no mundo. Sua aspereza encontrou-se com alguma alegria, alguma coisa genuína, e também alguma excentricidade. Os críticos, unanimamente, o chamaram de louco, alguns com elogios, outros com críticas. Ele riu, e respondeu que talvez fosse louco, mesmo.
Depois disso, enclausurou-se, como sabemos. No começo, para tirar fotos e captar a pureza da vida doméstica ou algo do tipo. Queimou a maioria, e guardou apenas as que achou muito boas: o gato do vizinho dormindo, o canto do armário do banheiro, o outdoor da janela da cozinha, o chão de madeira marrom do quarto menor e a caneca azul com a asa quebrada. Depois, perdeu a vontade de conviver com tudo lá fora e resolveu se desintoxicar. Da sua loucura, talvez, ou do que o mantinha com os que o achavam louco. Bem, ele pensava, ficar perto desta gente é loucura ou intoxicação cerebral.
Avançando mais no tempo, o dia era um sábado em maio e James encolhia-se num canto da sala, apavorado. Ele havia se tornado paranóico, tinha medo de si mesmo e dos hábitos que havia adquirido. Estava ali há muitos minutos ou horas e, pela primeira vez, sua obsessão por pensamentos tomou forma, e era uma conclusão tão acachapante para ele, e ainda assim tão óbvia e absoluta que, como na vez do carteiro, ela saiu em voz alta. Foi desencadeada por nada, já que nada acontecia há muito tempo e despencou para sua boca como se estivesse tomando forma há dias, meses:
- O mundo está cheio de gente sem nada para falar, e com vícios desprezíveis. Ainda assim, são pessoas, e estão sujeitas a isso e eu estou sujeito a amá-las. Qualquer que seja minha decisão em relação a elas, falar ou calar, devo me manter firme em meus propósitos e crenças, porque deveriam ser coisas diferentes. Cessar minhas atividades e ser devorado por pensamentos esquizofrênicos só me fará mais desqualificado do que qualquer um que eu venha a julgar. Aceitar os outros e ver beleza no que eles fazem é beneficiar a mim mesmo.
Então, levantou-se, destrancou a porta e a abriu. Sorriu ao ver o semáforo, verde como a grama.
Postado por Jambo Ookamooga às 7:45 AM 1 comentários
Tuesday, October 07, 2008
Dicas #3
Banda que todo mundo gosta mas é uma bosta da semana (o patrocinador...):
Little Joy
Na boa, cara, momento desabafo. Tô aqui ouvindo o Bloco do Eu Sozinho e como é que um cara que já escreveu músicas tipo Retrato pra Iaiá entra numas de fazer banda-pastiche de Sondre Lerche, reggae manjado e Albert Hammond Jr.? E um monte de gente gostou. Não entendi.
Cantada via interweb da semana:
"kika vc quer se minha namorada....tenho 18 anos 1.70 peso 61 quilos a minha qualidade e ser sinsero"
No blog daquela Kika, da MTV. Acho que se esperta a Kika for, atrás desse cara a Kika vai. Falando sério, assim, quem é que hoje em dia tem coragem de pedir uma donzela em namoro? E quem é que faz isso de forma tão sincera, tão devota, que acaba ignorando as regras da gramática e ortografia? Ninguém, eu te digo.
Pergunta da semana:
O que eu estava fazendo no blog da Kika da MTV?
Boa, não sei.
Spoiler furado da semana anterior da semana:
Ana Paula Arósio morre na novela.
Parece que não morreu. Minha mãe nem sempre acerta.
Citação da semana:
"Estamos nos organizando para a grande festa do hexacampeonato"
Marcio Braga, presidente do Flamengo. Essa eu me abstenho de comentar.
Sacada genial da semana:
"Ele não sabe nem se é penta e está falando do hexa – alfinetou Leandro [lateral do palmeiras, em resposta a Marcio braga]"
Qual era a velocidade máxima do Créu, mesmo?
Postado por Jambo Ookamooga às 10:40 AM 0 comentários
Friday, October 03, 2008
Escrever o Próprio Futuro
Alguém está sentado na frente de um computador numa sexta-feira à noite, ouvindo Smiths e o primeiro LP do Black Sabbath, sentindo-se miserável numa viagem fodida de auto-indulgência.
Parece mentira, mas um monte de gente está assim. Milhões de sextas-feiras treze, toda semana, pra milhões de pessoas. Gente como eu e você, com alguns prazeres na vida, alguns sonhos, uns bons amigos, mas sempre com uma chateação pequena do lado do ouvido, sussurrando sem parar: “você não está no seu lugar”. Existe gente assim, embora a maioria dos seres humanos esteja mais preocupada em dar uma olhadela e deixar a ambigüidade no ar, como se fossem grande coisa.
A nossa época é a dos nerds e dos magrelos esquálidos que apanhavam na escola há dez anos. Hoje em dia eles chegaram ao poder, a internet nos deu a anarquia punk, a democracia hippie e tudo o mais. Hoje em dia é permitido ouvir de tudo, até funk carioca. Pode beijar menina e menino, pode cheirar cocaína pra cacete. Mas e aí?
O totalitarismo estilístico ainda continua sodomizando a todos que não têm tempo ou vontade de se adequar às regras e indumentária dos 00. O totalitarismo está em todo lugar, nos desfiles de moda, nos shows de rock, nas baladas alternativas, na rua Augusta, nas padarias 24 horas e lojas de camiseta.
E parece que dividem tudo em dois grupos: o dos que sabem disso tudo e o dos que não sabem, que estão nas marginais da coisa toda. Só que existe um terceiro grupo. O dos que entendem tudo isso, mas não estão afim de participar. Somos nós.
Nós, que não podemos sair nos dias de semana, que sentamos fumando maconha o dia inteiro porque não temos nada melhor pra fazer, que somos mimados e sem direção, basicamente esperando a morte. Olhamos pras bandas e elas são boas e tudo mais, mas não se comunicam com a gente. Os filmes só mostram as minas que a gente nunca vai pegar e os caras que a gente nunca vai ser. O Mc Donald’s segue subindo os preços, os ônibus estão lotados e a chuva nos molha da cabeça aos pés.
Cansamos da Funhouse, do Tim Festival, do David Beckham, da Amy Winehouse, da NME, do iPod, do funk carioca, da MTV, da cerveja a 4,50, dos desfiles de moda e da UEFA Champion’s League.
É hora de encontrarmos nosso espaço e nossos próprios ídolos, é hora de transformar a nossa normalidade em choque cultural. Vamos achar o nosso próprio lugar, que nem fizeram lá por 75, quando todo mundo tinha que ouvir Yes.
A hora chegou, apontem suas guitarras em direção ao céu e “escrevam seu próprio futuro”.
Postado por Jambo Ookamooga às 11:21 PM 0 comentários
Wednesday, October 01, 2008
Dicas #2
Evento não comparecido da semana:
Carol Miranda fazendo pornô e continuando virgem.
Pois é, galera, não foi desta vez que eu e meus trutas presenciamos uma celebração desse porte. Mas tudo bem, parece que a própria Carol nem apareceu, por causa de uma pedra no rim ou coisa do tipo. Falando sério, o que eu tava fazendo segunda? Deveria ter ido.
Citação da semana:
"Levy Fidelix agradeceu a receptividade do eleitor e voltou a defender que, para resolver o trânsito da cidade, é preciso fazer o aerotrem."
Taí um incompreendido. Nova York, Londres, Tóquio, Madrid, etc, usam metrô porque são OTÁRIOS, PANACAS, INGÊNUOS. E o Levy tá tentando abrir os olhos da população há um puta tempo e ninguém quer saber. Daí um dia o Levy morre, geral percebe que ele tava certo e fica choramingando. Tipo um Van Gogh da política.
Luto da semana:
http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2008/09/30/ult59u172672.jhtm
Parece que não vai dar pro meu AaB. :(
Boneco da semana:
Isso é o que eu chamo de boneco de super-herói.
Spoiler da semana:
Ana Paula Arósio morre no final de Ciranda de Pedra.
Li numa revista ou site de fofocas, mas minha mãe já tinha cantado a bola porque leu o livro. Minha mãe é foda, manja muito.
Gafe musical da semana (o patrocinador exige que o assunto música seja abordado):
Só fui ouvir White Light/White Heat dia desses.
Mó brisa ficar mudando o balance em The Gift.
Sacada genial da semana:
Palmeiras e a tal tríplice coroa.
Ele acredita.
Posição ideológica da semana:
Vote no candidato mais engraçado.
Domingo é eleição e geral pára com a graça pra dizer que é pra votar no candidato com as melhores propostas, que o futuro da sua cidade está em jogo, yada yada yada. A opinião de Jambo Okamooga é que você deveria provavelmente votar no candidato mais hilário, fodido ou deformado. Já que a gente vai sentar num pepino de 34 cm de qualquer forma, que pelo menos seja uma experiência humorosa.
Postado por Jambo Ookamooga às 8:26 PM 0 comentários
Tuesday, September 23, 2008
O Rei do Pagode
Ou "Como eu sou desocupado pra caralho!". Ou ainda "Como, mesmo sendo leigo em jornalismo e inventando um personagem, é fácil fazer uma matéria igualzinha àquelas da Rolling Stone". Espero que gostem ou leiam inteiro. Não precisa os dois.
Estou sentado num confortável sofá de oncinha, situado no meio de uma sala ampla. Espelhos, uma televisão de plasma, muitos DVDs, um tapete de pele de urso polar (real, dizem) completam uma visão mais geral do recinto. No hall de entrada, numa inscrição em diamantes, se lê o nome do dono da casa: “Miojinho”.
À primeira vista, pode parecer brega, e certamente é, mas não se pode subestimar a força do nome de Miojinho na indústria fonográfica brasileira. Após vender mais de dois milhões de CDs originais em tempos de pirataria intensa, não há realmente muita coisa que Uélito de Souza Borges não possa ousar. No ano passado, lotou dois shows no Maracanã, em que metade do repertório era constituído de músicas de seu novo álbum, “Paixão Quente”, à época, ainda inacabado. Mesmo sem conhecer todas as músicas, o público, constituído predominantemente pelas classes C e D, aplaudiu de forma quase unânime.
Ao chegarmos para a entrevista e sessão de fotos, Miojinho está nos esperando com um sorriso, uma garrafa de uísque 12 anos e uma de suas famosas histórias para descontrair.
“Uma vez, quando ainda era adolescente, eu estava com uma minazinha. O tipo de menina que eu gostava. Coxas grossas, bunda arrebitada, uma beleza. Nós acabamos indo pra cama, como eu queria. Quem é que sai com uma garota se não vai pra cama com ela? Tiramos a roupa e tudo o mais, e eu comecei a bombar”. Ele beberica seu uísque e continua. “Depois de algum tempo, eu comecei a estranhar, porque a menina não falava nada. Fiquei encucado, mas continuei, até ela dizer, assim, de repente, ‘mete mais forte!’. A gente pensa que está fazendo um bom trabalho e não está, às vezes. Mas foi bom, porque ela foi sincera, e comecei a meter mais forte. Cinco minutos depois, ela repete. ‘Mete mais forte!’, grita a desgraçada. Meti mais forte, mais e mais forte. Mas ela continuou a repetir, sem parar. Eu já estava todo suado, esfolando meu pau, sem conseguir gozar porque estava muito nervoso com todo aquele ‘mais forte!’. Até que eu resolvi parar. A garota tinha um olhar fixo, a boca dela ficava mexendo. Falei pra ela que ia levar ela para casa, ela não respondeu. Daí tentei ajudar a garota a se vestir, mas ela estava com o corpo todo duro. Fiz o que qualquer um faria, deixei dinheiro pra ela pegar um táxi e zarpei. Nunca mais vi ela, mas soube que ela ficou bem. Ninguém sabe o que aconteceu”.
É assim que Uélito se apresenta, com irreverência, tranqüilidade e, claro, muita polêmica. O que, convenhamos, não parece fazer sentido em contraste com suas letras românticas, não muito diferentes do resto do pagode.
“No começo eu jogava o jogo, tentava falar um monte de coisa bonita, mas no fim das contas, não agüentei, acho que tenho uma personalidade forte. Mas meu público sabe diferenciar as coisas, mesmo com as coisas erradas que eu faço e falo, eu continuo tratando todo mundo bem, quando vêm pedir autógrafo, tirar foto... É diferente”.
Diferente é uma boa palavra para definir a trajetória de Uélito. Nascido em 1983 no bairro de Itaquera, localidade humilde na zona leste de São Paulo, viveu por lá até os treze anos, quando seu pai, um professor da rede pública, ganhou um prêmio na loteria. “Não foi uma bolada tipo 50 milhões, mas o velho montou na grana”, ele conta. Mudou-se para o bairro da Vila Mariana, e na escola nova, demorou a fazer amigos, brigou muito. Foi lá que recebeu o apelido de Miojinho, pois já descoloria os cabelos encaracolados naquele tempo. Surpreendeu-se quando viu que mesmo os garotos ricos escutavam o pagode que ele aprendera a gostar alguns anos antes. Quer dizer, em termos. “Nunca engoli esses pagodes de playboy, tipo Inimigos [da HP, conjunto de pagode universitário de São Paulo], e isso já estava começando naquela época”. Mas foi ali que Uélito afirma que percebeu a força comercial do pagode, que ele pensava se restringir às camadas mais pobres da população.
Depois de alguns problemas com os pais em São Paulo, mudou-se sozinho, em 2002, para a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Era ali que queria estar, na cidade de Jorge Aragão e Zeca Pagodinho. “Pensei até em mudar para Xerém, mas ia ficar um pouco longe de tudo”, ele ri. Logo que chegou à nova cidade, começou a compor algumas músicas e tocar com a banda Sem Maldade em bares e festas. Em 2003, conheceu o produtor Martinho Xavier, que o aconselhou a seguir em carreira solo como Miojinho.
O primeiro hit, “Meu Amor Não Tem Erro”, saiu em janeiro de 2004 e tocou sem parar nas rádios FM. O produtor garante que não houve nenhum tipo de incentivo da gravadora Som Livre ou jabá. “O cara tem talento mesmo, tem apelo comercial, nunca vi alguém tão diferenciado”. O álbum “Miojinho Só Pra Ti”, saiu em março do mesmo ano e estava recheado de hits, como “Volta Pra Mim” e “Canseira Sem Igual” que tocariam até o começo de 2005, mesmo ano em que fez uma parceria funk carioca com o MC Coração. A música “Dança da Boneca Inflável” foi seu maior hit até o momento. “Foi divertido gravar aquele funk. A letra é engraçada, diferente do que a gente geralmente faz e também gerou muito dinheiro e shows”, relembra.
Impulsionado pela publicidade de seus hits e da polêmica com Marrone e pela gravação de um novo disco, Uélito começou a freqüentar o circuito de programas de auditório dominicais em meados de 2006. O apresentador Gugu Liberato até apareceu no primeiro clipe de seu segundo álbum, “Tô Com Fome de Você”. Faustão também elogia o pagodeiro. “É um artista exemplar, sempre que aparece no Domingão se porta muito bem e tem histórias muito boas pra contar. No ar ou em off”.
“É fácil lidar com Gugu, Faustão, Silvio Santos, Sônia Abrão, qualquer um desses”, Uélito explica, já abrindo a segunda garrafa de uísque, “você vai ao programa deles, e tem que dar ibope, tem que falar as coisas certas. Se você ajuda eles, eles te ajudam. Uma mão lava a outra”.
Depois de toda a publicidade gerada, o segundo disco, “Amor Sem Zoeira”, foi o que mais vendeu no ano de seu lançamento. Foi ali que Miojinho virou o que se pode chamar de pop star, pelo menos no sentido tupiniquim da coisa. Fechou uma das noites do Festival de Verão de Salvador, lotou todos os seus shows em São Paulo e Rio e chegou a tocara para a comunidade brasileira em Nova York. Além disso, a dupla francesa Daft Punk resolveu remixar, num arroubo de excentricidade, a faixa “Não Faz Assim, Pudinzinho”, do primeiro álbum. O remix ficou na obscuridade por algum tempo, mas em meados de 2007, tornou-se um hit nas pistas de São Paulo.
“Rapaz, achei aquilo muito esquisito. O pessoal da música eletrônica gostando, essa versão desses gringos... Mas gostei, nem cobrei direitos autorais, foi como uma homenagem”, pondera.
No auge, mais uma polêmica. Em agosto, Uélito teria dado em cima de Gracyanne Barbosa e insultado seu namorado, Belo, chamando-o de, segundo consta, “traficantezinho de merda”. Ele nega veementemente. “Imagina, cara! Sou casado, estava num momento super feliz, gravando meu CD, fazendo shows por aí. Além disso, nunca gostei de Soweto e não ando com esse povo das drogas”, alfineta. Um processo judicial ainda está em trâmite, mas Uélito se diz tranqüilo, e afirma que todas essas confusões não afetam em nada a marca Miojinho. “O povo quer saber da qualidade da música, da presença de palco, da simpatia do cantor. Essas picuinhas de gente menor, eles sabem diferenciar”.
O fim de 2007 viu, então, seu plano mais ambicioso: fazer o pré-lançamento de seu último álbum em pleno Maracanã, palco que havia abrigado artistas do quilate de Ivete Sangalo no ano anterior e The Police poucos dias antes (e Madonna no fim deste ano). O projeto era ousado, mas artista e produtores esperavam que uma superprodução hollywoodiana, as participações de Júnior Lima, Champignon (ex-Charlie Brown Jr, que está em todas, praticamente), Wanessa Camargo e MC Coração e, é claro, os hits fossem segurar o clima e lotar o estádio.
“Foi uma trabalheira do inferno. Eu até ajudei a montar o palco, pra você ver o tanto de trabalho que deu. Mas no fim, tudo funcionou”, ele recorda. De fato, o show foi um sucesso. Apesar de não ter tido liberado toda a capacidade do estádio, 60 mil pessoas por noite compraram todos os ingressos disponíveis. E ainda responderam bem às canções novas. “Tocamos umas cinco em cada noite, e a platéia gostou muito de ‘Enquanto Você Me Amar’”. O show ainda gera lucros ao músico, já que o DVD "Obrigado, Maraca!" acaba de chegar ao primeiro lugar das paradas em 10 estados.
Até onde Miojinho pode chegar? “Não sei. Vamos continuar trabalhando, eu, a banda, o Martinho Xavier... Pra que esse sucesso nunca acabe, não é? Tudo isso, esse sucesso, os fãs, as festas... Eu me sinto abençoado por Deus, mesmo. Vamos continuar trabalhando”, ele pondera, finalizando a terceira garrafa da noite.
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Monday, September 22, 2008
Dicas #1
Oi, pessoal! Tudo beleza? Resolvi começar uma seção de dicas aqui no blog, pra não exigir muito do meu tempo e pra postar sempre, já que no fim das contas, também quero chegar a mil posts e estar super inteirado nos agitos da galera in. Stay tuned.
Site da semana:
http://www.brinks.com.br/
Nesses tempos de internet 2.0 e alechat, muito se brinca e faz piada em relação a essa empresa séria e que tanto contribui para os alicerces da nossa economia, portanto achei que era hora de entendermos mais afundo a missão da Brinks, que não está de brincadeira. risos!
Disco da semana (nosso patrocinador exige que o assunto música seja abordado):
Everything is Borrowed - The Streets
Mike Skinner é o primeiro cara a perder seus cojones musicais e continuar legal. Ponto pra ele.
Objetivo pra 2009 da semana:
Aprender a bolar.
Com ou sem cartão, acho que é válido ter esse tipo de conhecimento.
Doença da semana:
Gripe seguida de pigarro.
Pra galera que fuma tabaco, sempre uma dica da moda.
Evento da semana que vem da semana:Falando sério, vamo aí? Acho que é um evento válido, que incentiva a discussão do que é e do que não é virgindade. A galera descolada e engajada deve marcar forte presença!
Sacada genial da semana:
http://dykerama.uol.com.br/src/
Também um site. Tem discussão, tem romance, tem baladas, tem contos eróticos, tem notícia... Enfim, um prato cheio pra punheteiros e lésbicas em geral. Super recomendado!
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Tuesday, September 09, 2008
O Poema do Encarceiramento
Isso aqui eu faço quando sóbrio, mesmo =/
até que era meu amigo
quando foi para a cadeia
violaram seu umbigo
Os presos lavavam roupa
e muito bem lavada
podia ser camisa
ou cueca com freiada
A hierarquia lá
era muito justa e nobre
pobre comia rico
e rico comia pobre
O carcereiro bem sacana
não se fazia de rogado
ao terminar a janta
fodia o preso logo ao lado
Meu amigo, condenado
pensou até em se matar
mas conheceu o Bola Oito
e agora vai casar
Esta história é mui triste
mas meu amigo já tem planos
está muito bem noivado
e em paz com o seu ânus.
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Mantido na Realidade
A leitura prolongada e ininterrupta de Charles Bukowski mais a ingestão de cannabis sativa produzem monstros como o conto a seguir.
***
Talvez a profissão mais triste do mundo seja a de dançarina do Faustão. Seus sorrisos chegam a ser aterrorizantes de tão falsos e mecânicos, além de terem de agüentar o apresentador mais gordo e estúpido de que se tem notícia e alguns xucros na platéia. O Faustão não é nem melhor nem pior do que os outros, uns diriam, mas a imagem das suas dançarinas é certamente a mais triste.
Por alguma ironia, então, como deveria ser, me arranjaram um encontro com uma dançarina do Faustão. Quase isso. Um conhecido tinha uma garota. Ela queria sair com ele e com sua amiga. Porque não fazer os dois ao mesmo tempo? Então alguém tinha que entreter a amiga dançarina do Faustão. Eu.
Seu nome era Márcia e tinha boas pernas e um rosto bonito. Vi pelo orkut. Mais um escravo da tecnologia. Enfim, boas pernas e rosto e boas fotos na praia. Acho que é o que eles exigem quando você quer ser dançarina do Faustão.
Isso me animou um pouco, mas não me impediu de passar o dia com tédio e pessimista. Em relação a outras coisas, já que em relação à Márcia eu pensava muito pouco. Talvez seja um fracassado por não pensar nos outros, mas pouco importa. Márcia era uma garota legal, saberia entender. Caguei, tomei um banho, fumei uma bombinha de haxixe e esperei. “A morte”, diria Hank.
Nos encontraríamos no Moe’s, um bar um tanto quanto hypado no centro. Pelo caminho, passei pela Sé. Gosto dali. Toda a sujeira e pobreza e depredação convivendo com o centro de uma cidade tão grande, onde tudo começa, percorre e termina, te fazem se colocar no seu devido lugar. Mantém as coisas na realidade.
Encontrei-os na frente do Moe’s, enquanto Paul Banks dizia “baby, baby, you really look bad” nos fones de meu MP3. Interpol também mantém as coisas na realidade, às vezes. Podia ver o Volks surrado de meu conhecido ali na outra esquina. As garotas estavam de vestido, com decote, tudo ia ser ok. Parecia uma noite calma e pouco barulhenta, ótimo. E, sinceramente, continuou a correr tudo bem por algum tempo.
Mas quando o cara e sua garota saíram e deixaram Márcia e eu sozinhos, foi como se perdêssemos aquele elo maravilhoso, quase mágico, que me fazia sentir bem ao lado de uma dançarina do Faustão, uma hippie estudante de letras e um cara que cagou nas calças até os 15 anos, num lugar com música ruim e cerveja quase quente. Márcia era uma garota legal, aposto que entendeu. Como ela aparentava ter alguma cultura, achei que uma conversa de maior conteúdo poderia segurar as pontas até que eu pensasse em alguma outra estratégia. Olhei bem fundo naquele decote e pernas e tentei:
- Você curte... hum... ehehe...
- Oi?
- Platão, você curte Platão?
Ela começou um discurso sobre Platão, provavelmente sabia mais do que qualquer um de nós ali naquela sala, naquele bar imundo. Não parava de falar, via toda sua boca, lábios, dentes, bochechas, língua, saliva, prepararem palavras intermináveis e perenes, como num arsenal. Oh, cara, foda-se Platão. Mas não conseguia emendar outro assunto.
- Então você considera Platão um ídolo?
- Considero, ele era muito bom! – uma resposta sem muito requinte, mas ainda assim bem decidida. Apelei para a velha técnica da confusão, com um pouco da minha licença poética:
- Você acha que pensamentos sobre ele se intrometem na sua mente?
- Cara, você ta chapado?
Não respondi. Eu estava, o que poderia ter dito?
As coisas se mantiveram assim, tediosas e constrangedoras como a tarde havia sido. Num determinado momento, o outro casal voltou e Márcia levantou-se num salto meio indecente e histérico e disse para a amiga:
- Vamos dançar!
Dançavam como se fossem duas lésbicas ou como se estivessem fazendo a dança do acasalamento. Odeio quando seres humanos se portam como animais irracionais. Eu e o cara não falamos nada. Apenas observamos a cena com os braços cruzados e olhar vazio. Por algum motivo, ela me parecia atraente, mesmo com toda aquela chatice de Platão e o emprego triste e a censura ao meu beque. Eu olhava para aquela garota que me deixava quase de pau duro e que não tinha nenhuma conexão comigo e pensava no que eu poderia ainda fazer para tornar uma noite aborrecida um pouco menos aborrecida.
O sorriso dela, por outro lado, parecia exagerado, como alguém que chama todos os holofotes para si. Um pouco perturbador olhar para toda aquela boca aberta, cheia de dentes, querendo ser acesa com neon. Por que todos nós não podemos agir como seres humanos? Mas o balanço ainda era positivo e eu ainda queria poder comer aquela garota e quem sabe tomar café da manhã depois.
De repente, por sorte, talvez, a conversa voltou a um nível bom, com cadência e palavras suficientes. Nem muitas, nem poucas. Então tomei os últimos goles de minha cerveja e me aproximei dela, quase fazendo nossos narizes se tocarem.
- Vamos foder agora, ali do lado.
Recebi um olhar de asco e, com uma expressão ressentida, Márcia virou-se de costas para mim, para nunca mais olhar. Pouco depois, convenceu a amiga de irem embora. Despediram-se e foram todos no Volks, provavelmente esse outro cara ia comer duas de uma vez, o grande filho de uma puta.
Fiquei no bar e pedi uma dose de pinga. Para acabar bem com uma noite muito aborrecida. Vi uma velha tingida olhando para mim e lambendo seu canudo como se fosse uma rola. Achei que era hora de sair dali. Na volta, enquanto passava pela Sé mais uma vez, já amanhecia. Um cara com metade do rosto deformada olhou para dentro dos meus olhos. Não importava a que horas você estava por ali, sempre manteria as coisas reais.
Subi para o ônibus pensando que as coisas poderiam ser piores.
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Sunday, August 17, 2008
Carência Coletiva
Será que significa que o blog voltou?
***
O grande problema da nossa geração é que todos nós nos achamos importantes demais e que nossos problemas são problema dos outros. A internet, toda essa rede de informações e relacionamento e sensação de conectividade non-stop fizeram-nos pensar que nós temos que ser amados e queridos o tempo todo. Nossos pais têm problemas que tomam mais o seu tempo do que nós, nossos amigos e irmãos estão também enfurnados nas suas cabeças sedentas por afeto.
Essa demanda, essa necessidade de ser querido, faz com que nos tornemos bravateiros e, ao invés de nos ajudarmos mutuamente, ficamos por aí gritando os nossos sucessos para quem quiser ouvir. Eu sou assim, você é assim.
Há alguma solução? Eu não sei, e provavelmente não. Todos nós seremos puxados pro limbo e lá continuaremos a aumentar nossa carência. Lá, nós criaremos bonequinhos virtuais pra dar abraços (virtuais, naturalmente) nos outros, e vamos contar pra todo mundo quem nós gostaríamos de pegar. Fazendo a mea culpa, afinal, eu também sou um neo idiota, nós vamos abrir blogs com nossos textos irrelevantes, nossas conversas de MSN pouco engraçadas e nos cadastraremos no last.fm, achando que os outros querem saber o que nós ouvimos.
Podem me chamar de amargo, podem me jogar um milhão de coisas na cara, mas o meu diagnóstico vai ser esse para sempre. Mesmo quando eu for um notório-alguma-coisa, cheio de gente me lambendo as bolas via Buddy Poke, eu vou continuar pensando esse tipo de coisa e lamentando por todos nós.
Porque eu sou um moleque amargurado, mas sei do que estou falando.
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Thursday, April 24, 2008
It's A New Year And I'm Glad To Be Here
Dizem por aí que no Brasil, o ano só começa de fato depois do Carnaval. Brasileiro que sou, é coerente dizer que, em 2008, longe de minha pátria, o show do Queens of the Stone Age representou o carnaval pra mim. Coincidência ou não, me senti muito mais inspirado após aquele fatídico 24 de fevereiro. Pode também ter sido o raio de sol, que voltou a incidir sobre as terras nórdicas, ou pode ter sido uma combinação dos dois. Seja como for, nos últimos dois meses meus olhos finalmente se abriram pra música deste ano. Compondo ou ouvindo, recentemente cresceu e amaduresceu em mim uma sensação de satisfação e até mesmo orgulho por estar vivendo nesta época, em que as milhares de referências que ajuntamos por todos esses milhares de anos de existência humana finalmente estão sendo costuradas, estofadas e embrulhadas numa embalagem bonita.
É verdade que este blog foi impiedosamente abandonado, mas isso não significa que minha inspiração acabou. Tudo o que eu escrevia antes tem sido expressado pelos recitais de violão e músicas próprias que eu toco para platéias inexistentes, fechado no meu quarto. É assim que é legal, por mais pueril que soe. A família que me hospeda por aqui odeia, acha muito alto. Azar deles.
Também tenho escutado música nova, muita música nova que me inspira e sussurra no meu ouvido que ainda vale a pena e que a nossa época não deve em nada para as épocas anteriores. Como dito antes, eles criaram, mas nós somos quem está colocando tudo junto no pacote, e esse trabalho não deve ser desprezado ou diminuído.
Um dos discos que mais me inspira neste momento é ainda de 2007, no entanto. Recomendado por um amigo, We Sing of Only Blood or Love, de Dax Riggs (Deadboy & Elephantmen, Acid Bath) soa de um jeito que eu, cof cof, gosto. Hard Rock encontra-se com folk e um cheiro não definido (embora presente) de anos 90 e tudo isso junta-se à voz de Dax. Puta voz, se quer saber. Tudo o que a voz de Chris Cornell poderia ter sido. É potente, atormentada e alcança os agudos necessários. Porém, em seu estado normal (fiquei quinze minutos pensando numa palavra melhor e não deu, mal aí), tem a consistência e timbre que o ex Soundgarden e Audioslave nunca conseguiu alcançar em seus terríveis discos solo.
Foi no post sobre os melhores discos de 2007 que falei que é quase uma regra que Mark Lanegan figure entre os melhores do ano? Pois é, em 2008, pelo visto, não será diferente. O mais interessante de tudo isso é que o cara só precisa chegar lá, pegar o microfone e cantar o que quer que seja e sua voz sempre vai encaixar perfeitamente. Desta vez, dois petardos. O rock gótico e profundo do Gutter Twins ou o folk delicado da sua segunda colaboração com Isobel Campbell, fica à sua escolha. Em um, junta forças com Greg Dulli num casamento perfeito e cinzento de duas vozes lendárias dos anos 90. No outro, torna sombrias as músicas doces de Isobel, mas também é afetado pela atmosfera pastoral e, quase paradoxalmente, sexy das composições. Tem quem fale que ele é Deus. Não sou eu que vou negar.
O que eu mais tenho gostado deste ano é que os melhores discos vêm de onde menos espero. Quer dizer, não há muitoo que esperar, minhas bandas atuais preferidas lançaram seus discos novos no ano passado (quer dizer, eu gosto muito de Alice in Chains e AC/DC mas discos novos desses caras são mais atentados do que qualquer outra coisa). Então, já que falamos em vozes marcantes, imagine qual foi minha surpresa ao ouvir o novo do Gnarls Barkley. Seis meses atrás, se você me dissesse que eu ia gostar de uma banda enraizada, apesar de todas as outras incontáveis influências, no hip hop, receberia negação e, talvez escárnio. Heh, vivendo e aprendendo. The Odd Couple é uma pequena obra-prima. A produção e arranjos de Danger Mouse Burton surpreendem qualquer um que ainda duvidava da capacidade do homem que mixou Beatles e Jay-Z e a voz soul de Cee-Lo orgulharia Marvin Gaye. É um álbum sujo, paranóico, técnologico e genial, cravado no soul, no funk, na psicodelia e em batidas eletrônicas e hip hop. Não importa quantas vezes ouça, continuo sentindo calafrios
Quem tem executado com mais paixão e eficiência o trabalho de amarrar as referências antigas num embrulho com laço bonito, no entanto, têm sido mesmo as bandas mais novas. Apesar da salada cultural que é o som do Gnarls Barkley, e da versatilidade de Dax Riggs e Mark Lanegan, nenhum deles chega perto do Apes and Androids, por exemplo, em matéria de busca a diferentes fontes de inspiração. Sem forçar, em 18 músicas, seu disco Blood Moon passeia entre indie rock, eletropop, synth pop, rock progressivo, música eletrônica, pop, rock básico, pop rock, new romantic e ainda algumas pitadas de folk e hip hop. As duas outras bandas que formam a trinca de boas revelações do ano até aqui, MGMT e Yeasayer, também misturam muito. A primeira coloca música eletrônica e glam espacial no liquidificador, enquanto a segunda se diverte com influências de música africana, post rock e corais hippies. Ainda há Vampire Weekend, Hercules and Love Affair, Yoav e mesmo os brasileiros do Turbo Trio, do já veterano BNegão, todas multi facetadas, mas soando tão frescas, tão novas.
Tudo isso prova que em 2008, não é mais pecado nem audácia misturar tanto e ser tão iconoclasta. As bandas grandes e estabelecidas aprenderam a usar a internet, os novatos aprenderam a lidar com as vozes do passado e criam cada vez coisas mais originais e inclassificáveis, enquanto o consumidor está cada vez mais blindado a preconceitos e restrições. A internet nos devolveu a compreensão dos hippies e a anarquia dos punks e nós estamos numa era atemporal, em que 1973 está tão distante de nós quanto 2006. Se não fores muito rabugento ou saudosista, caro leitor, entendes o quanto isso é empolgante.
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Tuesday, February 26, 2008
Gimme Toro, Gimme Some More
Nota: Este é o centésimo post do blog. Por coincidência, apenas, mas não poderia ser com um conteúdo melhor. Isso claro, fica mais um aviso: contém altas doses de tietagem e idolatria.
***
O primeiro CD que eu comprei foi o Songs for the Deaf. Digo, com o dinheiro que recebi dos meus pais, fui até a loja, escolhi e paguei. Pelo menos conscientemente, foi meu primeiro passo na música. Antes disso, era só um borrão rodeado por música sem personalidade, sem rosto, sem vontade. Pode-se dizer que o disco foi um divisor de águas e mudou a minha vida.
Desde então, estou tentando entender do que se trata a entidade Queens of the Stone Age. Poderia escolher A Song for the Dead, uma das melhores performances de bateria que eu já ouvi, ou No One Knows, que é o single perfeito da nossa década, para explicar melhor esta sensação. Mas concentremos-nos
Tantas bandas foram as que eu reneguei e acolhi que é incrível que o Queens, uma das primeiras, sempre tenha se mantido como meu ícone máximo do cool, o exemplo a ser seguido. E, gradualmente, ao longo dos anos, sem nenhum alarde, eles se tornaram minha banda favorita.
Dito tudo isso, é de se imaginar como eu me senti no último domingo, quando finalmente vê-los ao vivo se tornou uma realidade. Minhas expectativas eram altas antes do show, pelo simples fato do que assitir aquilo significaria. Mas alguma coisa me dizia “bom, você já vai conseguir ver a banda, não espere nada como um set list perfeito ou pegar um souvenir”. Eu estava conformado. Deve ter sido durante In the Fade (a música que mais me arrepiou os pêlos da nuca), If Only ou River in the Road, com um Marlboro dado pessoalmente por Josh Homme enfiado no bolso, que eu percebi o quão sortudo eu estava naquele dia, e o quanto as minhas expectativas foram superadas.
Se você me pedir para analisar o concerto, estará sendo cruel. 24 de fevereiro de 2008 era um dia de fã. Eu sei que eu não poderia pedir um set list melhor, uma performance melhor, um clima melhor, nada melhor, e essa é a melhor análise que eu consigo balbuciar. Começou violento, com First it Giveth, e terminou violento, com a jam infernal de A Song for the Dead, ambas do primeiro disco da minha vida. Certa vez, alguém me disse que viu um show da sua banda preferida como o fim de um ciclo, por tudo o que ela representou na sua vida. O problema dessa pessoa é com o tempo verbal. Queens of the Stone Age ainda representa muitas coisas pra mim, e ter estado lá foi muito mais um começo do que um final. Quero mais, ainda. E tenho fé que os verei de novo, e de novo.
O mais inacreditável, no entanto, aconteceu antes do show. Autênticas tietes que somos, eu e dois amigos seguimos um conselho precioso e fomos esperar a banda chegar no local, por volta da hora (estimada) da passagem de som. Incrivelmente, apenas mais dois garotos suecos estavam por ali. Simples assim, só cinco pessoas esperando a banda mais incrível do planeta chegar ao KB Hallen. Parecia que nada aconteceria, até que, em determinado momento, chega um ônibus para fazer companhia aos dois que já estavam lá. Há um burburinho em relação a ele e, conforme as primeiras pessoas vão saindo dele, o idioma se transforma no inglês. “It’s so fucking them”, eu exclamei. Poucos minutos depois, Joshua Homme em carne e osso (tipo, ele existe mesmo!) desce do ônibus. Ficou conversando com alguém e, após um minuto ou dois que pareceram umas três horas, começou a deslocar-se em nossa direção. “Josh Homme”, eu disse, estendendo a mão. Comprimentamos-o, e pedimos para tirar fotos. “Sure”, ele respondeu, tirando uma sacolinha com uns 200g de uma substância que poderia muito bem ser farinha ou talco de algum lugar. Virou para um cara e falou para ele entregar aquilo para seu, “...uhn, amigo” dentro do ônibus. Tiramos as fotos. Charlie, um dos caras que estava comigo, então, ofereceu um cigarro ao Josh. Primeiramente ele aceitou, mas depois desconversou, acho que por não conhecer a marca. Charlie, então, malandro que só ele, pediu um cigarro, e recebeu uma resposta ainda mais malandra das ruas: “Yeah, I stole these anyway”. Eram Marlboros, e Josh começou a dizer que Marlboros não eram lá seus preferidos, mas “that’s what you can get here”. Então, eu mencionei que também se acham Camels por estas bandas e ele respondeu que é a sua marca. Como tenho bom gosto, tirei minha caixa de camelos do bolso e ofereci um ao cara. Ele não só aceitou, como colocou um dos seus Marlboros na minha caixa. Se eu tinha Camels, para quê ia querer um Marlboro horrível? Josh Homme sabe quem é, e sabe o que significa para um fã ter um souvenir como esse. Sem ser arrogante, mas também sem falsa modéstia, ele transformou um cigarro ruim na nicotina mais sensacional da história. Depois, fiz o que vinha ensaiando desde que vislumbrei a chance de encontrá-lo: perguntei se era possível tocar You Can’t Quit Me, Baby naquela noite. Ele olhou para mim, pareceu fazer uma rápida análise na cabeça e respondeu que claro, tocariam sim. Quando ele estava quase indo embora, mencionei que Songs for the Deaf foi meu primeiro disco. “That’s a good way to start out”, respondeu ele, com um sorriso. Apertou nossas mãos e entrou no KB Hallen.
Minutos depois, encontramos Joey Castillo e Troy Van Leeuwen, um de cada vez. Caras simpáticos, mas mais breves. Joey elogiou minha câmera e Troy disse ter acabado de acordar (brincamos dizendo que nós também tínhamos acabado de acordar). Tiramos fotos e desejamos um bom show. Se bem que não precisava desejar um bom show. Estamos falando de profissionais.
Quando entramos, algumas horas depois, todos que ficaram perto de mim por mais de 30 segundos sabiam da história. E, quando a banda de abertura, Biffy Clyro começou seu set, eu ainda estava embasbacado pelo que tinha acontecido poucas horas antes. E em êxtase, sem entender o que havia acontecido com a minha sorte naquele fim de semana, quando até a banda de abertura era sensacional. É, Biffy Clyro é altos.
Mal acreditei quando o concerto em si começou. “Realização de um sonho” pode ser pesado demais, mas era o evento que eu vinha esperando desde tipo 2002. Depois de conhecer a banda ali, de pedir a minha música, minha expecatativa era ainda maior, ainda mais acachapante. Então, na hora em que os músicos subiram ao palco, quando o primeiro acorde foi tocado, tudo virou alegria. Minha única preocupação (e essa nem é a palavra mais correta) era saber se tocariam a música que eu pedi e eu continuava sendo surpreendido, música após música, por um dos set lists mais antológicos da história do QotSA. Eventualmente, You Can’t Quit Me, Baby começou e as notas no baixo pareceram uma ilusão para mim. Abrimos a bandeira do Brasil, talvez em agradecimento, talvez, sendo mais mesquinho, para mostrarmos que só tocaram por nossa causa e recebemos um olhar de Josh, do tipo “aí está a sua música, seus cornos”.
O encore final, pesado como um tijolo, começou com Millionaire, cantada por Josh e Mike Shuman e todo o filme passou mais uma vez pela minha cabeça. Sick, Sick, Sick foi a mais agitada e robusta e A Song For The Dead confirmou-se como a jam mais pesada do mundo. Inesquecível.
A vida não poderia ser melhor.
Set List:
First it Giveth
No One Knows
3's & 7's
If Only
Mexicola
Turning on the Screw
Misfit Love
Hanging Tree
Monster in the Parasol
Burn the Witch
In the Fade
Leg of Lamb
Little Sister
River in the Road
You Can't Quit Me, Baby
Do it Again
Tangled Up in Plaid
Go With the Flow
-------------
Millionaire
Sick, Sick, Sick
A Song for the Dead
Postado por Jambo Ookamooga às 9:35 AM 6 comentários